Com todo o respeito ao ministro Paulo Guedes, só um canalha pode defender a volta da CPMF, que já foi IPMF e poderá ter o nome que tiver, mas continuará sendo sempre o imposto mais cruel, nocivo e indecoroso que se tem notícia.
Fernando Henrique Cardoso, que criou o tributo, então conhecido como o “imposto do cheque” e que deveria ser provisório, como dizia o nome, e foi se perpetuando, reconheceu posteriormente ser “o imposto mais perverso, porque atinge a todos indistintamente e se multiplica em cascata”.
Para o advogado e tributarista Osíris de Azevedo Lopes Filho, que foi secretário da Receita Federal de FHC quando o monstro foi criado, a CPMF é o mais nefasto de todos os impostos, exatamente porque penetra na base econômica de quase todos os tributos. E tem incidência em cascata, atingindo toda a população, sem distinção, e onerando cumulativamente toda a produção do país, além de comprometer a competitividade dos produtos nacionais.
Luiz Inácio rotulava a CPMF de “uma canalhice”, quando ainda usava barba preta e não era inquilino no Palácio do Planalto. Depois, já no trono, usufruiu, enquanto pode, da calhordice sob os falsos argumentos de fiscalizar a movimentação financeira e gerar recursos para a saúde pública.
Tudo mentira, embuste. A CPMF serviu sempre, apenas, para aumentar as burras do Tesouro, sem nenhum resultado para a população, a não ser o de empobrecê-la um pouco mais. Foi uma luta acabar com ela, em 2007. Mantega, aquele que hoje desfila com uma tornozeleira eletrônica, queria prorrogá-la, no mínimo, até 2010. Levou chumbo. Dilma tentou revivê-la, mas não tinha cacife para tanto.
Agora, chegou a vez do capitão-presidente. Jurou não ter a menor intenção de recuperar a maldição. “Votei pela revogação da CPMF na Câmara e nunca cogitei a sua volta. Ninguém mais aguenta novos impostos, temos consciência disso” – anunciou durante a campanha e no início do governo. Depois, no Twitter, Bolsonaro negou a CPMF por três vezes (O apóstolo Pedro também fez isso com Jesus). A sua turma de choque ia na mesma direção: o ministro-
chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, chamou a volta da CPMF de “a cara do petismo”; Osmar Terra (Cidadania) taxou a cobrança de “indefensável”; o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) prometia que, se dependesse dele, a CPMF não voltaria; e o senador Flavio Bolsonaro convidou seus seguidores para um abaixo-assinado contra a taxa. Parecem ter mudado de ideia.
A nova edição da patifaria partira, oficialmente, do então secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, ontem defenestrado do governo. Ao que se sabia, já teria convencido o chefe, o “Posto Ipiranga”, e começara a minar a resistência do capitão: “Já falei para o Guedes: para ter nova CPMF, tem de ter uma compensação para as pessoas”. Senão ele vai levar porrada até de mim” – fingiu Bolsonaro.
Não há e não haverá compensações, excelência. O que era para atender a saúde, agora será ajudar a previdência e a criação de novos empregos (!!!). Mentira. Na verdade, nova empulhação, novo engodo, nova cilada para os cidadãos desta nação.
O governo arrecada muito, mas gasta mal e demais. O objetivo do maldito imposto é só o aumento da arrecadação. E de forma – repita-se – solerte, atroz e intolerável em um país marcado pela pobreza da população. Basta de atirar sobre o lombo do contribuinte os efeitos dos desmandos, descaminhos e mazelas administrativas. Pior: querer resolver um problema criando outro maior.
Precisam aumentar a receita? Pois façam o que governo algum teve coragem para fazer: cobrem de quem deve e não paga. Dos poderosos, dos especuladores, dos grandes conglomerados empresariais, dos bancos, das financeiras, das igrejas… Daquela gente graúda que nunca teve o prazer de contribuir para as despesas públicas, mas apenas vale-se delas. A hora é essa.
P.S. – O idealizador da nova CPMF (agora, ITF – Imposto sobre Transações Financeiras) foi Marcos Cintra, mas Paulo Guedes estava de pleno acordo com ele. Então, se Cintra caiu pela CPMF, deveria ter levado Guedes junto.
P.S. II – Se Jair Messias não queria a CPMF ou ITF, não bastava ter dito não? É tudo encenação.