© Claudio Paiva

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O poeta sem livros

Como Buda, Confúcio, Sócrates ou Jesus, Torquato Neto (1944|1972) não deixou livros. –  Paulo Leminski

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Não sei, talvez eu tenha perdido a barca do Bukowski

Dá na mesma. Villon, Baudelaire, Leminski, Bukowski et caterva. Os reflexos ainda estão nas janelas, nos blogues, nos bares, nos livros. Aquela azia, a sede imensa logo de manhã, a bexiga implorando perdão, a cabeça batendo estaca, o sol ardendo nos olhos. Alma na mesa. Bar fedido. As palavras tontas e tão loucas jorrando. Litros de vodka, rum, cachaça, uísque, gim pelo ralo. Cigarro, cigarro, pigarro, tosse, catarro. Barba, cabelão, inchaço, podridão. Poemas em guardanapos. Discussões sem-fim só pelo amor à última palavra, à conceituação equivocada, aos olhos arregalados.

Sempre tive a impressão de que a palavra salvaria o mundo. Um verso perfeito, um conto magistral, o romance do século. Le mot just. A palavra, porém, nunca se esgota. Mas nos esgota. A gente vai puxando o fio da merda e ela vai ressuscitando Kerouac, Nerval, Hemingway, Cortázar, Borges, Cassady e Rimbaud. Nada de novo no frontispício. Nós, os novos, nunca! Já velhos novos e nunca. Febre nas livrarias — quem se livra? E o copo se enche e esvazia. A palavra é o pio do povo. E a festa parece que não acaba. A barca do Bukowski passou lotada, de novo. Perdi a passagem. Só de me embrenhar em mim mesmo já não acho saída, muito menos a entrada certa. Que dirá…

*Autor de Nem bobo Nem Nada, que você não leu, nem nunca vai ler, né?

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Flagrantes da vida real

Quem avisa, amigo é. © Maringas Maciel

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Paisagem submersa

Abaixo do oceano havia outro oceano que revelava um novo mundo. Ninguém ouvira falar, não havia vestígio desta terra submersa, quando, nas profundezas do mar sem fim, este lugar foi encontrado. Pausa. Respiro. Breve eternidade de surgir, ao acaso, um mundo perdido. Vasto, incompreensível, gigante.

Em que horas seu rosto começou a dissolver-se no tecido fino da memória? Quanto tempo levou para sua imagem dissipar-se como fotografias lavadas pelo tempo?  Ainda existe o contorno dos seus olhos, a marca da sua boca, um sorriso pego por acaso. Suas linhas antes tão definidas apagaram-se, sumiram, como tempestade no deserto. Agora apenas aridez e sol escaldante. Insolação.

Escrevo pelo meu corpo o que não quero esquecer. Frases, ritmos, números, símbolos. E o tempo os leva como fez desaparecer, quase por completo, sua identidade. Transformou-a em outra, suspendeu a lógica, sublinhou o ar. A respiração, que ouvia quando você estava ao lado, e quando estava longe, permanece nos sonhos. Te ouço quando durmo.

Construo uma imagem de algo que foi inteiro um dia. Invento, crio, imagino. Sua pele suave como pétala, sua voz perto dos meus ombros, a fumaça entre os dedos. Não é mais meu, não é mais nada, não faz parte. Paisagem submersa.

O cheiro das coisas que estavam ali mudou, a cor das músicas esvaiu-se, o céu que assistia o anoitecer inundou-se de estrelas. Escrevo na minha pele todas as palavras que são minhas, que são agora o tempo incessante e preciso, que formam um outro rosto no qual eu escuto, soletro e respiro. Até adormecer.

O oceano estava ali, intacto, abissal, entre as rochas, à espera do tempo seguinte. Onde estão as linhas, os segredos, as memórias, os contornos daquilo que um dia fomos nós.

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Os erros do novo Lula

Há um sentimento entre aqueles que estiveram com Lula neste quase um ano de seu retorno à Presidência da República: ele está um pouco mais lento politicamente para compreender a dinâmica do Congresso.

Segundo quatro pessoas ouvidas pelo Bastidor, entre os quais parlamentares, empresários e aliados, o presidente tem dificuldade com algumas questões do governo.

Um dos exemplos citados foi o encontro que Lula teve com o presidente da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL), no início de novembro. O presidente começou a conversa dizendo que a reunião era importante para tratar “da agenda parlamentar para o segundo semestre”. Foi lembrado de que estavam em novembro.

Dias antes, perguntou ao ministro Rui Costa (Casa Civil) o motivo de não terem editado uma medida provisória para reformar o Ensino Médio em vez de enviarem um projeto de lei.

Foi lembrado que Lira tem dificultado a tramitação de MPs e que as medidas eram de grande impacto, por isso não seria a melhor estratégia tentar implantá-las sem discussão no Congresso e com efeito imediato. A poucos meses do fim do ano letivo, não era aconselhável arriscar uma MP que ficaria parada.

O presidente participou diretamente das negociações com Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, para que o governo evitasse a edição de medidas provisória, preferindo os projetos de lei, porque o Congresso não se acertou sobre a tramitação das MPs.

Também é atribuído ao presidente a decisão de pular o Congresso e abrir um arriscado canal direto com prefeitos para os investimentos do PAC. É um erro primário, diz uma liderança do governo. Além de precarizar a relação com os parlamentares, prejudica a própria escolha de prioridades.

Segundo um petista, ajuda a piorar a situação política do governo a dificuldade do Rui Costa em analisar conjunturas para levar ao presidente.

A dificuldade de lidar com a nova situação política foi evidenciada na demora de resolver as questões do PP e do Republicanos. Pior, de escondê-los. Lula não fez evento público para a nomeação dos ministros André Fufuca (Esporte) nem de Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos).

Também Lula rejeitou que a posse do presidente da Caixa Econômica Federal, Carlos Vieira, ocorresse no Palácio do Planalto.

Tudo foi anotado pelo centrão.

A aprovação dos projetos de interesse do governo no Congresso neste primeiro ano, continua o petista, deve ser creditada ao controle de danos de Lira sobre seus pares e a coincidência de pautas com a sua própria agenda, principalmente nos temas econômicos.

O receio é que no ano que vem, quando os interesses de Lira podem ser divergentes em relação aos do governo, e com Haddad desgastado por conta das disputas internas, o governo acumule derrotas se nada mudar na articulação.

Segundo um empresário, o presidente está com dificuldades de compreender as mudanças na relação com o Congresso e de entender até as novas demandas do PT. “Este primeiro ano praticamente ocorreu porque há boa-vontade de todos, difícil serão os próximos a permanecer o ritmo”, diz.

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Elas

Marília Marzullo Pêra – 1943|2015.  © Ana Paula Migliari|Arquivo TV Brasil

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Mural da História – 2012

6 de outubro, 2012 

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Mural da História – 2009

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São Paulo tem apagão na Prefeitura há mais de dois anos, relatam moradores

O apagado prefeito de São Paulo

Diversos bairros da cidade de São Paulo ficaram sem energia durante dias após um temporal na última sexta. Moradores do centro dizem que o prédio da prefeitura, no entanto, está com apagão há mais de dois anos.

O paulistano ficou chocado não com a demora da volta da energia, mas ao saber que a cidade tinha prefeito. “Ele é muito apagado”, disse um assessor.

Até agora o Sensacionalista não conseguiu apurar qual o nome do prefeito.

“Tomara que a luz volte para a cabeça do paulistano nas eleições”, disse um morador. “Vice também é eleito, já dizia Michel Temer”.

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Mural da História – 2019

Na última edição do jornal cultural Rascunho, número 326, lemos na página 3 o texto de Jonathan Silva, que merece ser divulgado. Sob o título Capivaras vetadas, ele escreve o seguinte:

“Luisa Geisler, finalista do Prêmio Oceanos e vencedora duas vezes do prêmio Sesc de Literatura, teve a participação cancelada na Feira do Livro de Nova Hartz, no Rio Grande do Sul,depois que seu livro mais recente Enfim, capivaras, foi categorizado como “impróprio” por conter palavrões e ingestão de bebidas alcoólicas. Em nota publicada nas redes sociais, a Companhia das Letras afirmou que  “repudia qualquer tipo de censura” e declarou apoio à autora. Até o fechamento desta edição, a organização do evento não havia se pronunciado”.

Como democrata que sou também repudio qualquer tipo de censura na arte e dou o maior apoio à Luisa Geisler, cujas capivaras eu gostaria muito de conhecer.

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Ponto final

Eles estão sempre discutindo e decidindo a minha vida — a portas fechadas, na mesa de um café, na rodada de cerveja, no escuro do quarto. Não consigo acompanhar as andanças desses que discutem e decidem minha vida. Às vezes é pouca coisa — se ele mudasse o penteado… Se parasse de usar roupas de jovens… Se fosse consultar uma sortista… A essas coisas até que não dou muita importância — e isso também é motivo de discussão entre eles: se ele desse mais importância às pequenas coisas desse tipo… Muitas vezes nem fico sabendo o que foi discutido e decidido.

Só colho olhares atravessados, sorrisos forçados, gestos dissimulados e indiferença. A massacrante indiferença! E sinais — sim, sinais! Eles fazem questão de me dizer você não prestou atenção aos sinais que enviamos. Sinais — um dia sem palavras, um trancar de porta, a falta de convite para a festa, a roupa íntima nova, a demora para atender ao telefonema. Benditos e silenciosos sinais! O ar fica pesado e frio. Quando o assunto é mais sério, envolve decisões drásticas e exige imediata tomada de decisão — e ação — me chamam — sem palavras, só com gestos — a uma sala preparada para o momento.

Até jarra de água e copos estão à espera. Nem precisariam falar nada, dar ordens ou fazer a acusação final. O aparato já me faz ver que fui condenado e terei de cumprir a pena. Pode ser demissão, rebaixamento de cargo, fim de uma relação amorosa ou cessação de algum benefício por eles concedido anteriormente. Já conheço o teor da peroração — é sempre para o meu bem — os desejos explícitos — boa sorte, tudo vai se ajeitar. Fique bem! Nem as palavras eles conseguem mudar.

E nem precisariam — seria muito esforço para o mesmo final. Decoraram tão bem as expressões que — acreditam — com elas obtêm expressivo resultado em qualquer situação. Faz parte da estratégia deles serem sempre iguais — surte efeito, alivia a consciência. Tinha que ser assim — eis o fim. E sabem que isso vai me fazer ferver por dentro, sem ter como reagir. O sangue que some do rosto, os olhos que se perdem no vazio, o frio que se instala no estômago, as pernas que fraquejam. Talvez riam disso depois. A única questão que nunca abordam é quanto ao andamento das suas próprias vidas depois do que fazem com a minha vida.

Parecem soberanos quanto a isso. Têm olhos firmes no futuro, objetivos sólidos e vontade férrea. Nunca tentei argumentar a esse respeito. Aferrei-me a um antigo preceito — tão antigo como o próprio mundo — e me dou por feliz. Hesíodo disse e está dito — os deuses são caprichosos. Ponto final.

*Rui Werneck de Capistrano é grande mas não é dois.

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Já foi na Academia hoje?

Ernani Buchmann é escritor, publicitário, jornalista, advogado e membro da Academia Paranaense de Letras.

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Grandes esportistas do Século 20

Juvenildo – Jogador de futebol, Brasil, 1926 – “Cotovelo de Ouro” era o apelido de Juvenildo Constâncio, criador do gol de cotovelada. Sua habilidade não se restringia ao braço esperto: era hábil e poderosotambém nas cabeçadas e na dança do ventre. Apareceu no futebol quando foi escalado pelo técnico Artacherches Fonseca como centro-avante do Frontêra Bagual, no Rio Grande do Sul, em 1943, numa memorável partida em que o time gaúcho goleou o CTFC (Centro de Tradição do Futebol Catarinense) por 6×0, fazendo três gols de cotovelada e um com a barriga milagrosa que espantava a torcida.

Nunca chegou à Seleção Brasileira, pois era adepto do “copo de cerveja fatal” que o afastava dos coletivos por intoxicação alimentar.Também era mulherengo e viciado em naftalina. Na derrota do Brasil para o Uruguai, em 1950, chorou copiosamente e morreu afogado nas próprias lágrimas, ao descobrir que a empregada havia limpado as gavetas e jogado fora todas as suas bolinhas de naftalina. Era ainda nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga.

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