O retorno da prosa experimental

Foto de Glória Flüggel. 
A Kafka Edições reedita os três primeiros livros de ficção de Manoel Carlos Karam, que serão lançados hoje no Jokers.
Na década de 1970, Manoel Carlos Karam (1947-2007) e o cartunista Luiz Antônio Solda moravam na Rua São Francisco, 50. O casarão tinha as portas abertas para quem estivesse interessado em teatro, prosa, poesia ou rock-and-roll. Situações pouco co­­muns aconteciam com certa regularidade naquele endereço.
Uma vez, um caminhão com verduras, frutas e legumes parou na frente da casa. Um, dois, três dias e nada do dono do veículo aparecer. Solda e Karam, então, transportaram o carregamento abandonado para a residência e, durante uns 15 dias, adotaram um dieta à base “de verdes”.
O fato relatado no parágrafo anterior, de certo modo absurdo, não foi exceção na vida de  Ka­ram. O nonsense surgia no seu caminho. Agora, a Kafka Edições, uma pequena editora curitibana, lança, com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba, de uma só vez os três primeiros livros que Karam publicou: Fontes Murmurantes (1985), O Impostor no Baile de Máscaras (1992) e Cebola (1997), que formam a Trilogia de Alhures do Sul, serão lançados hoje a partir das 20 horas, no Jokers, bar situado na mesma Rua São Francisco onde Karam viveu tantas aventuras em passado repleto de inventividade.
Até 1985, ano em que publicou Fontes Murmurantes, Manoel Carlos Karam era conhecido como autor de textos para o teatro. Dali em diante, passou a publicar os seus escritos inventivos. O Impostor no Baile de Máscaras, de 1992, é diferente do anterior, da mesma maneira que Cebola, de 1997, é inclassificável. Karam foi inventivo e o humor é sua marca registrada desde a frase inicial do primeiro livro: “Poderia ser a notícia de jornal sobre o homem que foi matar a sede e morreu afogado.” As reedições recuperam e dão visibilidade ao experimentalismo de um autor que merece ser lido
O escritor Paulo Sandrini, responsável pela reedição das obras, conta que ver impressos esses volumes é uma espécie de missão cumprida. Em 2007, Karam disse a Sandrini que tinha como meta reeditar os seus três primeiros livros. O escritor morreu sem concretizar o desejo. “Então, viabilizar a reedição e fazer a obra do Karam circular é uma conquista”, diz Sandrini.
Mais do que somente um lançamento, o evento desta sexta-feira tem a finalidade de aproximar amigos e leitores da obra do Karam. Na ocasião, o ator Diego Fortes e a atriz Verônica Rodrigues vão realizar leitura de trechos de Fontes Murmurantes e de O Impostor no Baile de Máscaras.
Ao longo do mês de outubro, palestras, baladas e outros eventos também vão chamar a atenção para a obra desse catarinense que se radicou em Curitiba, au­­tor de uma literatura ainda pouco conhecida.
No entanto, alguns dos escritores brasileiros contemporâneos mais respeitados pela crítica, como Marçal Aquino, Joca Terron e Nelson de Oliveira, são entusiastas e divulgadores da ficção de Karam. Os três autores, inclusive, assinam textos de apresentação dessa trilogia.
“O humor fino, a ironia im­­placável e o apreço obsessivo pelo detalhe são as linhas de força dessa literatura dotada de vigorosa originalidade e que escapa a qualquer enquadramento convencional”, escreveu Aquino, no texto que acompanha Fontes Murmurantes, e que sintetiza a ficção de Karam.
Serviço:
Lançamento da Trilogia de Alhures do Sul, de Manoel Carlos Karam. Jokers (R. São Francisco, 164). Dia 1º, às 20 horas. Mais informações pelo telefone  41 3324-2351.
Marcio Renato Santos/Gazeta do Povo.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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