Agora você põe esta mordaça na minha boca. Mas um dia, quando sussurrei Eu te amo, minha paixão, meu tudo, você levantou o copo de uísque como numa comemoração e disse Grita, fala bem alto, é pra todo mundo ouvir. Agora você me ata. Mas quando meu corpo pairou sobre o seu, serpenteando na cama, você disse que eu te libertava. E quando chacoalhei seu sexo, furiosa, até ficar emporcalhada, você gemeu: Adoro sua mão. Agora você me bate. Mas antes você vinha comigo uma, duas, dez vezes – guloso, quem quase estrebuchava era você. Um dia você prometeu que me mostraria o Jardim do Éden.
Jogou a conchinha no mar e disse que nosso amor tinha virado poesia. Falou que me daria sua coleção de Charlie Parker, me levaria para ver a neve em Veneza e o lugar onde nascem os ETs. O médico chegou a dizer: Ficou doida? – achou que eu enlouquecera de amação. Agora, com uma voz que nunca ouvi, diz Morra, velha.
E me xinga: Você é mais antiga que minha avó. Eu tomo a primeira facada, a segunda, e quando a terceira me acerta o peito, nem vejo mais nada, estou com o rosto ensopado de lágrimas e o coração já sangrou por pura vontade de morrer.