OstRacismo

obama-tempo

Extra! Extra! O fim do humor no mundo está próximo

Se essa charge não viesse assinada, poderia ser lida de qualquer maneira. Mas mesmo que essa charge não viesse assinada, seria impossível – pelo menos para quem gosta do radical humor dos chargistas – deixar de considerar, numa leitura mais demorada: que é exatamente o que esse tipo de texto pede, qual a real intenção do artista. Além de o traço do Solda ser inconfundível, todos que o conhecem sabem que ele também é poeta dos bons. E curte brincar com os jogos de sons que as palavras podem render. Coisa que qualquer criança de rua cantaria em suas brincadeiras. Obama: Banana.

Aí o cara inventa a humor: Banana pros States! Mas o fato é que não vivemos no melhor dos mundos. A patrulha está atenta e com os dedos apontados para julgar no outro o preconceito que pratica com violência cruel nas ruas: a polícia dá batida em adolescentes negros, empregadas domésticas são espancadas, nordestinos são interessantes só se forem artistas, homossexuais de BBB podem até ganhar prêmio, mas nas esquinas da night são espancados e assassinados por bichas enrustidas que procuram se aliviar com esses garotos. Se toda essa escrotice está disseminada nesse mundo em que os meninos e meninas bem nascidos são contra (nem todos!) cotas pra negros e estudantes de escola pública, alegando que estes também têm inteligência pra competir de igual pra igual, o que resta, então?

Vamos escrachar com o chargista! Vamos condenar sua arte ao ostRACISMO. Foi isso o que aconteceu com o Gregório de Matos, expulso de sua Sé da Bahia, por ele ter afiado a língua em todas as castas. Monteiro Lobato, crucificado postumamente. Machado de Assis, julgado por ser o preto que não defendia os pretos. Lima Barreto pagou com a vida seu preço por expor a sociedade às suas verdades. Enquanto isso, em Curitiba … deu a louca na macacada!

A primeira interpretação que surge da charge do Solda atende a essa linha manipulada pelos patrulheiros: Negro, Banana, Macaco= racismo? Se é assim, então o grande favor que o jornalista deveria ter prestado aos que foram por essa linha da patrulha teria sido ler a charge o mais próximo da intenção do chargista. Em vez disso, o cara se identifica como aquele que vai se safar perante seu público apontando o racismo onde não houve intenção. O Solda não previu isso talvez porque ele já tenha atravessado o tempo em que a censura era algo praticado às claras. Agora a censura é obscura e tão perigosa quanto àquela época. Todos somos preconceituosos. Todos somos de alguma forma pratulheiros atentos a reconhecer no outro o preconceito que degustamos às escondidas. Criar é muito perigoso.

Assionara Souza – 2 de abril, 2011

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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