Não, o assunto não morreu. Nem pode. Confrontado com os áudios em que antigos juízes do Superior Tribunal Militar reconheceram a prática de tortura na ditadura militar, o tosco atual presidente do STM, general Luís Carlos Gomes Mattos, disse, “Eles não estragaram a minha Páscoa“. Na véspera, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, foi ainda mais grosseiro: “Os caras já morreram tudo, pô. Vai trazer os caras de volta do túmulo?”. O deboche e a crueldade são iguais, mas não a personalidade de cada um.
Mourão é cínico, assim como seus colegas de farda Augusto Heleno e Braga Netto. Sabem que Jair Bolsonaro está desmontando o país, com resultados que revoltariam até os generais da ditadura. Mas já não têm saída exceto seguir com ele, ao lado de cínicos profissionais como Augusto Aras, Marcelo Queiroga, Paulo Guedes, Arthur Lira, Silas Malafaia e outros juízes, políticos e evangélicos.
Já Gomes Mattos é apenas burro. Faz parte do time de Luiz Eduardo Ramos, Eduardo Pazuello, Marcos Pontes e outros fardados que veem Bolsonaro como um iluminado. Ao dizer que “só varrem um lado, não varrem o outro”, admitiu que nos dois lados há coisa a varrer. Mas tanto os cínicos quanto os burros estão fazendo vista grossa a algo importante e óbvio.
Sob Bolsonaro, qualquer desclassificado no governo pode pregar o armamento da população contra a “criminalidade de Estado”. Isso significa a incitação a que civis peguem em armas para, ao comando de Bolsonaro ou dos zeros, desafiar os governadores, os tribunais e, se preciso, o próprio Exército.
O que esses generais acharão da ideia de dividir a força armada da nação com uma turba acima da lei, com ideias particulares de ordem e poder? Irão à sua caça, para prendê-los e torturá-los, como seus heróis fizeram contra os inimigos no passado? Ou se sujeitarão a bater continência para gente como Daniel Silveira?