Sou obrigado a concordar com o senador Tasso Jereissati, em entrevista aos repórteres Renan Truffi e Vanderson Lima, “As instituições precisarão ser fortes, trincar os dentes”.
O ex-governador do Ceará referia-se ao atual panorama nacional, desgovernado pelo capitão Messias, após a desmoralização final do seu ídolo, o insano Donald Trump, a quem o desequilibrado de Brasília devota fidelidade canina e que lhe servirá sempre de modelo. Como se sabe, o homem do topete alaranjado foi derrotado nas urnas. No entanto, inconformado de deixar a Casa Branca, inventou fraude nas eleições e conclamou uma tropa de baderneiros a invadir o Capitólio, em Washington, sede do parlamento americano. Uma centena dos estúpidos arruaceiros foi recolhida ao xadrez pela polícia e o candidato eleito, passado o sobressalto, tomou posse nessa quarta-feira, posto que nos EUA as instituições são fortes. E é exatamente isso que preocupa o senador Jereissati: terão as instituições brasileiras a mesma força?
Infelizmente, não têm. Se tivessem, Jair Messias Bolsonaro já teria sofrido processo de impeachment e sido arredado do poder. A conclusão é do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Brito, para quem “o conjunto da obra [de JMB] sinaliza o cometimento de crime de responsabilidade”. E, como tal, sujeita-o ao impedimento, sansão aplicável “àquele presidente que adota como estilo um ódio governamental de ser, uma incompatibilidade com a Constituição”.
Segundo a jornalista Cristina Serra, que trocou o microfone de reportagem da Rede Globo de Televisão por uma coluna de opinião na Folha de S. Paulo, Bolsonaro hoje só “tem duas preocupações na vida: salvar a pele dos filhos suspeitos de cometer crimes e preparar as bases para um golpe na eleição de 2022”.
A apuração dos desmandos e traquinagens do clã têm sido contida pelo controle da Polícia Federal, pela escolha do novo e submisso Procurador Geral da República, candidato à vaga do ministro Marco Aurélio de Mello no STF, e pela já introdução de um ministro gente nossa no Supremo Tribunal Federal. As coisas caminham a passos de tartaruga e a lentidão do Judiciário está aí para ajudar.
Quanto ao segundo objetivo, o capitão já vem dando sinais do que pretende fazer. Ainda recentemente, lançou uma nova pérola condizente com a sua opção pelo apocalipse: “Se não tivermos o voto impresso em 22, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”. Quer dizer, começa a preparar o caminho valendo-se da lição recebida de Trump. Como tem tudo para perder a reeleição, uma hipotética fraude eleitoral será uma boa desculpa para a resistência. Tudo como o seu mentor. Donald culpou o voto pelo correio pelo seu fracasso. Bolsonaro vai tentar desqualificar as urnas eletrônicas, as mesmas que lhe deram a vitória em 2018. Se perder a reeleição, o que é altamente provável, a culpa será delas, ainda que o sistema seja seguro e invejado pelo mundo.
Por tudo isso, os brasileiros, eleitores ou não, precisam ficar de olho no incompetente de Brasília. Cinicamente, ele já confessou que não pode fazer nada pelo país. E não pode mesmo porque não sabe o que fazer. Assumiu o poder de surpresa, graças às safadezas do PT e a uma facada providencial ainda não suficientemente explicada. Jamais imaginou chegar lá, sabia quem era. “Péssimo militar e parlamentar medíocre” – como assinalou a Cristina –, “levou o seu despreparo para o Planalto e se cercou de incompetentes como ele”, a começar pelo infeliz ministro da Saúde, um general do Exército, especialista em estratégia e logística, mas que de estratégia e de logística não entende nada. Esperou até o último minuto para negociar a vacina com os laboratórios e agora reclama não existir mais estoque para atendê-lo. Ou que os preços triplicaram. Tentou mandar um Airbus à Índia buscar dois milhões de vacinas, mas esqueceu de combinar com os indianos. Aí, foi obrigado a apossar-se da vacina do Butatan, do inimigo João Dória, os quais (ela e ele), junto com o chefe, amaldiçoou o tempo todo. E o que fará o estrategista quando as vacinas do Butatan acabarem?… Leva o troféu de Panaca do Ano. Só que a palermice dele e do seu superior hierárquico continua matando gente.
Como pode, então, o capitão pretender a reeleição? Não tinha programa de governo antes da eleição; eleito, não tem nada realizado, a não ser confusão, intriga, irresponsabilidade, maus exemplos e atitudes criminosas.
Mais do que à reeleição presidencial, Bolsonaro é candidato ao Tribunal de Nuremberg, pela prática de genocídio – ele e o seu fiel escudeiro da (falta de) Saúde.