O príncipe e os bobos

Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

BRASÍLIA – O empreiteiro Marcelo Odebrecht abriu os arquivos para a Justiça Eleitoral. Na Quarta-Feira de Cinzas, ele descreveu um carnaval de doações irregulares a políticos. Entre outros pecados, confirmou que sua empresa abasteceu o caixa dois da chapa Dilma-Temer em 2014.

Em quatro horas de depoimento, o empresário fez acusações para todos os gostos. Complicou o presidente Michel Temer ao confirmar que foi chamado ao Palácio do Jaburu para acertar contribuições ao PMDB. Também deixou mal a ex-presidente Dilma Rousseff ao dizer que ela sabia da origem dos repasses ao PT.

O delator agravou a situação de Eliseu Padilha, o cambaleante chefe da Casa Civil, ao contar que ele negociava valores em nome do chefe. De volta ao antigo regime, jogou lama sobre os ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega, apontados como arrecadadores do petismo.

Sobrou ainda para Aécio Neves, o perdedor da eleição presidencial. Odebrecht disse que o tucano pediu um patrocínio de R$ 15 milhões. Todos os citados terão direito a se defender, mas o empreiteiro prometeu apresentar provas do que disse.

Entre tantas acusações, um desabafo chamou a atenção dos procuradores. O herdeiro da maior construtora do país se descreveu como um “otário” a serviço do governo. “Eu era o bobo da corte”, afirmou.

É compreensível que Odebrecht se sinta passado para trás. Ele está preso há quase dois anos em Curitiba, enquanto a maioria dos políticos que subornou continua livre em Brasília. Isso acontece por causa do foro privilegiado, que protege os investigados com

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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