Das novas gerações, poucas pessoas já ouviram falar da Lei Falcão.
Embora as circunstâncias que a produziram não existam mais, é importante conhecê-la para perceber o quanto erráticas são as estratégias de campanha da maioria dos candidatos neste nebuloso 2018. A Lei Falcão (Lei nº 6339/76) foi criada em 1 de julho de 1976 (Governo de Ernesto Geisel, em plena Ditadura Militar) e recebeu o nome de seu criador, o então Ministro da Justiça, Armando Falcão.
Foi apresentada para regulamentar a propaganda eleitoral, mas tinha um alvo específico: barrar a progressão popular de Leonel Brizola, que depois de uma gestão de sucesso como governador do Rio de Janeiro começou a representar uma ameaça ao regime com suas ideias esquerdizantes.
Brizola indicara como seu sucessor no RJ o antropólogo Darcy Ribeiro, que havia idealizado os CIEPs, escola de tempo integral transformada na viga de sustentação do governo estadual. Dada a popularidade do padrinho, Darcy seria eleito com tranquilidade… Bastaria que se apresentasse aos eleitores como candidato de Brizola.
Aí é que entra a Lei Falcão e a genialidade de quem a criou: alguns anos antes, Darcy Ribeiro esteve exilado no exterior e havia recebido uma autorização especial do regime para voltar ao Brasil e tratar-se de um câncer pulmonar. Sobreviveu, mas teve de extrair um dos pulmões, transformando-se num homem frágil, incapaz de acompanhar o pique do Padrinho em campanha.
Darcy Ribeiro perdeu a eleição para Moreira Franco porque não conseguiu informar o eleitor que era o candidato de Brizola. E a Lei Falcão proibiu os governadores de aparecer ao lado de seus candidatos na propaganda eleitoral na televisão.
CORPO A CORPO ERA OBRIGATÓRIO
Isso ocorreu numa época em que o corpo a corpo era obrigatório para quem quisesse vencer uma eleição.… Hoje, não… Bem mais importante que o corpo a corpo, é o posicionamento firme e sistemático nas redes sociais.
Leonel Brizola e Darcy Ribeiro morreram antes de poder usufruir da internet e suas benesses. Se aquela eleição fosse este ano, Darcy Ribeiro poderia se apresentar como candidato de Brizola a todo eleitor carioca e fluminense sem deixar o conforto de sua casa.
O problema está em que existem pouquíssimos candidatos que sabem usar a internet de modo eficaz e competente. Não adianta, por exemplo, ter algumas páginas expositivas no Facebook. É preciso interagir com intensidade, provocar envolvimento e debate e ter soldados bem dispostos a defender as causas da candidatura em toda parte.
UMA EXCEÇÃO
A grande exceção é o candidato a presidente Jair Messias Bolsonaro (PLS) que já ameaça vencer esta eleição em 1º turno… Faz três anos que eu sinto a presença de Bolsonaro nas redes sociais. Já em 2015 havia uma infinidade de perfis no facebook com o slogan na capa da página: Bolsonaro presidente! De lá pra cá, a presença só aumentou: vieram os grupos bolsonaristas e o envolvimento das pessoas que o apoiam e defendem as suas muitas e controversas bandeiras é muito forte.
A Veja diz que ele amplia sua presença nas redes via robôs. Que seja isso (afinal, os robôs estão aí para ser usados), mas é possível perceber que seu desempenho em rede vai além das ferramentas disponíveis.
Há inteligência e refinamento na estratégia e não será nada surpreendente que uma daquelas fundações americanas sempre dispostas a financiar a propagação do liberalismo tenha irrigado com recursos e “know-how” a campanha do deputado que há muito tempo se colocou em oposição radical ao esquerdismo do PT & cia.
A equipe que assessora Geraldo Alckmin dá demonstrações de que acordou da letargia que a fez trabalhar até agora de costas viradas para a internet…
A pergunta que deve ser feita neste instante é: haverá tempo de reverter um placar tão desfavorável nas redes sociais? Se tomarmos o Facebook como exemplo, chegaremos à conclusão que a tarefa será hercúlea para não dizer impossível: nessa rede, o candidato do PSL possui 5,5 milhões de seguidores; Lula tem 3,7 milhões e Alckmin, 912,6 mil.