O Menino Maluquinho, personagem criado por Ziraldo, tem uma panela na cabeça à falta de chapéu. Ele é assim por um motivo muito lógico: o maluquinho tem cabeça. Não tivesse cabeça, teria que seguir descalço de chapéu. No caso, de panela. É por isso que eu acho desconfortável, para não usar uma palavra mais pesada, que o Líder da Paz não possa usar sequer um barrete, seja lá o que isso signifique, um ostensório, um quepe, uma morsa, qualquer coisa para cobrir a cabeça.
O cara não tem cabeça. Ter cabeça compreende, em linguagem cirílica, ter cérebro dentro. Ostentar só o invólucro não adianta, é preciso ter o refil. Cabeça é um lance que muita gente perde já na juventude. Faz amizade no quartel, viaja na maionese, perde a cabeça e planeja fazer maldades na casa onde come e dorme. Cabeça perdida é difícil de encontrar.
Quem encontra uma e vê que está vazia nem se incomoda em devolver. Faz logo um vaso e planta violetas imperiais. E o líder maluquinho não tem cabeça. Tem o invólucro. Invólucro todo mundo tem, menos a mula sem cabeça. Ah! Ia esquecendo: E Maria Antonieta. Mas essa nem é daqui, e a gente costuma trabalhar só com produto naconal.
Sobre Solda
Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido
não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em
Nelson Padrella - Blog do Zé Beto. Adicione o
link permanente aos seus favoritos.