No dia anterior, Osni Bermudes, talvez o mais brilhante diretor de TV do seu tempo, abriu câmera no estúdio do Canal 4 até encontrar o melhor enquadramento para uma chapa de madeira que havia mandado fazer. A chapa tinha cerca de 4 metros quadrados de área e estava apoiada sobre dois cavaletes a mais ou menos um metro do chão. Sobre ela, uma camada de areia fina. Eu era assistente do Osni e aquilo era o cenário para as chamadas que deveriam ser exibidas nos intervalos comerciais, anunciando a transmissão ao vivo, “diretamente do solo lunar”, da chegada do homem à Lua, com trilha sonora épica e locução de cabine.
Embarquei na aventura munido de uma das poucas tecnologias que então eu dominava: a curiosidade. E foi com ela que vi Osni Bermudes inventar colinas, planícies e vales por meio de luzes e sombras projetadas naquela paisagem desértica. E a cereja do bolo: um horizonte curvo a contrastar com a profundidade do espaço, ali sugerida por um painel de feltro preto colocado ao fundo. Quem olhasse para o monitor, estaria diante de uma imagem inequivocamente lunar.
Naquele tempo, eu não sabia quase nada de televisão. Quase nada de coisa nenhuma. Nem imaginava estar prestes a viver o que hoje poderia ser chamado de um momento Forrest Gump da vida. Mas foi exatamente o que aconteceu.
Quando o cenário ficou pronto, Osni permaneceu na câmera e na luz. E, provavelmente na falta de um contrarregra, entregou-me uma miniatura do módulo lunar da Apollo 11. Ele mesmo havia construído aquela pequena maravilha que, mesmo sabendo tratar-se de uma engenhoca moldada em lata, emassada e pintada, eu segurava como se fosse feita de cristal tcheco. Tinha nas mãos nada menos do que a réplica miniaturizada do famoso módulo, com não mais que 30 centímetros de altura.
Meu papel consistia em colocar o módulo em cena. … “Um pouco mais para a frente, mais, mais, aí, agora um palmo para a esquerda, isso mesmo, perfeito!”… Pousei cerimoniosamente, com a concentração digna de um piloto treinado pela NASA. Bastava olhar o monitor para ter certeza: tínhamos chegado à Lua.
No dia seguinte, dei plantão na mesa de corte e, com grande emoção, coloquei no ar a imagem do nosso pouso na Lua muitas vezes, bem antes que a televisão americana começasse a fazer sua transmissão. Chegado o momento, veio aviso pelo interfone, apertei um botão na mesa de corte e – como se estivesse vivendo um déjà vu quase sem graça – vi a portinhola do módulo se abrir e o comandante Neil Armstrong descer a escada, pisar a superfície arenosa da Lua e deixar gravada, ali e na retina de bilhões de telespectadores ao redor do mundo, a marca que amanheceria na primeira página de todos os jornais: o desenho da sola de sua bota impresso na areia cinzenta, uma das imagens mais reproduzidas da História. Na minha opinião, sinceramente, nada que pudesse sequer ser comparado à nossa façanha do dia anterior.