Segundo quatro pessoas ouvidas pelo Bastidor, entre os quais parlamentares, empresários e aliados, o presidente tem dificuldade com algumas questões do governo.
Um dos exemplos citados foi o encontro que Lula teve com o presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), no início de novembro. O presidente começou a conversa dizendo que a reunião era importante para tratar “da agenda parlamentar para o segundo semestre”. Foi lembrado de que estavam em novembro.
Dias antes, perguntou ao ministro Rui Costa (Casa Civil) o motivo de não terem editado uma medida provisória para reformar o Ensino Médio em vez de enviarem um projeto de lei.
Foi lembrado que Lira tem dificultado a tramitação de MPs e que as medidas eram de grande impacto, por isso não seria a melhor estratégia tentar implantá-las sem discussão no Congresso e com efeito imediato. A poucos meses do fim do ano letivo, não era aconselhável arriscar uma MP que ficaria parada.
O presidente participou diretamente das negociações com Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para que o governo evitasse a edição de medidas provisória, preferindo os projetos de lei, porque o Congresso não se acertou sobre a tramitação das MPs.
Também é atribuído ao presidente a decisão de pular o Congresso e abrir um arriscado canal direto com prefeitos para os investimentos do PAC. É um erro primário, diz uma liderança do governo. Além de precarizar a relação com os parlamentares, prejudica a própria escolha de prioridades.
Segundo um petista, ajuda a piorar a situação política do governo a dificuldade do Rui Costa em analisar conjunturas para levar ao presidente.
A dificuldade de lidar com a nova situação política foi evidenciada na demora de resolver as questões do PP e do Republicanos. Pior, de escondê-los. Lula não fez evento público para a nomeação dos ministros André Fufuca (Esporte) nem de Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).
Também Lula rejeitou que a posse do presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, ocorresse no Palácio do Planalto.
Tudo foi anotado pelo centrão.
A aprovação dos projetos de interesse do governo no Congresso neste primeiro ano, continua o petista, deve ser creditada ao controle de danos de Lira sobre seus pares e a coincidência de pautas com a sua própria agenda, principalmente nos temas econômicos.
O receio é que no ano que vem, quando os interesses de Lira podem ser divergentes em relação aos do governo, e com Haddad desgastado por conta das disputas internas, o governo acumule derrotas se nada mudar na articulação.
Segundo um empresário, o presidente está com dificuldades de compreender as mudanças na relação com o Congresso e de entender até as novas demandas do PT. “Este primeiro ano praticamente ocorreu porque há boa-vontade de todos, difícil serão os próximos a permanecer o ritmo”, diz.