Ter um militar abelhudando nosso processo de votação é anomalia inexplicável
O TSE caiu numa arapuca criada por ele mesmo. Em virtude dos ataques de Bolsonaro, no ano passado, ao sistema eletrônico de votação, o presidente da corte, Luís Roberto Barroso, criou a Comissão de Transparência das Eleições e para ela convidou um representante dos militares. A comissão foi formalmente criada um dia depois do 7 de setembro golpista.
O escolhido para representar os homens fardados e armados foi o general Héber Garcia Portella, do Comando de Defesa Cibernética do Exército, homem de confiança do ministro da Defesa, o golpista Braga Netto. Nos últimos meses, Portella tem se esmerado em bisbilhotar o sistema eletrônico, que Bolsonaro continua a atacar.
As tratativas entre o general e o TSE vinham se dando de maneira reservada em função da necessidade de proteger a metodologia usada na eleição. Qual não foi a surpresa de Barroso ao se dar conta de que trechos de um documento com perguntas do Exército sobre as urnas eletrônicas estavam vazando aqui e ali? Alguma dúvida sobre a origem de tal vazamento? Diante da quebra de confiança, Barroso tornou pública a resposta do TSE às indagações do general.
Ter um militar abelhudando nosso processo de votação, a convite do próprio TSE, é uma anomalia inexplicável. Outra deformidade foi o convite ao ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva para ocupar a direção geral do TSE. Às vésperas de assumir o posto, ele anunciou sua desistência, alimentando teorias conspiratórias, ainda que tenha alegado problemas de saúde.
Quando anunciadas, as duas medidas foram consideradas por muita gente como uma “vacina” contra a campanha criminosa de Bolsonaro para minar a credibilidade da urna eletrônica. Esse tipo de solução conciliatória daria algum resultado se Bolsonaro fosse capaz de jogar limpo no nível institucional. Sendo o bandido que é, seu único objetivo é a demolição das instituições, da democracia e da República. O TSE ainda não entendeu isso?