O gesto dos procuradores da Lava Jato, que prometeram renunciar caso Michel Temer sancione o AI-5 do crime organizado, foi atacado por quase toda a imprensa.
Só O Globo publicou um excelente editorial sobre o assunto:
“A reação dos promotores da Lava Jato foi proporcional à ameaça que passou a pairar sobre qualquer investigação de corrupção (…).
Não tem sentido que poderes tentem atrapalhar outros poderes, como acontece nesta tentativa de aprovação de projetos que criminalizam juízes e procuradores.
É indiscutível que a legislação sobre abuso de autoridade está defasada. Mas o momento não é este de reformá-la”.
Poucas vezes a parábola bíblica “Diga-me com quem andas e te direi quem és!” se mostrou tão verdadeira como na atual Brasília de Michel Temer. Com pequena adequação à presente temporada: “Diga-me de quem te cercas e te direi quem és!”.
Michel recebeu a presidência de bandeja. Dilma e a corte petista trocaram os pés pelas mãos e foram defenestradas do Palácio do Planalto. Temer estava na boca de espera. Lépido e formoso, Carta Magna na mão, assumiu o posto. Mas, tirante a musa Marcela, trouxe junto o que havia de pior no PMDB ou manteve-se ao lado dessa turma – figurinhas carimbadas da velha política brasileira, gente afundada na suspeição, com vida pregressa sem maior recomendação. Sentiu-se seguro para governar com ela. Romero Jucá, Eliseu Padilha, Moreira Franco, Henrique Alves, Geddel Vieira Lima, Eduardo Cunha, Renan Calheiros. Correligionários capazes de derrubar qualquer governo. E Michel, que tinha tudo para notabilizar-se como o higienizador da pátria estremecida pela corrupção desvairada e falta de comando administrativo-financeiro, revelou-se, nos primeiros oito meses de atividade, não apenas um governo já envelhecido, mas com muito pouco futuro.
Eu disse aqui na semana passada e repito: falta autoridade no país. Não autoridade de farsantes violentos e arbitrários, gorilas fardados, que tanto mal já fizeram ao Brasil. Mas autoridade de lideranças firmes, probas e bem intencionadas, que conquistem o apoio e a admiração da população por ações concretas, decentes e eficientes – iguais às atualmente desenvolvidas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela Magistratura em operações como a Lava Jato, da República de Curitiba.
Não estou lançando a candidatura do delegado Daiello, dos procuradores Dallagnol e Carlos Fernando e muito menos do juiz Sérgio Moro ao comando da Nação. Mas eles são ótimos exemplos. Provas de que ainda existem pessoas dignas, honradas, competentes, eficientes e cumpridoras do dever, que visam o bem do Brasil e oferecem resultados.
O que não se pode mais admitir é que saia governo, entre governo e as práticas nefastas, imundas e canalhas permaneçam vigendo.
“Temer é o que temos” – conforma-se o faraó Fernando Henrique Cardoso e até já registrei eu. Nem por isso, no entanto, precisamos afundar no lodo com ele. Temer revelou-se um governante fraco, mal acompanhado e refém de quadrilhas que dominam o Congresso Nacional.
Um exemplo: a tentativa safada de anistiar os antigos bandidos do Caixa 2. Repousa entre deputados e senadores, fingindo-se de morta, para reaparecer a qualquer hora a todo vapor. Michel avisou que, se passar no parlamento, veta a patifaria. Conversa. Não tem cacife para tanto. Se não vetar, o país o enterra; se vetar, perde o apoio parlamentar e acaba o governo.
O mesmo se repetirá quanto ao anteprojeto de lei anticorrupção desfigurado pela ação calhorda dos ilustres senhores deputados federais na madrugada desta quarta-feira.
Reafirmo: Michel Temer tinha tudo para inscrever o seu nome na História do Brasil – ainda que necessário fosse esquecer parte de seu passado político. Infelizmente, sua conduta no poder, mostra que não tem estatura para tanto. E não me refiro, é óbvio, à baixa altura física dele. É um homem afável, elegante, fala corretamente, adora mesóclises. Mas tem dito (e feito) bobagens inadmissíveis. Como quando afirmou, na segunda-feira, em alto e bom tom, que o Brasil carece de instituições firmes – esquecendo-se de que foram essas instituições que o levaram e tem mantido no trono. Ou então – pior ainda – quando encampou, como presidente, pretensão particular, malandra e descabida do amigo Geddel, pressionando subalterno do primeiro escalão do governo a agir ao arrepio da lei.
É uma pena, mas, ao que tudo indica, Michelzinho não terá orgulho do pai como presidente do Brasil. Célio Heitor Guimarães
Alguma coisa subiu à cabeça de Renan Calheiros na noite passada. O presidente do Senado tentou, sem sucesso, enfiar goela abaixo do plenário o pacote de medidas anticorrupção que a Câmara convertera em pantomima horas antes. O circo armado pelos deputados provocara reações ácidas da chefia do Supremo Tribunal Federal e dos procuradores da Lava Jato. E Renan, em vez de munir-se de um extintor, convidou os senadores a tocarem fogo na lona, aprovando às pressas medidas que reintroduziram a batida das panelas na trilha sonora da crise.
Houve pânico do Palácio do Planalto. Ao saber que Renan colocaria em votação um pedido para que o pacote desfigurado fosse votado com urgência, um auxiliar do presidente disse ao blog: “Isso parece coisa do Eduardo Cunha, personagem dado a rompantes, não do Renan, um político sempre muito calculista.” Líder de Temer no Senado, o tucano Aloysio Nunes Ferreira (SP) endereçou um apelo aos colegas:
“Estou me dirigindo ao plenário desta Casa”, disse Aloysio, achegando-se ao microfone. “Não nos coloquemos hoje na contramão da opinião pública brasileira. Vamos verificar que existe vida lá fora. E falo também em nome do governo, porque eu não quero que essa matéria chegue na mesa do presidente da República, para sancionar ou vetar.” Mais cedo, Aloysio escalara a tribuna do Senado para tachar de “cretinice parlamentar” a desfiguração do pacote anticorrupção.
Renan não se deu por achado. Informou que recebera um pedido de urgência subscrito pelos líderes de quatro partidos: PSD, PTC, PMDB e PP. E não lhe restava senão submeter a questão à deliberação do plenário. Lorota. “Foi tudo um grande escárnio. O regimento do Senado foi rasgado”, diria ao blog, mais tarde, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES). “É o avesso, do avesso do avesso”, completou, evocando a célebre canção.
Em privado, Renan disse a senadores que lhe são próximos que os signatários do pedido de urgência não eram os únicos partidários da pressa. Outros colegas teriam endossado a ideia de votar ainda na noite de quarta-feira o pacote tóxico. Citou os nomes de Roberto Requião (PMDB-RP), Jorge Viana (PT-AC), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e até Aécio Neves (PSDB-MG). Levado a voto, o pedido de urgência foi rejeitado por 44 votos a 14. Curiosamente, apenas dois dos nomes citados Renan estavam na lista dos 14 que votaram a favor: Roberto Requião e Fernando Bezerra.
De duas, uma: ou Renan vendia uma mercadoria de que não dispunha ou foi traído. A matéria desceu à Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde terá, para sossego momentâneo de Michel Temer, uma tramitação lenta e convencional. Os temores evocados por Aloysio Nunes foram pintados com cores ainda mais fortes pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF).
“Quero falar para os meus pares”, disse Cristovam em intervenção feita antes da proclamação do resultado que frustrou Renan. “Se nós votarmos e aprovarmos isso, não acredito que o presidente Temer tenha a coragem de sancionar. Ele estará caminhando para o fim do mandato dele. Um fim antecipado pela desmoralização completa que ele vai sofrer.”
Organiza-se na internet a volta às ruas de brasileiros insatisfeitos. O protesto está agendado para este domingo (4). As panelas da noite passada soaram como prenúncio do que pode vir pela frente. E o grande receio do Planalto é o de que o slogan ‘Fora Temer’ apareça ao lado de ‘Fora Renan’ nas faixas que antes eram compartilhadas pelo ‘Fora Dilma’ e pelo ‘Fora Cunha’.
A PF investiga os pagamentos do grupo Petrópolis à Gamecorp, de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Laudo técnico mostra que a Cervejaria Petrópolis depositou cerca de R$ 7 milhões nas contas da Gamecorp, entre 2005 e 2016.
O Antagonista avisou em janeiro:
Assista com moderação
Todo mundo sabe que Fábio Luís Lula da Silva é dono do canal PlayTV, controlado pela Gamecorp.
O que pouca gente sabe é que a Cervejaria Itaipava, do Grupo Petrópolis, é praticamente a única anunciante do canal. O outro anunciante da PlayTV é o energético TNT, do mesmo grupo Petrópolis de Walter Faria.
Esta noite tive um sonho, o dia da posse de Rafael Greca. Ele descia a André de Barros em direção ao Centro Cívico. Na altura da Doutor Muricy, no sonho interrompida por trilhos ferroviários, ele desce do carro para ir a pé, em pedestre comunhão com o povo. Havia pouco, quase nenhum povo, coisa improvável naquele dia comum de trabalho.
O carro, desses jipões de guerra do exército norte-americano detonados no Iraque. Rafael vem ao povo, desmangolado, aos andrajos: camisão branco aberto no peito, botões em falta; calças velhas, barras enroladas, estilo salta banhado, como cinto as duas gravatas, unidas para abarcar a circunferência; nos pés de querubim obeso, chinelos raider.
Mal caminha dez passos, nada de comunhão com o povo, como pretendia. Apenas um cachorro de rua, vadio e pulguento, imenso como Rafael, salta sobre o prefeito ainda não empossado. Rafael brinca com o animal, tomado pelo espírito de São Francisco e pelo exemplo do papa, também franciscano, os três adoradores de mendigos, fedidos ou não.
O cachorro, incrível, mais forte, derruba Rafael e monta sobre o prefeito, imobilizado de bruços. Acordo empapado de suores cívico e hírcico (as artérias do sovaco vêm de hircum, bode em latim; daí o bodum, cheiro forte de sovaco). Qualquer psicólogo de RH, só pelo cheiro, decifra meu sonho. Não se preocupem. Um dia sonhei com Dilma Rousseff. E suei pra dedéu. Rogério Distéfano
Além de Geddel Vieira Lima outro ministro de Temer vai estar na berlinda, na reunião da Comissão de Ética da Presidência da República dia 14 de dezembro. Trata-se de Ricardo Barros, que já procurou membros do colegiado para tentar explicar colocações feitas em atos de candidatos a prefeito no Paraná e de ter participado de eventos eleitorais em dias de agenda oficial. A situação dele é delicada, já que a legislação proíbe os ministros de fazer promessa cujo cumprimento dependa do cargo. Se sofrer sanção no colegiado Barros pode acabar respondendo a processo na Justiça Eleitoral.Ricardo Boechat – IstoÉ
O ministro Geddel Vieira Lima não comanda mais a Secretaria de Governo. Ele confirmou a VEJA, por telefone, que já conversou com o presidente Michel Temer nesta manhã e entregou a carta de demissão. Geddel deixa o cargo seis meses depois de o governo Temer assumir o Palácio do Planalto. Veja.com
Para fornecer as melhores experiências, usamos tecnologias como cookies para armazenar e/ou acessar informações do dispositivo. O consentimento para essas tecnologias nos permitirá processar dados como comportamento de navegação ou IDs exclusivos neste site. Não consentir ou retirar o consentimento pode afetar negativamente certos recursos e funções.
Funcional
Sempre ativo
O armazenamento ou acesso técnico é estritamente necessário para a finalidade legítima de permitir a utilização de um serviço específico explicitamente solicitado pelo assinante ou utilizador, ou com a finalidade exclusiva de efetuar a transmissão de uma comunicação através de uma rede de comunicações eletrónicas.
Preferências
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para o propósito legítimo de armazenar preferências que não são solicitadas pelo assinante ou usuário.
Estatísticas
O armazenamento ou acesso técnico que é usado exclusivamente para fins estatísticos.O armazenamento técnico ou acesso que é usado exclusivamente para fins estatísticos anônimos. Sem uma intimação, conformidade voluntária por parte de seu provedor de serviços de Internet ou registros adicionais de terceiros, as informações armazenadas ou recuperadas apenas para esse fim geralmente não podem ser usadas para identificá-lo.
Marketing
O armazenamento ou acesso técnico é necessário para criar perfis de usuário para enviar publicidade ou para rastrear o usuário em um site ou em vários sites para fins de marketing semelhantes.
Para fornecer as melhores experiências, usamos tecnologias como cookies para armazenar e/ou acessar informações do dispositivo. O consentimento para essas tecnologias nos permitirá processar dados como comportamento de navegação ou IDs exclusivos neste site. Não consentir ou retirar o consentimento pode afetar negativamente certos recursos e funções.