Temer sinaliza a Maia que vai tirar Imbassahy da Secretaria de Governo

O presidente Michel Temer sinalizou nesta semana ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que a permanência do ministro Antonio Imbassahy (PSDB-BA) na Secretaria de Governo chegou ao fim da linha, informa o repórter Nilson Klava, da GloboNews.

Maia, que até agora vinha defendendo Imbassahy, mudou de posição diante da divisão nos partidos da base aliada.

“Maia se convenceu. O momento político exige uma mudança”, relatou um aliado do presidente da Câmara.

Responsável pela interlocução do Planalto com o Congresso, Imbassahy – cada vez mais – tem se enfraquecido no governo.

Os líderes do “Centrão”, por exemplo, deixaram de despachar com ele e, assim, e o chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, assumiu a função de articulador político.

Mas, diante da proximidade de Imbassahy com Temer, o ministro pode ser deslocado para outra pasta, como o ministério do Turismo. O atual ministro, Marx Beltrão (PMDB-AL), está de mudança para o PSD e tem perdido sustentação no cargo.

A sinalização de Temer a Maia faz parte da série de conversas entre os dois. O presidente da Câmara vem participando, diretamente, das conversas sobre reforma ministerial.

“Passa tudo por ele [Maia]. Temer tem conversado com ele, e Maia conversa com todos os líderes. Para pacificar a base, você tem que pacificar a presidência da Câmara”, afirmou um líder governista.

Blog do Camarotti

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“Lewandowski contra o STF”

Ricardo Lewandowski desmoralizou ainda mais o STF. Ao se negar a homologar o acordo do delator Renato Pereira com a PGR, ele atropelou uma decisão do próprio STF.

Leia um trecho da coluna de Merval Pereira:

“No julgamento que definiu que os acordos gerados pelas delações premiadas só podem ser revistos caso seja constatada alguma ilegalidade, com base no §4º, artigo 966 do Código de Processo Civil, a maioria do plenário decidiu que o STF deveria avaliar a eficácia pura e simplesmente do acordo firmado, e não seu mérito.

Foi o decano Celso de Mello quem melhor definiu a postura do Supremo, afirmando durante os debates que o STF não pode recusar homologação de acordo de delação premiada aprovado pela Procuradoria-Geral da República, como fez agora Lewandowski, sob o risco de arquivar a investigação.

Pelo entendimento vitorioso no plenário, a legislação em vigor não permite a intervenção do magistrado nessa fase do processo. A homologação só deve levar em conta aspectos formais da delação, como definiu no voto que liderou a divergência o ministro Luis Roberto Barroso: os acordos fechados pela Procuradoria-Geral são analisados em um primeiro momento pelo relator dos processos, apenas sob o prisma da voluntariedade, espontaneidade e legalidade, e num segundo momento, pelo colegiado, na hora de dar a sentença, pela eficácia das denúncias.

Pelo texto aprovado por sugestão do ministro Alexandre de Moraes e assumido pelo relator Edson Fachin,  somente quando forem encontradas ilegalidades fixadas no Código de Processo Civil os acordos poderão ser anulados.”

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O pato caiu na delação

Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

BRASÍLIA – As delações dos marqueteiros Duda Mendonça e João Santana ajudaram a desvendar os esquemas do PT. Agora é a vez de Renato Pereira abrir a caixa-preta do financiamento das campanhas do PMDB.

As confissões do publicitário atingem figurões do partido nas duas maiores cidades do país. No Rio, ele delatou Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Eduardo Paes. O primeiro está preso, o segundo é o atual governador e o terceiro quer disputar a cadeira em 2018. O plano pode ser abortado se a doutora Raquel Dodge completar o serviço do antecessor.

Na delação, Paes é acusado de organizar um caixa clandestino com dinheiro de empreiteiras e da máfia dos ônibus. Numa passagem, o marqueteiro diz que o ex-prefeito o orientou a buscar R$ 1 milhão em espécie na sede das empresas de Jacob Barata Filho, que voltou a ser preso nesta semana. Paes nega as acusações.

Em São Paulo, Pereira delatou Paulo Skaf e Marta Suplicy. A dupla defendeu as cores do PMDB nas últimas eleições para o governo e a prefeitura. No ano que vem, Skaf pretende disputar o mesmo cargo. Marta tentará a reeleição no Senado.

Segundo o publicitário, a ex-prefeita usou um contrato do Ministério da Cultura para cobrir gastos eleitorais. Se as provas forem suficientes, ela pode ser denunciada por peculato.

Na terça-feira, o ministro Ricardo Lewandowski cobrou ajustes no acordo de delação. A decisão abre espaço para que Pereira esclareça alguns pontos cegos do depoimento.

No capítulo sobre Skaf, o marqueteiro diz que recebeu dinheiro da Fiesp e do Sistema S para promover o empresário “com vistas à disputa eleitoral de 2018”. O desvio de finalidade está claro, mas o valor do serviço ainda é desconhecido. Pereira também afirma que a campanha “Quem vai pagar o pato?”, que ajudou a instalar o PMDB na Presidência, foi fruto de uma fraude. Ele conta que Skaf direcionou uma licitação para beneficiar sua produtora. Falta dizer quanto ganhou pela ideia.

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Zumbi dos Palmares

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Juízes, ‘juízes’ e o auxílio-peru

© Reuters

Pois é, há Juízes com J maiúsculo e há juízes minúsculos. Vejam esta. Deu no site da Gazeta do Povo (mas também na Folha e no site O Antagonista): “Enquanto 221.604 servidores e aposentados do Rio ainda aguardam o pagamento do salário de setembro, o Tribunal de Justiça do Estado depositou na terça (14) R$ 2 mil a juízes e servidores a título de abono de Natal”.

O benefício, que é conhecido como “auxílio-peru”, nada tem a ver com o 13º salário. Foi criado em 2007 e é pago a magistrados e a todos os servidores do Judiciário, já beneficiados em relação a outras categorias no cronograma de pagamento de salários do Estado. Mas foi justificado por s. exª. o ínclito presidente do egrégio TJ/RJ, desembargador Milton Fernandes: “Diante da crise financeira pela qual passa o Estado, seria um desestímulo muito grande aos servidores suspender o abono justamente neste momento”.

Uma questão de justiça, não é excelência?!

Graças ao céus, nem todos os juízes deste país pensam assim.

No Maranhão de José Sarney, o juiz auxiliar de entrância final Carlos Roberto Gomes de Oliveira Paula requereu na última segunda-feira à presidência do TJ/MA a renúncia ou desistência dos auxílios relativos a moradia, saúde, alimentação e livro. O magistrado argumentou que os benefícios são vedados pela CF e que se sente incomodado com as justas críticas da população quanto aos “penduricalhos” que recebe. Sem solução do impasse pelo Supremo, pediu a renúncia dos auxílios.

O magistrado realçou que, de acordo com a norma constitucional do art. 39 § 4º, o magistrado é remunerado exclusivamente por subsídio fixado em parcela única, vedado o acréscimo de gratificação. O subsídio, por sua vez, deve ser fixado por lei específica de iniciativa da presidência do STF, como determina o art. 37, incisos X e XI da CF.

E aduziu que o fato do subsídio dos magistrados não ter sido reajustado, não justifica a compensação com a concessão das verbas auxiliares.

O doutor Gomes de Oliveira Paula não é o único integrante da magistratura brasileira ou do Ministério Público a pensar assim. Nem foi o primeiro a desistir dos ditos “auxílios” suplementares.

Em outubro de 2014, o doutor Celso Fernando Karsburg, do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul, já anunciara que estava abrindo mão do vale moradia, pois considerava a medida “indecente e antiética”. Ele concorda que o salário na magistratura está defasado, mas afirmou que o benefício, estendido a toda a classe por meio de liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é uma maneira incorreta de repor perdas salariais. Lembrou que o auxílio-moradia é previsto na Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Loman) desde 1979, mas apenas em casos onde o juiz precisa se estabelecer longe da comarca de origem.

Em Joinville, SC, o procurador da República David Lincoln Rocha também recusou-se a receber o auxílio-moradia a que faria jus. E não fez segredo da sua opinião:

“Brasil, um país onde não apenas o rei está nu. Todos os poderes e instituições estão nus, e o pior é que todos perderam a vergonha de andarem nus. E nós, os procuradores da República, e eles, os magistrados, temos o vergonhoso privilégio de recebermos R$ 4.300,00 reais de ‘auxílio moradia’, num país onde a Constituição Federal determina que o salário mínimo deva ser suficiente para uma vida digna, incluindo alimentação, transporte, moradia, e até lazer”.

E continuou: “Então, no serviço público, nós, procuradores da República, e os magistrados, teremos a exclusividade de poder conjugar nas primeiras pessoas o verbo morar. Fica combinado que o resto da choldra do funcionalismo não vai mais ‘morar’. Eles irão apenas se ‘esconder’ em algum buraco, pois morar passou a ser privilégio de uma casta superior. Tomara que Deus não exista…”

Justificou: “Penso como seria complicado, depois de minha morte (e mesmo eu sendo um ser superior, um procurador da República, estou certo que a morte virá para todos), ter que explicar a Deus que esse vergonhoso auxílio-moradia era justo e moral. Como seria difícil tentar convencê-Lo (a Ele, Deus) que eu, defensor da Constituição e das leis, guardião do princípio da igualdade e baluarte da moralidade, como é que eu, vestal do templo da Justiça, cheguei a tal ponto, a esse ponto de me deliciar nesse deslavado jabá, chamado auxílio-moradia.

“Tomara, mas tomara mesmo que Deus não exista, porque Ele sabe que eu tenho casa própria, como de resto têm quase todos os procuradores e magistrados e que, no fundo de nossas consciências, todos nós sabemos, e muito bem, o que estamos fazendo. Mas, pensando bem, o inferno não haverá de ser assim tão desagradável como dizem, pois lá, estarei na agradável companhia de meus amigos procuradores, promotores e magistrados.

“Poderemos passar a eternidade debatendo intrincadas teses jurídicas sobre igualdade, fraternidade, justiça, moralidade e quejandos. Como dizia Nelson Rodrigues, toda nudez será castigada!” – completou. Será, excelência? V. Exª., tristemente, é apenas uma das honrosas exceções.

Célio Heitor Guimarães

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Todo dia é dia

Amy Winehouse. © LePress

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Na moldura

Lina Faria. Autorretrato, em algum lugar do passado.

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That’s all, folks!

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O desespero da Rede Globo

Meu filho mais velho, Eli, 40 anos, casado, pai de duas meninas gêmeas de dois anos de idade, morador de Curitiba, já passa mais de um ano sem nenhum televisor em casa… Eu soube que isso acontecia há pouco tempo, quando ele veio me visitar em Vinhedo (SP) com a família – as encantadoras Isadora e Manuela e a esposa, a professora e diretora de teatro, Maira Lour…

Não havia como não descobrir: minha casa ainda tem nada menos de três televisores, inclusive TV por assinatura, mas em cinco dias que aqui estiveram nenhum deles viu sequer um décimo do tempo de televisão que vemos aqui em Vinhedo… Não é impressionante ?

Eli é diretor de fotografia em vídeos publicitários e a cidade onde mora, Curitiba, é uma praça bastante forte na produção de vídeos, opção a quem procura preço e qualidade…

MAIS UM SINAL

Eli tem observado que rarearam as encomendas de vídeos publicitários mais longos e sofisticados para exibição na TV aberta: “É neles que a gente ganha mais dinheiro!”, queixa-se…

Além de Eli, tenho mais três filhos, todos com mais de 30 anos e nenhum com aquela dependência mínima de TV – se a TV desaparecesse da vida dos três, não faria falta…

Tenho um sinal ainda mais contundente dessa nova ordem que parece se instalar no mercado de TV: ainda há pouco tempo, estive na fazenda da Família Mesquita, aqui perto de casa…havia uma comemoração na cancha de bocha (Rodrigo Mesquita, meu amigo, é apaixonado por bocha) e ali estiveram reunidos para um churrasco perto de 15 adolescentes – garotos e garotas na faixa de 15 a 17 anos…

Anoiteceu e então descemos para o casarão onde um amigo, violonista e cantor, ofereceria uma canja…estranhei a ausência da garotada e, à procura dela, abri a porta de um quarto: estavam todos lá, em silêncio, absortos em laptopes e celulares…

MAIS QUE INDÍCIOS

Esse encadeamento de fatos e cenas me ofereceu um retrato preciso e completo das transformações em curso no mundo das comunicações…os primeiros a entrar em disrupção foram os impressos…

Esse filme que só agora começamos a ver em relação à TV já vi em relação aos impressos…fui dos poucos jornalistas, talvez por mero atavismo, a escrever sobre a força milenar dos jornais e a considerar que os impressos teriam uma sobrevida tão longa quanto foi longo o hábito de consumir informação em papel…Capitulei há cerca de um ano atrás ao ser informado sobre a agonia da Gazeta do Povo, o principal jornal de Curitiba…

Eu morei por longos 16 anos em Curitiba e já havia presenciado, pegado na mão e apalpando, uma Gazeta com 500 páginas – eu disse, qui-nhen-tas páginas !

TODOS EM CRISE

Hoje, no Brasil, todos os jornais que sobreviveram até aqui – eu disse, todos – estão em crise…Pagar as contas do mês é uma luta renhida !

Alguns se salvarão do abismo se conseguirem implantar bons serviços de difusão de informações pela via eletrônica e souberem aproveitar a força de marcas poderosas, como foi a do Estado de São Paulo…Que se contentem neste começo com um patamar de receitas bem inferior…

É chegada a hora da televisão, a começar pela TV aberta…as receitas já encolhem e, cada vez mais, os anunciantes descobrem a incrível flexibilidade da internet, com receitas de publicidade em franca ascensão!

Faz já mais de um ano que o mercado financeiro identifica manobras da Globo para mudar a lei que fixa em apenas 30% a participação de capital estrangeiro em empresas de TV no Brasil…há informações de que a Globo já tem ofertas de grupos internacionais, mas o limite legal impede a negociação…

O momento de vender é agora…a disrupção será rápida…e o governo Temer resiste à mudança e talvez não haja tempo… A Globo já tentou derrubá-lo mas não conseguiu… É nesse contexto que eu coloco o caso Wiliam Waack, que na minha opinião pouca coisa tem a ver com racismo… o apresentador foi, digamos, uma primeira cabeça entregue de bandeja pela emissora a quem a pediu… outras cabeças, por certo, rolarão! Dirceu Pio

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Mural da História

17 de abril, 2010 – O Ex-tado do Paraná

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O brasileiro que fotografou Picasso, Dalí, Warhol, Kurosawa, Chagall…

A família de Eddy Novarro, fotógrafo morto em 2003, prepara para 2018 uma retrospectiva que dará ao público acesso a um imenso acervo fotográfico com imagens de alguns dos maiores artistas, escritores, músicos, cineastas, arquitetos e personalidades do século 20.

A exposição marcará os 60 anos do encontro de Novarro com Pablo Picasso, o pintor que se tornou espécie de padrinho do jovem que o impressionou com seu conhecimento de artes.

Nascido na Romênia, Novarro veio ao país como refugiado da Segunda Guerra Mundial e se naturalizou brasileiro. Seguindo conselho do amigo Oscar Niemeyer —que certa vez lhe disse: “Vai nos olhos, Eddy, que a verdade está ali”—, passou a fazer retratos de seus amigos e de outros artistas da época.

É dele a premiada foto de 1957 na qual o pintor Cândido Portinari segura uma xícara de café com a mão direita enluvada —acessório que passou a usar para se proteger de intoxicação pelas tintas que o matariam.

No ano seguinte, o arquiteto Sérgio Bernardes levou Novarro para trabalhar com ele na Feira de Bruxelas. Ali, o fotógrafo ganha o mundo ao conhecer René Magritte e o famoso toureiro Luiz Dominguin, que o apresentaram a Picasso.

Com a bênção do pintor espanhol, Novarro teve passe livre para fotografar artistas como Miró, Dalí, Chagall, De Chirico, Magritte, Botero, Rivera, Kokoschka, Marcel Duchamp e muitos outros, incluindo o time de autores de cinco das sete obras de arte mais caras da história: Picasso, Giacometti, Andy Warhol, Francis Bacon e De Kooning.

No portfólio do fotógrafo estão também ícones mundiais de outras áreas, como o papa Paulo 6º, Dalai Lama, Albert Sabin, Akira Kurosawa, Miles Davis, André Malraux, Tennessee Williams, Juan Perón, Daniel Cohn-Bendit, Eugene Ionesco, Golda Meir, Konrad Adenauer, Ben Gurion e Anwar Sadat.

As fotografias de Novarro registram, ainda, gigantes brasileiros: Niemeyer, Ivo Pitanguy, Burle Marx, Di Cavalcanti, Tomie Ohtake, Volpi, Jorge Amado, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Fernando Henrique Cardoso, Juscelino Kubitschek e tantos outros.

Meu fascínio por Novarro só não é maior que minha decepção por jamais ter conversado com ele. Nunca me arrependerei o suficiente por não ter percebido quem ele era.

Conheci Novarro —ou melhor, poderia tê-lo conhecido– na Igreja Ortodoxa Russa de Santa Zenaide, no Rio de Janeiro, onde trocávamos simples cumprimentos formais. Naquela paróquia da colônia russa (e de todas as etnias do leste da Europa), pouco se falava português, o que me causava certa inibição, já que não falo russo.

Ali, me acostumei a avistar aos domingos, quando acompanhava minha mulher à missa, aquele distinto cavalheiro que devia ter uns 70 anos. De porte ereto e gestos contidos, costumava caminhar calmamente até o altar, onde acendia uma vela.

Vestia-se com apuro, sempre com um elegante foulard de seda em volta do pescoço, e tinha os cabelos tingidos de um preto radical. Ao lado de sua família —a mulher bem mais nova e o pequeno filho do casal, que me parecia uma perfeita miniatura do pai—, permanecia de pé até o fim da liturgia, como de costume na ortodoxia russa.

Sempre tive a impressão de se tratar de um comerciante bem-sucedido e, não sei bem por que, armênio.

A revelação de sua identidade só viria anos depois de sua morte, quando minha mulher e sua viúva se aproximaram. Em um chá na casa dela, descobrimos então quem tinha sido o seu marido. Fiquei em choque com os livros de fotos e catálogos de exposições em vários idiomas, o acervo arrebatador que revelava a vida de aventura de Eddy Novarro.

Minha primeira sensação foi a de qualquer mortal diante de um tesouro: fascínio e deslumbramento atônito. A segunda, de amarga estupidez, por não ter jamais conversado com aquele ser especial com quem esbarrei tantas vezes.

A terceira sensação me é recorrente até hoje: o desperdício de não ter feito com Novarro a matéria culminante da minha pobre carreira, se ele me revelasse o que ficou de sua trajetória fulgurante.

NILO DANTE, 83, trabalhou em dez jornais (dos quais dirigiu cinco) e quatro revistas do Rio. Foi correspondente de jornais brasileiros nos Estados Unidos, Inglaterra e Argentina. É autor do romance “O Sócio Oculto” (Midia In). Folha de São Paulo

 

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Tempo

Maria Cristina de Andrade Vieira e Alice Ruiz, no Casarão do Cunha, o Beto Batata de Paraty, 2004, Flip. © Vera Solda

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Que país é este?

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

meu-tipo-maribel-anamaria-marincaAnamaria Marinca

Mungiu4 Luni, 3 Saptamâni Si 2 Zile| 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

Em 1987, nos últimos dias do comunismo, Otilia (Anamaria Marinca) e Gabita (Laura Vasiliu) dividem um quarto num dormitório estudantil. Elas são colegas de classe na universidade de uma pequena cidade romena. Gabita está grávida e o aborto é ilegal no país. Otilia aluga um quarto num hotel barato. Lá elas recebem um certo Sr. Bebe (Vlad Ivanov) , chamado para resolver a questão. Mas, ao saber que Gabita está com a gravidez mais adiantada do que havia informado, Sr. Bebe aumenta as exigências para o serviço. Ele cobra um preço que as duas não estão preparadas para pagar. Direção de Cristian Mungiu, 2007. Romênia. Do balacobaco!

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