TODA SEMANA, mesmo dia e mesma hora, o amigo telefona: “Tudo bem com vocês? Precisando de alguma coisa, é só chamar que eu levo, tem um supermercado aqui na esquina”. Recusa polida, conversa amena e breve. Ele pode sair, está na zona de conforto da pandemia. “Como estão se virando?”
A necessidade é a mãe da invenção, entrega-se tudo em casa, desconfio que será a grande mudança que a quarentena trará ao comércio – além do escracho eterno ao dono do Madero, o empresário que disse que 6 mil mortes não fariam diferença quando ainda não havíamos chegado às 18 mil (e contando).
“Sempre na divisão de tarefas”? O amigo nunca levou a sério o que lhe contei do pacto antenupcial aqui de casa: além dos bens, todos da mulher, passados, presentes e futuros, cada um cuida de uma área. Ela, da educação dos filhos, investimentos, viagens, gastos, até de minhas muitas cirurgias.
“E você, dos grandes problemas?” Lembrou que minha área conjugal sempre foi a política internacional, o Nobel da Paz, a pesquisa da vida extraterrestre, entre outros magnos assuntos. “Então hoje você decide sobre a cloroquina e o isolamento social”. Não, informo ao amigo, o pacto agora é outro: eu lavo, passo, limpo e cozinho.