Elenco: Caco Ciocler, Caio Blat, Camila Márdila, Georgette Faddel, Javier Drolas, Julia Lemmertz, Magali Biff, Manuela Martelli, Rodrigo Bolzan. Música escrita, arranjada e dirigida por Arthur de Faria, interpretada pela Ultralíricos Arkestra: Adolfo Almeida Jr., Mariá Portugal, Gustavo Breier e Pedro Sodré. Direção de Arte Daniela Thomas e Felipe Tassara. Iluminação Beto Bruel. Figurinos Veronica Julian
“(…) Se O Rei da Vela do Oficina desvencilhou-se desse emaranhado sólido ao encontro de seu próprio momento, A Tragédia Latino-Americana tem força para acrescentar, na linha histórica, mais uma pedra fundamental ao famigerado Brasil”. Leandro Nunes, O ESTADO DE SÃO PAULO
“(…) Entre as cabeças e as carnes, que extirpamos de nós depois de madeiras e minérios, esses homens e mulheres nos oferecem a visão do espírito de uma época, de um lugar no mundo, de uma forma nova de fazer teatro, literatura e arte. Pateticamente cultos, anárquicos na forma, eternamente subversivos. Salve A Tragédia Latino Americana. Por ela, por causa dela, apesar dela, estamos aqui muito mais vivos e profundamente acordados que o resto do mundo. Só precisamos sobreviver a nós mesmos. No Brasil de 2016, espetáculos como este –um farol varrendo o escuro do mar em fatias de luz, totem com olhos incandescentes para além do abismo – ajudam”. João Paulo Cuenca, FOLHA DE SÃO PAULO
(…) É contra os monolitos que este novo trabalho de Hirsch se impõe. E sabendo que faz teatro, e da condição efêmera dessa arte, põe em cena uma infantaria de atores diante de uma imensa barricada de isopor, dando a chance de os atores brincarem de construir e desconstruir o mundo à própria vontade, modelando o cenário, os textos e as muitas ideias que formam esse complexo quebra-cabeças a respeito da condição trágica do homem latino-brasileiro (…)” Luiz Felipe Reis, O GLOBO
“(…) Com falas em português, inglês, espanhol e até francês – quase sempre traduzidas –, a peça discute temas como a violência, as mazelas sociais, as condições precárias de vida, a literatura, o binarismo político e ideológico, o sistema elitista, a não valorização da própria cultura, a falta de consciência histórica, entre outros (…)” CATRACA LIVRE
“(…) A história que a peça nos conta a partir da voz de autores latino-americanos é uma narrativa que nossa educação, seja formal, seja informal, nos ensinou a ignorar. Aprendemos a ignorar os índios que morreram e morrem violentamente nas mãos do desenvolvimento. Aprendemos a ignorar os escravos que atravessaram dores do tamanho de oceanos. Aprendemos a ignorar os milhões de miseráveis (des)tratados até hoje como pessoas capazes somente de servir. Aprendemos a ignorar quem não veste a mesma camiseta que incorporamos – cada camiseta presa aos corpos é uma máquina que semeia a ausência de empatia. Ignorar se tornou uma maneira de nos proteger de uma história que, olhada de perto, nos deixa com calafrios.E a maior qualidade da peça dirigida por Hirsch é a coragem de resgatar, ao mesmo tempo, o passado e o presente que dão calafrios, e most rá-los com a sutileza e o sorriso incomodado de quem sabe o peso incalculável de cada gota de sangue arrancada à força. O que mais me espantou ao ver A Tragédia Latino- Americana foi voltar do teatro e me dar conta que a peça não está apenas em cartaz no Sesc Consolação, em São Paulo. A Tragédia Latino-Americana está em cartaz aqui em casa. Na minha e na sua casa. Ela acontece a cada minuto que compactuamos com a violência que sustenta o chão onde pisamos – e falo aqui principalmente da violência que reduz o outro e nós mesmos a uma rasa definição e nada mais. A Tragédia Latino-Americana acontece a cada minuto em que, numa escola, numa conversa, num jornal, fala- se sobre o Brasil ou qualquer outro país vizinho sem que se leve em conta as várias narrativas que disputam espaço para constituir as iden t idades em movimento (…)” André Gravata, UOL EDUCAÇÃO
“(…) Falando de histórico, de vez em quando também é sempre bom olhar no retrovisor. Em 1967, o teatro paulistano trazia na pele a força de ser contracultura. A Tropicália não significava só Caetano e Gil (como se isso fosse pouco) mas a cena cultural se inscrevia e caminhava como ARTE, sem distinções de linguagem. O autodescobrimento que O Rei da Vela proporcionou por meio das canoas de Zé Celso revelou um Brasil cru das lentes norte-americanas. A insistência de Renato Borghi em montar o texto era sintoma da inquietação de muitos artistas e da urgência do próprio tempo. Não significava emoldurar a realidade no palco, mas de fruir o presente para longe do fascismo vigente. Para todo teatro de seu tempo, existe um público situado no mesmo tempo-espaço. No lado dos artistas, nossas frentes estão muito bem representadas. A gran de diversidade de espetáculos encaixotados – viciados em um patrocínio que sofre de baixa autoestima ideológica – cumprem temporadas cada vez mais curtas. Ao público cabe reproduzir a culpa (“não gosto de teatro”, “não entendo de teatro) tão bem semeada no discurso da população. A falha aqui é discernir espetáculo de projeto histórico. O erro foi o teatro misturar, no mesmo lugar, o tempo presente de sua experiência com tempo urgente de suas contas a pagar. É o perigo dourado de transformar ossos em ouro, como a paródia A Nova Califórnia, presente na Tragédia. Nele, Magali Biff faz um desbunde ao horror. Bem, agora mesmo, a política nacional acumula notícias que esse texto não dará conta de citar. São os mesmo blocos concentrados de substância de guerra se deslocando no jogo d o poder. Do lado de cá, na sociedade, eles se autoexcluem com os carimbos “100 % Negro”, “100% Ateu”, “100% Gay”, “100% Vegano” e tantos outros. A necessidade de negar origens firma-se como instinto à sobrevivência. Se O Rei da Vela do Oficina desvencilhou-se desse emaranhado sólido ao encontro de seu próprio momento, A Tragédia Latino-Americana tem força para acrescentar, na linha histórica, mais uma pedra fundamental ao famigerado Brasil”. O ESTADO DE SAO PAULO
“Será sempre lost in translation enquanto não se encontrar o nome próprio. Enquanto o Brasil não falar em nome próprio. Enquanto o Brasil seguir insistindo em ser descoberto quando o que precisa é se inventar. Essa realidade é o cenário da extraordinária peça de Felipe Hirsch e Os Ultralíricos, A Tragédia Latino- Americana, em que os blocos são construídos para em seguida desabarem e serem rearranjados para logo depois virarem ruínas e tudo então ser mais uma vez reconstruído para desabar de novo e de novo e de novo.” Eliane Brum, EL PAÍS