BRASÍLIA – É cada vez mais difícil ver PT e PMDB dizendo a mesma coisa. Os ex-aliados voltaram a concordar nesta quinta (23) ao avaliar os efeitos da prisão do ex-ministro Paulo Bernardo. Nos dois partidos, a ação policial foi vista como um baque na defesa de Dilma Rousseff no Senado.
O ex-ministro é marido da petista Gleisi Hoffmann, uma das vozes mais ativas na comissão do impeachment. Ex-chefe da Casa Civil, a senadora continua a desempenhar o papel de escudeira de Dilma. Ela costuma se sentar na primeira fila e não perde uma chance de discursar a favor da presidente afastada.
Para o governo interino, a prisão de Paulo Bernardo vai abalar o moral da tropa dilmista. A ação ocorre num momento em que o noticiário policial se voltava contra o PMDB de Michel Temer. Por isso, a desgraça do ex-ministro foi motivo de comemoração discreta no Planalto.
No front petista, a reação foi de perplexidade e desânimo. “Isso vai dar um alívio para o Temer e uma desarticulada na gente”, comentou um senador, em conversa reservada.
Em público, a ordem foi questionar as razões da prisão temporária. A liderança do PT no Senado classificou a decisão como “abuso de poder”. Em nota, o partido sugeriu uma ação coordenada para encobrir “fatos gravíssimos de corrupção que atingem diretamente o governo”.
Além de atingir a imagem de Gleisi, a nova operação da Polícia Federal resvala na gestão de Dilma. Os investigadores relataram um esquema que teria desviado verbas federais até o ano passado.
A prisão de Paulo Bernardo produziu outra união entre políticos que estão em lados opostos na batalha do impeachment. Líderes de vários partidos reclamaram da entrada da PF num prédio habitado por senadores. Muitos acordaram assustados com o barulho de um helicóptero nas primeiras horas da manhã. Como as investigações não param, ninguém sabe quem receberá a próxima visita indesejada.
Para quem conhece a história do partido, em São Paulo o PT operava numa escala municipal, ora com empresas de ônibus no ABC, ora com lixo e molho de tomate na prefeitura de Ribeirão Preto, comandada por Antonio Palocci. Foi no Paraná que o comissariado conheceu, herdou e aperfeiçoou a máquina arrecadadora do deputado José Janene, compadre de Alberto Youssef e padrinho de alguns diretores da Petrobras.
O deputado André Vargas, preso desde abril de 2015, começou militando no PT de Londrina, o mesmo de Paulo Bernardo. Era conhecido como Bocão.
Desde que explodiu a Lava Jato, há dois anos e três meses, o país procura um significado maior de qualquer coisa que resuma essa época. Os brasileiros do futuro talvez selecionem como um destes episódios maiores o assalto do Partido dos Trabalhadores aos aposentados e servidores públicos endividados. Dirão que foi um fato histórico porque só então, com a invenção da propina descontada no contracheque, o PT atingiu o ápice do despudor e da desfaçatez.
O consignado, como se sabe, é um tipo raro de empréstimo. É bom para quem toma dinheiro emprestado porque as taxas de juros são baixas. É ótimo para o banco que empresta porque a prestação é descontada mensalmente do salário do servidor ou da pensão do aposentado. No aperto, milhares de brasileiros aproveitaram. E tornaram-se, sem saber, uma oportunidade que o PT aproveitou.
Entre 2010 e 2015, os milhares de brasileiros que se penduraram no consignado pagaram uma taxa de administração inusual. Estava embutida em cada parcela mensal a cifra de R$ 1,25. Dinheiro destinado a um intermediário chamado Consist Software, contratado pelo Ministério do Planejamento a pretexto de administrar o serviço.
Descobriu-se que a Consist retinha em sua caixa registradora apenas R$ 0,40. Os outros R$ 0,85 viravam propina. De centavo em centavo, foram assaltados R$ 100 milhões. Perto dos bilhões pilhados na Petrobras e no setor elétrico, parece dinheiro de troco. No entanto, entre todos os roubos praticados na era petista, foi esse que acabou com o que restava do melhor legado daquele ex-PT da fase sindical: a sensibilidade social e o respeito ao trabalho.
Andrey Borges de Mendonça, um dos 30 procuradores da República que se ocupam da investigação, resumiu o descalabro: “R$ 100 milhões foram desviados de funcionários públicos e pensionistas endividados, que se privaram de medicamentos, e de suas necessidades básicas para abastecer os cofres de corruptos. Isso tem que nos causar indignação, isso não pode ser algo natural da nossa sociedade.”
O que mais assusta na marcha da política rumo à delinquência não é a crueza, mas a hipocrisia. No gogó, o petismo é avesso à privatização. Para incrementar as propinas, admite qualquer negócio. Dispunha de uma empresa pública, o Serpro, para organizar o consignado. Preferiu privatizar o serviço, direcionando-o à Consist. Nada mais natural.
Se a pregação de líderes pseudo-esquerdistas como Lula havia ensinado alguma coisa era a não esperar nenhum tipo de hesitação altruista do capital. Ele opera segundo as regras fixadas na Lei da Selva.
No futuro, quando puderem analisar a conjuntura atual sem ter de tapar o nariz, os brasileiros concluirão: o que assustou as almas mais ingênuas foi a facilidade com que se operou a autodissolução do PT como partido político e a rapidez com que a legenda estruturou a coalizão que dava suporte aos seus governos como uma lucrativa organização criminosa.
A sujeira prosperou tanto que acabou desenvolvendo no Brasil a indústria da limpeza ética, cujo principal empreendimento é a Lava Jato.
Crítica do filme A Vida de Outra Mulher (La Vie d’une Autre, 2012) “..não importa para onde vão ou se serão felizes, o que importa é você sonhar..” Em seu primeiro longa metragem, como diretora, Sylvie Testud explora a mágica do universo da viagem no tempo, com toda a trama sendo executada por personagens carismáticos, porém, bastante complexos, que às vezes se perdem nas composições e direcionamentos que a história vai rumando. A musa francesa Juliette Binoche mais uma vez exala talento e se torna um dos destaques da fita.
Na trama, que tem o roteiro baseado em um livro de Frederique Deghelt, somos apresentados rapidamente e sem enrolação à uma jovem morena francesa que se apaixona perdidamente por um rapaz e após uma noite de muito carinho e acorda anos mais tarde e descobre que é mãe de um menino e que seu marido(que é o mesmo que ela passara à noite anos atrás) e ela estão no meio de um divórcio. Assim, a jovem, agora madura, precisa reconquistar muitas pessoas importantes em sua vida que deixaram lacunas por conta do rumo em que sua vida se determinou.
O filme aborda questões interessantes sobre o futuro de uma jovem que possui dúvidas e sofre com a doença do pai. Quando é modificado seu universo,ela percebe que a partir de algumas decisões tomadas, sua vida e sua personalidade foi modificada de alguma forma e essa busca é um elo importante com o espectador, onde juntos, vão descobrindo as respostas.
O roteiro ganha o público pelos excelentes (e profundos) diálogos. A ato final, a declaração, a exposição do sentimento de maneira viva, nua e crua é algo primoroso e leva às lágrimas os cinéfilos que conseguem se identificar, de alguma maneira, com aquela história. É impressionante como Binoche se transforma nos personagens, mesmo o filme ser longe de ser um espetáculo, a artista francesa precisa de poucos minutos para ganhar a confiança e simpatia do público. Vejam todos os filmes dela, mas assistam por ela, super recomendado!
Em seu desfecho, as opiniões serão diversas. Na cena final, não importa para onde vão ou se serão felizes, o que importa é você sonhar! Veja esse filme! Raphael Camacho
Na coluna da semana passada, tentando explicar o massacre de Orlando, lembrei-me desta regra: sempre (ou quase), quando a gente quer muito disciplinar a vida dos outros, é porque, de fato, a gente quer disciplinar a si mesmo e mal consegue. Por exemplo, o assassino de Orlando tentou matar (cem vezes) sua própria homossexualidade reprimida.
Essa regra vale especialmente nos casos em que a repressão parece desproporcional porque o comportamento que se quer reprimir não tem consequência para o repressor.
Exemplo: “A homossexualidade deve ser proibida”; por quê? Talvez, se ela não for proibida, alguém tenha medo de se sentir compelido a ser homossexual. Mas a “permissividade” não faz o monge: ele seria “compelido” só pelo seu próprio desejo.
Bom, alguns leitores me perguntaram se essa regra valeria a cada vez que queremos reprimir os outros ou a cada vez que os odiamos. A resposta não é fácil.
Nem todo assassino está tentando matar uma parte de si mesmo da qual ele não consegue se livrar. Podemos assassinar por mil outras razões (ódio, vingança, estupidez). Mesmo assim, considere o que segue.
Um leitor, Arthur Leandro Lopes, escreve que há quem tenha “ódio ativo de negro sem medo de se tornar negro”. Sim, mas, em regra, nos países com forte segregação racial, o racismo vinga entre os brancos menos favorecidos, que têm medo de empobrecer mais e serem assim marginalizados exatamente como os negros. Ou seja, eles têm “medo de se tornar negros”.
Outro leitor, Julio Jorge Rodrigues, pergunta-se até onde iria a permissividade: os estupradores seriam membros de uma minoria sexual e, “em caso de estupro, ninguém deve intervir e punir”?
Sem sequer entrar nos detalhes das fantasias que podem levar alguém a estuprar, o fato é que nosso quadro jurídico proíbe interagir com quem não consente. Ou seja, nenhuma fantasia me autoriza a usar o outro como eu gostaria, a não ser que ele/ela queira. O sexo com menor de 14 anos é considerado uma violência justamente porque não atribuímos ao menor a plena capacidade de dar seu consentimento.
O estupro, então, é reprimido para preservar a liberdade de todos nós. Sem isso, seríamos expostos à violência de qualquer um que fantasiasse nos impor seu capricho sexual.
Em suma, por necessidades básicas de convivência social, o estupro só pode ser proibido, e ponto. Agora, há casos em que existe sexo sem o consentimento do parceiro e que poderiam ser objeto de um debate moral interessante. As numerosas pessoas que transam com animais, por exemplo, transam com ou sem o consentimento deles?
Mas não vamos nos extraviar. Um outro leitor, Titus, pergunta se “alguém que defenda a pena de morte para os estupradores estaria, na verdade, controlando seu próprio desejo de estuprar”. Ele acrescenta: “Tenho ódio de políticos corruptos porque, no fundo, eu gostaria de estar roubando também. É por aí?”.
Tendo a responder que sim. Para chegar a essa resposta, os critérios são o excesso, o fervor, o zelo dos repressores. Claro, o espetáculo da corrupção dá raiva, mas a vontade de condenar todos a alguma pena de morte (e, por que não, sem processo) é no mínimo uma alerta: em geral, quando queremos punir mais do que é preciso e mais do que exige a lei, é porque queremos punir a nós mesmos. Não é nenhuma surpresa: odeio os corruptos porque vivo numa sociedade que me corrompeu há tempos. Quero tal ou tal outro político na masmorra para me punir de ter pagado um despachante para conseguir minha carteira de volta.
O mesmo vale no caso dos estupradores. Mas não é porque, “no fundo”, seríamos todos estupradores em potencial. De fato, são pouquíssimos os que têm fantasias de estupro e desejam estuprar quem quer que seja. Mas muitos são cúmplices de uma cultura do estupro.
O que seria uma cultura do estupro? É uma cultura onde muitos sabem que nunca estuprariam ninguém, mas, se estivessem num grupo de três ou de 30, todos achando graça, não deixariam de mostrar aos outros que eles também são “machos”. Os mesmos muitos também acham que não passaria de uma brincadeira, a mina estava pedindo, vai que ela acabou gostando”¦ não são todas putas? Salvo a mãe, claro.
Esses muitos, quando pegarem um estuprador em flagrante, vão pedir pena de morte ou gritar “lincha! lincha!”. Porque sabem que o estupro está dentro deles.
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