O Collor é réu desde os anos 90, na verdade. A história de vida desse alagoano daria uma novela inacreditável, com paixões, traições, doenças fatais, assassinatos e refúgio em Miami.
Mas é na política que tudo fica mais inacreditável ainda: o sujeito sofre o Impeachment por corrupção, não devolve nenhum centavo, nem perde nada do patrimônio e vive durante 8 anos em Miami como um brasileiro rico. Volta, se elege Senador e reincide nos mesmos crimes de sempre.
Agora vira réu de novo. E continua lá no Senado, com seus ternos impecáveis, o cabelo aprumadinho e fazendo discursos indignados.
RIO DE JANEIRO – Jerry Lewis precisou morrer, aos 91 anos, neste domingo (20), para nos lembrarmos de como ele nos proporcionou incomparável riso e prazer. Em poucas horas, a internet foi tomada por seus grandes momentos no cinema, tanto como o desastrado que arrasava os cenários pelos quais passasse quanto como o incrível mímico e dançarino que ele era. Esses trechos isolados, tirados dos filmes, têm uma vantagem. Neles só vemos o adorável Jerry. Somos poupados do ego monumental de Lewis.
Frank Tashlin (1913-1972), seu diretor em oito filmes, a quem ele deveu tanto e quase ausente dos obituários, disse certa vez que trabalhar com Jerry era irritante —ele não decorava falas, não seguia as marcações e não repetia takes. Só que fazia tudo genialmente e de uma vez. Mas, às vezes, essa overdose de prepotência vazava na tela, com Jerry insistindo em ser “profundo” e sendo apenas piegas.
Foi Tashlin quem convenceu Jerry a amenizar o personagem do idiota careteiro e a deixar que o absurdo acontecesse ao redor dele. Para isso, premiou-o com gags tiradas de sua experiência como diretor de desenhos animados. Duas sequências apocalípticas que se atribuem a Jerry —a destruição do shopping em “Errado pra Cachorro” (1964) e a maca que dispara pela cidade em “O Bagunceiro Arrumadinho” (1965) —eram de Tashlin. Assim como os quatro primeiros filmes de Jerry como diretor (“O Mensageiro Trapalhão”, 1960; “O Terror das Mulheres”, 1961; “Mocinho Encrenqueiro”, 1963; e “O Professor Aloprado”, 1964) eram grandes Tashlins sem Tashlin.
O artista Jerry era sublime, mas o homem Lewis, seccionado pelos biógrafos, era egoísta, vingativo, preconceituoso. Ele não era estimado como pessoa –nem seu pai gostava dele. E, segundo esses biógrafos, era só o que ele queria: ser gostado. Sua morte tornará isso possível.
OS NORTE-AMERICANOS vivem a paranoia antiterrorista. Do terrorismo de fora, real ou imaginado. Não o interno, real, permanente, histórico. Como os constantes atentados em escolas, cometidos por nacionais, assegurados pela liberdade de venda e porte de armas. No entanto, isso lá não é dado como terrorismo; o uso de armas é garantia constitucional.
Em tempos de atentados, como o recente em Barcelona – e os da França e Alemanha, também próximos – surge a fobia contra os árabes, nascida no ataque às Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2002. Bastou alguém ser árabe, ou não sendo, com origem árabe, ou nome árabe, que o governo americano fica alerta. Deve existir um algoritmo que captura pelo nome.
Conheço o rapaz, nascido nos EUA, nacional de lá, criado no Brasil, que entrou no país, onde permanece a trabalho. Casou com brasileira, descendente de árabes. A mulher não recebeu visto de entrada; o casamento acabou na lua-de-mel. Nesta semana, Hussein Kalout, secretário de assuntos estratégicos do presidente Michel Temer passou por um escracho desses.
Hussein iria participar de solenidades nos EUA. Viajava com passaporte diplomático – o azul, que dá privilégios, e que os conectados no Brasil ganham, mesmo sem direito. Passou pela vistoria de saída: bagagem e conteúdo dos bolsos na bandeja dos raios x, do cinto aos sapatos, o corpo varejado por aparelhos eletrônicos. Foi poupado ao exame retal.
Na porta do avião, nova revista, a ele apenas, recusada por Hussein, que desembarcou. Estrago feito, desculpas posteriores da diplomacia dos EUA. Culpa do nome árabe. Fosse por pertencer ao governo Mechel Michel Temer Lulia, faria algum sentido. Não pela origem árabe do chefe, mas pela origem de seu governo, que comete atentados contra o Brasil. Aqui dentro, ainda que sem mortos.
Luiz Antonio Solda estreou em Itararé, São Paulo, há 65 anos. Ele nunca saiu de lá, apesar de estar aqui. Graças a Deus. Solda tem problema de audição, mas ouve tudo. Solda tem problema de dicção, mas fala muito bem o que tem de ser falado. Ele é tímido, inseguro e paranoico, por isso mesmo um ser humano normal. Se deixa você chegar perto, é paixão para o resto da vida.
Porque ele não tem segredo e ao mesmo tempo é segredo – e fica por isso mesmo. Um poeta que faz rir, chorar e pensar, seja numa estrofe, numa frase, no balão de charge ou apenas no traço inconfundível do grande cartunista que é desde que apontou o primeiro lápis. Lá no Bacacheri ele se esconde e se expõe, ao mesmo tempo. Tem a proteção da Vera, dos filhos e do neto, que chegou para bagunçar mais o coreto – porque foi assim que o avô ensinou bem antes de ele nascer.
Num país como o nosso, esculhambado, é Solda para sobreviver – e o bom é que ele sempre diz: “Se não rir não tem graça”.
ESTA SEMANA foi dos advogados. E dos juízes, uns não vivem sem os outros. Os advogados apanharam mais que “cachorro de índio” – ouvi do candidato a senador Álvaro Dias quando no seu primeiro partido, aquele que perde o ‘p’ para continuar nos fazendo tomar no ‘c’. Começo pelos advogados de Lula, que perderam mais um round no adiamento-presenciamento das audiências do messias do ABC.
A palma vai para os juízes, e nem falo daquele juiz de Mato Grosso que expôs a classe. Vai passar, sempre passa, dá-se um jeito no contracheque e continua la même chose. O homem da hora é o juiz do mal – ou do bem, questão de gosto -, Gilmar Mendes, que quando o colega Sérgio Moro diz ‘a’ sem mostrar os dentes, ele berra ‘b’, com cara de azedo, mostrando os dentes.
Gilmar bateu nos juízes-marajás, categoria a que ele não pertence, ao que parece, pois não “substituiu na entrância”, como os de Mato Grosso. Bateu ainda no juiz do Rio que mandou prender duas vezes o empresário que Gilmar soltou duas vezes. O novo código de processo penal, em discussão no Congresso, terá que criar o recurso-Gilmar: ressoltar e reprender.
Que dizer do juiz trabalhista de Brasília que passou o sabão na advogada – sentido figurado, não o de Roberto Carlos – que falava na tribuna. Disse que ela estava ali vestida de camiseta, ferindo o decoro. Um vexame para ele, deve ter perdido a concentração com o exemplar moreno-índio ali presente. Ela usava vestido com alças, justo no busto, mais para festa de São João que para tribunal.
(Cara sem noção esse juiz. Tenho esses amigos, ele desembargador, ela advogada, namorados e fetichistas de Têmis, a deusa da Justiça. Os dois adoram fazer amor vestidos a caráter, ele de toga, ela de beca, a mesma coisa com nomes diferentes. Debaixo de toga e beca, Adão e Eva mais a serpente. Nada de balança e espada, que atrapalham. Mas não dispensam a venda nos olhos.)
Não vou elogiar juiz, porque juiz é como a criança que quando os pais pedem uma gracinha, apronta na frente das visitas. Mas beijo as mãos da juíza de Brasília que mandou o advogado do Banco do Brasil reduzir para trinta a petição de cem laudas. Matéria batida, disse ela. Advogado escreve demais, isto aqui é prova. Devia mandar reduzir para cinco laudas. E eu para dois parágrafos.
PRIMEIRO, a moça era herdeira do banco suíço. Depois mudou um pouco, herdeira de acionista do banco. A moça não é suíça, sim periguete paulistana. Mas rendeu notícia ao prometer R$ 500 mil para o ex-presidente Lula, que está com dinheiro bloqueado na Justiça. Lula não precisa disso, pois desde que começou a ser Lula o PT paga-lhe todas as contas – e depois de santificado como Lula quem paga é você, eu e a Odebrecht.
A “herdeira do banco suíço” não sabe nada disso, só se informa pela revista Caras, mas sacou o lance para aparecer. Sua doação, no entanto, não é tudo em dinheiro; parte são joias, os sapatos de sola vermelha e as bolsas com alça de metal dourado, distintivos de peruas. Tudo coisa usada, com cheiro de naftalina. Nisso de repassar coisa usada, a moça opera no modo sinhazinha, que sobrevive na república.
Modo sinhazinha é quando a patroa se desfaz de badulaques repassando-os à empregada. Resolve o seu problema e o da empregada. Ela faz caridade e tem motivo para comprar coisas novas. A empregada desfila na vila vestida de madame ou vende os badulaques no brechó, o mais inteligente, se for inteligente. Marisa Letícia, no fino vocabulário pós primeira dama, mandaria a periguete enfiar tudo no c*.
Nossa periguete não faz ironia nem sarcasmo. Porém trata Lula como empregado, repassando-lhe as sobras do clóset. Ainda que não quisesse, deu-lhe um tapa na cara com as bolsas Lui Vomiton, um chiste poético à Bolsa-Família. Mesmo que aceitasse as miçangas oferecidas, Lula não teria onde guarda-las: ele devolveu o depósito, pago pela Odebrecht, onde armazenava os presentes que recebeu quando no governo.
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