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Naquela mesa tá faltando…
1955 – Jayne Mansfiel. Playmate of The Year
Publicado em Playboy - Anos 50
Com a tag coleção playboy, playboy anos 50, revista playboy
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Ratos e homens
Ruy Castro – Folha de São Paulo
A tese é recorrente e nunca passa muito tempo sem ser exumada, ter a poeira espanada e voltar à cena como novidade –até ser abandonada de novo por resultados pífios. É a que prega o uso de alguma substância para ajudar a controlar ou vencer o alcoolismo. Nos últimos 50 anos, todas as substâncias, das drogas mais pesadas ao Ovomaltine –ponha aí aversivos, remédios tarja preta, morfina, cocaína e até heroína–, já foram tentadas por pessoas dispostas a parar de beber e, quase sempre, com consequências desastrosas.
Em regra, esses tratamentos resultaram não na interrupção de uma dependência, mas na substituição de uma por outra ou no acréscimo de uma segunda à primeira –a pessoa parou de beber, mas se tornou dependente de remédios, ou então somou as dependências. O contrário também vive sendo tentado, e com os mesmos resultados: pessoas que passaram a beber para deixar de cheirar descobriram encantadas que não havia incompatibilidade entre as duas drogas e se atiraram alegremente a elas.
A tese mais recente, desenvolvida por cientistas paulistanos, consiste no uso do THC, que é o princípio ativo da maconha, para “reduzir ou eliminar o efeito de fissura –a vontade extrema de repetição da dose– causado pelo álcool”. A coisa foi testada em ratos e, segundo eles, deu certo. Tratados com etanol por 11 dias e com THC por quatro, os roedores sossegaram e pararam de correr pra lá e pra cá. Não entendi bem a relação, mas supõe-se que, servidos de THC, os seres humanos também sossegarão e passarão a dispensar uma dose depois da outra.
A tese parte de um ponto coerente. A “fissura” é fisiológica e, se se achar uma substância que a limite, o sujeito beberá menos.
Mas temo que, tratado com THC, o bebum continuará bebendo e apenas parará de correr pra lá e pra cá.
Eva Todor, nome artístico de Eva Fodor Nolding, atriz húngara naturalizada brasileira. 1919, Budapeste, Hungria|2017, Rio de Janeiro. © Divulgação
Underground
Morreu Luiz Carlos Maciel. Devemos muitíssimo a ele!
Morreu neste sábado (09), no Rio de Janeiro, o jornalista Luiz Carlos Maciel. Aos 79 anos, ele sofria de uma doença pulmonar crônica.Neste Brasil de memória curta, muitos perguntarão: Quem foi Luiz Carlos Maciel?
Tento responder pr mim.
Luiz Carlos Maciel foi uma referência fundamental na formação de muita gente ali entre as décadas de 1960 e 1970. Os que (como eu) não eram da faixa etária dele, mas ainda puderam acompanhá-lo a partir do início dos anos 1970, devem muitíssimo a Maciel e à sua militância.
Contracultura. Essa palavra-chave, aprendi com ele. E, se há algum traço de contracultura no jornalismo cultural que tantos fazem, podem ter certeza, vem dele.
Sartre, Reich, Marcuse, Beckett, Castaneda, Hesse, Kesey, Ginsberg, Leary – no Brasil, entre os garotos da minha geração, muitos chegaram a esses e a outros pelas suas mãos.
Maconha, feminismo, gays, cabeludos, hippies, desbundados – tudo isso já estava no repertório do Maciel que li no início da minha adolescência, em 1972.
Luiz Carlos Maciel no Pasquim. Graças a ele, lemos o Caetano do exílio.
Rolling Stone. Não essa revista de boutique que temos hoje, mas o jornal, tamanho tabloide, papel de jornal – a sua presença, no Brasil de 1972/1973, não seria possível sem Maciel.
Luiz Carlos Maciel passou pela efervescência da Bahia do final dos anos 1950, esteve na América dos anos 1960, foi preso pela ditadura militar, fez do jornalismo underground do Flor do Mal aos roteiros mainstream da TV Globo. Pensou o Brasil. Atormentou-se com o Brasil. Andou desempregado no Brasil. Morre num Brasil que o entristecia. Grande, imenso Luiz Carlos Maciel!
Publicado em Sem categoria
Com a tag jornal da paraíba, luiz carlos maciel, o pasquim
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Os Robertos (Prado e José da Silva)
© Roberto José da Silva
Nunca na nossa sala
Ruy Castro – Folha de São Paulo
RIO DE JANEIRO – Há dias, escrevi aqui que, pelo que vemos e ouvimos na TV, o nível dos nossos senadores e deputados era de amargar. “Muitos mal sabem ler”, arrisquei —e devo ter acertado, porque ninguém se apresentou para defender a si próprio ou aos colegas. E não estava me referindo ao fato de que, ao ler extensos relatórios, suas excelências fazem isso em tom monocórdio, engolindo consoantes e sem tirar os olhos do papel —estes são os doutores entre eles. Referia-me aos que leem mal mesmo, por falta de cartilha na infância.
Por razões profissionais, ando mergulhado no Brasil da República Velha e convivendo com os grandes nomes da política da época. Muitos chegaram até nós como nomes de ruas, hospitais e até presídios, e, quando os ouvimos hoje, temos de fazer um exercício intelectual para nos lembrarmos de que, em seu tempo, eles discursavam na tribuna, tomavam cafezinho, comiam pastéis, andavam de bonde etc. —enfim, existiam como pessoas. Eles nos fazem pensar sobre a constituição dos governos do passado.
A República Velha (1889-1930), com todos os seus fabulosos defeitos, teve como ministros de Estado homens como o Barão do Rio Branco, Quintino Bocaiúva, Rui Barbosa, Joaquim Murtinho, Lauro Muller, Oswaldo Cruz, Afrânio de Melo Franco, apenas entre os mais facilmente reconhecíveis pela posteridade. O próprio primeiro período de Getulio Vargas (1930-1945) podia se gabar de ter Oswaldo Aranha a seu lado. E, em tempos mais recentes, não foi por falta de cabeças que João Goulart (1961-1964) caiu —com ele estiveram Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Hermes Lima, Evandro Lins e Silva, San Tiago Dantas, Walther Moreira Salles.
Por que deixamos a política contemporânea nas mãos de certos fulanos que nunca admitiríamos na nossa sala? Mas o Congresso é a nossa sala.
Mural da História
20 de fevereiro, 2010 – O Ex-tado do Paraná
Publicado em mural da história
Com a tag mural da história, o ex-tado do paraná
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Sessão da meia-noite no Bacacheri
A atriz Nina Hoss vem de uma família liberal. Seu pai, Willi Hoss é sindicalista e político (membro do Bundestag pelo Partido Verde). Sua mãe, Heidemarie Rohweder, foi atriz do Staatstheater Stuttgart e mais tarde diretora do Württembergischen Landesbühne Esslingen. Em 2006, Nina estrelou o personagem título do filme Yella, dirigido por Christian Petzold. Por este papel, foi premiada com o Urso de Prata de Melhor Atriz na edição de 2007 do Festival de Berlim.
Yella, de Christian Petzold (Alemanha, 2007). Do argentino O Método ao hollywoodiano O Diabo Veste Prada, passando pelo francês O Corte, o cinema contemporâneo parece estar se interessando cada vez mais pelo mundo dos negócios e das grandes corporações. Por mais diferente que sejam tais retratos, uma característica acaba os aproximando: em todos os filmes citados, quanto mais os personagens se imbricam e mergulham nesse meio, mais eles vão perdendo sua alma e sua humanidade. O que esses filmes parecem querer nos dizer é que, para ser bem sucedido no mundo dos negócios, é necessário deixar de lado sentimentos nobres como compaixão, humildade e carinho.
Yella não é uma exceção em seu retrato de uma jovem alemã que busca uma virada em sua carreira após o fim de um relacionamento conturbado. Yella, a personagem título, deixa o ex-marido e seu pai para trás em busca de um emprego no Oeste da Alemanha (e essa migração da personagem da ex-Alemanha Ocidental para o lado Oriental do país não deixa de trazer uma conotação política ao filme). Ao descobrir que o emprego que lhe havia sido prometido na realidade não existe, Yella acaba encontrando refugio em Philipp, um executivo especializado em negociar empréstimos de alto risco.
Philipp acolhe Yella como sua assistente, ensinando-a os macetes das negociações (em um dos poucos momentos de alívio cômico neste filme bastante tenso) e como chegar ao ponto fraco do cliente para tirar vantagem da situação. Quanto mais envolvida com os negócios e com Philipp, mais Yella vai se profissionalizando e, conseqüentemente, se desumanizando.
O cotidiano desses personagens, conforme retratado por Christian Petzold, é composto basicamente por escritórios, quartos de hotel e longas viagens de carro. Um universo impessoal e puramente funcional, onde tudo é construído em torno dos negócios. Mesmo as relações pessoais são pautadas como numa negociação, com frases calculadas e muita linguagem corporal. Mas há também um outro lado nessa história, algo estranho no ar, que está sempre presente graças ao bom uso da trilha sonora e à atuação de Nina Hoss, sempre meio ausente e deslocada da situação onde se encontra. Sabemos que há algo mais, mas não sabemos exatamente o que, o que aumenta a tensão ao longo da projeção e transforma o que seria um filme sobre o universo corporativo numa espécie de suspense inexplicável.
Ao final, descobrimos que Yella é construído sobre um artifício, uma informação omitida ao espectador. Entretanto, diferentemente de tantos outros filmes que se utilizam de expedientes semelhantes, Petzold consegue sustentar seu filme para além e apesar deste artifício, graças à sua direção econômica, mas precisa, à excelente fotografia e à marcante atuação de Nina Hoss. Dessa forma, a virada final do roteiro acaba sendo quase que uma concessão supérflua a este filme bastante intrigante. Revista Cinética
Publicado em Sessão da meia-noite no Bacacheri
Com a tag reuters, Sessão da meia-noite no Bacacheri
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