Em meio ao lodo, Temer cogita criar um Ministério do Saneamento para o PMDB

Blog do Josias de Souza

O silêncio do governo de Michel Temer diante da crise moral diz muito sobre o momento que o Brasil atravessa. O Planalto reage ao terremoto se escondendo em baixo da mesa. Finge-se de morto. E celebra o fato de que a Odebrecht jogou escombros na cabeça de tanta gente que ficou difícil distinguir um corrupto do outro. Assim, Temer sente-se mais à vontade para manter os seus suspeitos nos ministérios. E como há males que vêm para pior, o presidente pensa em criar um novo ministério para abrir outra frente de suspeição. Vem aí o Ministério do Saneamento Básico.

Há três semanas, o vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho, do PMDB de Minas Gerais, subiu à tribuna para anunciar: ”Estou rompendo com o governo. Se Minas Gerais não tem ninguém capacitado para ser ministro, não devemos apoiar esse governo.” O correligionário de Temer disse que trabalharia para derrotar o governo em tudo, inclusive na estratégica reforma da Previdência. Foi uma cena de chantagem explícita. E parece ter funcionado.

Temer cogita entregar a nova pasta para a bancada do PMDB de Minas, a mesma que controlava a diretoria Internacional da Petrobras, um dos tumore$ lancetados pela Lava Jato. Fará isso para apagar um foco de descontentamento que ameaça a reforma da Previdência. É espantoso que Temer queira criar o Ministério do Seneamento num instante em que a Odebrecht expõe o lodo da corrupção a céu aberto. Apelar para o fisiologismo numa hora dessas é um atentado à inteligência. Vai ficando claro que, depois do déficit moral, o maior déficit do país localiza-se entre as orelhas dos governantes e de seus apoiadores.

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

wim-wenders

Tudo Vai Ficar Bem. Um dia, dirigindo sob nevasca nos arredores da cidade após um desentendimento doméstico trivial, 0 escritor Tomas acidentalmente atropela uma criança. Essa fatalidade, transforma brutalmente sua vida , mas deixa também um legado que só será resgatado 14 anos mais tarde.

Direção de Wim Wenders, 2015, 118 minutos, Alemanha, Canadá, França, Suécia, Noruega. Com Rachel McAdams, James Franco, Charlotte Gainsbourg, Peter Stormare e Marie-Josée Croze. Filme convencional de Wim Wenders, que dá saudades de Asas do Desejo. Solda

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Suicidas de paletó

Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

A cada nova delação, cresce a aposta dos políticos numa anistia ao caixa dois. A ideia ganha força em Brasília, mas há quem acredite que seu efeito será o oposto do esperado. É o que alerta o deputado Jarbas Vasconcelos, 74, uma das vozes mais experientes da Câmara.

Para o peemedebista, os colegas pensam ter encontrado a fórmula da sobrevivência, mas estão caminhando na direção do precipício. “Falar em anistia é um suicídio coletivo do Congresso. Isso seria um desastre”, afirma. “Estamos vivendo um momento muito perigoso. Na política, um passo em falso como esse dificilmente se recupera depois.”

A anistia aos delatados é o que falta para detonar uma nova onda de revolta contra o sistema político, avisa Jarbas. Ele diz que os colegas deveriam se importar com a irritação da sociedade, mas só pensam em escapar da Lava Jato. “Hoje a maior preocupação é se salvar. Quando a pessoa entra nessa situação, qualquer coisa passa a ser válida”, afirma.

Aos olhos do peemedebista, a Câmara vive “entre a perplexidade e a pasmaceira”. “Estamos na metade de março e as comissões nem sequer foram constituídas. Está tudo paralisado”, critica. “E isso é porque só uma parte da lista do Janot vazou. Ainda vai piorar”, acrescenta.

Apesar de esperar uma enxurrada de inquéritos no Supremo, Jarbas não acredita na abertura de processos de cassação contra os delatados. Ele diz que o espírito de corpo tende a prevalecer entre deputados do governo e da oposição. “Se acontecer alguma coisa, será positivo. Mas acho que não vamos ter consequências no Conselho de Ética”, prevê.

A delação do fim do mundo emudeceu alguns dos políticos mais falantes do Congresso. Para explicar o fenômeno, o deputado Heráclito Fortes lembra uma máxima repetida por Vitorino Freire (1908-1977), raposa do antigo PSD: “Quando o pasto pega fogo, preá corre pro brejo…”

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Pensando bem…

© Myskiciewicz

LUISA MELL, atriz e amiga dos animais, declara que não mata pernilongos: “converso com eles”. Não é uma fofa? A ela a musiquinha dos The Doors para o mosquito.

A LISTA DE JANOT – pedido de abertura de inquérito contra executivos propineiros e políticos propinados – não poupa ninguém. Perdão, poupa um, Michel Temer, presidente da república que pode nomear Rodrigo Janot para um terceiro mandato de procurador geral. Além de 77 executivos de empreiteiras, pega Lula e Dilma, cinco ministros de Temer, os presidentes da câmara e do senado e os caciques do Senado: Renan Calheiros, Romero Jucá, entre eles. Ou Janot quer instalar o caos ao mostrar o Brasil sob o controle de bandidos ou é melhor tornar a honestidade crime inafiançável, hediondo.

LULA À IMPRENSA depois da audiência judicial em Brasília. Indignado, arrogante, atitude de quem está acima de tudo e todos, da lei principalmente, untado e ungido pelos santos óleos do primeiro presidente filho da mulher que nasceu analfabeta. Não admite estar sujeito ao processo democrático e republicano de, como político, ser investigado. Sua santidade lulésia adota o tom incendiário dos que fazem o passional substituto do racional. Assumiu-se como um Antonio Conselheiro de si mesmo.

ZB COMENTOU aqui ontem que nos escândalos do mensalão e lava jato, dos quais ficou fora, o deputado Paulo Maluf “flutua sobre os escombros dos colegas do Congresso”. Imagem bonita, no flutua e nos escombros. Mérito de Maluf? Não, defeito dos colegas, amadores.

O MST ocupou as instalações do Ministério da Fazenda, em Brasília. A companheirada pensou que ali se faz distribuição de terras?. Afinal, é ministérioda fazenda…

COMO MINISTRO da Saúde, Ricardo Barros é excelente engenheiro. Falou sobre obesidade infantil e identificou a causa eficiente: “as crianças não aprendem a descascar alimentos com as mães”.  Por que mães e por que descascar? Não explica. Mas lembrei da filha, a deputada Maria Victória, alguns quilinhos acima, e da mãe Cida, a vice de Beto. Nenhuma descasca.

DILMA será testemunha de defesa de Gleisi Hoffmann. Do jeito que fala e do jeito que deu força para a senadora ainda entra no processo. De ré.

RENATA MONTEIRO, empresária carioca, postou foto e elogio de Sérgio Moro no Facebook, queixo para cima, olhar para o alto: “É de cabeça erguida que iremos limpar o país”. Dez dias depois seu marido Luiz Carlos Velloso, subsecretário do ex-governador – hoje detento – Sérgio Cabral, é preso em desdobramento da Lava Jato, com pedido de bloqueio de R$ 12 mi de seu patrimônio. Luiz Carlos saiu de casa, acompanhado pela PF. De cabeça baixa.

Rogério Distéfano

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Mural da História

29 de outubro – 2010

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Lula usa Temer como escada rumo ao pedestal

Blog do Josias de Souza – UOL

Lula poderia estar jogando conversa fora na câmara de descompressão de São Bernardo. Mas foi condenado pela Lava Jato à candidatura presidencial perpétua. Aprisionado por seus advogados no figurino de vítima, Lula se esforça para retornar ao pedestal de presidenciável antes do depoimento marcado por Sergio Moro para 3 de maio. Para acelerar a subida, Lula pisa em Michel Temer como se escalasse os degraus de uma escada.

Sob gritos de “olê, olê, olá, Lulaaaaa, Lulaaaaaa”, o morubixaba do PT discursou em ato contra a reforma da Previdência, na Avenida Paulista. A certa altura, declamou para o microfone a retórica de sempre: ”Está ficando cada vez mais claro que o golpe dado nesse país não foi apenas contra a Dilma, contra os partidos de esquerda.” Hummmm… Tenta-se também ”acabar com as conquistas da classe trabalhadora ao longo de anos, com a reforma trabalhista e da Previdência.”

Longe de clarear, as palavras de Lula escurecem a realidade. Deve-se a Lula a chegada de Temer ao Planalto. Primeiro porque foi ele quem negociou a conversão de Temer em vice nas chapas de 2010 e 2014. Segundo porque também é de sua autoria a fábula da supergerente que produziu a ruína econômica que levou ao impeachment.

De resto, o que aniquilou “as conquistas da classe trabalhadora” foi a gestão empregocida de Dilma. Lula sabe que a legislação trabalhista precisa tomar uma lufada de ar. Também sabe que a Previdência irá à breca sem uma reforma. O amigo e ex-colaborador Henrique Meirelles já lhe explicou a situação das arcas previdenciárias. Não repete em público o que ouviu em privado porque a verdade não rende aplausos.

Assim, pisando em Michel Temer distraído, Lula retorna ao pedestal de candidato. Em maio, Sergio Moro interrogará uma pose, não um suspeito. Na sequência, condenará um projeto político, não um culpado dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Se a sentença for confirmada na segunda instância, como parece provável, descerá ao xilindró um mártir petista, não um presidiário.

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Menina de trança, em homenagem a Antonio Marcos

© Roberto José da Silva

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Brasil é o país em que o presidente é produtor oficial de notícias falsas

Janio de Freitas – Folha de São Paulo

Os alemães estão preocupados com o número e os efeitos crescentes de notícias falsas. Seu governo discute, já como anteprojeto, uma legislação duríssima contra empresas que viabilizam redes na internet, quando não eliminem com presteza as notícias falsas e a disseminação do ódio.

No Brasil, providência semelhante seria contraditória, sendo o país, por exemplo, em que um ex e badalado presidente da República e um ministro do Supremo Tribunal Federal propõem que o caixa 2 em política –o dinheiro tomado e destinado em segredo– não mais seja considerado como corrupção.

Ou, mais simplesmente: o país em que o presidente é produtor oficial e contumaz de notícias falsas. Com uso não só da internet, mas de todo o sistema de comunicação informativa do país.

O que Fernando Henrique e Gilmar Mendes pretendem aceitável é a maior causa da grande mentira eleitoral, o mito das eleições livres e limpas no Brasil. Lembre-se, a propósito, que as contas da campanha presidencial de Fernando Henrique foram recusadas pela Justiça Eleitoral, com um grande rombo apesar da contabilidade conveniente. Como diz Carlos Ayres Britto, com brilhante passagem pelo Supremo, o caixa 2 “é eticamente espúrio e juridicamente delituoso”.

Michel Temer repete, com a esperança de que o país o ouça, serem as críticas ao projeto de “reforma” da Previdência movidas apenas por interesses. Nega perdas: “Cerca de 63% dos trabalhadores terão aposentadoria integral, porque ganham salário mínimo. Quem pode insurgir-se é um grupo de 27%, 37%”.

À parte a dupla indecência que está na proporção dos recebedores de salário mínimo e no valor dele, já desmoralizantes da Previdência e da “reforma”, o projeto do governo fere sobretudo os mais carentes. Os de salário mínimo integram a grande multidão que começa a trabalhar mais cedo, na puberdade ainda. Exigir-lhes mais cinco ou dez anos de trabalho, para chegar à nova idade mínima de aposentadoria, é um ônus desumano. E negá-lo é mentir ao país.

O “ministério de técnicos”, a “recuperação da moralidade pública”, a “retomada do crescimento ainda neste ano” (de 2016!), e tantas balelas mais, formam uma estrada imoral de mão única. Na qual foi erguido há pouco um monumento à indignidade. Recusar-se a reconhecer uma autoria legítima é uma usurpação, seja ou não em proveito próprio. No caso, era.

Michel Temer saiu-se com a bobagem de que “a paternidade da transposição do São Francisco é do povo brasileiro”. Sua forma de negar a autoria de Lula, em áspera batalha técnica e de comunicação, e a difícil continuidade assegurada por Dilma. Citou valores errados, sempre em seu favor. E inventou a entrega de 130 mil cisternas.

Para breve comparação: Tereza Campello entrou calada no governo Dilma, permaneceu muda e, no impeachment, saiu em silêncio sobre seu papel no governo. Mas, entre outros êxitos incomuns, fez construir e instalar no Nordeste cerca de um milhão de cisternas.

Por isso a recente seca, brutal, não provocou o abalo e os demais efeitos das secas equivalentes. Observação de valor especial nestes tempos: tamanha obra sem que houvesse sequer vestígio de escândalo, na atividade que mais produziu corrupção e escarcéus na história do Nordeste.

Tereza Campello, a cujo silêncio realizador a imprensa/TV respondeu com silêncio incompetente, foi uma ministra extraordinária.

Quanto a Michel Temer, entende-se por que lhe pareceu normal nomear Alexandre de Moraes, coautor de um livro que assina sozinho, para o Supremo. A veracidade não é o que lhe importa. Como caráter não se vende em supermercado, Michel Temer não recebe informações a respeito.

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Ao depor como réu, Lula se equiparou a Deus

Blog do Josias de Souza – UOL

Em seu primeiro depoimento como réu em processo da Lava Jato, Lula se colocou no lugar de Deus. Disse ao juiz Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília, que o primeiro-amigo José Carlos Bumlai não estava autorizado a discutir negócios. O magistrado perguntou se Bumlai poderia ter usado o nome de Lula. E o interrogado: “Doutor, se o senhor soubesse quanta gente usa o meu nome em vão! De vez em quando eu fico pensando pras pessoas (sic) lerem a Bíblia, pra não usar tanto o meu nome em vão.”

Lula decerto se referia aos dois trechos da Bíblia que anotam os Dez Mandamentos que Deus entregou ao seu marqueteiro, o profeta Moisés, para que ele os propagandeasse. As Tábuas da Lei estão disponíveis em Êxodo 20,2-17 e Deuteronômio 5,6-21. Incluem o seguinte preceito: “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão.”

Se pudesse, Deus talvez escolhesse viver no Brasil. Como a onipresença obriga o Todo-Poderoso a estar em toda parte, Lula o representa no território nacional. Mas a divindade petista não se sente obrigada a observar todos os mandamentos. Dá de ombros, por exemplo, para o “Não Furtarás”. A certa altura do depoimento, Lula disse: “Me ofende profundamente a informação de que o PT é uma organização criminosa.”

Lula talvez não tenha notado, mas ele próprio já frequenta as páginas de cinco ações penais na posição de protagonista. De resto, o sistema carcerário de Curitiba está apinhado de petistas: José Dirceu, Antonio Palocci, João Vaccari Neto, Renato Duque…

 

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Mural da História

1º de setembro, 2010

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Pensando bem…

© Myskiciewicz

CENA DE CINEMA, descalça, a atriz está sempre com as solas dos pés sujos. É para incluir o assoalho no enredo?

BRASIL VISTO DE CIMA, programa da Globosat, de paisagens aéreas. O Brasil sem dúvida é bonito. Visto de cima, de baixo é um horror. Não dá para assistir o programa sem uma ponta de tristeza. Tanta beleza tanto violada.

O JUIZ QUE ABSOLVEU Roseana Sarney de crime de corrupção disse que no Brasil “virou moda punir político sem prova”. Pode ser, os políticos até bem pouco eram como alguns juízes, para quem não há prova que leve à punição, e quando a prova é forte a punição é chocha, um prêmio. Se a lei não permite punir o político sem provas do crime específico, que se puna pelo conjunto da obra. A gente nem pode saber por quê. Mas ele sabe.

MAGGIE DE BECK, ministra da saúde da Bélgica, tem sua aptidão questionada para exercer o cargo. Motivo: pesa 130 kg. Curitiba está muito à frente da Bélgica. Pelos menos no peso.

NEYMAR pode ter que pagar R$ 188 milhões de multa à Receita Federal. Imposto sobre sua transferência para o Barcelona. O rapaz traz alegria para o Brasil e o Brasil faz com ele o que não faz com os que trazem tristeza, os lavajateiros.

CORRE por aí o vídeo de Dilma falando francês na Europa. Faz lembrar a frase que também corre na rede: “Se você estuda inglês a dez anos já é hora de estudar português”. Dilma mal fala o português e se aventura no francês.

ÁLVARO DIAS, inconstante como as procelas do mar, pode transitar para novo partido, o PODEMOS, nome copiado ao homônimo espanhol. Nada original, Álvaro na demanda de seu graal, a presidência da República.

O IMPICHE santificou Dilma. Ela e painho Lula falam pelos cotovelos contra o arrocho de Michel Temer. A massa ignara e cega que os segue fecha o país nesta quarta. Quem pariu a crise que Temer tenta debelar? Ela, Dilma, ignara e cega. Quem pariu Dilma, portanto o avô da crise? Ele, Lula, que manobra e manipula a massa ignara e cega.

Rogério Distéfano

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Só a rua salva a Operação Lava Jato da pizza

Elio Gaspari – Folha de São Paulo

No seu depoimento ao juiz Sergio Moro, Emílio Odebrecht soltou uma palavra que reflete a ansiedade da oligarquia nacional diante da Lava Jato. Discutia-se a identidade do “Italiano” das planilhas de capilés do empreiteiro e ele esclareceu que o apelido é muito comum, mas era possível que se referisse também ao “nosso Palocci”. O uso do “nosso” não indica propriedade, mas apenas familiaridade.

É enorme a admiração de Odebrecht pelo doutor Antonio, ex-ministro da Fazenda de Lula e da Casa Civil de Dilma Rousseff. Em poucos minutos doou-lhe nove adjetivos, entre eles “inteligente”, “bem informado”, “homem de visão de estadista”.

A lista da Procuradoria-Geral da República contém os beneficiários de capilés da “nossa” Odebrecht. Empresários de todos os calibres, políticos de todos os grandes partidos, os três ex-presidentes vivos e pelo menos dois ministros do Supremo Tribunal Federal formaram um coro destinado a embaralhar a discussão dos capilés. Caixa dois seria uma coisa, propina seria outra, dinheiro embolsado seria uma coisa, dinheiro gasto na campanha, bem outra. Jurisconsulto de renome, o doutor Gilmar Mendes fica devendo uma tabelinha capaz de diferenciar urubu de carcará.

A principal estridência desse coro ocorre quando se vê que se planeja uma anistia para delinquentes que se recusam a confessar. Todos operam no caixa dois, diz o coro, mas eu nunca operei, responde cada um dos cantores.

A Lava Jato foi na jugular da oligarquia politica e de boa parte da oligarquia empresarial do país. (Está na memória nacional o pato amarelo que ficava diante da Fiesp, do “nosso” Paulo Skaf, mencionado em colaborações da Odebrecht como receptáculo de R$ 6 milhões.) Ferida, essa oligarquia joga com o tempo, com as peças de Brasília e com o cansaço da choldra. Afinal, um dia a Lava Jato haverá de ser um assunto chato, se já não é.

A grande pizza começa a ser assada fabricando-se um tipo de anistia parlamentar e/ou judiciária para o caixa dois. Em seguida as propinas virarão caixa dois e estamos conversados.

Mas isso não pode ser tudo. Se o caixa dois é uma anomalia da contabilidade das campanhas eleitorais, deve-se criar um novo modelo. Qual? O do financiamento público.

Como dizia Renato Aragão, você da poltrona que já paga impostos para receber (se receber) obras superfaturadas pagará as campanhas eleitorais dos candidatos que mordem as empresas para botar ou tirar jabutis de Medidas Provisórias.

Parece maluquice, mas já desengavetaram um corolário do financiamento público: o voto de lista. Assim, o sujeito paga pela obra superfaturada, financia a campanha dos candidatos e ainda perde o direito de votar em quem quer. (Pelo sistema atual o sujeito votava em Delfim Netto e elegia Michel Temer, mas indiscutivelmente votara em Delfim, não em Temer.) Junte-se a isso que nenhum dos listados pela Procuradoria Geral irá a julgamento em menos de quatro anos.

Só a rua pode evitar que assem a pizza. Não é coisa fácil, pois uma parte da turma do “Fora Temer” tem o pé esquerdo na “nossa” Odebrecht e parte do coro do “Fica Temer”, tem o pé direito. Sem a rua, a oligarquia unida jamais será vencida. Ela fez esse milagre no século 19 e o Brasil foi o último país independente das Américas a acabar com a escravidão.

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Codinome

República dos Bananas

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“A anistia é inconcebível, um disparate, um contrassenso”

Carlos Ayres Britto – © Myskiciewicz

Carlos Ayres Britto disse a O Globo que a anistia ao caixa dois é inconstitucional: “A Constituição não concebeu o instituto da anistia em matéria eleitoral. Não tem esse alcance… O ocupante de cargo público é a face visível do poder, a encarnação do poder, e quem encarna a face do poder é inanistiável, porque é o próprio estado esculpido e encarnado. Não existe a figura da autoanistia. O instituto da anistia não foi concebido com o intuito de auto perdão. Os membros do poder são o próprio poder. O Estado não pode perdoar a si mesmo, é inconcebível, um disparate, um contrassenso, uma teratologia. É a negação do estado de direito a autoanistia, porque o estado de direito é o estado que respeita o direito por ele mesmo criado, aí vem o estado, por seus agentes, desrespeita o direito criado por ele e se auto perdoa em seguida. Isso é absolutamente inconcebível. Não existe”.

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Políticos se unem para virar a página. Para trás!

Blog do Josias de Souza – UOL

O Apocalipse chegou. O baú da Odebrecht será, finalmente, aberto. A boa notícia é que a fila na porta do inferno aumentou. Os petistas, que se diziam perseguidos, estão agora acompanhados de representantes de todos os principais partidos, governistas e oposicionistas. A má noticia é que a fina flor da oligarquia política, ferida e aterrorizada, decidiu se unir e partir para o tudo ou nada. Os encrencados farão o que for preciso para restaurar o que chamam de ”normalidade”, uma palavra que, no contexto atual, é quase um sinônimo de impunidade.

Desde que a investigação começou, há três anos, que os políticos cultivam a ilusão de que seria possível deter o pedaço do Ministério Público e do Judiciário que rompeu a tradição que protegia a promiscuidade política. Os adeptos dos maus costumes tentaram de tudo. Mas tudo não quis nada com eles. Poderosos ficaram impotentes e foram presos. Surgiram os delatores. E a podridão foi exposta.

Agora, todos voltaram a falar em reforma política. Michel Temer fará uma reunião com os presidentes da Câmara, do Senado e do Tribunal Superior Eleitoral, para discutir o tema. De repente, o caixa dois se tornou a coisa mais natural do mundo. Todos sempre fizeram, dizem petistas, tucanos, peemedebistas… A palavra chave é ”todos”. O objetivo desse tipo de discurso não é restaurar a moralidade, mas eternizar a imoralidade.

Estão todos ansiosos para virar a página da Lava Jato. Para trás. Se não houver reação, a maior investigação de corrupção já vista no país pode resultar num novo pacto para aprovar mudanças que deixem tudo como está.

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