A latere, dois episódios chocantes: a declaração de voto de seu diretor geral, Silvinei Vasques, no Facebook, em Jair Bolsonaro na véspera do segundo turno; agora, para associar o insulto à injúria e à conspiração escancarada, o diretor não cumpre a ordem de desbloqueio das estradas passada pelo ministro Alexandre de Moraes; reclama – como condicionante – recursos, convocação de policiais de outras funções e tarefas administrativas para cumprir a ordem – como se o desbloqueio não fosse atividade de ofício, a ser executada incontinenti à sua ocorrência. O retardamento da ação por Silvinei Vasques tem cara da estratégia longamente ajustada no Planalto para subverter o resultado da eleição, vale dizer, garantir a permanência de Bolsonaro, por fas ou por nefas. O corpo mole de Silvinei Vasques é contágio, efeito de vaso comunicante do corpo mole de Bolsonaro no reconhecer o resultado das eleições.
Acontece que o absurdo do bloqueio, associado à histeria dos bolsonaristas, estimulada pelas milícias digitais, teve sua dinâmica atalhada pela reação de opinião pública: o bloqueio retarda atendimentos médicos, hospitalizações, decolagens de aeroportos – a continuar levará ao mesmo resultado de igual bloqueio no governo Bolsonaro, o do fornecimento de oxigênio aos doentes da Amazônia, da vacinas e do estelionato da cloroquina. Quer dizer, o bloqueio é filho da sanha homicida de um presidente psicopata, que se descontrola diante da menor contrariedade. De resto, algo que se desenhava desde que assumiu. Que o poder e aqueles que o sustentam por ambição, cegueira ou deficiência de caráter, cometa desatinos é de entender, é o lado desumano da humanidade. A democracia tolerou Bolsonaro até agora e ao que parece irá tolerá-lo até que ele lance sobre o Brasil as chamas com que destrói a Amazônia.
O presidente da República, nosso Jim Jones – por sinal evangélico e apoiado por inúmeras (e estranhamente silentes) denominações neopentecostais -, quer levar o Brasil ao genocídio, sempre: os inocentes amantes da liberdade serão mortos pelos ensandecidos que o apoiam, as Carlas Zambelis da vida (a dona do nome, por sinal, apoia os bloqueios, que podem atingir e prejudicar seus eleitores. Afinal, nada diferente se espere de quem tenta matar a tiros um homem negro, simples e desarmado, em plena rua). Para os apoiadores de Bolsonaro, ao estimular bloqueios, tolerar tiroteios (Roberto Jefferson) e contrariar a democracia do voto revela sua condição de terrorista de Estado, digno do panteão trágico em que estão François Duvalier, Muamar Kadafi, Idi Amin, Hitler, Stalin e congêneres.