ELE NÃO QUERIA, ou se queria tinha medo de agir. Os aliados exigiram e Michel Temer demitiu afilhados de deputados que votaram contra ele no processo da câmara. Questão de justiça e utilidade para os aliados, para quem faltam cargos e sobram afilhados. Feio para Temer, para os aliados que cobraram as demissões, para os padrinhos ou para os afilhados?

Feio para os que venderam e não entregaram a mercadoria, os deputados que nomearam afilhados e votaram contra Temer. Feio para os afilhados, que continuaram, cara de paisagem, a fruir as sinecuras. Quem exigiu e quem demitiu agiu na estrita lógica do comércio político: eu pago, você entrega. Quem votou contra atuou fora da ética: vendeu, tinha que entregar.

Nem precisamos cair no complexo de vira lata e sacar que o Brasil inventou a bandalheira da troca de apoio pelos cargos. Isso veio do parlamentarismo e é conhecida no presidencialismo dos EUA como o spoils system: quem está no poder o compartilha com os aliados. O que nos diferencia dos inventores foi o aperfeiçoamento. Para eles é o poder de pôr em prática o projeto político.

Nosso spoils system também visa ao controle do poder. De igual para avançar projetos. Aqui, no entanto, a diferença. Os inventores fazem do projeto político sua visão de mundo, até para a engenharia social. Aqui o projeto é pessoal, de estrito proveito e lucro pessoais. Tem orientação individualista, de benefício utilitário, material do homem político. Imoral, claro.

Rogério Distéfano

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Sem a justa ira dos inocentes

Ricardo Noblat

Renan Calheiros é golpista. Um “velho golpista”. De acordo com o PT, golpista é aquele que por voto, palavras e obras apoiou a queda da ex-presidente Dilma. Foi o caso de Renan. O “novo golpista” torce para que Lula seja impedido pela Justiça de disputar a eleição presidencial do próximo ano. Não é o caso de Renan. Que deseja Lula candidato esbelto e forte para beneficiar-se dos seus votos.

Por favor, não esqueçam, suplicou Renan outro dia: ele sempre foi de esquerda. Ele é Renan. Lula, não. Jamais foi de esquerda. Valeu-se dela para fundar o PT. Serviu-se dela para chegar ao poder.

E uma vez lá, governou com as elites que antes amaldiçoava. Que hoje amaldiçoa na tentativa de não perder a simpatia dos mais pobres. Lula é o que foi sempre: um irresponsável manipulador de palavras e de sentimentos.

O encontro dos réus Lula e Renan marcou a passagem por Alagoas na semana passada da caravana do mais ilustre alvo da Lava Jato. Renan não discursou com medo de ser vaiado. Queria livrar-se, e ao visitante, do constrangimento.

Mesmo assim foi vaiado e fingiu que não era com ele. Lula encantou os que queriam ouvi-lo e tocá-lo como se fosse um demiurgo. Provou que está em boa forma.

Ameaçado de não se reeleger senador, Renan afastou-se do governo impopular de Michel Temer para colar-se de vez a Lula. Exagero: de vez, não, apenas o necessário.

Lula acolheu-o como se Renan não tivesse atraiçoado Dilma. “Renan pode ter todos os defeitos, mas ajudou meu governo”, disse Lula. Quanto ao fato de Renan responder a 14 processos, Lula afirmou que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário”.

Como demonstrado, ajudar Lula a governar é condição essencial para ser absolvido por ele de qualquer pecado. A máxima de que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário” não passa de uma frase vazia na boca de Lula.

O Supremo Tribunal Federal considerou o mensalão do PT um “atentado contra a democracia”. E condenou os mensaleiros à prisão. Lula prefere seguir negando que o mensalão existiu.

A quem cabe provar que um suposto inocente é culpado? Nas democracias, à Justiça. No mundo onde Lula faz e aplica suas próprias leis, cabe a ele.

Se Lula reconhecesse a autoridade da Justiça seria obrigado a render-se à realidade de que seu governo foi corrupto e legou a Dilma uma pesada herança de corrupção. Como, pois, ficaria se a Justiça, mais tarde, o condenasse? A última palavra é dele.

Nas penitenciárias, ensina o médico Dráuzio Varella, só existe gente inocente. Ninguém, ali, cometeu crime algum. Todos são vítimas de injustiças. Na política, como nas penitenciárias.

O Congresso, mas não só, é um imenso Carandiru, depósito de imaculados. Os porões dos palácios em Brasília são locais de orações e de reflexão. A Lava Jato é uma máquina de moer santas reputações. E Lula… Ora, Lula…

É o santo padroeiro dos que querem emparedar a Lava Jato, remeter o combate à corrupção para o inferno e manter tudo como está. Nunca antes na história do país alguém detratou a Justiça com a desenvoltura e a desfaçatez exibidas por Lula.

Sua viagem de 20 dias a 25 cidades de nove Estados do Nordeste tem servido para que ele ataque com virulência “os canalhas” da toga, como fez em João Pessoa no último fim de semana. Lula fala para os convertidos. Ao fim e ao cabo, carece da justa ira dos inocentes e dos perseguidos.

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Fraga

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“BOLSONARO é o retrato do analfabetismo político do país”. Você tem uma única chance para dizer o autor da frase. Claro, foi Lula, que sacou um Brecht da cartola: Nordeste, semana passada, na sua caravana-comício. Não há como discordar – completamente. Mas também não dá para concordar – completamente. Vamos por partes.

Lula disse a maravilha na região do maior número de analfabetos do Brasil, o Nordeste. Esperto, ele acrescentou o ‘político’ ao ‘analfabetismo’. Significa que há o analfabeto das letras e o analfabeto da política, que podem ser excludentes. Não fossem excludentes, Lula nunca chegaria sequer a presidente do sindicato.

Será que é isso, Bolsonaro o resultante do analfabetismo político? Só ele, ninguém mais. Na formulação de Lula, neste momento, só Bolsonaro. Por quê? Simples: ele quer se contrapor como opção ao ex-capitão direitista, estimulando o medo ao retorno da ditadura. Outro candidato aparecesse, Lula sacaria outro terror.

Claro que os amantes de Bolsonaro têm um parafuso a menos, o homem não tem o menor equilíbrio para ser presidente. Acredita nele a classe média raivosa, cega e recalcada e os cadetes da Escola Militar das Agulhas Negras. São, sim, analfabetos, em todos os sentidos, porque não conhecem ou esqueceram nossa História.

E os amantes de Lula? São como os de Bolsonaro, com um agravante: entre eles há intelectuais, pensadores, filósofos, doutores, gente muito distante do analfabetismo. Se tudo que vem à tona dos treze anos da era Lula não lhes ensinou nada, seu caso é pior que o mero analfabetismo político. O outro tem cura, este, não.

Rogério Distéfano

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Mural da História

6 de março, 2009

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Hoje!

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Miopia, surdez e queixo duplo

Ruy Castro – Folha de São Paulo

O escritor Afonso Borges, meu amigo, é o sujeito mais ligado em tecnologia que conheço. É por ele que, há 30 anos, fico sabendo das novidades no setor. Era de Afonso, por exemplo, o primeiro carro que vi ser chamado por controle remoto e buzinar de volta ao ouvir a voz do dono. Ele foi também o primeiro a me dizer que teria uma “página” na internet. Anos depois, riu ao saber que eu ainda usava secretária eletrônica de fita. E, há pouco, doeram-lhe os ouvidos ao ter de ligar para um telefone fixo -o meu, o único que possuo.

Daí minha surpresa ao ler um recente artigo de Afonso no “Globo”, dizendo que o hábito de ler no celular pode provocar uma legião de gente torta e cegueta na praça. “Uma pesquisa mostrou que a inclinação de 60 graus no pescoço determina um peso de 27 quilos sobre a cervical”, escreveu. “Nada demais se fosse esporádico. Mas os adolescentes passam, em média, quatro horas por dia nesta posição. São entre 700 e 1.400 horas por ano inclinados.” E completou: “Outra pesquisa registrou um aumento de 30% de casos de miopia entre jovens”.

Bem, diante disso, já me animo a perguntá-lo sobre os rumores de que o celular também está produzindo uma geração de surdos, pelo hábito de seus usuários ouvirem música em alto volume com os fones grudados nos tímpanos. Ou sobre a incidência de acidentes -trombadas em postes, hidrantes e idosos- entre cidadãos que andam pelas ruas olhando para a maquininha.

Há também as velhas acusações de insociabilidade: as pessoas vão aos restaurantes e, em vez de conversar, ficam digitando besteiras. Sem falar num risco terrível: o queixo espetado ao peito enquanto se olha para a tela está condenando rapazes e moças ao queixo duplo.

Acho melhor poupar Afonso dessas perguntas. Ele pode começar a antipatizar com o celular.

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Mural da História

20 de julho, 2008

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Uma música por vez

Ruy Castro – Folha de São Paulo

RIO DE JANEIRO – Volta e meia leio que, para gáudio e delírio de milhões, o festejado cantor ou compositor tal está lançando uma música nova —”inédita”, como se diz— pelo streaming. Talvez em breve ele faça outras, que virão se juntar a esta e formar um, como também se diz, álbum. Ou não –quem sabe esta música não está destinada a uma carreira solo, avulsa, pelos céus da cibernética? Como um single dos velhos tempos.

Até 1948, todo o consumo de discos se dava através de singles —discos avulsos de 78 r.p.m., com uma faixa de cada lado— ou seja, duas músicas por disco. Um artista comum gravava dois discos, ou quatro músicas, por semestre; um artista de sucesso gravava um disco a cada dois meses; e os fenômenos, como Bing Crosby, nos EUA, ou Francisco Alves, no Brasil, gravavam dois discos por mês. Isto, nos anos 1930 e 1940.

As pessoas achavam natural consumir música aos poucos. Muitos artistas gravavam, mas a produção era a conta-gotas. Um disco era escutado inúmeras vezes, de um lado e de outro, e as duas músicas se impregnavam nos ouvidos.

Nos anos 50, surgiu o glorioso LP —o que hoje as pessoas chamam de álbum ou vinil—, com seis faixas de cada lado. Passou-se a ouvir muito mais música. Vieram os álbuns “conceituais”, como os de Frank Sinatra —12 ou 14 faixas obedecendo a um “conceito”. Às vezes, um álbum simples não era suficiente, daí os duplos ou triplos, como os songbooks de Ella Fitzgerald. Infelizmente, produzia-se também muito lixo –na verdade, poucos álbuns justificavam o vinil com que eram feitos. Do LP passamos para o CD nos anos 80, e essa relação não se alterou.

Mas, com o fim desses dois formatos, voltamos à cultura do single, agora sem o suporte físico. Isso não é de todo mau. À razão de uma música por vez, pode ser que a música em geral melhore.

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Padim Lula no Nordeste

© Ricardo Stuckert

Do Filósofo do Centro Cínico

Como o Lula está sendo santificado em sua caravana atual, é bom a turma da Lava Jato se antenar. Se ele for preso, não é o morro que vai descer, mas sim o Nordeste inteiro.

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Arquivo-bomba da Odebrecht chega às mãos de Moro

Mônica Bergamo – Folha de São Paulo

Um dos maiores mistérios que cercam a delação da Odebrecht, o sistema MyWebDay, que registra toda a contabilidade de propina da empresa e é considerado explosivo, começa a aparecer. Na quarta (23), o procurador Deltan Dallagnol informou ao juiz Sergio Moro que a empresa entregou cinco discos rígidos que conteriam cópia do material.

PRONTA ENTREGA
O conteúdo teria sido extraído por autoridades da Suíça em servidor da Odebrecht hospedado naquele país e repassado à empreiteira. A empresa entregou também, no dia 8 de agosto, segundo Dallagnol, cópia de dispositivos de acesso de usuários do sistema. Até então o material era tido como indevassável.

SÓ AGORA
Depois de instado pelo juiz Sergio Moro, que determinou comunicação imediata em caso de acesso ao arquivo-bomba, o Ministério Público Federal entregou o material. Os procuradores informaram ao magistrado que só recentemente receberam o seu conteúdo.

MUDO
Guiomar Mendes, mulher do ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), diz estar inconformada com a exploração feita em torno do fato de o nome dela ter sido encontrado na agenda de telefones do empresário de ônibus Jacob Barata, solto por ordem do magistrado. “Cadê as ligações telefônicas? Cadê? Quantas vezes ele me ligou? E eu para ele? Nenhuma. Não tenho e nunca tive o menor contato com ele!”

AGENDA
Ela afirma ainda que já teve o número de Rodrigo Janot em sua agenda de telefones. “Mas nunca liguei para ele pelo mesmo motivo: não temos a menor intimidade.” O procurador-geral pediu a suspeição de Gilmar Mendes para julgar Barata alegando que os dois são próximos e têm relações familiares. A agenda do empresário seria um dos elementos de confirmação da hipótese.

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Son Salvador

O Estado de Minas

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POR FAVOR, relevem o confessionalismo, de falar coisa íntima e na primeira pessoa, mas não posso conter a indignação com nossa senadora Gleisi Hoffmann. Essa mulher já me levou à loucura com seu jeitinho espevitado, atrevido, evocativa da paixão que todos tivemos no ensino médio. Lembro Sirlene Pelizzari, a garota da carteira ao lado, para a qual jogávamos lápis, caneta, cadernos ao chão para contemplar-lhe as pernas.

Passei da idade e do peso do fingimento, paguei dívidas e pecados, tenho direito adquirido à nostalgia. Gleisi trouxe ainda meu imaginário da universidade, envolvido na sedução de Rosinha de Castro, a veterana de quem me despedia na entrada do aparelho comunista que ela frequentava – e dali nos despedimos para sempre, ela na clandestinidade, eu na frustração do amor inconcluso. Daí esta mania por mulheres que sobrepõem a política ao sexo.

Vivo sob angustiante ambivalência com Gleisi: gosto dela como mulher privada, não como mulher pública. Vinha toureando uma decepção com a senadora. Até que a decepção me abateu, com a força de um golpe da base aliada: o episódio da camisa rasgada no Paraguai, a hospedagem no hotel da Suíça, as viagens com Lula, sem o marido, pelo Nordeste. Tolices cabeludas de presidente do PT não contam, jeito da madeira.

Gleisi caiu na Lava Jato. A paulista, o lance do Custo Brasil, empréstimos consignados do ministério do Planejamento, o marido Paulo Bernardo na suposta maracutaia. Dizem PF e MP que tinha propina: o dinheiro entrava para o advogado curitibano como honorários e saía para o pagamento de contas do casal. Começava em Brasília e terminava em Curitiba. Por que, Gleisi? Por que não ficou na Lava Jato de casa, onde lavamos nossa roupa suja?

Rogério Distéfano

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O Bandido Que Sabia Latim

Curitiba, 24 de agosto de 1944 — Curitiba, 7 de junho de 1989 . Desenho de Fernandes

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Musas

Pilar López de Ayala, atriz de Medianeras: Buenos Aires da Era do Amor Virtual – filme argentino de 2011, dirigido por Gustavo Taretto.  © Clarín

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