Onde nasceu Jesus?


Até na ONU se realiza a tradicional festa do amigo-secreto: “secret Santa”, em inglês; “amigo invisible”, em espanhol; “wichteln”, em alemão; isso para citar alguns idiomas. Naquela babel moderna, ano após ano uma mesma pergunta causa polêmica e estraga a confraternização natalina daqueles membros das nações desunidas sediados em Nova York: “Onde nasceu Jesus?”.

Depois de muito champanhe, os festeiros da ONU passam a chamar Jesus de Genésio e, o que é pior, alterados pelos fluídos etílicos, os diplomatas perdem a elegância de ofício e cada qual passa a reivindicar que Jesus teria nascido em seu país de origem. A polêmica vem desde a criação das Nações Unidas, em 1945, e seus membros usam os seguintes argumentos para provar a
verdadeira nacionalidade de Jesus.

Jesus era italiano: falava com as mãos, tomava vinho em todas as refeições e até hoje tem escritório em Roma.

Jesus era californiano: nunca cortou o cabelo, andava descalço e inventou uma nova religião.

Jesus era francês: nunca trocava de roupa, não lavava os pés e não falava inglês.

Jesus era espanhol: furioso com os vendilhões do templo, abordava qualquer Madalena e era fanático pelos Reis Magos.

Jesus era paraguaio: simplesmente porque até hoje desconfiam que o
Santo Sudário é falso.

Jesus era alemão: o que falava, pouquíssimos entendiam. Tinha olhos azuis e sempre foi vaiado pelos italianos.

Jesus era americano: era o rei dos reis, marchava até sobre as águas e, quando multiplicou os pães, inventou o xerox.

Jesus era português: podia ter nascido numa ilha paradisíaca, mas escolheu um deserto, bebeu fel achando que era vinho branco e aceitou Judas pra sócio.

Jesus era turco: assumiu os negócios do pai, viveu em casa até os 33 anos, tinha certeza de que a mãe era uma santa e a mãe tinha certeza de que ele era
Deus.

Jesus era irlandês: nunca foi casado, nunca teve emprego fixo e o último pedido dele foi uma bebida alcoólica.

***

Desde Oswaldo Aranha, que entrou para a história como o presidente da Assembléia Geral da ONU que deliberou pela criação do Estado de Israel, em 1947, nossos representantes sustentam que Jesus é brasileiro: ele nunca tinha dinheiro, vivia fazendo milagres e se ferrou na mão do governo.

Mas quanto à região do Brasil em que Ele nasceu, ainda restam controvérsias.

Jesus era gaúcho: aquele cabelão era muito usado na fronteira, sempre tinha razão, falava grosso e usava um vestidão.

Jesus era catarina: nasceu na terra santa, vivia pescando de tarrafa com os amigos e era “a coisa mais querida, viste?”.

Jesus era mineiro: porque morreu antes da posse, uai!

Jesus era paulista: botou todos os apóstolos no primeiro escalão da igreja, era podre de rico em ouro, mirra e incenso e construiu o maior “igrejão” do mundo. Além do que, qualquer oriundo de São Paulo vira o Messias para o resto do Brasil.

Jesus era baiano: não pegava no batente, só vestia mortalha e quando nasceu fizeram um
Carnaval que dura até hoje.

***

Nesta última festa do Amigo-Secreto da ONU, todas as nacionalidades representadas chegaram a um acordo e voltaram para seus respectivos países na maior paz: Jesus não tinha pátria. Mas Judas teria nascido na Venezuela e era muito parecido com Hugo Chávez.

Dante Mendonça(23/12/2007) O Estado do Paraná

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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