Olavo de Carvalho morreu por não saber o que era preciso para não ser idiota

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Ele morreu de estupidez, e levou muita gente junto, ao defender os malefícios da vacina e os benefícios do cigarro. Até relógio parado consegue estar certo duas vezes ao dia, diz o ditado. Venho aqui louvar a coerência e também a sorte de Olavo de Carvalho, que em 74 anos de vida conseguiu não ter razão nem um dia sequer. Não é fácil não acertar nada sobre coisa alguma.

Entre os seus muitos legados, se destaca uma contribuição inegável na identificação do imbecil brasileiro. Seu livro mais vendido tinha a palavra idiota escrita em letras garrafais na lombada, facilitando muito o nosso trabalho na identificação de um energúmeno. Olavo tirou o idiota brasileiro do armário: deu a ele uma carteirinha, um livro, um candidato.

Conheci Olavo n’O Globo, quando comecei a ler jornal. Tinha 13 anos e fiquei fascinado com sua coragem. Ele era o único que possuía informações que provavam que o PT estava mancomunado com as Farc pra dar um golpe comunista —ele e, então, eu, seu leitor, esse privilegiado que fazia parte do seu círculo mais íntimo, tínhamos acesso a essas informações tiradas lá do fundo do seu círculo mais íntimo. Sua obsessão anal se justificava: era no fundo desse instituto privado que ele ia buscar seus argumentos. Nem da direita nem da esquerda, sua formação veio do reto.

Acompanhei ele na Bravo, na Folha, ainda abismado com aquela coragem advinda da estupidez mais profunda. Lula ganhou, nenhuma das suas previsões catastróficas se concretizou e, ainda assim, ele nunca deixou a realidade contaminar seu discurso. Suas teorias nunca se deixaram abalar pelos fatos. Não se curvaram nem sob o temporal de uma pandemia. E convenceram muita gente. A estupidez tem o fascínio das coisas inabaláveis.

Olavo morreu porque não sabia o mínimo que era preciso pra não ser um idiota. Defendeu, até o fim da vida, os malefícios da vacina e os benefícios do cigarro. Morreu de estupidez, e levou muita gente junto.

Mas não estava sozinho. Nunca teria conseguido matar tanta gente se não tivesse tido tanto espaço, por tanto tempo, em jornais como este. Sua estupidez pode ter causado a morte de muita gente, mas antes disso gerou muitos anunciantes, movimentando a economia de cliques. E podem ter certeza de que não será esquecida.

Podem vir meteoros e erupções vulcânicas. Uma opinião estúpida é uma espécie de sacola plástica. O mundo pode acabar numa explosão nuclear: vai sobrar uma barata lendo um livro do Olavo de Carvalho.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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