Ova-se!

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O velho e o novo

Quando questionado por sustentar ideais de igualdade e justiça social aos 70 anos de idade, o saudoso Plínio de Arruda Sampaio (1930-2014) respondeu: “Ficar velho não é virar velhaco”. Há pessoas que, mesmo velhas, permanecem jovens de espírito. Abertas para o novo. E há outros que, mesmo jovens, carregam os medos e preconceitos das velhas gerações. Jovens, mas com o espírito de velhos rançosos. É o caso de Kim Kataguiri, que lidera o MBL (Movimento Brasil Livre) e tornou-se agora colunista deste jornal.

Não é exatamente uma surpresa a Folha tê-lo contratado. A maior parte de seus colunistas é liberal em economia e politicamente conservadora, assim como sua linha editorial. Neste quesito, Kim estará à vontade.

Talvez a surpresa de muitos seja por conta de seu despreparo, mais do que por sua posição política. Difusor de piadas machistas, com discurso repleto de argumentos rasos e com uma prepotência própria de quem ainda não recebeu a notícia, Kim não está qualificado sequer como uma voz coerente da direita.

Mas o que de fato surpreende é ver Kim e seu MBL tratados por alguns como representantes do “novo”, do autêntico espírito de revolta da juventude contra a velha política. Na verdade, eles são precisamente o contrário disso.

Há uma percepção cada vez mais ampla de que estamos vivenciando a crise de uma época. De que este sistema político é incapaz de representar as maiorias. De que este modelo econômico só atende aos interesses privilegiados do 1%. Daí uma série de movimentos que nasceram nos últimos anos com ojeriza à velha política e clamando por transformações profundas.

Como o movimento Ocuppy Wall Street, lançado em Nova York (EUA), que reuniu milhares de pessoas numa ocupação permanente em Manhattan, depois estendida com protestos em várias cidades norte-americanas, contra a ganância desmedida da elite financeira.

Como o 15M, quando o povo indignado espanhol tomou as ruas e praças contra as políticas liberais de austeridade, os despejos em massa por conta das hipotecas “subprime” (segunda linha) e a corrupção da “porta giratória”. Dessa energia nasceu o Podemos.Como também as grandes lutas dos estudantes chilenos por reformas do ensino, que levaram multidões de jovens às ruas contra o modelo liberal-privatista de educação, herança da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Esses ventos também chegaram por aqui: as ocupações de escolas em São Paulo, as lutas contra o aumento das tarifas de transporte e as batalhas cotidianas pelo direito à cidade, nos centros e periferias urbanos, espalhadas pelo Brasil.

Poderíamos falar dos jovens do Ocupe Estelita, em Recife, que se insurgiram contra a especulação imobiliária e a apropriação privada do espaço público. Da resistência negra, no Capão ou em Ferguson (Missouri, nos EUA), que expressa a revolta da juventude contra o extermínio policial. Ou ainda da bela luta das mulheres –as mesmas que Kim comparou a “miojo”– contra os projetos retrógrados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Aí está o novo. Por esses ares passa o legítimo sentimento de repulsa à velha política, aos seus representantes e privilégios. Defender os mecanismos sociais que produzem desigualdades, a ideologia meritocrática e a repressão a quem luta é o que há de mais velho. É o programa da ordem, sempre a postos para prestar seus serviços à Casa Grande.

Kim é isso: um garoto da ordem. Ergueu-se no rescaldo da crise do petismo, expressando de forma confusa os anseios de uma classe média sem projeto nem visão de país, que –sentindo-se insegura– busca apoio nas bengalas do conservadorismo. As crises fazem surgir o novo, mas também dão roupa nova ao velho.

Guilherme-Boulos

Guilherme Boulos – Folha de São Paulo

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Ova-se!

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Quadro em exposição

© Roberto José da Silva

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Michael Burry (Christian Bale) é o dono de uma empresa de médio porte, que decide investir muito dinheiro do fundo que coordena ao apostar que o sistema imobiliário nos Estados Unidos irá quebrar em breve. Tal decisão gera complicações junto aos investidores, já que nunca antes alguém havia apostado contra o sistema e levado vantagem. Ao saber destes investimentos, o corretor Jared Vennett (Ryan Gosling) percebe a oportunidade e passa a oferecê-la a seus clientes. Um deles é Mark Baum (Steve Carell), o dono de uma corretora que enfrenta problemas pessoais desde que seu irmão se suicidou. Paralelamente, dois iniciantes na Bolsa de Valores percebem que podem ganhar muito dinheiro ao apostar na crise imobiliária e, para tanto, pedem ajuda a um guru de Wall Street, Ben Rickert (Brad Pitt), que vive recluso.

Adam Mckay|EUA|2h11min|2016|Paramount Pictures

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Mural da História

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Mural da História

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Envergadura

© Ricardo Silva

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Quando os quadrinhos fazem a diferença

Detalhe de O Quinze, de Rachel de Queiroz, by Shiko

Fui um leitor compulsivo de gibis. Como aprendi a ler aos 5 anos, aos 6 já andava metido entre os quadrinhos. Foram mais de sessenta anos de convívio com os heróis de papel. Afastei-me de vez deles há coisa de dois anos, quando me despedi do Super-Homem, o maior ícone da minha geração, que vem sendo metodicamente assassinado por editores mais perigosos que a kryptonita vermelha. Depois disso, passei – como já lhes disse aqui neste espaço do Zé Beto – a acompanhar apenas as aventuras do ranger italiano Tex Willer e do gaulês Asterix, passando, de vez em quando, pela releitura de Mafalda, de Quino; Peanuts, de Schulz; e Spirit, de Eisner. Mas continuo, por vício de origem, acompanhando o mercado quadrinizado. Às vezes, ele nos surpreende com mimos encantadores. Foi o que aconteceu recentemente.

Eu andava atrás da edição quadrinizada de “O Quinze”, romance de Rachel de Queiroz, que soubera ter sido lançada pela Editora Ática. A versão era datada de 2014, mas não havia jeito de encontrá-la por estas bandas. Estava prestes a encomendá-la à editora, quando – surpresa! – a localizei meio escondida entre as ofertas da Livraria Cultura. Foi uma alegria tamanha quanto a leitura da preciosa edição. Bonita, contundente, triste, mas, sobretudo, verdadeira e bem brasileira. É história de nossa gente, gente que se apega à fé e à terra em que nasceu, onde amarga sofrimento atroz, mas não perde a coragem nem a vontade de viver; gente que divide o nada com o seu semelhante e com os esquálidos animais, que considera da família.

“Encostado ao mourão da porteira de paus corridos, o vaqueiro das Aroeiras aboiava dolorosamente, vendo o gado sair, um a um, do curral. A junta de bois mansos passou devagarinho. O velho touro da fazenda saiu, arrogante. Garrotes magros, de grandes barrigas, empurravam as vacas de cria, atropelando-se. Até que a derradeira rês, a Flor do Pasto, fechando a marcha, também transpôs a porteira e passou junto de Chico Bento, que lhe afagou com a mão a velha anca rosilha, num gesto de carinho e despedida… Saída a última rês, Chico Bento bateu os paus na porteira e foi caminhando devagar, atrás do lento caminhar do gado que marchava à toa, parando às vezes, e pondo no pasto seco os olhos tristes, como numa agudeza de desesperança.”

Quando escreveu “O Quinze”, nos idos de 1930, a cearense Rachel de Queiroz tinha apenas 19 anos, mas soube registrar as cicatrizes deixadas pela estiagem de 1915 no Nordeste brasileiro. E surpreendeu. Não apenas pela pouca idade, mas por ser mulher e por haver demonstrado uma sensibilidade inusitada na época. Mais que isso: pela sobriedade e ausência de pieguice com que conseguiu desenvolver a trama, tendo como pano de fundo uma das mais dolorosas tragédias humanas – que até hoje se presta para fomentar a demagogia e o enriquecimento criminoso de políticos indecentes e mal-intencionados, sem maior resultado concreto para a população.

Não é fácil transpor para os quadrinhos uma obra literária. Ainda mais em se tratando de um clássico como “O Quinze”. Pois outro nordestino, o paraibano Shiko (na verdade, Francisco José de Souto Leite), conseguiu. E o fez com competência, mantendo a essência do texto original e valorizando-o com seu traço firme, suas aquarelas caprichadas e suas cores fortes. A sequência narrativa prende a atenção do leitor, comove, causa tristeza e revolta. E isso se deve ao talento de Shiko. O fato de ele haver morado até os 20 anos no interior da Paraíba e assistido com o avô a muitos pores do sol no dia de São José, o ajudou, com certeza. Nem por isso, o artista deixou de priorizar a simplicidade, como fez questão de registrar:

“Tentei fazer uma construção objetiva, sem grandes floreios, sem perspectivas fantásticas, enquadramentos de malabarista, ou cenas de página inteira”.

No entanto, toda a aridez da região, o desencanto das pessoas e o flagelo da seca se fazem presentes. Assim como os sonhos e as desilusões da normalista Conceição, que protagoniza o romance e diz-se ter muito da autora quando jovem.

“O Quinze”, de Rachel de Queiroz, completou cem anos no ano passado. Mas, desgraçadamente, continua mais atual do que nunca. Por isso, a versão em quadrinhos é uma boa oportunidade para os jovens do Sul-Maravilha entenderem um pouco mais do Brasil. E uma prova que nem tudo está perdido na arte quadrinizada.

Célio Heitor Guimarães

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Tchans!

© Myskiciewicz

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Bosc

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O “pudê”…

© Myskiciewicz

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Mural da História

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Umas palavras (e outras)

Ainda com a carta pública dos 104 advogados fervilhando entre apoiadores e discordantes, a também discutida retenção de Marcelo Odebrecht na prisão dá margem a mais um incidente processual do gênero criticado na Lava Jato. Em princípio, trata-se de estranha omissão ao ser transcrita, da gravação para o processo, da parte da delação premiada de Paulo Roberto Costa que inocenta Marcelo de participação nos subornos ali delatados. Mas o problema extrapolou a omissão.

Já como transcrição na Lava Jato do que disse e gravou o delator muito premiado, consta o seguinte: “Paulo Roberto Costa, quando de seu depoimento perante as autoridades policiais em 14.7.15, consignou que, a despeito de não ter tratado diretamente o pagamento de vantagens indevidas com Marcelo Odebrecht” –e segue no que respeitaria a outros.

As palavras de Paulo Roberto que os procuradores assim transcreveram foram, na verdade, as seguintes: “Então, assim, eu conheço ele, mas nunca tratei de nenhum assunto desses com ele, nem põe o nome dele aí porque ele, não, ele não participava disso”.

É chocante a diferença entre a transcrição e o original, entre “não ter tratado diretamente com Marcelo Odebrecht” e “nem põe o nome dele aí por que ele, não, ele não participava disso”. A reformulação da frase e do seu vigor afirmativo só pode ter sido deliberada. E é muito difícil imaginar que não o fosse com dose forte de má-fé. Do contrário, por que alterá-la?

Não é o caso de esperar por esclarecimento da adulteração, seu autor e seu propósito. Seria muita concessão aos direitos dos cidadãos de serem informados pelos que falam em transparência. No plano do possível, a defesa de Marcelo Odebrecht, constatada a adulteração, requereu a volta à instrução processual, do seu início e com a inclusão de todos os vídeos da delação, na íntegra e não só em alegadas transcrições.

O juiz Sergio Moro decidiu contra o requerido. Considerou os pedidos “intempestivos, já que a instrução há muito se encerrou, além das provas pretendidas serem manifestamente desnecessárias ou irrelevantes, tendo caráter meramente protelatório”. E, definitivo: “O processo é uma marcha para frente. Não se retornam às fases já superadas”.

Não é a resposta própria de um magistrado com as qualificações do juiz Sergio Moro. É só uma decisão. Baseada em vontade. Resposta, mesmo reconhecendo-se a situação delicada do juiz Sergio Moro, seriam as razões propriamente jurídicas (se existem) para negar o pedido.

“Intempestivos” os pedidos não são. Se apenas agora foi constatada a transcrição inverdadeira, não havia como pedir antes qualquer medida a partir dela. Logo, tempestivo este pedido é. Uma instrução está “encerrada” quando não há mais o que precise ou possa ser apurado, como complemento ou aperfeiçoamento. Se há uma transcrição infiel, ou qualquer outro elemento incorreto, as provas que o corrijam são “necessárias e relevantes” porque o erro prejudica a acusação ou a defesa, ou seja, compromete o próprio julgamento de valor entre culpa e inocência. Se está demonstrada a necessidade objetiva de correção, não há “caráter protelatório”, há o indispensável caráter corretivo.

“Processo” é, por definição, um movimento que implica todas as variações, de ritmo, de sentido, de direção, de avanço ou recuo, e mesmo de intervalos de paralisação. Processo não é só “marcha para a frente”. E, no caso dos processos judiciais, se o fossem, não haveria –talvez para alegria da Lava Jato– segunda e terceira instâncias de julgamento, que são diferentes retornos às entranhas dos processos.

Como se tem visto, o decidido, decidido está. Mas o provável é que não sobreviva à instância superior, se lá chegar e seja qual for a posição de Marcelo Odebrecht entre a inocência e a culpa.

Janio de Freitas – Folha de São Paulo

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