Padrelladas

(1) Croroquinhas funciona, sim. A prova é que estou desde sempre sem tomar a pajelança e não fui infectado. Por outro lado, limão com raspa de tamanco também não deixa o vírus te pegar. A vizinha do lado tem levado umas boas tamancadas, pelo que escuto daqui, e continua saudável. Chá de alho com urtiga e cânfora, tanto por via oral como por via esdrúxula, é excelente para não pegar Covid. Uma vez até eu tomei essa beberagem e estou aqui, não estou? Agora marquei uma sessão com aquele médico de Santa Catarina. Como não tenho condições de ser presencial ao evento estarei enviando um garoto delivery, desses que fazem entregas, para ver se ele recebe aquele benefício por mim.

(2) Afinal, um assunto novo para animar o rebanho. Dona Croroquinhas, que é como eu chamo a mulher do 14, a que tem nenê que berra como cabrito, levou um tombo. Diz-que caiu de costas no banheiro. Machucou-se? Será que foi grave? Precisa chamar veterinário? Todo mundo debruçado sobre a novidade. Foi assunto diário para uma semana. Todos se mostravam consternados, mas era só da boca pra fora. A gente estava era adorando ter assunto fresco pra botar na roda.

À medida que a enferma ia apresentando sinais de melhora a gente foi se desinteressando do assunto. Mas, inveja é um troço impressionante. Para fazer sucesso, o velhote do 13, que joga xadrez comigo, caiu da escada. Lá foi todo o condomínio se condoer do coitado. Até eu interfonei, querendo saber. Tinha sido uma coisa de nada. Então não me encha o saco, quase que eu disse.

Quem ficou com invejinha e recolheu-se à sua insignificância foi Dona Croroquinhas, coitada.

(3) Estou sossegado em meu apê e ouço vozerio nas garagens. “Vou tirar e daí você entra”- ouvi com clareza. Já pensei bobagem. É esse médico catarinense que me deixou bolado, seja lá o que bolado signifique. O cara também podia ter dito “vou entrar e daí você tira o seu”. O que também me faria ficar de cabelo em pé. De pelo em punta, como dizemos na Argentina. Ou “vou tirar e você tira também”. Ou “vou entrar e daí você entra junto, e ficamos os dois lá dentro, no escurinho do cinema”.

COMO DIZ O OUTRO: A Justiça não é justa, mas é apertadinha.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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