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O Che e o anti-Guevara

Josias de Souza – UOL

… Em outubro de 1968, quando foi preso pelas forças da ditadura, José Dirceu, à época com tenros 22 anos, considerava-se um projeto de Che Guevara à brasileira. Hoje, 71 anos, três condenações criminais sobre os ombros —uma do mensalão e duas do petrolão—, à espera de um veredicto de segunda instância que deve confirmar os seus 32 anos e um mês de cana, o ex-líder estudantil consolidou-se como um anti-Guevara.

No livro ”Abaixo a Ditadura” (Ed. Garamond, 1998), que tem Vladimir Palmeira como coautor, Dirceu anotou: ”É difícil reproduzir o que foi o espírito de 68, mas posso dizer que havia uma poderosa força simbólica impulsionando a juventude (…). O mundo parecia estar explodindo. Na política, no comportamento, nas artes, na maneira de viver e de encarar a vida, tudo precisava ser virado pelo avesso. Para nós, o movimento estudantil era um verdadeiro assalto aos céus”.

É fácil reproduzir o espírito dos dias atuais. Uma poderosa força monetária revelou que o idealismo de outrora era apenas uma versão do patrimonialismo que ainda não tinha chegado ao poder. O mundo parece estar implodindo. Ruiu toda a noção de ética que possa ter existido um dia. Na política, no comportamento, na maneira de viver e de encarar a vida, tudo foi virado do avesso. Assaltaram-se não os céus, mas os cofres públicos.

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Doce mulher, a Luci. Casada muito jovem, aos 17, numa época em que às mulheres não tinham cotas para casamento; era pegar o primeiro que aparecia, ainda que não fosse a maravilha dos sonhos adolescentes. Luci teve sorte, Lauro era bonitão, bem falante, bem nascido. Dizer que era machista e controlador seria redundância, avaliação ex post facto, julgar o passado com valores do presente, vetada pela epistemologia da História: naquela época os homens eram dominadores e as mulheres submissas, resguardadas as exceções, tão raras quanto honrosas.

Como também mandava o figurino, Luci teve cinco filhos de enfiada (antes de maliciar, dê um gugle: significa um atrás do outro). Ela só voltou a estudar quando os filhos passaram da adolescência, colega da filha na universidade. Se isso foi negociado com Lauro, só às paredes confessaram, de minha parte palpito que sim. O pudor me impede aqui de reproduzir o que Lauro pensava das mulheres, aliás, a mens media de seu tempo. Luci, fique claro, não era oprimida. As mulheres de sua geração usavam armas sutis e negociavam com inteligência.

Naquela negociação, no entanto, Luci acabou vencida. Homiziada na praia com os filhos, férias de verão, Lauro chegava na sexta e voltava no domingo, sempre fim da tarde, livre na semana como um beija-flor. Lazer para Luci eram o mar e as amigas em igual situação. Leituras, as da moda, como Sidney Sheldon, que pediu para Lauro trazer na arribada seguinte. “Que qué isso, Luci? Tem o Guerra Junqueiro lá em casa”. Segue amostrinha do poeta português do século XIX. Luci não leu Guerra, e desconfio que Lauro nunca passou da lombada do Junqueiro.

Morena

Não negues, confessa/Que tens certa pena/Que as mais raparigas/Te chamem morena. Pois eu não gostava,/Parece-me a mim,/De ver o teu rosto/Da cor do jasmim. Eu não… mas enfim/É fraca a razão,/Pois pouco te importaQue eu goste ou que não. Mas olha as violetas/Que, sendo umas pretas,/O cheiro que têm!/Vê lá que seria,/Se Deus as fizesse/Morenas também

Rogério Distéfano

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Dirceu descobre que ser libertado não é ser livre

Josias de Souza – UOL

Libertado por três dos cinco votos disponíveis na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, José Dirceu imaginou-se um homem totalmente livre. Os fatos talvez o convençam do contrário. Arrastando uma tornozeleira, Dirceu viajou até São Paulo. Dali, rumou para Brasília. Ao chegar no prédio onde decidiu morar, ouviu uma barulheira que o fez ter saudades do silêncio da carceragem de Curitiba.

Cerca de 50 pessoas recepcionaram Dirceu. A exemplo dos membros da força-tarefa da Lava Jato, a multidão parecia convencida de que a liberdade do ex-chefe da Casa Civil de Lula é apenas um lastimável equívoco das togas do Supremo. Ouviram-se palavras hostis. “Bandido”, gritaram alguns. “Dirceu ladrão, seu lugar é na prisão”, entoaram outros. Parte dos manifestantes invadiu a garagem do prédio de Dirceu.

A presença de 15 policiais militares, convocados para conter os ânimos, mostrou a Dirceu que o habeas corpus do Supremo pode não ser suficiente nem para lhe garantir uma ida à padaria da esquina. A curiosidade dos repórteres deve ter aguçado em Dirceu o apreço pela liberdade de imprensa —sua utopia naquele instante era se ver livre da imprensa.

Em outubro de 1968, quando foi preso pelas forças da ditadura, Dirceu, à época com tenros 22 anos, considerava-se um projeto de Che Guevara à brasileira. Hoje, 71 anos, três condenações criminais sobre os ombros —uma do mensalão e duas do petrolão—, à espera de um veredicto de segunda instância que deve confirmar os seus 32 anos e um mês de cana, o ex-líder estudantil consolidou-se como um anti-Guevara.

No livro ”Abaixo a Ditadura” (Ed. Garamond, 1998), que tem Vladimir Palmeira como coautor, Dirceu anotou: ”É difícil reproduzir o que foi o espírito de 68, mas posso dizer que havia uma poderosa força simbólica impulsionando a juventude (…). O mundo parecia estar explodindo. Na política, no comportamento, nas artes, na maneira de viver e de encarar a vida, tudo precisava ser virado pelo avesso. Para nós, o movimento estudantil era um verdadeiro assalto aos céus”.

É fácil reproduzir o espírito dos dias atuais. Uma poderosa força monetária revelou que o idealismo de outrora era apenas uma versão do patrimonialismo que ainda não tinha chegado ao poder. O mundo parece estar implodindo. Ruiu toda a noção de ética que possa ter existido um dia. Na política, no comportamento, na maneira de viver e de encarar a vida, tudo foi virado do avesso. Assaltaram-se não os céus, mas os cofres públicos.

A prisão da versão estudantil de Dirceu, capturada num sítio em Ibiúna (SP) durante o célebre congresso da UNE, foi contornada com uma ousadia. Junto com outros colegas, Dirceu foi trocado pelo embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado por companheiros de luta. Encontrou na cladestinidade a liberdade que a ditadura lhe sonegava.

A prisão do projeto frustrado de Guevara, agora reduzido à condição de protagonista do mensalão e do petrolão, os dois maiores escândalos de corrupção da história republicana, não é tão simples de ser resolvida. Ao chegar a Brasília, José Dirceu descobriu da pior maneira que, no seu caso, ser libertado pela Suprema Corte não é sinônimo de ser livre.

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Hoje!

Estúdio Delírio. Texto e direção de Edson Bueno

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As putarias

A senha foi dada na correspondência do ex-secretário de Saúde do Rio Sérgio Côrtes para o empresário Miguel Iskin e apreendida pelos federais sobre as falcatruas da quadrilha de Sergio Cabral no Governo do Rio de Janeiro: “Podemos passar pouco tempo na cadeia… Mas nossas putarias têm que continuar”. É isso que vai acontecer no Bananão. Zé Beto

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Mar Paraguayo de Wilson Bueno é o destaque da edição de maio do Cândido

A 70ª edição do jornal Cândido, editado mensalmente pela Biblioteca Pública do Paraná, traz como destaque um especial sobre os 25 anos do livro Mar paraguayo, do paranaense Wilson Bueno. Esgotada e sem previsão de nova publicação no Brasil, a obra terá edições nos Estados Unidos e França neste ano.

Uma ampla reportagem traz informações sobre a narrativa que mistura português, espanhol e guarani e que borra as fronteiras entre os gêneros literários. Uma segunda matéria apresenta aos leitores alguns dos principais momentos da trajetória de Bueno (1949-2010), escritor que atuou na imprensa, idealizador do suplemento de cultura Nicolau (1987-1996), com passagens pelo jornal O Globo e pela revista Ideias. O jornalista Luiz Manfredini, amigo de infância de Bueno, está finalizando uma biografia romanceada do escritor, e o Cândido publica um dos capítulos da obra.

O Cândido 70 traz um especial sobre a sátira. O jornalista e tradutor Christian Schwartz faz uma análise histórica do surgimento e desenvolvimento do gênero e apresenta um panorama dos autores essenciais no mundo e no Brasil. Pesquisador e professor no King’s College London, Felipe Botelho Corrêa analisa o ímpeto subversivo e a potência combativa dos escritos satíricos de Lima Barreto.

Outro destaque é a transcrição do bate-papo com Paulo Venturelli, que participou de uma edição do projeto Um escritor na Biblioteca. O escritor e jornalista José Castello revisita a obra do escritor argentino Ricardo Piglia e discute a ressonância e as potencialidades do legado do autor morto em janeiro deste ano. O Cândido de maio de 2017 ainda publica um conto de Otávio Linhares, um poema de Ronald Augusto e uma crônica de Lima Barreto.

Serviço|O Cândido tem tiragem mensal de 10 mil exemplares e é distribuído gratuitamente na Biblioteca Pública do Paraná e em diversos pontos de cultura de Curitiba. O jornal também circula em todas as bibliotecas públicas e escolas de ensino médio do Estado. É enviado, pelo correio, para assinantes a diversas partes do Brasil. É possível ler a versão online do jornal em www.candido.bpp.pr.gov.br. O site também traz conteúdo exclusivo, como entrevistas, vídeos e inéditos.

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A gente aqui a brigar pela reforma da previdência, na questão da idade mínima – atenção: mínima – para a aposentadoria, 65, 70 anos, na hora da morte. Devíamos mais é olhar para os exemplos de fora, como esse recentíssimo, de ontem, sobre o Duque de Edimburgo. Para quem não sabe, o duque vem a ser o marido da rainha Elisabeth II, da Inglaterra. Marido de rainha não é rei, embora mulher de rei seja rainha, coisas da realeza, da qual os brasileiros saímos em 1889 e retornamos com FHC e Lula. Marido de rainha é príncipe. E porque é marido, tem o adjetivo, consorte. Portanto, príncipe consorte.

Trata-se do príncipe Filipe, ou Philip, em inglês, aquele cara que sempre anda dois passos atrás da mulher, que nem mulher de japonês. O príncipe anunciou ontem seu afastamento da vida pública, ou seja, avisou que está se aposentando como príncipe consorte. Não é pouca coisa, foram 70 anos de serviço: chegou aos 95, 25 a mais que a idade para a aposentadoria compulsória dos príncipes da Igreja Católica. Alguns, sempre muito apressados e espertinhos dirão, “até eu queria o emprego dele”. E a esses direi que estão enganados, o trabalho é pesado, pesadíssimo. Não é só aquilo de bancar o mocorongo atrás da mulher.

Tem mais: entre as obrigações que o Philip cumpriu rigorosamente está a de preservar a linhagem, o que ele fez, nada mais que quatro filhos, três homens e uma princesa, que geraram um sem número de netos e bisnetos. Um dado fundamental: o príncipe vive do salário da mulher, que recebe verba anual aprovada pelo parlamento. Essa verba paga o consorte e os demais filhos e netos. Menos o príncipe de Gales, herdeiro do trono, primeiro na linha sucessória, que tem um feudo próprio, altamente rentável. Proporcionalmente, a família real custa menos que a família Lula custou ao erário brasileiro.

A aposentadoria do príncipe deixa um vazio para os tabloides ingleses. Ele ficou conhecido pelas gafes e pelo senso de humor, aquele humor inglês cerebral, que no máximo admite um sorriso, gargalhada jamais. Desde quando recém-casado, em viagens com a futura rainha, em plena época de saias rodadas, ele a metia em saia justa com líderes tribais das colônias do império britânico. Quem pensa que por ser consorte fez dele um frouxo, engana-se. Nunca foi, quando quer solta o verbo, sem meias palavras. O modo como se auto define merece lema de brasão, em francês, como na monarquia inglesa: “Sou grosso, mas sou engraçado”.

Rogério Distéfano

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Lagarto

© Ricardo Silva

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Benett

Gazeta do Povo. © Benett

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No pleno do STF, há chances reais de manutenção das prisões da Lava Jato

Blog do Josias de Souza

Num intervalo de sete dias, o ministro Edson Fachin tomou três bordoadas. Contra o seu voto, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal mandou soltar uma trinca de presos de Curitiba, entre eles o grão-mestre do petismo José Dirceu. Fachin farejou ao redor um movimento para esvaziar os cárceres da jurisdição de Sergio Moro. Seu papel nesse enredo seria o de uma espécie de Napoleão se descoroando. Num gesto calculado, Fachin transferiu a próxima batalha da Segunda Turma —o outro nome de Waterloo— para o plenário da Suprema Corte. Ali, são reais as chances de manter atrás das grades os presos ilustres da Lava Jato, a começar pelo petista Antonio Palocci.

Fachin notou que há uma diferença entre as duas turmas do Supremo. Na Segunda, que ele integra, os pedidos de liberdade passaram a ser concedidos por 3 votos a 2. Na Primeira Turma, que não cuida de Lava Jato, habeas corpus semelhantes vêm sendo indeferidos pelo placar de 4 a 1. O relator do petrolão se deu conta de que, no plenário do Supremo, integrado por 11 ministros, haveria pelo menos seis —dois de um colegiado e quatro do outro— potencialmente avessos à ideia de liberar presos apenas porque suas prisões são “alongadas”. A conta a favor da tranca pode subir para sete se incluir a presidente da Suprema Corte, Cármen Lúcia, que não integra nenhuma das turmas, mas vota no pleno.

Essa contabilidade, evidentemente, não é automática. Cada processo tem suas variáveis e suas nuances. Um ministro que hoje vota assim amanhã pode votar assado. Mas para quem se encontra na situação de Fachin, afogado em preocupações, qualquer jacaré ganha a aparência de um tronco. De resto, não seria razoável supor de antemão que um ministro adote em plenário posições inversas às que exibe nas turmas. E os rigores da turma vizinha à de Fachin são latentes.

Submetido ao crivo das cinco togas da Primeira Turma do Supremo, o pedido de liberdade de José Dirceu talvez fosse negado. Por quê? Nesse colegiado, à exceção Marco Aurélio Mello, mais concessivo em matéria de habeas corpus, os outros quatro ministros —Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e o novato Alexandre de Moraes— costumam recusar até a análise do mérito dos pedidos quando eles envolvem presos que já tenham sido codenados por um juiz de primeira instância. Dirceu colecioba não uma, mas duas sentenças. Juntas, somam 32 anos e um mês de prisão.

Antes de chegar ao Supremo, os pedidos de liberdade percorrem um périplo. Indeferidos nos tribunais de segunda instância, sobem para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). Arquivados ali, não há senão a hipótese de bater às portas do Supremo. Um ministro da turma ‘linha dura’ explicou ao blog o que ocorre: “Presa preventivamente, a pessoa entra com um habeas corpus. O pedido percorre todo o caminho. Quando chega no Supremo, frequentemente já houve uma sentença de primeiro grau. Entendemos que, diante da sentença, o habeas corpus oroginal fica prejudicado. As motivações que levaram à prisão preventiva foram substituídas pelos motivos expostos numa sentença. É preciso ajuizar um novo habeas corpus. Por isso, não conhecemos da causa, não analisamos o mérito. Simplesmente indeferimos.”

A reação de Fachin é inspirada em Teori Zavascki, o antigo relator da Lava Jato. Em novembro do ano passado, Teori indeferiu liminar que libertaria Eduardo Cunha. A defesa do ex-presidente da Câmara recorreu. Teori pautou o julgamento do recurso na Segunda . No início de dezembro, como que antevendo o que estava por vir, Teori achou melhor transferir a decisão sobre a libertação de Cunha para o plenário do Supremo. No último dia 19 de janeiro de 2017, Teori morreu num acidente aéreo. E a relatoria da Lava Jato caiu no colo de Fachin. Coube a ele preparar o voto sobre Cunha. Votou pela manutenção do personagem na cadeia. Prevaleceu por 8 a 1. Dois ministros faltaram à sessão.

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Tempo

Marcia Squiba, a nossa querida Marciateca (foi a primeira Administradora da Gibiteca de Curitiba) e o cartunista que vos digita, no Stereo Toaster Café, em algum lugar do passado. © Neri da Rosa

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Mural da História

Charge censurada pelo jornal, janeiro de 2009.

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