Precisos como o Big Ben e pontuais como os trens, os dois tomavam sempre o mesmo comboio para Londres nos mesmos dias e horários, cada um no assento da ponta do corredor, lado a lado. O velhinho de vasta cabeleira branca, aura de dignidade professoral, o Times de Londres aberto na página das palavras cruzadas, consideradas as mais difíceis do mundo; ele as percorria com os olhos, sem preencher os espaços das letras. Como o trem e como o Big Ben, em exatos três minutos o velhinho deixava as cruzadas e voltava-se para as notícias do jornal.
O vizinho de banco, ansioso e intrigado com o que assistia há meses, não se conteve e abordou o velhinho: “Quer um lápis para resolver a charada?”. ‘Não obrigado, já resolvi’, respondeu o filósofo Bertrand Russell, o velhinho da charada, prêmio Nobel, autor dos quatro volumes dos Principia Mathematica, que escreveu com Alfred North Whitehead, seu professor de Oxford.