O Outono, a mais outonal das estações, se alimenta de ouro e azul, um cardápio matinal servido na bandeja do céu. Antes, a alvorada cozinha rabos-de-galo no leste, em fogo mais que brando. Meio acordado, o horizonte se clareia para o seu desjejum de matizes. Uma toalha algodoada se estende por 180º, salpicada de detalhes ferrugentos. Completamente amanhecido, o Outono sai a passear pelo dia.
Faceiro, é um flâneur elegante, cachecol de plátano ao vento, reverenciado por redemoinhos de cisco como se fossem cuscos. O Outono circula entonando canteiros, entoando viveiros, tão à toa quanto é possível para uma estação. Todo trajado de anil, segue rumo à tarde, deixando atrás de si a limpidez da época. Solitária na paisagem, uma pandorga engravata o peito enfunado do Outono, que já se ajeita, tingido de poesia, para se aninhar no poente. Esplendoroso, o Outono se despede de mais um dia, posando de pintura impressionista.