Os céus nunca são iguais

Estilhaçar a palavra até perder-me em águas profundas.

Mar bravo. Ondas altas. As ondulações arrebentam onde está mais raso.

Percorro com meus dedos onde está a falta, o silêncio, o vazio. Voraz paisagem em que a febre atravessa e preenche o pôr do sol. Deixo que a chuva espalhe o que foi escrito na areia como uma sentença, um recado, uma declaração, como uma carta não entregue, ao som de lágrimas e vertigens.

Perco a medida, o limite, a sensata proporção do possível.

Prefiro a ausência, o corte, a dúvida. Basta o que está na superfície carregado do óbvio.

Volto à palavra, antes dela, ao silêncio. Ao que pode se formar com os olhos cheios d’água.

Os céus nunca são iguais, como o seu rosto perdido entre todos, como o sopro de uma lembrança, como a memória submersa que um dia volta à tona, como o nó na garganta, a mão que desliza pelos cabelos, a pele que se troca quando se depara com o abismo.

Salto. Silêncio.

O branco traduz a insensatez.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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