Onde nascem os ETs

Foto sem crédito.

Agora você põe esta mordaça na minha boca. Mas um dia, quando sussurrei Eu te amo, minha paixão, meu tudo, você levantou o copo de uísque como numa comemoração e disse Grita, fala bem alto, é pra todo mundo ouvir. Agora você me ata. Mas quando meu corpo pairou sobre o seu, serpenteando na cama, você disse que eu te libertava. E quando chacoalhei seu sexo, furiosa, até ficar emporcalhada, você gemeu: Adoro sua mão. Agora você me bate. Mas antes você vinha comigo uma, duas, dez vezes – guloso, quem quase estrebuchava era você. Um dia você prometeu que me mostraria o Jardim do Éden.

Jogou a conchinha no mar e disse que nosso amor tinha virado poesia. Falou que me daria sua coleção de Charlie Parker, me levaria para ver a neve em Veneza e o lugar onde nascem os ETs. O médico chegou a dizer: Ficou doida? – achou que eu enlouquecera de amação. Agora, com uma voz que nunca ouvi, diz Morra, velha.

E me xinga: Você é mais antiga que minha avó. Eu tomo a primeira facada, a segunda, e quando a terceira me acerta o peito, nem vejo mais nada, estou com o rosto ensopado de lágrimas e o coração já sangrou por pura vontade de morrer.

Almir Feijó.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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