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Roberto Prado

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Sábado

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Pimenta no asfalto é refresco

© Roberto José da Silva

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Duke

O Tempo (MG)

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À espera de Janot

editoriais@grupofolha.com.br

No papel, o governo Michel Temer (PMDB) promoveu uma reforma administrativa com expressivo corte do número de cargos de livre nomeação, moeda corrente de barganhas com o Congresso. Na prática cotidiana, constata-se agora com clareza, pouco mudou.

De absurdos 22,9 mil ao final de 2014, os postos do tipo DAS (Direção e Assessoramento Superior) ocupados no Executivo caíram a ainda excessivos 11,4 mil hoje. Parte das vagas foi extinta; a maioria mudou de nome e foi reservada a servidores de carreira.

Nada capaz de extinguir o mais desavergonhado fisiologismo político, explícito na frenética redistribuição de empregos a apadrinhados nos últimos dias.

Como noticiou esta Folha, mais de uma centena de dirigentes da máquina federal estão sendo exonerados, o que nada tem a ver com critérios de lisura ou competência —mas por se tratarem de indicações de deputados que votaram pelo prosseguimento da denúncia apresentada contra Temer pela Procuradoria-Geral da República.

Os casos que vieram à tona envolvem superintendências regionais de órgãos supostamente técnicos, como o Incra (de colonização e reforma agrária), a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a Agência Nacional de Mineração.

Tal comércio de sinecuras, pela leitura de Brasília, prepara o terreno para que se derrube mais uma investigação sobre a conduta do presidente, a partir de peça acusatória a ser formalizada pelo procurador-geral, Rodrigo Janot.

O cálculo mais consensual indica que, salvo fato novo e avassalador (como se os já conhecidos não fossem graves o bastante), prevalecerão as lealdades negociadas à base de cargos e verbas.

O processo, de todo modo, consumirá tempo e energia parlamentar, às expensas de projetos cruciais para o futuro do país, do voto distrital misto ao redesenho das regras da Previdência Social —a cada dia mais ameaçados de abandono.

Os primeiros sinais de alívio econômico e alta do consumo tendem a minar a disposição para reformas controversas. A dívida pública prossegue em elevação insustentável, mas conta-se com uma trégua do mercado credor para que as medidas mais efetivas fiquem para o próximo governo.

Afinal, se Temer precisa cuidar da própria sobrevivência, todos têm de se posicionar para as eleições gerais de 2018.

À espera dos atos derradeiros de Janot, que encerrará seu mandato em questão de dias, e incapaz de compreender a dimensão dos riscos corridos pelo país, a classe política volta-se às práticas mesquinhas e oportunistas só interrompidas em raras emergências.

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Fetiche no bigode

Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

BRASÍLIA – Se eles tivessem combinado, não sairia melhor. No mesmo dia, Michel Temer, Renan Calheiros e Romero Jucá atacaram o Ministério Público Federal. O alvo dos peemedebistas foi um só: o procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Temer inaugurou a artilharia antes de embarcar para a China. “Sabemos que tem gente que quer parar o Brasil, e esse desejo não tem limites. Quer colocar obstáculos ao nosso trabalho, semear a desordem nas instituições, mas tenho força necessária para resistir”, afirmou.

O presidente não citou o nome de Janot, mas o recado teve endereço certo. Desde que foi denunciado ao Supremo, ele repete o discurso de que o procurador tenta “parar o Brasil”. Na visão de Temer, parar o Brasil é sinônimo de parar Temer.

O segundo a atacar foi o líder do governo no Senado, Romero Jucá. Alvo de três denúncias por corrupção em sete dias, ele reagiu de forma inusitada: em vez de se defender das acusações, sugeriu que o chefe da Lava Jato teria “fetiche” em seu bigode.

“Eu diria que pelo menos é uma fixação. Ele até deu declaração sobre o meu bigode. Não sei se é um fetiche ou alguma coisa”, afirmou Jucá.

Em fevereiro, o senador já havia se arriscado nessa temática ao comentar a proposta de restrição do foro privilegiado. “Se acabar o foro, é para todo mundo. Suruba é suruba. Aí é todo mundo na suruba, não uma suruba selecionada”, dissertou.

Faltava Renan. Ao ser questionado sobre as últimas denúncias da Procuradoria, o ex-presidente do Senado se arriscou como psiquiatra. “É um típico caso de esquizofrenia”, diagnosticou, referindo-se a Janot.

Os ataques simultâneos reforçam o que o leitor já percebeu: não há nada mais eficiente para unir o PMDB do que as sirenes da Lava Jato. Nesta terça, o som ficou mais alto por três motivos: a entrega da delação de Lúcio Funaro, a aparição de Joesley Batista na Procuradoria e os rumores de que a segunda denúncia contra Temer está prestes a vir à tona.

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ELE PERCEBEU minha surpresa. Aquele não era o Reinaldo que conhecia de tanto tempo. Barba por fazer, despenteado, roupas folgadas, em desalinho, olheiras, até um pé dos sapatos desamarrado. Fingi, ‘tudo bem?, quanto tempo, quais são as novas? Ele entendeu: “tou mal, tá na cara”. ‘Dinheiro, doença, desamor?’, perguntei dos três dês de sempre. “Todos os três conjuntamente juntos”, lembrou resgatando a frase sem graça da juventude.

“Ainda leio suas coisas”, era o velho Reinaldo com sinal de vida. “Dia desses você comparou o cara do Supremo com o monstro bocudo da Guerra nas Estrelas”. A coisa não está tão séria, já que ele se distrai no blog. “Fui derrubado pelo lado negro da Força”. Aí me caiu a ficha, tinha que ver com Virgínia, paixão de décadas de Reinaldo, romance que nasceu na puberdade e avançou aceso pela menopausa. Os dois iam e vinham, para mim incompatibilidade entre Escorpião e Virgem, para ele o pai e a irmã de Virgínia.

“Você lembra do velho, enfurnado em casa, uma trava na vida dos filhos”. Era o pai de Virgínia, depressivo crônico, caso clínico, breve ao amor e sua luxúria. Morto o pai, ficou a irmã, uma bola de ferro atada ao tornozelo da amada, a reprovar sem palavras o romance de Virgínia. O pai, o lado negro da força, prendia Virgínia numa invencível atração de culpa e cobranças. ‘Pensei que com a morte do velho vocês dividiram o copo das escovas’. “Ficou a irmã”, responde Reinaldo, “e o império contra ataca”.

Rogério Distéfano

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Solda|Sérgio Mercer

© Vera Solda (década 90)

O cartunista que vos digita, com o chapéu do Ademir Paixão e as revistas Gráficas, do Miran.  Na minha área de trabalho, no monitor, Amy Winehouse, desde sempre.

Miran, você me escalou para o texto de apresentação de Solda em sua Gráfica. Duplo privilégio, que aceito com a seguinte dúvida: partir para um essay papai-e-mamãe ou render-se ao transbordamento amigo? Deixo falar o coração.

Solda entrou na minha vida em 1976 quando me defendia como redator de propaganda na PAZ. Tempo do maior desbunde criativo e botequeiro das minhas lembranças, reunindo uma pá de gente de bem com a vida. Miran, Solda, Ernani Buchman, Chico Branco, Benvenutti e tantos outros fazíamos a alegria e o ouriço do Zeno J. Otto, dando-lhe o título de Agência do Ano em 76, e forrávamos a bolsa do Zé, dono do Bar Rei do Siri.

Neste boteco Solda compôs paródias que ficaram famosas na nova Curitiba de Jaime Lerner. Verdadeiro cartum musical, “Siritango” (paródia do tango Garufa) pôs o boteco no mapa boêmio da cidade, atraindo para a mesma mesa gente como Dalton Trevisan, Paulo Leminski, Lerner, Nireu Teixeira e uma tietagem sem fim. A “Marcha do Porco Chovinista” ou “Tudo é Suíno e Maravilhoso” foi o canto de abre-alas de um bloco carnavalesco que o cartunista Dante Mendonça liderou na sublegenda do Bar Capela. Para sacar um “papagaio” nos bancos, a “Marcha do Saldo Médio” vencia pelo humor o gerente mais pão duro.

E segue o baile: Solda encaçapa aqui e ali seus prêmios nos salões de humor e expo da vida, cria Sandra e Caetano, esbanja talento nas agências de propaganda e nos jornais curitibanos. Continua com o seu saudável hábito de dormir sentado após a terceira vodka, o que o livra dos papos furados e chatos de todo gênero, e ainda o faz sonhar com as sopas de cambuquira da Itararé da infância.

E por falar em papo furado, vou ficando por aqui. Convém poupar os olhos dos leitores para o trabalho de Luiz Antonio Solda, Solda por um erro de cartório. Em breve seu nome será apenas Sol. Brilhante como o talento do seu dono.

Sérgio Mercer (revista Gráfica nº 1 -1980)

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Em busca do “capital chinês”

O Palácio do Planalto acaba de divulgar um vídeo gravado por Michel Temer antes de ele embarcar para a China.

O presidente confirma que está indo buscar “capital chinês”.

“A China poderá ser uma das grandes investidoras nos nossos projetos de concessões que anunciei na semana passada. Eles poderão fazer a diferença em investimentos nas áreas de energia, portos e aeroportos, na área do agronegócio e nas finanças.”

Temer volta a dizer que muitos querem “parar o Brasil” e afirma que “a herança que nos foi legada pelo governo anterior já está sendo corrigida”.

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Série revive os anos 1970 na Argentina por meio da história de uma família

Sylvia Colombo – Folha de São Paulo

Estreou na última semana, pela TV Pública argentina, a minissérie “Cuéntame Cómo Pasó”, versão local da novela espanhola homônima. Assim como a original, a trama também tem como centro uma família de classe média baixa que atravessa um período da história recente. Desta vez, ela se desenrola num bairro suburbano de Buenos Aires. Começa em julho de 1974, com a morte do general Juan Domingo Perón, que havia sido eleito para seu terceiro mandato apenas um ano antes, e vai até 1983, quando o país voltou a ser uma democracia. O ponto de partida é um território ainda nebuloso e pouco contado nos livros de história.

Isso porque, entre 1974 e 1976, a Argentina, apesar de viver uma democracia, atravessou um período de intensa violência. De um lado, estava a repressão do Estado, que agia por meio da cruel Triple A, um esquadrão da morte paralelo às forças de segurança institucionais. De outro, as guerrilhas urbanas Montoneros e ERP (Ejército Revolucionário del Pueblo). A morte de Perón tornou ainda mais agudo esse enfrentamento, causando mortes e um ambiente de muita insegurança nas ruas e de incerteza entre a sociedade. No lugar do general, havia assumido sua vice e viúva, Isabelita. Esta, porém, vinha sofrendo imensa influência do bruxo José Lopez Rega (1916-1989), uma figura enigmática e esotérica que havia conquistado a confiança do casal Perón quando este vivia no exílio. Morto Perón, Lopez Rega se transforma no homem mais poderoso do país. Enquanto isso, nos bastidores, os generais preparavam-se para tomar o poder à força, o que de fato aconteceria em março de 1976, quando ocorreu o golpe militar.

“Cuéntame Cómo Pasó” começa retratando esse momento anterior ao regime, mas do ponto de vista da família Martínez. Temos Antonio (Nicolás Cabré), que faz o pai e provedor do lar. Trabalha numa gráfica cujo dono é um anti-peronista que pede logo a intervenção dos generais “para organizar as coisas”. Antonio não está de acordo com ele, mas cala-se para manter o emprego enquanto tenta conter colegas que se rebelam contra o patrão e estão organizados em sindicatos _uma das principais bases de apoio de Perón.

Sua mulher, Mercedes (Malena Solda), é a dona-de-casa típica da época, empenhada em manter a família unida, ao mesmo tempo em que ajuda a completar o orçamento familiar costurando roupas para a vizinhança _estão entrando na moda as calças longas para mulheres, e ela se anima em aproveitar esse novo filão. Ao mesmo tempo, exerce profunda pressão sobre a filha Ines (Candela Vetrano), que hesita em casar-se e não se conforma de ter tido seu acesso à universidade barrado em detrimento do irmão mais velho. Trabalhando num salão de beleza, não quer seguir o compromisso com o noivo e sonha viajar e estudar. A mãe não aceita e quer ve-la logo no altar. Já o filho mais velho, o calado Toni (Franco Masini), acaba de entrar na faculdade de direito, e lá se apaixona por uma jovem ativista, Marta (Malena Sánchez). Esta começa a envolve-lo em política, primeiro levando-o a reuniões. Apaixonado, Toni vai sendo empurrado logo a coisas mais ousadas, como pintar muros e realizar ações na luta armada. A princípio, ele tem receio, dizendo que crê que é melhor que se dediquem a estudar. Ao que Marta responde: “Temos que optar, ou estudamos a história, ou fazemos a história”. Toni se resigna a acompanha-la, opção pela qual pagará um alto custo. Já o filho mais novo, o menino Carlitos (Luca Ciatti) é quem conta a história, a partir de seu olhar lúdico que mistura as histórias de kung fu, pelas quais é apaixonado, com as conversas dos adultos e o noticiário, que entende apenas parcialmente.  Continue lendo

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ELE NÃO QUERIA, ou se queria tinha medo de agir. Os aliados exigiram e Michel Temer demitiu afilhados de deputados que votaram contra ele no processo da câmara. Questão de justiça e utilidade para os aliados, para quem faltam cargos e sobram afilhados. Feio para Temer, para os aliados que cobraram as demissões, para os padrinhos ou para os afilhados?

Feio para os que venderam e não entregaram a mercadoria, os deputados que nomearam afilhados e votaram contra Temer. Feio para os afilhados, que continuaram, cara de paisagem, a fruir as sinecuras. Quem exigiu e quem demitiu agiu na estrita lógica do comércio político: eu pago, você entrega. Quem votou contra atuou fora da ética: vendeu, tinha que entregar.

Nem precisamos cair no complexo de vira lata e sacar que o Brasil inventou a bandalheira da troca de apoio pelos cargos. Isso veio do parlamentarismo e é conhecida no presidencialismo dos EUA como o spoils system: quem está no poder o compartilha com os aliados. O que nos diferencia dos inventores foi o aperfeiçoamento. Para eles é o poder de pôr em prática o projeto político.

Nosso spoils system também visa ao controle do poder. De igual para avançar projetos. Aqui, no entanto, a diferença. Os inventores fazem do projeto político sua visão de mundo, até para a engenharia social. Aqui o projeto é pessoal, de estrito proveito e lucro pessoais. Tem orientação individualista, de benefício utilitário, material do homem político. Imoral, claro.

Rogério Distéfano

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Sem a justa ira dos inocentes

Ricardo Noblat

Renan Calheiros é golpista. Um “velho golpista”. De acordo com o PT, golpista é aquele que por voto, palavras e obras apoiou a queda da ex-presidente Dilma. Foi o caso de Renan. O “novo golpista” torce para que Lula seja impedido pela Justiça de disputar a eleição presidencial do próximo ano. Não é o caso de Renan. Que deseja Lula candidato esbelto e forte para beneficiar-se dos seus votos.

Por favor, não esqueçam, suplicou Renan outro dia: ele sempre foi de esquerda. Ele é Renan. Lula, não. Jamais foi de esquerda. Valeu-se dela para fundar o PT. Serviu-se dela para chegar ao poder.

E uma vez lá, governou com as elites que antes amaldiçoava. Que hoje amaldiçoa na tentativa de não perder a simpatia dos mais pobres. Lula é o que foi sempre: um irresponsável manipulador de palavras e de sentimentos.

O encontro dos réus Lula e Renan marcou a passagem por Alagoas na semana passada da caravana do mais ilustre alvo da Lava Jato. Renan não discursou com medo de ser vaiado. Queria livrar-se, e ao visitante, do constrangimento.

Mesmo assim foi vaiado e fingiu que não era com ele. Lula encantou os que queriam ouvi-lo e tocá-lo como se fosse um demiurgo. Provou que está em boa forma.

Ameaçado de não se reeleger senador, Renan afastou-se do governo impopular de Michel Temer para colar-se de vez a Lula. Exagero: de vez, não, apenas o necessário.

Lula acolheu-o como se Renan não tivesse atraiçoado Dilma. “Renan pode ter todos os defeitos, mas ajudou meu governo”, disse Lula. Quanto ao fato de Renan responder a 14 processos, Lula afirmou que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário”.

Como demonstrado, ajudar Lula a governar é condição essencial para ser absolvido por ele de qualquer pecado. A máxima de que “todo mundo é inocente até que se prove o contrário” não passa de uma frase vazia na boca de Lula.

O Supremo Tribunal Federal considerou o mensalão do PT um “atentado contra a democracia”. E condenou os mensaleiros à prisão. Lula prefere seguir negando que o mensalão existiu.

A quem cabe provar que um suposto inocente é culpado? Nas democracias, à Justiça. No mundo onde Lula faz e aplica suas próprias leis, cabe a ele.

Se Lula reconhecesse a autoridade da Justiça seria obrigado a render-se à realidade de que seu governo foi corrupto e legou a Dilma uma pesada herança de corrupção. Como, pois, ficaria se a Justiça, mais tarde, o condenasse? A última palavra é dele.

Nas penitenciárias, ensina o médico Dráuzio Varella, só existe gente inocente. Ninguém, ali, cometeu crime algum. Todos são vítimas de injustiças. Na política, como nas penitenciárias.

O Congresso, mas não só, é um imenso Carandiru, depósito de imaculados. Os porões dos palácios em Brasília são locais de orações e de reflexão. A Lava Jato é uma máquina de moer santas reputações. E Lula… Ora, Lula…

É o santo padroeiro dos que querem emparedar a Lava Jato, remeter o combate à corrupção para o inferno e manter tudo como está. Nunca antes na história do país alguém detratou a Justiça com a desenvoltura e a desfaçatez exibidas por Lula.

Sua viagem de 20 dias a 25 cidades de nove Estados do Nordeste tem servido para que ele ataque com virulência “os canalhas” da toga, como fez em João Pessoa no último fim de semana. Lula fala para os convertidos. Ao fim e ao cabo, carece da justa ira dos inocentes e dos perseguidos.

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Fraga

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“BOLSONARO é o retrato do analfabetismo político do país”. Você tem uma única chance para dizer o autor da frase. Claro, foi Lula, que sacou um Brecht da cartola: Nordeste, semana passada, na sua caravana-comício. Não há como discordar – completamente. Mas também não dá para concordar – completamente. Vamos por partes.

Lula disse a maravilha na região do maior número de analfabetos do Brasil, o Nordeste. Esperto, ele acrescentou o ‘político’ ao ‘analfabetismo’. Significa que há o analfabeto das letras e o analfabeto da política, que podem ser excludentes. Não fossem excludentes, Lula nunca chegaria sequer a presidente do sindicato.

Será que é isso, Bolsonaro o resultante do analfabetismo político? Só ele, ninguém mais. Na formulação de Lula, neste momento, só Bolsonaro. Por quê? Simples: ele quer se contrapor como opção ao ex-capitão direitista, estimulando o medo ao retorno da ditadura. Outro candidato aparecesse, Lula sacaria outro terror.

Claro que os amantes de Bolsonaro têm um parafuso a menos, o homem não tem o menor equilíbrio para ser presidente. Acredita nele a classe média raivosa, cega e recalcada e os cadetes da Escola Militar das Agulhas Negras. São, sim, analfabetos, em todos os sentidos, porque não conhecem ou esqueceram nossa História.

E os amantes de Lula? São como os de Bolsonaro, com um agravante: entre eles há intelectuais, pensadores, filósofos, doutores, gente muito distante do analfabetismo. Se tudo que vem à tona dos treze anos da era Lula não lhes ensinou nada, seu caso é pior que o mero analfabetismo político. O outro tem cura, este, não.

Rogério Distéfano

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