O quadro começou a mudar quando o mediador do debate, o apresentador William Bonner, chamou ao púlpito uma figura excêntrica, praticamente desconhecida do grande público. Era Kelmon da Silva Souza, que se apresentava como “padre Kelmon”. Até então, ele tinha aparecido apenas no horário eleitoral gratuito e no debate entre os presidenciáveis no SBT, do qual Lula não participou. Vice-presidente na chapa de Roberto Jefferson, do PTB, Kelmon surgiu no páreo depois que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou que Jefferson, condenado por corrupção no escândalo do mensalão e cumprindo pena em regime domiciliar, estava inelegível até 2023. Ciente de que teria o registro de sua candidatura negado, o político se apressou em ser substituído pelo seu vice.
No debate, Kelmon apareceu com uma vestimenta extravagante, sem identificação com qualquer seita ou religião: túnica preta, touca preta e branca com cruzes bordadas e, pendurado em um cordão prateado, portava um crucifixo vagamente semelhante à cruz da Igreja Ortodoxa. Estava sentado ao lado de Bolsonaro, com quem trocou algumas palavras. Ao ser chamado por Bonner para fazer sua terceira pergunta a um dos candidatos, escolheu dirigir-se a Lula.
Os dois ficaram frente a frente no púlpito. O que veio a seguir não foi exatamente uma pergunta, mas um ataque. Com um tom de voz brando, lendo a pergunta, Kelmon acusou Lula de ser “chefe do maior esquema de roubo e corrupção da história mundial”. E atacou: “Explique para o povo por que tanta gente próxima a você foi presa, te denunciou. Você era o chefe do esquema?” Lula respondeu dizendo que foi absolvido em todos os processos. Na réplica, Kelmon seguiu: “O senhor é o responsável pela corrupção no Brasil, todos nós sabemos que o senhor cometeu esses atos. O senhor é um descondenado. O senhor nem deveria estar aqui como candidato a presidente da República. Por que o senhor está aqui? A população precisaria saber a verdade. O senhor é cínico. Mente. O senhor é um ator.”