Lanchonete de Hospital Psiquiátrico

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Nariz tapado

Ruy Castro – Folha de São Paulo

Uma frase auspiciosa circulou pela imprensa nos últimos dias: a de que, com o que as últimas delações da Lava Jato prometem revelar, a Velha Política no Brasil não passará de 2017. Parece bom demais para ser verdade — um sistema inteiro, como o que nos governa há décadas, ter suas tripas expostas, dando ao país a chance de uma assepsia geral, um clister público, uma lavagem radical de seus intestinos podres.

O que me pergunto é se terras, mares e ares sobreviverão à exposição simultânea das tripas de Michel Temer, José Sarney, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Wellington Moreira Franco, Edison Lobão, Eliseu Padilha, Geddel Vieira Lima, Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves, Rodrigo Maia, Eunício Oliveira, Jader Barbalho, Fernando Collor, Aécio Neves, Eduardo Azeredo, Aloysio Nunes e muitos mais — a lista é longa e cada um deles reboca um bando de operadores, executivos e homens de confiança, o que exigirá irrigações em dimensões quase oceânicas.

Além disso, está longe de terminar o processo idêntico envolvendo Lula, Dilma Rousseff, Antonio Paloccci, Guido Mantega, Sérgio Cabral, Eike Batista, Marcelo Odebrecht, José Carlos Bumlai, Nestor Cerveró, Delcídio do Amaral, Marcos Valério, Delúbio Soares, João Vaccari Neto, João Paulo Cunha, Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef, Gleisi Hoffmann, Paulo Bernardo, vários Lulinhas e, idem, uma legião de sócios, intermediários e testas de ferro.

Como as duas turmas são intercambiáveis e, apesar dos discursos opostos, sempre se entenderam e/ou fizeram vitoriosas parcerias — Dilma e Temer, por exemplo —, arrisca a que o resultado dessa evisceração impossibilite a identificação precisa de cada dejeto.

A nação tapará prazerosamente o nariz enquanto a Lava Jato desventra essas entranhas — se, antes, não for solapada pelo volume das excreções.

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Reclama no PROCON

SERÁ QUE PEGA? Tenho dúvidas. O ministro Alexandre Moraes passou a ter mais uma contraindicação para o STF: seria plagiário. O diretor da faculdade de Direito da UFMG reproduziu comparativo de textos dos ‘Direitos Humanos Fundamentais’, obra que o ministro Moraes publicou em 1997, e dos ‘Derechos Fundamentales e Princípios Fundamentales’, de 1995, autoria do espanhol Francisco Rubio Llorente.

É assustadora a semelhança, que em pontos ascende à identidade, entre os livros, que você pode conferir na Folha de S. Paulo e no UOL de hoje. Chega ao ponto da tradução literal no livro de Moraes. Plágio é coisa séria. Na USP, alma mater onde o ministro é professor concursado, situações como essas são tratadas com rigor quando envolvem concursos, teses e publicações acadêmicas.

Não é o caso dos Direitos Humanos Fundamentais do ministro Moraes. Ele pode ter problemas com o autor espanhol, com a editora brasileira e até com os consumidores que compraram o livro. Poderia desqualifica-lo à vaga de ministro do STF se o Senado, que fará sua sabatina, entendesse que o plágio implica ausência do notável saber jurídico e da reputação ilibada exigidas aos ministros do STF.

Sim, porque o plagiário do livro de direito não é autor intelectual, portanto falta-lhe o saber reclamado. E ao se apropriar de obra alheia, ainda que em parte, a reputação torna-se libada, ou seja, suja, manchada, impura. Num país minimamente comprometido com as instituições, o ministro já teria retirado sua candidatura ou Michel Temer, que o indicou, faria o mesmo.

Não no Brasil, não no Senado de Renan, Sarney, Eunício, Jader, Romero e Edison Lobão. Os seis cavalheiros citados estão na Lava Jato. O último, não por acaso e obra e graça de Renan e Sarney, preside a Comissão de Constituição e Justiça, que fará a sabatina e dará o nada obsta à nomeação de Alexandre Moraes ao STF. O novo ministro, já podemos chamá-lo assim, chegará comprometido ao STF.

Rogério Distéfano

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Advocacia Geral da União (AGU) derruba liminar que impedia nomeação de Moreira Franco.

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O juiz popular

© Pedro Ladeira|FolhaPress

Faz pouco tempo, esta Folha publicou um artigo de Rogério Cezar de Cerqueira Leite com críticas ao juiz Sergio Moro, expressando sua legítima opinião. O juiz escreveu resposta em que criticou a Folha por dar espaço ao texto, como se a democracia comportasse que as opiniões contrárias às nossas fossem censuradas -ou seja, ou me elogie ou se cale. Essa era a lógica da resposta.

Com este artigo que publico agora, sei que minha família e eu poderemos correr o risco de sermos ainda mais retaliados pelo juiz, mas não posso me calar diante do que acontece.

Estou preso por um decreto injusto, o qual contesto através de habeas corpus e da reclamação ao Supremo Tribunal Federal, já que não houve qualquer fato novo para ensejar uma prisão, salvo a necessidade de me manter como troféu.

Minha detenção afronta a lei nº 12.043/11, que estabelece que antes da prisão preventiva existam as medidas cautelares alternativas.

Deve-se ainda levar em conta que um dos fundamentos de minha prisão veio de proposta do Ministério Público -prisão preventiva para evitar a dissipação patrimonial- incluída no chamado pacote anticorrupção. Essa medida, todavia, já foi rejeitada pela Câmara.

Para coroar, o juiz, para justificar sua decisão, vale-se da expressão “garantia da ordem pública”, sem fundamento para dar curso de legalidade ao ato ilegal. Isso, afinal, tornou-se mero detalhe em Curitiba, já que basta prender para tornar o fato ilegal em consumado.

A jurisprudência do STF não permite, pela via do habeas corpus, a supressão de instâncias, fazendo com que se leve no mínimo seis meses para que o mérito chegue ao tribunal, punindo quem está preso ilegalmente com uma antecipação de pena, sem condenação. O meu habeas corpus está no Superior Tribunal de Justiça.

Convivendo com outros presos, tomo conhecimento de mais ilegalidades -acusações sem provas, por exemplo, viram instrumentos de culpa. A simples palavra dos delatores não pode ser a razão da condenação de qualquer delatado.

Ocorre ainda pressão para transferir a um presídio aqueles que não aceitam se tornar delatores, transformando a carceragem da Polícia Federal em um hotel da delação.

Apesar das condições dignas do presídio e do tratamento respeitoso, é óbvio que a mistura de condenados por crimes violentos e presos cautelares não é salutar.

Uma das principais causas da crise do sistema penitenciário é o contingente de 41% de presos provisórios. Esse fato tende a ser agravado com a decisão do STF de autorizar o encarceramento após condenação em segunda instância.

É bom deixar claro para a sociedade que a minha segurança e a dos demais presos cautelares é de responsabilidade do juiz Sergio Moro. Ninguém questiona a existência de um criminoso esquema de corrupção; punições devem ocorrer, mas observando o devido processo legal.

Não podem ocorrer fatos tais como a entrevista em que a força-tarefa de Curitiba, quando eu ainda era presidente da Câmara, declarou minha culpa e pregou minha prisão, ignorando o fato de que eu ainda desfrutava de foro privilegiado. Ou ainda o espetáculo deprimente da denúncia contra o ex-presidente Lula -independentemente da opinião ou dos fatos, jamais poderia ter se dado daquela forma. Algumas propostas legislativas são importantes para combater as ilegalidades praticadas.

1) Definir com clareza o conceito de garantia de ordem pública para motivar uma prisão cautelar.

2) Estabelecer um prazo máximo para a prisão preventiva, caso o habeas corpus não subsista com o trânsito em julgado.

3) Separar os presos cautelares dos condenados.

4) Determinar a perda dos benefícios de delatores que não comprovam suas acusações.

5) Alterar a lei das inelegibilidades para quarentena de no mínimo quatro anos para juízes e membros do Ministério Público que queiram disputar mandato eletivo.

6) O juízo de instrução não pode ser o juízo do julgamento. Os processos não podem ser meros detalhes de cumprimento de formalidades para chegar a condenações já decididas de antemão.

Juízes e membros do Ministério Público devem respeito à Constituição, às leis, ao Estado democrático de Direito. A história mostra que o juiz popular ou o tribunal que lava as mãos como Pilatos não produzem boas decisões.

EDUARDO CUNHA, ex-deputado federal (PMDB/RJ) e ex-presidente da Câmara dos Deputados (fevereiro de 2015 a julho de 2016), foi preso em outubro de 2016 pela Lava Jato, acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão de divisas.

Folha de São Paulo|Tendências|Debates

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Mural da História

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Estados à deriva

Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo

BRASÍLIA – Diante da escalada da violência em diversos Estados, o governo federal decidiu tomar uma medida enérgica: trocou o nome do Ministério da Justiça. A pasta foi rebatizada de Ministério da Justiça e da Segurança Pública, com direito a solenidade no Palácio do Planalto.

A mudança no letreiro agradou aos deputados da bancada da bala, mas não tirou um só criminoso das ruas. Pelo contrário: a situação tomou contornos dramáticos no Espírito Santo, que já contabiliza 95 mortos em cinco dias de greve da PM.

Enquanto as ruas de Vitória fervem com saques e arrastões, o ministério renomeado está acéfalo. Empossado pela segunda vez na semana passada, Alexandre de Moraes deixou o cargo apenas três dias depois, ao ser indicado para o STF.

Nesta quarta (8), ele tomava cafezinho com senadores no momento em que o governador Paulo Hartung (PMDB) foi à TV implorar que os policiais voltem ao serviço. Moraes estava ocupado com outro assunto: pedir votos para que o Senado aprove sua promoção a juiz.

Ninguém esperava que o tucano resolvesse a crise com sua verborragia diante das câmeras. Mas a inexistência de um ministro da Justiça, qualquer que seja, agrava a sensação de descontrole e omissão diante do drama capixaba.

Se 2016 ficou marcado pela queda do governo petista, 2017 promete fortes turbulências nos Estados. Sem dinheiro para pagar médicos e professores, o Rio de Janeiro agora está prestes a ficar também sem governo.

A decisão do TRE que cassou os mandatos do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e do vice Francisco Dornelles (PP) ainda pode ser revista, mas tende a agravar o quadro de instabilidade. A União dificulta as coisas, apresentando novos entraves para um socorro financeiro.

Ao deixar os Estados à deriva, o novo regime parece crer que só tem responsabilidade pelas crises iniciadas em Brasília. É um erro grave, que ainda pode se voltar contra o Planalto.

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Mané Galo

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Valdir Cruz: IMAGO – o olhar do sabiá” encerra no próximo domingo no MON

Além da qualidade artística, o trabalho de Valdir Cruz se destaca pelo refinamento técnico. © Marcello Kawase

O Museu Oscar Niemeyer (MON) encerra a exposição “Valdir Cruz: IMAGO – o olhar do sabiá” no próximo domingo, 12 de fevereiro.  A mostra está em cartaz desde o dia 19 de agosto de 2016, data em que se comemora o Dia Internacional da Fotografia.

A obra do paranaense Valdir Cruz tem reconhecimento internacional. Seu trabalho fotográfico tem grande apuro técnico, com métodos sofisticados de impressão, como gelatina de prata, platina e paládio, impressão digital com tinta mineral de longa permanência.

Nesta exposição são apresentados três ensaios, todos com temas paranaenses: Catedral Basílica de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais (1991 a 1993), com 30 obras; o ensaio O caminho das águas (1994 a 2005) possui 14 fotografias; e o ensaio Guarapuava (1982 – 2011), composto por 36 fotografias da cidade natal do artista, que juntos somam um total de 80 imagens.

“Valdir Cruz: IMAGO – o olhar do sabiá” tem curadoria de Rubens Fernandes Junior. “Cada uma das fotografias aqui exibidas tem uma história particular. São evocativas e de uma beleza sublime. Seu olhar não apenas investiga e documenta, mas se evidencia sua emoção naquele espaço territorial que abrigou as primeiras investigações e experimentações com a fotografia”, pontua o curador.

Sobre o artista

Valdir Cruz nasceu em Guarapuava, no sul do Paraná, em 1954. Embora esteja vivendo nos Estados Unidos há mais de 30 anos, o principal foco de seu trabalho em fotografia é o povo e a paisagem do Brasil. De 1995 a 2000, concentrou-se em Faces da Floresta, projeto que documentou a vida dos povos indígenas do norte da Amazônia brasileira e que lhe valeu, em 1996, uma bolsa da Fundação Guggenheim. Seu trabalho está presente nas coleções permanentes do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Museum of Modern Art (MoMA), de Nova Iorque, Museum of Fine Arts, de Houston, e do Smithsonian Institute, em Washington, D.C., entre outras. Valdir Cruz divide seu tempo entre seus estúdios em Nova Iorque e São Paulo.

Publicou os seguintes livros: Guarapuava (São Paulo. Terra Virgem Edições, 2013), patrocínio Banco Mizuho do Brasil S.A. e Caminhos do Paraná S.A.; Bonito: Confins do Novo Mundo (Rio de Janeiro. Capivara Editora, 2010), patrocínio BNP Pariba; Raízes: Árvores na paisagem do Estado de São Paulo (São Paulo. Imprensa Oficial, 2010); O caminho das águas (São Paulo. Cosac Naify, 2007), patrocínio Fundação Stickel; Carnaval, Salvador, Bahia 1995-2005 (Nova Iorque. Throckmorton Fine Art, 2005); Faces da Floresta: Os Yanomami (São Paulo. Cosac Naify, 2004); Faces of the rainforest: The Yanomami (Nova Iorque. powerHouse, 2002), apoio Fundação Guggenheim; Faces of the rainforest (Nova Iorque. Throckmorton Fine Art, 1997); Catedral Basílica de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais (Nova Iorque. Brave Wolf Publishing, 1996), apoio Associação Cultural Avelino A. Vieira – Bamerindus.

Serviço
Encerramento da mostra “Valdir Cruz: IMAGO – o olhar do sabiá”
Até 12 de fevereiro de 2017, domingo
Ingresso: R$ 12 e R$ 6 (meia-entrada)
Terça a domingo, das 10h às 18h
Retirada de ingressos: até 17h30
www.museuoscarniemeyer.org.br

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Paixão

© Ademir Paixão – Gazeta do Povo

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Flagrantes da vida real

© Maringas Maciel

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Cadê as flores, luzes e cores da Lapa?

Já houve alegria na praça da Matriz da Lapa. © Célio Heitor Guimarães

Fazia algum tempo que eu não revia a Lapa dos meus amores. Problemas físicos, desânimo, um tipo que acampou lá, adotando indevidamente o meu nome, e a perda reiterada de parentes queridos afastaram-me de minha terra natal. Dia desses, exatamente uma nova dessas perdas levou-me de volta à centenária cidade.

Cheguei triste pelo falecimento de tio Naldo, o derradeiro filho varão vivo do casal Guilherme e Maria Lorenzen, meus avós maternos, na flor dos noventinha, e só ampliei a tristeza ao pisar no legendário território. O que fizeram com a Lapa?! Onde foi parar aquele recanto bucólico mas feliz, alegre e acolhedor, com tanta história para contar e tanta beleza para mostrar. Cadê as flores, as luzes e as cores da Lapa?

Pensei que havia errado o endereço. Está certo que era um domingo, com o céu nublado e um ente querido sendo velado na capela mortuária. Mas isso nunca foi motivo para que a Lapa escondesse os seus encantos.

Reencontrei uma cidade melancólica, semiabandonada… Não há uma flor na praça principal, os jardins estão descuidados, o casario histórico – patrimônio cultural nacional, cantado em prosa e verso por brasileiros e estrangeiros – padece do esquecimento, desbotado e descascado, cheio de trincas e desprezo…

Como sabem os meus treze leitores, tenho um caso de amor com a Lapa. E não apenas por haver deixado lá o meu umbigo. Muito mais do que isso, a velha cidade me encanta, comove e alegra desde sempre. Oferece-me (ou oferecia-me) uma felicidade mansa, difícil de explicar, só de sentir. Lá tenho enterrado vários antepassados, pessoas queridas, e de lá guardo momentos de profundo sofrimento pessoal. Mas a minha Lapa sempre transcendeu a tudo isso.

Vivi pouco tempo ali, mais nas épocas de férias da meninice e nas visitas a familiares, mas trago a Vila Nova do Príncipe constantemente no coração. Onde fui, por onde andei, sempre levei a Lapa junto. É algo que está além das palavras.

Por isso, o atual estado da cidade me entristece profundamente. Já fora informado de que a tranquilidade, a paz e o romantismo de outrora deram lugar à violência e boa parte dos problemas de uma cidade que quer crescer, mas não sabe bem como. Vi esse filme antes, na vizinha Araucária. Mas achava que, na Lapa, sempre haveria salvação.

Cheguei a idealizar, preparar e montar um livro, que nunca publiquei, exatamente para enaltecer as formas, os ângulos e as cores da Lapa – este, aliás, era o título previsto. Só de fotografias. Sou um fotógrafo amador, a fotografia é apenas outra das minhas paixões. Mas deve ser ao natural, sem filtros e sem retoques. Até porque sempre achei que a beleza da Lapa, da verdadeira Lapa, não precisa de ajustes. Está (ou estava) em cada esquina, em cada pedra de suas calçadas irregulares e, claro, nos casarões centenários.

De todo modo, a despeito dos estragos e do desleixo atualmente existentes, a história continua morando lá, como as lendas, a bravura de tempos idos, a religiosidade, a boa comida e grande parte da civilização paranaense.

Uma nova administração acaba de se instalar na Lapa. O prefeito Paulo César Furiatti está de volta. Aqui de longe espero que, com ele, pelo menos as flores voltem a circundar o general Gomes Carneiro, que se mantém altaneiro no alto de seu pedestal a vigiar a Praça da Matriz de Santo Antônio. Célio Heitor Guimarães

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O que é a vulgaridade do poder?

Contardo Calligaris – Folha de São Paulo

Volto a uma história de minha adolescência. Talvez hoje eu consiga entender plenamente sua significação.

No começo dos anos 1960, na Itália, eu simpatizava com os partidos de esquerda. Meu pai era um social-democrata sem afiliação partidária, mas ele tinha participado da resistência ao fascismo, durante os últimos anos da Segunda Guerra.

Eu não tinha uma ideia clara de qual tivesse sido sua atuação. Ele não me contava nada, e eu não sabia da sua militância na luta armada entre 1943 e 1945. Não sabia, mas talvez eu pudesse imaginar –afinal, ainda havia armas pesadas no porão do nosso apartamento.

Seja como for, eu não duvidava que ele tivesse sido antifascista. Só não entendia por quê. Para mim, o fascismo era uma fase extrema do capitalismo, e ser antifascista só se justificava para quem desejasse o socialismo, a revolução proletária e o fim do Estado.

Entre irônico e provocador, perguntei um dia para o meu pai: “Mas por que você era antifascista, se você não era nem socialista nem comunista?”. Meu pai pensou bem, levando minha pergunta a sério, e respondeu: “É porque os fascistas eram muito vulgares”.

Na hora, a resposta me pareceu elitista –coisa de intelectual, de burguês ou de aristocrata, eu diria na época. Mas, como disse, era o começo dos anos 1960: o momento do dito milagre italiano. O país dava vergonha: corrupção, impunidade, festinhas à la Cavendish e Cabral com ou sem guardanapos na cabeça, iates insensatos nos cais de Portofino e carros insensatos no estacionamento dos cais. O luxo se divorciava de qualquer elegância porque a riqueza surgia rápido demais, sem o tempo necessário para que os novos donos do dinheiro adquirissem, junto com suas tralhas, um mínimo de cultura.

Até eu percebia que o luxo, sem cultura, era dramaticamente vulgar, pois, não se justificando pelo gosto, ele se tornava violência pura: um esbanjo que só servia para exibir o privilégio. Eram poltronas cativas no La Scala só para dormir durante as óperas e os concertos, quadros na parede apenas para lembrar o nome do pintor aos convidados, e marcas, marcas, marcas.

O poder é vulgar de duas formas básicas, que se misturam facilmente. Há a vulgaridade do poder sem cultura e há a vulgaridade do poder sem questões e dilemas morais.

Já disse que o poder sem cultura é vulgar porque ele só se exibe. O poder sem preocupação moral é vulgar porque seu exercício não tem nem sequer “desculpas” e revela imediatamente o gozo de quem o detém. Ou seja, o poderoso sem preocupação moral governa só para gozar de seu próprio poder.

No Brasil, alguém dirá, estamos acostumados à vulgaridade dos poderosos, nos dois sentidos. Concordo. Talvez esse fato nos levasse a idealizar os EUA. Será que acabou?

A campanha de Donald Trump foi um compêndio de vulgaridade. Eu achava penoso assistir aos seus comícios, mas imaginava que a vulgaridade do candidato fosse apenas uma estratégia eleitoral. Depois da posse, quem sabe a dignidade do cargo devolvesse a preocupação moral ao governo do presidente Trump.

Cuidado, eu não estava imaginando que ele tomaria decisões de governo diferentes das anunciadas. Aliás, minha dificuldade com o começo da Presidência Trump pouco tem a ver com as decisões tomadas: mesmo as ordens executivas das quais mais discordo poderiam ser argumentadas como soluções imperfeitas a problemas extremamente complexos. Qualquer cidadão, nos EUA, reconheceria, por exemplo, que a imigração ilegal indiscriminada é um problema, que há excessos do livre comércio e falhas no novo sistema de saúde dito Obamacare.

Qualquer decisão seria suportável se a retórica que a apresenta não parecesse apontar para uma única motivação: a vontade de gozar do poder.

Em suma, eu teria preferido outras decisões de governo, mas o problema não é esse: o problema é que Trump é constantemente obsceno no exercício do poder.

Fui rever as declarações de George W. Bush na hora de anunciar a invasão do Afeganistão e, depois, a do Iraque. São sensíveis, nas palavras dele, o peso e a dor de uma decisão que tomaria vidas mundo afora, assim como o esforço para não hostilizar a comunidade muçulmana dos EUA –em suma, preocupações morais. Comparei com as palavras de Trump anunciando que ele fecharia as fronteiras aos cidadãos de sete países muçulmanos. Trump conseguiu me dar saudade de George W. Bush.

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Em Brasília…

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Mistérios rondam o aumento da passagem de ônibus em Curitiba

Celso Nascimento – Gazeta do Povo

Mistérios insondáveis ainda rondam a repentina decisão do prefeito Rafael Greca de antecipar em um mês o reajuste da passagem de ônibus, com o agravante de elevá-la de R$ 3,70 para R$ 4,25 numa só pancada. Não à toa, passageiros reclamam do aumento bem acima da inflação num momento de desemprego brutal e acentuada queda de renda da população.

Greca dá pistas para desvendar o primeiro mistério ao, repetidamente, afirmar que “as coisas custam o que custam. Nem mais nem menos; o justo”. Entretanto, ainda sonega ao distinto público informações sobre como chegou ao valor “justo” que decretou e pôs em vigor desde esta segunda-feira (6).

Teria levado em conta estudos técnicos da Urbs, transparentes e debatidos com a comunidade, ou apenas atendeu às concessionárias que reivindicavam tarifa técnica – aquela que efetivamente entra no cofre das empresas – próxima do valor agora definido?

Segundo a prefeitura, com o aumento será possível, por exemplo, substituir até o fim do ano os 290 ônibus sucateados que rodam pela cidade. Até já foram encomendados à indústria com promessa de entrega em seis meses. Por contrato, a responsabilidade de adquirir os veículos é das empresas – logo, chegou-se a uma tarifa que tornará possível a elas cumprir a obrigação.

O primeiro sinal de que pode ter havido um acordo prévio com as concessionárias será confirmado se, em breve, elas desistirem da ação judicial, deferida liminarmente e ainda em vigor, que as desobrigava de renovar a frota. Será sintoma de que uma tarifa técnica próxima dos R$ 4,25 está de bom tamanho, inclusive para a recuperação dos alegados prejuízos que teriam acumulado nos anos Fruet.

Menos do que isso seria impossível, pois como afirmou o prefeito em sua página no Facebook, subsídio nem pensar. “A política de subsidiar o transporte com dinheiro público municipal foi anestesia que não funcionou, e apenas adiou responsabilidades.”, escreveu, contrariando a história de que a criação dos subsídios teve início em 2011, com o governador Beto Richa, nos tempos em que pretendia eleger Luciano Ducci prefeito em 2012. Esta prática terminou em Curitiba quando houve a desintegração do sistema, mas o subsídio estadual se manteve nas linhas metropolitanas operadas em caráter precário por empresas permissionárias, nunca licitadas.

Outro mistério ainda não revelado diz respeito à prometida reintegração metropolitana até julho próximo – tarefa conjunta da prefeitura de Curitiba (Urbs) e do governo estadual (Comec). Reintegração válida, porém, só tem sentido se não for apenas operacional, mas sobretudo se a tarifa for igual para todas as linhas. Tarefa que exigirá uma reengenharia financeira do sistema, já que as tarifas vigentes nos municípios vizinhos são mais altas do que a praticada em Curitiba.

Uma simples média aritmética embute duas ameaças: ou a passagem de Curitiba sofrerá novo aumento ou alguém vai ter de subsidiar a diferença. O mais provável é que a opção seja pela primeira hipótese, mas a segunda, por decisão político-eleitoral não deve ser descartada.

Há ainda mais: a reintegração também está sendo pensada com a unificação da administração dos sistemas urbano de Curitiba e metropolitano. Isto é, uma só empresa pública substituiria as duas existentes, Urbs e Comec. É por esta solução que torcem os empresários do transporte por lhes dar oportunidade de também unificar os sistemas de bilhetagem.

As linhas metropolitanas têm a sua própria bilhetagem, operada pelo consórcio Metrocard, que transfere diretamente às empresas as receitas diárias. Em Curitiba, o dinheiro dá dois passos: primeiro entra na Urbs, que depois o transfere para as concessionárias urbanas com o valor da tarifa técnica e descontadas as multas por deficiências na qualidade do serviço.

Substituindo-se o meio de transporte, vale para o futuro do transporte coletivo da grande Curitiba a frase do Barão de Itararé: “há algo no ar além dos aviões de carreira”.

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