Uma examinada no ambiente político traz de imediato uma pergunta que constata o isolamento de Bolsonaro: que político ou qualquer outra personalidade pública levanta a voz para defendê-lo neste caso da Covaxin? Ninguém quer se envolver com a vacina de pouca serventia, mil por cento mais cara, mas que o presidente fez tanta questão de comprar.
Pior ainda, o político que oficialmente teria que estar na linha de frente para garantir a integridade ética do governo é o líder do governo na Câmara. No entanto, o deputado paranaense Ricardo Barros ficou completamente calado quanto a denúncia feita pelo deputado Luís Miranda sobre a suspeita de irregularidades na compra da vacina Covaxin.
Basta analisar as entrevistas do deputado bolsonarista que trouxe as denúncias para notar o sujeito nem tão oculto assim em seu discurso. Na crise, aliás, o próprio sumiço de Barros escancara sua presença.
Miranda afirma que alertou o presidente sobre um “esquema de corrupção pesado na aquisição de vacinas dentro do Ministério da Saúde”. Ainda segundo o deputado, ele também falou com o então ministro Ricardo Pazuello, que disse que nada podia fazer e que ele seria tirado do cargo de ministro exatamente em razão da difícil confrontação com tais irregularidades.
Ele também consultou o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que informado sobre o assunto, orientou o deputado a torná-las públicas. Ou, como disse Miranda, dado o aval para ele “explodir” as informações sobre a compra da vacina indiana.
Aqui já tem um ponto que desequilibra a unidade em defesa do governo Bolsonaro. O presidente da Câmara é aliado do governo. O natural seria que ele chamasse Ricardo Barros, para resolver o assunto junto com o líder do governo. No entanto, Lira mandou o denunciante tocar pra frente e tornar público o caso.
Barros é autor de uma emenda em uma Medida Provisória que acabou favorecendo a contratação da Covaxin. O deputado Luís Miranda afirma que, além da suspeita de irregularidades na compra da Covaxin, ele havia relatado problemas no Ministério da Saúde, anteriores ao governo Bolsonaro.
Conforme o que disse em entrevista à CNN, ele levou a questão por duas vezes ao ministro Onyx Lorenzoni, que recebeu das suas mãos um “dossiê completo” relatando “aditivos, contratos com sobrepreços”.
O ministro da Saúde anterior ao governo Bolsonaro foi Ricardo Barros, que ocupou o cargo durante o governo de Michel Temer, de maio de 2016 até abril de 2018.
O deputado Miranda estará nesta sexta-feira na CPI da Covid, em depoimento que fará ao lado do seu irmão, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda, que denunciou as possíveis irregularidades. É provável que neste depoimento se revele uma implosão entre os aliados do presidente Bolsonaro.