‘Os realistas’, do americano Will Eno, ganha montagem no Rio

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Mariana Lima, Fernando Eiras, Debora Bloch e Emílio de Mello em ‘Os realistas’, 14 a 27 de março, Teatro Poeira. © Leo Aversa

Os Realistas, de Will Eno. Dois casais se encontram e descobrem ter mais em comum do que casas idênticas e sobrenomes iguais. Convivendo como vizinhos, os quatro Silva percebem o quanto suas vidas e casamentos se parecem e como a maneira que escolhemos para enfrentar nossas alegrias e tristezas define nossas vidas. Delicada comédia sobre amor, morte e realidades imperfeitas. 

A estreia de ‘The Realistic Joneses’ marcou a estreia de Will Eno na Broadway em 2014, após vários êxitos no teatro americano. Debora Bloch – que já acompanhava e estudava a trajetória do autor – assistiu à montagem e decidiu que iria produzir o texto no Brasil. Com os direitos cedidos, firmou parceria com Guilherme Weber, que assina a direção da empreitada e tem total intimidade com o universo do dramaturgo: ele ostenta o título de ator que mais encenou Will Eno em todo o mundo. Em cartaz a partir de 14 de janeiro no Teatro Poeira, ‘Os Realistas’ marcará ainda o encontro no palco de Debora com Emílio de Mello, Fernando Eiras e Mariana Lima. O projeto tem patrocínio da Renner e da Porto Seguro.

Em cena, dois casais de vizinhos se encontram e descobrem ter mais em comum do que as casas idênticas e sobrenomes iguais. Com este ponto de partida, a peça flagra a convivência do quarteto e os relacionamentos que começam a se entrelaçar. Em um hábil jogo de cena, o autor mostra também que nem tudo é o que parece ser, fazendo ainda que as situações reflitam sobre os diferentes estágios do casamento.

Para o diretor, ‘Os Realistas’ é um exercício do autor sobre o gênero realista. ‘É um gênero em que os heróis dão lugar a pessoas comuns. Nesta história, Eno desloca seus personagens para uma pequena cidade interiorana e campestre, em um movimento de alguma maneira também reverente ao teatro de Tchekhov. Este confronto com a natureza, o vasto e o desconhecido faz com que estes personagens se cruzem em uma comédia existencialista sobre vida, morte, amor e vizinhos’, analisa Guilherme Weber, cuja relação com a obra de Will Eno começou em 2003, quando estrelou e assinou a criação com Felipe Hirsch da montagem brasileira de ‘Temporada de Gripe’ (‘The Flu Season’). Depois, seguiu com ‘Thom Pain – Baseado em Nada’ (2006) e ‘Lady Grey – Em Luz Cada Vez Mais Baixa’ (2006), nas quais também atuou e dividiu a criação com Hirsch, e ‘Ah, a Humanidade e Outras Boas Intenções’, reunião de cinco peças curtas do autor, em que atuou a assinou o projeto junto com Murilo Hauser.

‘Os Realistas’ marca ainda o retorno de Debora Bloch à produção teatral, tarefa que abraçou em meados dos anos 80. De lá para cá, ela foi responsável por espetáculos que marcaram a história recente do teatro brasileiro, como ‘Fica Comigo Esta Noite’ (1990), que lhe rendeu o Prêmio Shell de Melhor Atriz em 1990, ‘Duas Mulheres e Um Cadáver’ (2000), estrelado e produzido ao lado de Fernanda Torres, ‘Tio Vânia’ (2003), em montagem dirigida por Aderbal Freire-Filho que ocupou o Parque Lage. Seu último espetáculo foi o monólogo ‘Brincando Em Cima Daquilo’ (2007/2008), com direção de Otávio Muller.

Will Eno por Guilherme Weber

Will Eno já foi chamado pela crítica nova iorquina de ‘O Samuel Beckett da geração Jon Stewart’, em referência ao apresentador e comediante que esteve à frente do programa Daily News por dezesseis anos. Aluno de Edward Albee em sua famosa oficina de dramaturgia, foi apontado pelo mestre como o melhor dramaturgo de sua década. Criando códigos originais a partir de suas consagradas referências, como Harold Pinter, além de Beckett e o próprio Albee, Eno foi indicado ao prêmio Pulitzer pelo monólogo ‘Thom Pain – Baseado em nada’.

Em sua primeira experiência como espectador, junto ao seu pai em uma pequena plateia, é que o dramaturgo passa a criar seus códigos de criação, lembrando da  delicada situação pela qual passaram os atores daquela montagem quando, ao tentar realizar um truque cênico, foram revelados em sua tentativa de ilusão. Uma cadeira, presa a um fio de nylon, deveria sair do palco em um movimento mágico, conduzida pelo fio invisível. No meio do movimento, a cadeira cai e sai do palco arrastada, como um peixe morto. O truque falhado, a cadeira arrastada, os atores fragilizados e as entranhas do teatro reveladas aos espectadores provocou tal impacto no jovem Eno que a ativação desta memória passou a pautar sua sofisticada escrita, que busca, de diferentes maneiras, recriar esta sensação de perigo e exposição, que em sua obra às vezes acomete os personagens, às vezes os atores e quase sempre os espectadores.

‘Os Realistas’ (‘The Realistic Joneses’, no original) marca a estreia do autor na Broadway. O que faz uma peça como esta no mais tradicional circuito de teatro americano é a pergunta que a maioria dos críticos e espectadores se fizeram ao longo da temporada. Will Eno não é conhecido por suas tramas urdidas para o espectador médio. Mas, ao longo dos meses, os personagens complexos e os diálogos profundos, engraçados e cheios de jogos de linguagem, que são uma das mais fortes características do autor, conquistaram o público através das performances de ourivesaria dos quatro atores. A estreia de Will Eno na Broadway terminou com pleno êxito.

Ficha Técnica
Texto – Will Eno
Tradução – Ursula de Almeida Rego Migon e Erica de Almeida Rego Migon
Direção Geral, Adaptação e Trilha Sonora – Guilherme Weber
Elenco – Debora Bloch, Emílio de Mello, Fernando Eiras e Mariana Lima
Cenografia – Daniela Thomas e Camila Schmidt
Figurinos – Ticiana Passos
Iluminação – Beto Bruel
Sonoplastia e Desenho de Som – Andrea Zeni
Assistente de Sonoplastia e Desenho de Som – Joyce Santiago
Preparação Corporal e de Movimento – Cristina Moura
Programação Visual – Luiz Stein e Tello Gemmal
Fotografia – Christian Gaul
Diretora Assistente – Verônica Prates
Produtor de Objetos – Rafael Faustini
Assistente do Produtor de Objetos – Leonardo Nascimento
Camareira – Naná
Diretor de Palco – Gerson Porto
Operador de Luz – Walace Furtado
Operadora de Som – Joana Guimarães
Cenotécnica – KF 20 Soluções Cenotécnicas . Elton Cortinhas
Assessoria de Imprensa – Factoria Comunicação
Visagismo – Vini Kilesse
Mídias Sociais – Theodora Duvivier
Assessoria Jurídica – Helder Galvão
Produção Executiva e Administração – Cristina Leite e Paula Valente
Direção de Produção – Alessandra Reis
Produtoras Associadas – Debora Bloch e Alessandra Reis
Realização –  Tudo Bem Produções Artísticas LTDA

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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