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Fumando, espero…
Publicado em Helmut Newton
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Aproximação incômoda
Quem comanda a legenda no estado é Sebastião Madeira, secretário-chefe da Casa Civil do governador Carlos Brandão (PSB). A proximidade entre ambos é antiga, Brandão presidiu o PSDB estadual por um tempo.
É possível que os partidos caminhem juntos em algumas eleições municipais do ano que vem. Em São Luís, o PSB optou pelo deputado federal Duarte Jr, aliado próximo do ministro Flávio Dino. O PSDB, que apostava no presidente da Câmara dos Vereadores de São Luís, Paulo Victor, viu seu candidato desistir.
Outro problema, na avaliação de dirigentes da executiva nacional tucana, será o pleito de 2026. Brandão deve sair ao Senado e o vice, Felipe Camarão, do PT, ao governo do estado.
O presidente do PSDB no estado já garantiu que o partido apoiará Brandão para senador. A direção nacional, que planeja ter candidato a presidente em 2026, quer se manter na oposição e evitar qualquer aproximação com o PT.
Publicado em O Bastidor
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Os tagarelas
“É difícil viver com os homens, porque é tão difícil o silêncio. Especialmente para um tagarela” – Assim falou Zaratustra
Os tagarelas
Abriam e fechavam a boca
Exaustivamente
E riam sacudindo o corpo
De modo deselegante
Expulsando como demônios
Todo arsenal de chistes
Reservado em dias
de intensa solidão
Para esbanjar ali
Uma disputa louca
E deprimente
Terrivelmente deprimente
Eu sei porque estive com eles
Eu sei porque sou um deles
Publicado em Geral
Com a tag Assionara Souza - 1969|2018, cecília não é um cachimbo
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Peço vista
Formulo as perguntas no condicional, pois a transparência, dever do Estado, é mistério cabalístico para o cidadão. As instituições de defesa da cidadania o que pensam, em especial o Ministério Público e a OAB? A nós cidadãos, como os juízes nos tribunais só nos resta requerer vista para saber o que, por que, quando e em qual circunstância fomos eventualmente grampeados. Este escrutínio foi liberado nos arquivos da Stasi, a polícia política da Alemanha comunista, depois da queda do Muro de Berlim. Caso indefiram meu pedido de vista, será que minha mulher pode pedir? Ela tem mais legitimidade que o governo para me investigar.
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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Cochabamba
Cochabamba – A Cor do Som
Um adeus para “tia” Vera
Carioca de nascimento, Vera Maria Lacombe Miraglia pertencia a uma tradicional família de educadores. Chegou em Curitiba em 1962, onde atuou inicialmente num pequeno jardim de infância, denominado Jean Piaget, em homenagem a seu amigo pessoal. Depois, nos anos 70, foi a idealizadora e fundadora da escola Anjo da Guarda, que se tornaria uma das maiores referências do ensino paranaense – “um oásis do bom ensino”, como definiu alguém –, com aulas do maternal ao 3º ano do Ensino Médio.
Vera seguia uma linha educacional criativa, construtiva e transformadora, influenciada por Piaget. Além do que, por ser gentil e carinhosa com seus alunos, sem deixar de ser rigorosa quando necessário, tornou-se querida e respeitada por todos. Meu filho Carlos Eduardo, que frequentou o Anjo da Guarda desde o maternal, era um de seus admiradores.
Pessoalmente, eu também respeitava e queria bem Vera Miraglia. E jamais me esqueci de duas passagens ocorridas em uma reunião de pais e mestres organizada por Vera, da qual participei. A primeira envolveu o laureado publicitário Sergio Reis, que disse querer fazer apenas uma pergunta: “Aqui, meu filho será programado ou aprenderá a pensar?” “Com certeza, aprenderá a pensar” foi a resposta.
A segunda passagem envolveu a mãe de um aluno, que reclamou do piso irregular, com desníveis, e de árvores no pátio da escola. Resposta de Vera: “E você acha que o piso da vida que as crianças vão enfrentar será liso como uma lousa? A existência de árvores também faz parte do aprendizado”.
Vera achava que o educador tem de ser “um contador de histórias”. O pensamento era compartilhado pelo escritor moçambicano Mia Couto, para quem o ensino é baseado na imaginação, ou seja, há que se ensinar a norma culta, mas com espaço para a imaginação nas escolas.
Os mais de 50 anos de interação com os alunos e professores dentro e fora da sala de aula, levaram Vera Miraglia a defender sete passos necessários na organização do trabalho com as crianças e também com os alunos maiores. Enumerou-os em entrevista concedida, em 2015, à Revista Latinoamericana de Educação Infantil – Reladei:
– Exploração do material, é um. Depois, vem a situação problema: o que a gente vai fazer com esse material. Como vamos resolver essa situação problema? O problema é o uso daquilo que eles receberam. Às vezes, eles dão palpite e eu também, mas eles têm que dar solução do que podem fazer. O terceiro são as relações, relações com a vida. Por exemplo: Para que serve o quadrado? Usa na Geografia? Usa na História? A história do quadrado. Quando eu digo para vocês quem não é quadrado se vira, porque será? O que isto quer dizer? E o quarto é o vocabulário: o vocabulário não é para dar definições exatas. Lógico que não! Por exemplo, o quadrado, o que será um quadrado, tem lado? Quantos lados? Pode ser grande ou pequeno? Verde ou vermelho? O quinto é tomar consciência de que tem um conhecimento: por exemplo, no quadro de matemática tem escrito quadrado. Ele não vai definir, mas, ele vai saber que ele já sabe o que é um quadrado. Isso é a posse desse vocabulário. Isso que mostra para ele uma coisa fantástica, ele sabe uma coisa! Essa ideia do saber é que a gente explora pouco. Ele tem que acima de tudo se convencer que ele está na escola para saber coisas. Isso que é a filosofia do negócio. Ele tem que tomar conhecimento que ele sabe coisas. Agora ele é importante porque ele tem um conhecimento. Uma coisa fantástica, ele tem o poder de saber e que o saber ninguém tira e o que sabe pode até dividir com alguém. (…) Outro passo, o sexto, é pedir que o que o aluno diga o que mais gostou, é explorar o gosto do aluno. Cada um faz no papel aquilo que ele mais gostou. (…) Essa ideia de você gostar das coisas é uma coisa interessante, ele sabe uma coisa e ele gosta dessa coisa. (…) O sétimo passo é a fixação. A fixação, sem chateação.
E aí remete-se outra vez a Mia Couto: os romances do escritor apresentam, normalmente, mestres e educadores que servem de referência aos personagens. A maioria ensina saberes que ultrapassam aqueles aprendidos na escola; são sabedorias que servem para toda a vida. Tal qual fazia a educadora Vera Miraglia.
Em 2018, a Escola Anjo da Guarda passou a funcionar em associação com o Colégio Marista, depois de mais de meio século de atividades.
No final de setembro de 2022, a “tia” Vera completou 90 anos. Em uma festa promovida pelo “novo” Colégio Marista Anjo da Guarda, a instituição destacou a marca criativa que a educadora deixou em cada “anjo” que conviveu com ela.
“Tia” Vera Maria Lacombe Miraglia, além de milhares de “sobrinhos”, está deixando muita saudade.
Publicado em Célio Heitor Guimarães
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As delícias do Céu que tem perto de casa
Calculo o Inferno apenas como Sufoco Gelado subindo dos pés à cabeça. Sinistramente, silenciosamente, congelante. Depois, nada. Silêncio e névoa.
Se dizem que o Paraíso é o dolce far niente, o nirvana… o Inferno é o não poder fazer. Querer e não poder. Paralisia gelada. A indiferença do outro lado.
Vá procurar os caminhos do Céu e do Inferno em todas as gravuras e pinturas antigas. Bosch fica parecendo jardim de infância perto das orgias dos sites da internet. Bruegel é santo padre. Nos sites tudo muito colorido, explosivo e humano
Pobre Corão que descreve o Céu como lugar onde abundam jardins, fontes, vinho e virgens encantadoras. Tudo é permitido, mas tudo isso é muito humano. Apenas delícias que eram proibidas aqui na Terra. Permitir lá, num lugar onde ninguém tem inveja, é pregar no deserto. No Inferno, encontrar demônios alados é apenas figura de retórica. Aqui já temos todos os demônios. O nosso Céu é pegar o proibido aqui mesmo. Quem quer ser Caronte e receber a moeda da boca do cadáver? No entanto, a Felicidade na Terra é essa. Cada moeda que pegamos para nós, vem da boca de um morto.
O Apocalipse mesmo é muito humano. Um homem-bomba com carga suficiente para detonar a Terra inteira. Mas o sussurro do gelo sufocando é imbatível. Articulações enregeladas, alma dura, pensamentos formando estalactites. O frio, o frio, o frio… e o nada.
*Rui Werneck de Capistrano é entregador de gelo em barras
Publicado em rui werneck de capistrano
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Pra Mim Chega
Mensagem das chamas
Nem adianta acrescentar mais um tópico à receita de segurança. Preciso talvez responder a uma questão: se o problema não começou ontem, por que ao longo destes anos não foi resolvido?
Há 15 anos, formulamos numa campanha política o mapa do controle territorial do Rio pelas milícias e pelo tráfico de drogas. De lá para cá, muita coisa mudou: traficantes compraram territórios das milícias, houve fusões e um crescimento para o interior, sobretudo cidades médias, como Macaé e Angra dos Reis.
O problema parecia mais fácil há 15 anos. Hoje, reconheço uma variável espinhosa: novas comunidades surgem, e as velhas também são assediadas por gente que vem de fora. O Estado precisa estar presente, mas sua estrutura e crescimento simplesmente não dão conta do processo caótico de urbanização. O cobertor é curto demais.
Além disso, há o entrelaçamento de problemas policiais, políticos e jurídicos, tudo combinando para que o crime organizado se fortaleça. O governador eleito em primeiro turno é pateticamente despreparado.
Quando analisou a situação do estado, o então secretário nacional de Segurança, Raul Jungmann, afirmou que o Rio — com polícia, políticos e juízes comprometidos — era o coração das trevas, imagem do romancista Joseph Conrad. Somos a única cidade do mundo que tem uma área chamada Faixa de Gaza: 95 quilômetros, 33 bairros, 1 milhão de habitantes, da Pavuna ao Caju, passando pelo Jacarezinho e pelo Complexo do Alemão.
Sinceramente, hesito sobre a pergunta principal. Como sair dessa maré? Por que nunca saímos dessa maré?
No passado, viajei para Medellín, com outros objetivos, mas também para observar a maneira como reduziram a violência. Há exemplos no mundo de lugares onde o tráfico de drogas existe, mas não ocupa territórios. Pelo menos isso, teoricamente, está ao alcance de um esforço nacional.
Digo esforço nacional porque falamos e gastamos muita energia para defender o sistema democrático. Acontece que ele não existe nas áreas ocupadas do Rio. Lutamos por liberdade de expressão, processos legais, direito do consumidor. Que direito tem o consumidor forçado a comprar gás e inúmeros outros serviços dos milicianos? Como realizar eleições realmente livres numa capital cujo território é dominado pelo crime e os candidatos não podem visitar?
Se a questão do Rio de Janeiro for vista como uma lacuna na democracia brasileira, poderíamos mobilizar todas as forças para abordá-la. Isso é anterior a um plano. Tenho dezenas de ideias para um plano, mas de que adianta um plano apenas no papel?
As pessoas que se contentam com a democracia circunscrita a uma parte do território não imaginam como isso envenena o horizonte e como, num futuro não muito longínquo, a barbárie chegará às suas portas.
Publicado em Fernando Gabeira - O Globo
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