Mural da História

barulhãoEm algum lugar do passado.

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Não vá ao teatro

Hélio Schwartsman – Folha de São Paulo 

SÃO PAULO – Vá lá que um muçulmano nascido e criado num vilarejo próximo às cavernas de Tora Bora, no Afeganistão, tenha dificuldades para lidar com a ideia de liberdade de expressão. Supondo que ele jamais tenha saído de sua aldeia e que a educação que recebeu se limite a alguns anos frequentando madrassas, é natural que veja como um dever da comunidade silenciar expressões que não estejam de acordo com a ortodoxia de sua fé.

Constatar que brasileiros que vivem em cidades multirreligiosas e multiétnicas e que têm acesso à indústria cultural globalizada e à educação formal pensam o mesmo é algo que nos faz lamentar o estado de nossas escolas e maldizer alguns aspectos da natureza humana. Mas é quando um juiz e um delegado, que supostamente leram e entenderam a Constituição, se valem do poder do Estado para censurar manifestações artísticas que nos perguntamos se nossa democracia é mesmo viável.

Embora tenha sido profundamente lamentável, a decisão do Santander de cancelar a exposição “Queermuseu” não constituiu tecnicamente um caso de censura. O banco se acovardou diante dos protestos dos supostos liberais e resolveu suspender o patrocínio, o que é um direito seu.

Muito diferentes foram os casos do juiz de Jundiaí que proibiu a exibição de uma peça de teatro que retrata Cristo como transexual e do delegado de Campo Grande que mandou recolher um quadro cujo título é “Pedofilia”. Aqui, houve clara violação aos artigos 5º, IX, e 220 da Constituição, que impedem o poder público de exercer qualquer tipo de censura a manifestações artísticas.

O que me intriga é que, exceto para tora-borenses e demais grupos que ainda vivem no mundo das cavernas de Platão, esse tipo de discussão nem deveria se colocar. Quem não gosta do conteúdo de uma peça é totalmente livre para não assisti-la. Na democracia, o pecado é tentar impor crenças a quem delas não partilha.

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Mural da História

O EX-TADO DO PARANÁ 2paranormal-2Em algum lugar do passado

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‘Larápios’ e ‘escroques’ ainda ocupam cargos vistosos na República, diz Janot em carta de despedida

© Lula Marques

Em carta de despedida do cargo de procurador-geral da República, Rodrigo Janot destacou o combate à corrupção como a principal atividade de sua gestão e afirmou que esta luta precisa continuar, porque ainda há “larápios” e “escroques” em cargos na República.

“Espero que a semente plantada germine, frutifique e que esse trabalho coletivo de combate à corrupção sirva como inspiração para a atual e futuras gerações de brasileiros honrados e honestos. O Brasil é nosso! Precisamos acreditar nessa ideia e trabalhar incessantemente para retomar os rumos deste país, colocando-o a serviço de todos os brasileiros, e não apenas da parcela de larápios egoístas e escroques ousados que, infelizmente, ainda ocupam vistosos cargos em nossa República”, escreveu Janot.

No documento enviado aos procuradores do Ministério Público Federal (MPF), Janot justifica razões protocolares para não comparecer à posse de sua sucessora, Raquel Dodge, que ocorre na manhã desta segunda-feira. Ele não gostou de ter sido convidado apenas por um e-mail formal.

“Por motivos protocolares, não poderei transmitir o cargo a minha sucessora, mas desejo-lhe sorte e sobretudo energia para os anos que virão. Que a nova PGR encontre alegria mesmo diante das adversidades e que seja firme frente aos desafios”, afirmou Janot.

A carta enviada no domingo, último dia de seu mandato, começa com citação a Hamlet e à frase célebre: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”. Janot afirma que o pensamento poderia ser aplicado ao Brasil de hoje. Ele faz um balanço de sua atuação e destaca nunca ter agido por “conveniências”.

“Nas minhas decisões, nunca levei em conta conveniências pessoais ou conforto transitório. Devo ter errado mais do que imagino, mas de uma coisa me orgulho profundamente: nunca falhei por omissão, por covardia ou por acomodação. Fiz o que me pareceu certo fazer. A história dirá a medida desses acertos e erros no tempo próprio”, escreveu Janot.

Janot faz um agradecimento aos servidores da instituição e afirma que como subprocurador-geral em atuação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) manterá a promoção da agenda contra a corrupção.

“De meu posto, ainda como sentinela, seguirei a promover a agenda anticorrupção. Este não foi o mote do meu mandato. É mote do meu País”, conclui.

O Globo

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Não estar abaixo é estar acima

© Marcelo Camargo|Agência Brasil

Raquel Dodge citou o papa Francisco, ao dizer que a corrupção não é um ato, mas uma condição  na qual os corruptos estão acostumados a viver. E repetiu que ninguém está acima da lei nem abaixo da lei. Em Brasília, interpreta-se que não estar abaixo é estar acima.

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Entrevista “ostentação” de Ticiana Villas Boas repercute mal

ticianaA jornalista Ticiana Villas Boas se casou com o empresário bilionário Joesley Batista.  © Fernando Vivas

A entrevista da jornalista baiana e apresentadora da Band, Ticiana Villas Boas, para a revista Veja desta semana, não repercutiu bem. De acordo com a colunista Fabíola Reipert, o bilionário Joesley Batista, dono da empresa Friboi, não gostou da ostentação da mulher. Reservado, Joesley também não ficou satisfeito em ver a lista de seus bens na publicação semanal.

Na entrevista, Ticiana diz que não sabe o valor da gasolina. “Eu chego em casa, meu carro já está abastecido, meu motorista faz isso. Outro dia me perguntei quanto era o litro da gasolina. Não sabia. É bom ter dinheiro, não fazer conta, sair para jantar a hora que quiser no restaurante que quiser, poder reformar sempre a casa, ter funcionário na casa”.

Apesar da mudança de vida após o casamento, a jornalista disse que tenta manter o pé no chão. “Eu poderia comprar uma bolsa toda hora, toda semana, mas eu não faço, eu me coloco limite sobre isso”.

Além da fortuna do marido, que inclui um imóvel em Nova York, uma casa em Angra dos Reis e um jato Legacy avaliado em US$ 25 milhões, Ticiana hoje conta com o terceiro maior salário do jornalismo da Band.

Mas a situação também não está fácil na emissora de televisão. O seu colega de bancada, Ricardo Boechat, também não gostou da entrevista de Ticiana e está fazendo campanha para a Band troque Ticiana por Ana Paula Padrão, de acordo com o jornal “O Dia”.

Nos corredores da Band, Ticiana chega a ser chamada de a “rainha do camarote”. O problema é que a troca de Ticiana por Ana Paula Padrão pode representar prejuízo para a emissora, já que o marido da baiana é dono de grandes anunciantes: Friboi, Seara, Neutrox e sabonete Francis.

5 de maio, 2014

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Fraga

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O brasileiro está mudando de caráter

© Igor Sperotto

O cidadão Luis Fernando Verissimo, 81 anos, nascido em Porto Alegre no dia 26 de setembro de 1936, está oficialmente livre desde 1º de setembro de 2017. Demitido da RBS depois de mais de 40 anos de contribuição quase diária, o escritor, cronista, músico, desenhista e pensador tem agora um imenso desafio pela frente: manter atualizado o recente contrato de comodato que firmou com a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). O acervo de textos, rascunhos, traduções, cartuns e outras criações está sendo transferido para a biblioteca do novíssimo campus de Porto Alegre. Tarefa difícil, já que o acervo é composto por 382 livros, entre títulos do autor, antologias e edições estrangeiras, mais de mil títulos de periódicos, além de troféus, quadros, esculturas e outros objetos recebidos pelo escritor como forma de homenagem. Difícil porque Verissimo ainda está em pleno exercício produtivo. E também porque não pretende morrer tão cedo.

“Eu acho que o acervo devia ser apenas de obra acabada, o que evidentemente não é o caso. Então, digamos que seja um meio acervo de um autor meio vivo”, brinca Verissimo com sua ironia contumaz. Formalizado na última quarta-feira, 13, o acervo irá ocupar a partir de agora, segundo Verissimo, “um cantinho” da biblioteca da Unisinos e estará disponível para consulta por estudantes, pesquisadores e público em geral.

Com recorrentes problemas de saúde desde meados de 2013, que lhe renderam algumas semanas em UTIs e muitas horas em salas de cirurgia, o escritor continua sagaz e extremamente crítico, especialmente com os rumos do Brasil.

Elegante e discreto, diz que sua demissão da RBS – depois de uma ruidosa homenagem pelos seus 80 anos, comemorados em 2016 – foi uma decisão administrativa. Mas sabe que, na prática, foi o último laço profissional que o ligava ao Rio Grande do Sul – descoberto pela L&PM, há anos ele publica seus livros pelo selo Cia. das Letras. “Hoje, a única relação do pai com o Rio Grande do Sul é apenas morar em Porto Alegre”, lamenta a filha Fernanda, que junto com a esposa Lucia ajuda a cuidar do acervo do cronista.

A demissão da empresa que ajudou a revela-lo nacionalmente e se tornar um best-seller acabou determinando a interrupção de projetos que tomavam tempo demais do escritor, como as tiras semanais da Família Brasil e os textos semi-ficcionais publicados aos domingos no jornal O Estado de São Paulo. “Eu realmente estava trabalhando com coisa demais, então foi só para trabalhar menos. Como fui demitido da Zero Hora, não tinha mais sentido manter só para um jornal”, diz nesta entrevista para o ExtraClasse, realizada na sexta-feira, 15, no escritório intocado que foi do pai, o romancista Erico Verissimo.

Na conversa, Verissimo relatou um pouco sua relação com a escrita, as preocupações com a onda reacionária que toma conta do país e o arrependimento de não ter seguido a carreira de músico – o escritor é um saxofonista amador desde os 16 anos. “Eu lamento não ter me aprofundado na música porque hoje eu preferiria ser músico do que qualquer outra coisa”, confessou. Divertido, paciente, com sua conhecida parcimônia com a palavra falada, Verissimo chegou inclusive a revelar qual livro seu poderia ser queimado em praça pública pelo MBL – quando esse momento chegar. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Extra Classe – Por que essa ideia de ceder seu acervo a uma instituição universitária?
Luis Fernando Verissimo
 – A ideia do acervo é justamente essa: pesquisadores, estudantes e qualquer pessoa se informar sobre o autor, fazer pesquisa, essas coisas. Está ali para quem quiser ver. Então, o acervo vai ser um cantinho ali da biblioteca da Unisinos (no campus de Porto Alegre). Ficou simpático. Por enquanto reunimos material físico, mas é uma discussão que temos de ter. De vários anos para cá os textos são digitais, não há mais originais impressos. E muito material está só no formato digital, nunca foi para uma publicação física.

EC – Começa em 1969?
Verissimo
 – Sim, com as primeiras publicações na Zero Hora. Algumas coisas de publicidade, também, muitos anúncios publicados, com autoria. Roteiros da TV Pirata, da Comédia da Vida Privada. E vai para lá também um exemplar de cada primeira edição, as traduções em russo, inglês, francês, italiano, coreano, sérvio. Tem troféus, presentes.

EC – Os horóscopos não?
Verissimo
 – Não, acho que não (risos). Tem muita ilustração, também. Campanhas da Ipiranga, da época da (agência) MPM. Coisas que a Lúcia guardou ao longo do tempo. Tem muito rascunho, muitos papéis avulsos. Frases. Muitos desenhos, geralmente de figuras humanas. Mas nada feito para usar em textos, é só passatempo mesmo. Enquanto se está pensando sobre que escrever, vou desenhando. Nesse caso, apelo muito para o jogo da paciência também. Mas isso não está indo para o acervo (risos). A tesoura da Lúcia é incrível.

EC – Era hora de fazer isso?
Verissimo
 – Sim, estava na hora. Todo esse material estava guardado aqui em casa, numa catalogação caseira, doméstica. A ideia da Unisinos, desde o início, há cerca de dois anos, era que o acervo ficasse em Porto Alegre. Viesse junto com a abertura do novo campus, o que acabou ocorrendo. A ideia é de o acervo ser usado por diferentes áreas, o que me agrada.

EC – Qual é a sensação de virar um acervo?
Verissimo
 – Eu acho que o acervo devia ser a obra acabada, o que evidentemente não é o caso (risos). A minha biblioteca pessoal naturalmente não vai para lá, o que é um elemento importante de pesquisa, saber quem me influenciou, o que eu li. Então, digamos que seja um meio acervo de um autor meio vivo (risos). Mas não vou reclamar, não.

EC – Teus livros têm anotações? Ou páginas dobradas nos cantinhos
Verissimo –
Anotações não. Mas páginas dobradas nos cantinhos têm bastante. Só que às vezes, como não tem anotação, esqueço por que marquei aquela página. (risos)

EC – Como lidar com um volume tão extraordinário de informação, necessário ao teu ofício?
Verissimo
 – O grande problema é que esse ofício, de escrever sobre o que está acontecendo de fato, não me permite mais ler livros, literatura de ficção. Faz anos, nem sei quantos, que não leio um livro de ficção inteiro. Apenas trechos esparsos. O prazer de ler, que me levou a esse caminho, ficou de lado. Leio muita revista, muito ensaio, jornais estrangeiros.

EC – Isso te incomoda?
Verissimo
 – Sim, porque perdi o prazer da leitura descompromissada. Estou perdendo muita literatura boa, de novos autores. Conheço muito pouco do que se produz atualmente. E lamento muito não ter esse tempo para autores novos.

EC – Tu achas que a tua primeira crônica (publicada em abril de 1969) já era uma credencial do que serias dali para a frente? As tuas características principais já estão ali.
Verissimo
 – Eu acho que sim. Eu comecei muito tarde, então já tinha lido muito durante toda a juventude. Nunca tinha escrito nada mas, como tinha lido bastante, sabia como se fazia. Quando comecei eu já sabia, estava formado.

EC – Nunca ensaiaste nada? Nunca escreveste para ti mesmo?
Verissimo
 – Não, nunca. Nunca me vi como escritor, nem como jornalista. Tinha apenas algumas traduções, publicadas na (revista) Mistério Magazine. Nem lembro os autores, mas basicamente americanos e ingleses, de suspense, terror. Mas o fato de sempre ter sido um leitor voraz, quando comecei já conhecia os truques todos.

EC – E os cartuns?
Verissimo
 – Sempre gostei muito de quadrinhos, então comecei a variar entre texto e cartum. Especialmente nas colunas de segunda-feira, em que eu fazia a crônica do futebol do domingo em desenho. Bonequinhos dialogando sobre os jogos do domingo.

EC – Quem te influenciou nessa área?
Verissimo
 – Principalmente Saul Steinberg (1914-1999). Meu desenho era muito rudimentar, não tinha acabamento. Fazia com canetinha mesmo, em qualquer papel. Cheguei a fazer um curso de desenho com o Glênio Bianchetti (1928-2014), desenho, pintura, trabalhávamos com modelo vivo, essas coisas. Por um ano mais ou menos. Mas não passou disso. Nunca fiz uma tela.

Foto: Igor Sperotto

EC – E o fim da Família Brasil?
Verissimo
 – Pois é. Eu realmente estava trabalhando com coisa demais, então foi só para trabalhar menos. Como fui demitido da Zero Hora, não tinha mais sentido manter só para um jornal (O Estado de São Paulo).

EC – Como foi esse episódio?
Verissimo
 – Foi um processo normal. Apenas deixei de ter vínculo com a empresa, agora eles compram meu material da Agência Globo. Foi uma decisão administrativa, estão fazendo muito isso com os velhos, que têm salários mais altos. Mas não ficou nenhum trauma, não.

EC – Tem algum livro novo sendo organizado?
Verissimo
 – A Cia das Letras está organizando um volume de crônicas que estão sendo selecionadas pela (roteirista e escritora) Adriana Falcão, que deverá sair até o final do ano. Basicamente com as crônicas mais ficcionais, publicadas aos domingos no Estadão. As crônicas sobre política atualmente perdem a atualidade com muita rapidez.

EC – Como estás acompanhando a conjuntura política?
Verissimo
 – A novidade é essa nova direita, que sempre existiu mas está mais evidente agora. É uma onda de reacionarismo que me preocupa muito. Imaginar um cara como o Bolsonaro com os índices de intenção de votos que ele tem é realmente preocupante.

EC – Já foste alvo de alguma agressão ou ameaça?
Verissimo
 – Recebo muita carta desaforada, dizem para eu viver em Cuba, me chamam de comunista, uma vez até me mandaram viver na Coréia do Norte! Seria uma experiência muito boa. Quer dizer, boa não sei, mas pelo menos diferente (risos). Eu não dou bola, é claro.

EC – Alguma ameaça?
Verissimo
 – Só na candidatura do Collor (em 1989). Me mandaram uma carta ameaçando meus filhos, que sabiam da rotina deles, iam atacar e tal. Mas não fizeram nada. O tom de agressividade subiu nos últimos meses, é verdade, mas não chega ao extremo da ameaça violenta.

EC – Qual livro teu colocaria à disposição dessa nova direita para que seja queimado em praça pública, quando chegar o momento?
Verissimo
 – (risos) Tem um livro meu com crônicas bem políticas, A Versão dos Afogados (L&PM, 1994), que imagino que eles gostariam de queimar. Está meio desatualizado, mas acho que isso não fará muita diferença (risos).

EC – E a tua relação com a ficção?
Verissimo
 – A quase totalidade de meus romances foi feita por encomenda, só Os Espiões (2009) que partiu de uma ideia própria, achei que era hora e fiz. Ficou direitinho. Mas meu preferido é Borges e os Orangotangos Eternos (Cia.das Letras, 2000), que é um pouco melhor do que os outros. Não tenho, de verdade, grandes pretensões literárias.

EC – Por escrever entretenimento?
Verissimo
 – É, acho que sim. No Brasil é uma literatura considerada não muito respeitável, por isso os autores relutam em se dedicar a ela. Como não busco respeito… (risos). Mas é um gênero que precisa existir, até para a sobrevivência do mercado editorial.

EC – Como esperas contribuir para que novos leitores entendam esse período da história brasileira?
Verissimo
 – Meu trabalho é testemunho desse tempo, isso pode ser lido em todos os cronistas. Quem quer saber como era o Brasil nos anos de 1960 vai ler Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Antônio Maria. Se eu puder fazer isso também, estará bom.

EC – Que tipo de testemunho acha que deste?
Verissimo
 – Nós falamos há pouco sobre essa nova onda reacionária, coisas que hoje são preocupantes que há algum tempo, pouco tempo, não eram. Apesar desse conflito social no Brasil ser permanente. O que mudaria no meu jeito de ver a realidade seria um crescimento nesse jeito de ação reacionária evidente e preocupante.

EC – Na tua opinião, não para por aí?
Verissimo
 – Acho que não para. Principalmente por essa desmoralização crescente do Congresso e da política em geral, isso motiva as pessoas que imaginem a solução num governo de força. Não sei se é inevitável, mas é uma ameaça real. Um perigo. Quando se poderia esperar tanta nostalgia da ditadura, mesmo sabendo de tudo que aconteceu? Isso é surpreendente. Comecei em plena ditadura, no governo do general Médici, então a gente já sabia dos limites. Sabia quem citar e quem não citar. A censura era implícita, havia autocensura, e eu tentava escrever nas entrelinhas mas às vezes nem eu entendia o que queria dizer. (risos)

EC – Temes a volta da censura?
Verissimo
 – Acho que isso é possível, sim. Eu me preocupo com isso. Há uma ameaça e uma tendência possível de ser notada aí.

EC – E o que achas do MBL?
Verissimo
 – Começa com a ironia do próprio nome: Brasil Livre. Livre de quê? É só uma das manifestações do que pode nos esperar no futuro. Esse tipo de pressão, esse tipo de censura, tem até características paramilitares, o que preocupa até a imprensa internacional.

EC – O brasileiro deixou de ser aquele homem cordial do Sergio Buarque de Holanda?
Verissimo
 – Quando a gente fala no perigo desse crescimento da direita está se referindo a isso, que não sei aonde vai nos levar. Certamente está havendo uma mudança no caráter do brasileiro, na personalidade comum do brasileiro. Estamos nos transformando, para continuar na comparação que você fez, no brasileiro selvagem. Acho que estamos ficando mais intolerantes.

EC – Por quê?
Verissimo
 – Em parte em razão desse desencanto com a política, culminando no desencanto com o PT. Foi uma promessa que apareceu mas que, no entanto, degringolou. Não sei se é para a gente perder a esperança no PT ou ainda não, se esse partido pode nos dar algum tipo de esperança, mas o fato é que houve um acúmulo de desencanto que culminou no que estamos vivendo.

EC – Tu és um desencantado com o PT?
Verissimo
 – Um pouco, sim. Nunca fui um ativista, um militante, mas tinha simpatias que nunca escondi. Mas nunca fui personalista com o Lula, por exemplo, embora reconheça que é uma figura admirável.

EC – Como te defines politicamente?
Verissimo
 – Eu me defino como um humanista. Meu pai se definia como um socialista democrático, o que me parece adequado para mim também: contra qualquer tipo de totalitarismo, inclusive de esquerda.

EC – Quando começaste, em 1969, imaginavas ter a carreira que teve no jornalismo e na literatura?
Verissimo
 – De forma nenhuma, foi tudo acontecendo, sem planejamento. Como minha escrita: quando começo a pensar em um assunto, muitas vezes descubro o que penso sobre ele ao longo da escrita.

EC – É muito difícil?
Verissimo
 – Varia muito. Mais difícil é começar. Estabelecer um tom. Uma amarrada final também é difícil. Mas às vezes vem com facilidade, não tem muita regra.

EC – Usas muito o senhor Google?
Verissimo
 – Uso bastante. Eu sempre parto do princípio de que ele sabe o que está dizendo, então eu confio nele. Temos uma relação saudável. (risos)

EC – Tens metodologia?
Verissimo
 – Escrevo sempre para ser publicado, nunca para deleite próprio. Só com esse foco. Nunca fiz isso, de escrever para mim. A diferença é que eu escrevia muito mais no passado, tinha mais volume. Não sei se fiquei mais conciso ou mais preguiçoso, mas meu texto diminuiu bastante. (risos)

EC – Então, não há prazer em escrever?
Verissimo
 – Concordo com o que diz o Zuenir Ventura, que não gosta de escrever, gosta de ter escrito. O ato em si não é muito prazeroso, não. Ás vezes, não se tem a mínima ideia do que escrever, mas é necessário, é um modo de vida. Nesse sentido, não é uma coisa que dê muito prazer. Mas ler o que escrevi e gostar do que escrevi compensa, mostra que valeu a pena.

EC – E a música?
Verissimo
 – Quando aprendi a tocar saxofone, com 16 anos, minha ideia era brincar com o instrumento. Nunca pensei em me profissionalizar, apesar de ter aprendido a tocar com partitura e tudo mais. Com o tempo esqueci, embora tenha eventualmente tocado em conjuntos profissionais. Eu até lamento não ter me aprofundado na música porque hoje eu preferiria ser músico do que qualquer outra coisa.

 EC – É mesmo? Por quê?
Verissimo
 – É. Um pouco pela minha admiração pelo jazz, por tudo que o jazz proporciona, a improvisação, a criação instantânea. Me parece bem mais completo que a criação literária. Mas em algum momento da vida perdi a oportunidade de me aprofundar, de dominar o instrumento. O que me deu mais prazer nesse tempo todo foi, com certeza, a música.

EC – Na tua opinião, para onde vai a literatura com essa tendência de textos cada vez menores?
Verissimo
 – Para falar a verdade, não tenho a menor ideia! (risos)

Extra Classe|18|setembro|2017

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Quaxquáx!

gasesgasesEm algum lugar do passado

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Mural da História

O-EX-TADO-DO-PARANÁ

07-01-2011-contracapa

7 de janeiro de 2011

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Dibujo

Jaguar. © JBosco

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Joesley Batista desconfia que pode ser traído por Ricardo Saud

Mônica Bergamo – Folha de São Paulo

O clima entre os delatores da J&F é de desconfiança. Joesley Batista e seu irmão, Wesley, acreditam que o executivo Ricardo Saud pode traí-los caso a negociação com o Ministério Público Federal para preservar benefícios que obtiveram no acordo de delação premiada naufrague.

POR DENTRO
Há um temor de que Saud dê informações detalhadas ao MPF sobre as discussões internas que envolveram a colaboração do grupo.

DE LONGE
A desconfiança é antiga. Em seu depoimento à PGR (Procuradoria-Geral da República), o advogado da J&F, Francisco de Assis, relata que desde fevereiro, quando a possibilidade de colaborar com a Justiça começou a ser discutida na empresa, suspeitou que Saud “estava pronto para delatar o Joesley”. Assis alertou o chefe.

NA MESMA HORA
A impressão surgiu porque, assim que começaram a falar sobre delação, Saud “já trouxe tudo pronto (…) toda a documentação, inclusive com bilhetes”, diz Assis.

LÍNGUA SOLTA
Executivo de confiança de Joesley, Saud teve desentendimentos na J&F e chegou a se afastar por um período da empresa. Ele costumava falar mal do chefe inclusive com pessoas que depois chegou a delatar.

CIRURGIA
O ex-presidente da Eletronuclear Othon Luiz Pinheiro da Silva foi operado na quarta (13) de um câncer de pele, no hospital da Marinha no Rio de Janeiro. Aos 78 anos e condenado a 43 anos de prisão, o vice-almirante, considerado o pai do programa nuclear brasileiro, está detido em uma unidade militar desde julho de 2015. Em janeiro, ele tentou o suicídio.

FILA DE ESPERA
Os advogados do vice-almirante apresentaram um habeas corpus ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) há cinco meses mas ele até hoje não foi julgado.

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Everaldo

© Ricardo Silva

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Ministro Blairo Maggi é alvo de operação da PF em Brasília

Ministro Blairo Maggi

Por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal (PF) realiza operação de busca e apreensão no apartamento em que mora o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, ex-governador do Mato Grosso (MT). O ministro foi citado na delação do também ex-governador daquele estado, Silval Barbosa (PMDB).

Na denúncia, Silval disse que os deputados estaduais recebiam um mensalinho para votar projetos de interesse do Executivo. Segundo ele, o esquema existiu durante o mandato de vários governadores: Dante de Oliveira (já falecido), Blairo Maggi e o próprio Silval.

No fim de agosto, o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de um inquérito para apurar as suspeitas de que uma organização criminosa tenha atuado no governo do Mato Grosso entre 2006 e 2014.

A investigação foi aberta com base nas delações premiadas que o ex-governador Silval, três parentes dele e um auxiliar acertaram com o Ministério Público Federal (MPF). Os casos vieram à tona a partir da Operação Ararath. Entre os suspeitos de crimes está Blairo.

Quando conteúdo da delação se tornou público, o ministro divulgou nota em que negava as acusações de Silval e lamentava o que chamou de ataques à sua reputação.

“Repudio ainda a afirmação de que comandei ou organizei esquemas criminosos em Mato Grosso. Jamais utilizei de meios ilícitos na minha vida pública ou nas minhas empresas”, diz trecho da nota. O Globo

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O mestre que Curitiba esqueceu

Com o correr do tempo, muita gente está sendo esquecida por esta já não mais “mui leal e distinta Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais” – como dizia o saudoso Sérgio Mercer, quando investido das fidalgas funções do Barão de Tibagy, nas páginas do finado O Estado do Paraná. Ele próprio também (o Sérgio) já anda meio esquecido.

A verdade é que importantes figuras – que não tiveram a honra de integrar os compêndios da História do Paraná nem fizeram parte das edições da Casa da Memória – estão correndo o risco de sumirem da lembrança desta nossa ingrata cidade.

Marcel Leite é uma delas. Sabem vocês quem foi Marcel Ferreira Leite? Claro de não. Tirante alguns poucos iniciados ou de boa memória, normalmente jornalistas ou artistas, já entrados na casa dos setenta, ninguém sabe, hoje em dia, quem foi o genial Marcel. Pois saibam que foi uma figura fascinante. “Um intelectual de tempo integral, criativo como ele só, dimensão internacional” – segundo o jornalista Aroldo Murá Haygert.

Editor de livros e revistas, jornalista, cinegrafista, contador de histórias e artista gráfico dos melhores, Marcel esbanjou talento e inteligência aqui e alhures. Como chargista, podia ser comparado, sem favor, a J. Carlos, o grande mestre do traço e do humor do início do século. Esteve até na revista O Cruzeiro dos áureos tempos, no Rio, mas acabou retornando à sua amada Curitiba. Quando muito, se permitia algumas rápidas escapadas para Barra do Sul, um então desconhecido balneário escondido no literal norte de Santa Catarina. E só.

Nos tempos de Rio de Janeiro, tornou-se amigo do americano Orson Welles, que cumpria temporada no Brasil. Juntos, beberam todas à beira da piscina do Copa.

Bom papo, bom copo e agregador por natureza, Marcel Leite fazia os amigos atravessarem madrugadas em torno de sua conversa generosa. Contava casos, revelava fatos e situações, normalmente vividos por personalidades da vida pública paranaense, e tinha especial paciência com os jovens estreantes na vida jornalística, como o acima assinado, aos quais oferecia generosamente um pedaço da sua experiência. Tive a honra de ser amigo e discípulo dele.

Como registrou Murá, na revista Ideias de outubro de 2010, Marcel “reinava, com seu tamanho GG, e tinha o seu guruato (era um guru) na então sede do jornal O Dia, na Avenida Batel. […] Analista do cotidiano, era um ser humano despido de preconceitos e de papas na língua. Assim, cada encontro com ele era momento de abertura de cabeças para realidades que estavam ao nosso lado, mas que não percebíamos ou não queríamos ver. Iconoclasta, Marcel dissecava a sociedade paranaense com descrições às vezes ferinas. Mas quase sempre cheirando à verdade, especialmente aquelas que passavam pela vida sexual do próximo, gafes imperdoáveis de nomes nobiliárquicos, e os avanços aos cofres públicos. Escrevia raramente, mas suas narrações registraram história do cotidiano paranaense, o cômico e o sério escondidos pelos registradores da História.”

Oficialmente, Marcel era casado com Sara Ferreira Leite, com quem teve duas filhas, Juliana e Simone, e vivia em um apartamento na Rua Comendador Araújo, esquina com Brigadeiro Franco. Um pouco mais adiante, porém, no início da Av. Batel, defronte a O Dia, mantinha um endereço paralelo, a filial, dividido com a atriz, apresentadora da TV e posteriormente artista plástica Edde Izabel, mãe de seu filho homem, Tiago. Ali, reunia os amigos como Milton Cavalcanti, Nireu Teixeira, Percival Charqueti, Samuel Guimarães da Costa, Pery de Oliveira, Milton Ivan Heller e Valêncio Xavier, entre outros, todos já “encantados”, como dizia Guimarães Rosa.

Infelizmente, Marcel Leite foi embora cedo demais, vítima de suas próprias emoções. Um fulminante ataque cardíaco colheu-o em sua mesa de trabalho, em plena atividade, no jornal O Dia, em 16 de maio de 1961.

Em dezembro de 1996, o Museu de Arte do Paraná prestou-lhe uma homenagem com uma exposição de desenhos, humor e arte gráfica denominada Marcel Leite – Sal da Terra. Mas a importância do artista no desenvolvimento das artes gráficas, do jornalismo e da publicidade paranaenses ainda está por ser contada. Espera-se que não demore muito mais.

Célio Heitor Guimarães

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