Outra daqueles tempos – Walmor Marcelino & Werneck

Em 1972, a Lema Propaganda era uma beleza. Eu já estava bem entrosado com a turma, mas era só estagiário. Fazia dupla com o Solda. A outra dupla era Rettamozo e Strano. E tinha o Jamilzinho na arte-final. O bom de lá era que a parte burocrática ficava seis andares pra cima e a gente pintava e bordava lá embaixo. Quando o Benvenutti — contato — queria mostrar o “departamento de criação” pra alguém, ele avisava antes, pra gente dar uma arrumada. Ele encenava, na porta, que a visita estava prestes a conhecer o Pinel.

Apesar disso, tudo funcionava muito bem. E a agência cresceu. Por um descuido do Strano — se apossando de uma campanha que o Solda e eu fizemos — ele foi mandado embora e eu passei a redator contratado. Aí, o dono da agência resolveu mudar de endereço. Fomos pra um lugar onde tudo ficava no mesmo andar. Contrataram o Walmor Marcelino como redator pra fazer dupla com o Retta. Bem nessa época nasceu o Positivo, que era apenas um cursinho pré-vestibular. A campanha foi criada por nós, aprovada, e o Positivo cresceu tanto que virou potência nacional.

Naquele corre-corre que existia numa agência daqueles tempos, o Walmor chegou pra mim e disse topa entrar comigo num concurso aí? A gente topava tudo sem saber no que ia dar. Ele disse que tinha várias peças de teatro e ia ter um concurso. Só podia inscrever uma por autor. Me disse que inscreveria uma delas em meu nome e outra no nome dele. A no meu nome era só pra fazer charme. Ele gostava mesmo era da outra.

Seguimos fazendo campanhas pra tudo quanto é cliente e o tempo passou. Quando saiu o resultado — que surpresa! — a minha peça havia tirado segundo lugar. A dele, necas! E agora, José? Bem, como eu disse, a gente topava tudo. Mesmo tremendo de medo, fui receber o prêmio. Quer saber? Nem tinha lido a peça. Sei que se chamava Os sonâmbulos. Se me perguntassem alguma coisa dela, eu estava frito! Fui. Tinha certificado e uma boa grana. Lembro que iam entregar o prêmio de dia, horário de expediente, e fui sozinho. Da cerimônia, não lembro nada. Sei que saí de lá com o cheque — em meu nome. Fui ao banco, troquei o cheque e, de repente, me deu vontade de tirar proveito do meu prêmio. Sabia que o Walmor não iria me dar nada. Ele já era um escritor de renome e eu apenas um redator. Só havia ganhado o primeiro prêmio num concurso de contos do Sesc e medalha de prata, junto com o Solda, no Prêmio Colunistas Nacional.

Sabe o que eu fiz? Entrei numa loja de calçados e comprei um par de sapatos novos! Não era muito caro, mas achei que estava no direito de fazer aquilo. Cheguei na agência, entreguei o dinheiro pro Walmor e ele ficou me olhando sem saber o que fazer. O certificado ele nem quis, pois estava no meu nome, né? Pegou o dinheiro e ficou me olhando. Achei que ele, sendo politicamente socialista, não iria se importar em dividir a grana. Sei lá o que pensou de verdade.

Logo depois eu encrenquei com o Roberto Mariano e saí. Fui fazer dupla com o Miran na Associados Propaganda. E, mais tarde, fiquei em terceiro lugar num outro concurso de dramaturgia daqui de Curitiba, no qual só deram o segundo e o terceiro lugar. Mas a peça era minha mesmo!

#Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem bobo nem nada, romancélere de 150 capítulos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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