O poder que Gilmar acumula, de maneira inédita na história de uma Suprema Corte que não para de fazer história, não se explica somente pela astúcia do ministro. É o encontro da inteligência estratégica de um ministro que sabe fazer política de Judiciário como ninguém com um presidente que precisou ir à cadeia para aprender o valor de peças das quais antes abdicava por pudores institucionais. Em comum, o pragmatismo dos interesses próprios e a repulsa atávica a qualquer pessoa ou princípio associado a Lava Jato – um nome fantasia que, há anos, virou espantalho útil para qualquer coisa que se queira fazer ou deixar de se fazer em Brasília.
Desde que se lançou candidato, Lula demonstrou que agiria de modo puramente político, orientado por um realismo fincado na Praça dos Três Poderes, ao melhor estilo de seu confidente José Sarney – agiria, enfim, como um bom quadro do PMDB pós-redemocratização, e não do antigo MDB.
Daí a aliança com o ex-tucano Geraldo Alckmin. Daí a aproximação com ministros das cortes superiores e com Arthur Lira. Daí a indicação de seu advogado pessoal Cristiano Zanin. Daí o desinteresse manifesto de contemplar uma mulher no Supremo e a lista tríplice na PGR. E daí, não menos relevante, a disposição em negligenciar o PT, partido que o elegeu mas leva perdido em todas as indicações estratégicas de seu terceiro governo.
Entre Gilmar e o PT, Lula sempre optará por Gilmar. (O PT apoiava Jorge Messias para a vaga de Rosa Weber e nomes variados, como Antonio Carlos Bigonha, para o lugar de Augusto Aras.) Gilmar optará por Lula enquanto lhe for conveniente. O poder de Lula pode encerrar-se numa eleição. O poder de Gilmar, que ainda tem oito anos como ministro do Supremo, encerra-se em momento incerto, ao talante dele e do destino – e não de eleitores.