O jogo sujo consiste basicamente em criar notícias falsas e ataques a adversários do presidente, também com conteúdo falso, para manipular o debate público. Isso cria também falsamente uma aparência de força política do governo e desprestígio da oposição. Tudo é apresentado como notícia verdadeira, usando para isso linguagem imitada do jornalismo, até com páginas que se apresentam como jornalísticas, mas que na verdade foram abertas pelo esquema de desinformação.
Claro que isso custa dinheiro, não só para o pagamento dos farsantes como para manter a estrutura material, que não custa pouco. O inquérito do STF provavelmente já chegou às fontes milionárias dessa farsa, que é criminosa não só em razão dos ataques e da manipulação, mas pelo aspecto financeiro, podendo conter inclusive aquela famosa ilegalidade que levou Al Capone para a cadeia: a sonegação de impostos. Ao que consta, existem empresários por trás, financiando tudo.
O material revelado pelo Fantástico é apenas uma parte dessa articulação criminosa. No entanto, a reportagem mostra muita coisa, como, por exemplo, o perfil dos integrantes da trama. Um deles é assessor especial do presidente Jair Bolsonaro e trabalha dentro do Palácio do Planalto, recebendo um salário de mais de R$ 13 mil. Ele é Tércio Tomaz, que além de uma conta pessoal, mantinha outras duas, anônimas, chamadas Bolsonaro News.
Segundo a reportagem, o esquema tem mais integrantes pagos com dinheiro público. Pelo menos oito páginas falsas eram da responsabilidade de Leonardo Rodrigues de Barros, que trabalhava no gabinete da deputada estadual Alana Passos, do PSL do Rio, com salário de mais de R$ 6 mil. Também sobre este criador de fake news, Bolsonaro não pode dizer que não sabia de nada. O presidente chegou a gravar um vídeo para uma de suas páginas.
Postagens feitas por Leonardo eram compartilhadas pela noiva, Vanessa Navarro, assessora do deputado estadual Anderson Moraes, do PSL. Sete páginas ligadas a Vanessa foram derrubadas pelo Facebook.
A rede de contas falsas era operada por dois assessores ligados ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, o Eduardo Bananinha, filho do presidente. Um deles é Eduardo Guimarães. A CPI das Fake News já havia descoberto que ele usou um computador da Câmara dos Deputados para criar uma conta de ataques virtuais. Outro assessor do deputado Bananinha é Paulo Eduardo Lopes, que se apresenta como Paulo Chuchu. Seis contas dele foram derrubadas.
Em quatro ele praticava a fraude de que falei: se passavam por redações jornalísticas, como The Brazilian Post, The Brazilian Post ABC e Notícias São Bernardo do Campo, segundo o Facebook. A investigação também aponta a participação de funcionários ligados ao senador Flávio Bolsonaro. Toda a família Bolsonaro se negou a dar sua versão para o programa.
A reportagem do Fantástico faz uma devassa reveladora nesta jogada desonesta, que começou na campanha eleitoral, o que causa muito medo em Jair Bolsonaro e seus parceiros. Se houve crime eleitoral, o processo pode chegar até sua cassação. O programa de Rede Globo tem acesso aberto, para o qual coloco abaixo o link. A matéria apresenta muito bem o funcionamento dessa forma de manipulação política, revelando a relação direta dos fake news com o governo de Jair Bolsonaro.