Tristan Corbière, chamado Édouard-Joachim Corbière (Coat-Congar de Comuna francesa, Morlaix (Finisterre), 18 de Julho de 1845 – 01 março de 1875). Viveu a maior parte de sua vida no mesmo lugar, e aí recebeu o apelido pelo qual ficou conhecido. Morreu de tuberculose com a idade de 29 anos.
Ele era um poeta cujo trabalho era pouco conhecido até que Paul Verlaine o incluiu no seu poema em prosa do ensaio Os poetas malditos (Les Poètes maudits, 1883). A recomendação de Verlaine foi suficiente para levar seu trabalho à luz pública e estabelecê-lo como um dos mestres reconhecidos do Simbolismo. O único trabalho publicado durante sua vida apareceu in Les amours jaunes, 1873. É um livro de poemas em que o lirismo descritivo, o reflexo da atração que despertaram no autor o oceano, a terra e o povo da Bretanha se unem a originais traços formais, presididos pelo sarcasmo, a crítica irônica e o espírito de rebelião.
Sua poética é considerada precursora do Surrealismo e influenciou a sintaxe dos poemas fragmentados de Ezra Pound.
“É preciso confessar que a liberdade é a mais difícil das provas que podemos propor a um povo. Saber viver em liberdade, eis aí um dom que não foi igualmente distribuído entre todos os homens e todas as nações. Talvez se possa até classificá-los, homens e nações, segundo sua maior ou menor aptidão para serem livres.”
Paul Valéry no ano de 1938, numa época em que a Europa caía sob o domínio de Hitler.
Uma amiga escreve-me, devolvendo um texto que escrevi há quase 50 anos, encontrado em seus guardados, sobre o desejo de morar em um quarto de hotel em Londres. O título era Patético Sonho Meu. Relido tantas décadas depois, descubro que patética era a crônica, traindo a juventude do autor e escancarando a literatura de baixa qualificação a que já se dedicava.
Jamais realizei o sonho de viver em Londres. Felizmente para todos. Para a literatura, pelo motivo descrito. Para mim porque a descrição do quarto desenhada no texto mostrava que o conforto não fazia parte das minhas ambições. O espelho deveria estar quebrado em um canto, rachado o vidro da janela, o colchão traria uma mola saltada. Próximo do quarto de Van Gogh em Arles, não uma habitação contemporânea.
Mas, se não morei em Londres, habitei um quarto de aluguel em Recife. Um pequeno hotel na Rua da Saudade, do qual, esclareço, não trago nenhuma – embora os moradores demonstrassem ter saudade do conforto que ele também não tinha, a exemplo do hipotético hotel londrino.
Duas figuras marcaram meu tempo no Hotel da Saudade. A primeira foi Werneck, vizinho de quarto. Era um velho jornalista carioca, primo do Carlos Lacerda, que andou por Curitiba quando do primeiro governo Ney Braga, circa 1962. Havia escrito um livro sobre a Codepar, antecessora do Badep, editado pela própria empresa, da qual não possuía exemplar.
Eu não tinha nada com isso, mas Werneck era insistente: dia após dia, dava um toc-toc na minha porta para saber se eu já havia escrito para minha mãe, pedindo para providenciar remessa da obra. Não, eu não havia escrito, até por pudor em obrigar a pobre mulher a sair atrás de um livro encontrável apenas em uma empresa pública que ela tampouco conhecia. Com o tempo, passei a dizer que o pedido tinha sido postado, aguardássemos a resposta.
Não lembro o que ele fazia em Recife. Sei que, além de bater à porta do meu quarto, bebia. E me convidava para a sinuca, três bolas vermelhas, a branca invertendo com a dois, a bege.
O hotel ficava ao lado da Praça Maciel Pinheiro, na qual a atração principal vinha a ser o próprio salão de sinuca. A atração maior do salão era um sujeito magro como faquir, que atendia por Jarbas, a tal segunda figura. Werneck e eu passávamos ali nossas tardes vagabundas, sentados em caixotes de cerveja, a beber umas e outras. À medida que a cerveja fazia efeito, fazíamos uma fezinha no Jarbas, aplicando o lucro em outras cervejas.
Certo dia surgiu um desconhecido no salão. Não nos pareceu grande coisa, mas desafiou o nosso craque e, digamos, quase ídolo. Casamos nosso curto dinheirinho no invencível faquir Jarbas. O jogo ficou parelho até a sétima e última partida. Aí o forasteiro saiu encaçapando tudo, da bola um a sete.
Levou com ele a pensão do velho e a minha pobre mesada. Tarde da noite, Werneck bateu na porta. Não era possível que fosse perguntar se o livro havia chegado. Era outra coisa:
– Nos deram um golpe, estão jantando com o nosso dinheiro, berrava com os olhos esbugalhados. Ele havia visto os dois em um bar na Rua da Imperatriz, o riso solto.
Movido pela prudência e por uma imensa vergonha, não mais voltei à sinuca. Passei a lamentar o dia em que tinha ido viver em um quarto ao lado do velho jornalista. Se não o tivesse conhecido, o prejuízo da família seria menor, bem como minha mãe não teria necessidade de fazer buscas nos arquivos do Badep – o que ela, enfim, fez.
Talvez o hotel em Londres tivesse sido mesmo uma ideia melhor.
Lá vinha eu dirigindo, o rádio ligado. Foi quando a voz da apresentadora – naquela locução galopante, aguda, que simula estar à beira de um ataque de riso – anunciou entrevista com uma pedagoga a respeito, disse ela, “do problema central do século XXI”.
Fiquei atento – como se dizia antigamente: apurei os ouvidos. Não é a toda hora que se dispõe de revelação tão grandiosa. Foi quando a locutora revelou qual era o problema:
– O foco.
Isso mesmo, o foco, vejam só. O foco. Minha atenção, digamos, brochou.
E lá veio uma enxurrada de conselhos supostamente sapientíssimos – dirigidos aos que as duas chamavam de “jovens” – sobre a necessidade absoluta de se ter um foco, manter um foco, perseguir um foco. Tudo é o foco e deve estar em foco. Estude com foco. Encare seu emprego com foco. Ponha o foco no dinheiro, no sucesso, no prestígio, na fama. Mantenha seus relacionamentos em foco. E por aí foram as duas, sempre robustamente otimistas, ensinando ao mundo como o mundo deveria ser.
Pois eu, que não sou dado a focos, repassei rapidamente algumas memórias em minha pobre cabeça.
Aristóteles, por exemplo, escreveu, além de livros de lógica e metafísica, obras a respeito do andar dos animais – ou seja, se interessava por tudo e mais um pouco. Seu foco era dinâmico, no mínimo. O mesmo se diga de todos os grandes filósofos e pesquisadores. Eis um exemplo sem foco: Alexander Fleming descobriu a penicilina por acidente. Estava fora de foco. Na história da ciência são inúmeros os exemplos.
Michelangelo e Leonardo da Vinci eram tipos sem foco algum. Pintores, escultores, cientistas, preocupados com questões políticas e religiosas – entre elas, levar pitos e dar carões em alguns Papas – além de serem desafetos e trocarem desaforos no meio da rua, faltando pouco para trocarem tabefes.
Einstein não raro esquecia no meio do caminho se estava indo dar aula ou para casa almoçar. Não se interessava apenas pela física, mas por filosofia, por questões políticas, pela questão racial – ao contrário do que alguns insistem em repetir – além de fazer observações refinadas sobre arte, a natureza da inteligência e da religião.
Picasso, um gênio do século XX, era o sujeito mais dispersivo do mundo. Trabalhou feito um forçado e produziu milhares de obras – até hoje não catalogadas por inteiro. Pulava no mesmo dia de quadros a óleo, a desenhos, a gravuras, a ilustrações, a esculturas e brincadeiras com pedaços de pano, de papel, de jornais ou de ferro velho encontrado no lixo. E também escreveu peças de teatro, poemas, além de se ocupar com questões políticas e sociais – indo às touradas sempre que possível, pois nelas via a expressão de algo que revelava as mais profundas forças que agem sobre o ser humano.
Admito que minha cabeça seja um tanto caótica, mas foi o que reuni no momento, enquanto as duas continuavam a doutrinar os “jovens” a respeito do tal foco.
Pois eu acho o contrário.
Essa história de foco é tão somente uma noção derivada do mundo corporativo. É uma forma de disciplinar indivíduos para que se tornem funcionários obedientes, executivos eficientes, desses que passam por cima tudo para obter algum resultado (o foco) que possa ser expresso em dinheiro e lucro (o foco último). Tudo pela obtenção do sucesso (foco do ego), da grana (foco do bolso) e da carreira (foco do currículo). Ou seja, isso de foco é apenas uma armadilha doutrinária à qual se submete os “jovens” e os seres humanos em geral, moços ou velhos, para que sejam “úteis”, “produtivos”, “eficientes”, “objetivos”, mesmo que tenham que passar por cima de si mesmo e dos outros.
A imagem mais adequada para o tal “foco” são as viseiras colocadas nos cavalos: um estreitamento de visão.
Os donos da Camisaria Colombo, Álvaro e Paulo Jabor Maluf, entraram com uma ação na Justiça para que a Gávea Investimentos seja responsabilizada pelas dívidas do grupo. A Colombo entrou com um pedido de recuperação judicial em 2020. O passivo chega a 1,89 bilhão de reais.
Na ação, a que o Bastidor teve acesso, os representantes da Colombo dizem que a participação da Gávea na administração do grupo, que durou de 2011 a 2015, resultou em dívidas decorrentes do plano de expansão supostamente acordado entre as partes. A Gávea foi fundada por Arminio Fraga e Luiz Henrique Fraga.
A relação entre os grupos teve início quando o banco HSBC demonstrou interesse em participar da Colombo e convidou a Gávea, já reconhecida no mercado por operações semelhantes.
A carta de intenções previa que os investidores fariam uma operação estruturada com dois aportes: o primeiro de 60 milhões de reais e o segundo de 100 milhões.
Em contrapartida, a Gávea ingressaria na coadministração da Colombo, com a promessa de expansão do negócio para abertura de capital.
A Gávea fez novos investimentos na Colombo, além dos previstos na carta de intenções, e chegou a adquirir 49,9% do grupo parceiro.
Os donos da Colombo alegam que foi a Gávea a responsável por definir o plano de negócios, além do diretor financeiro. O cargo foi ocupado por Olavo Rodrigues e Denis Piovizan.
Álvaro e Paulo Jabor Maluf acusam a Gávea de ter “amplos poderes e influência nas deliberações do Conselho de Administração”. Continue lendo →
Conheci Solda em 1622, numa pequena aldeia da Normandia. Ele se chamava então Geneviève e era uma encantadora moçoila de seus dezoito anos, rosto afogueado, cujo caso com um oficial inimigo provocara um escândalo sem precedentes na história da provínci
Aos 24 anos, acusada de bruxaria, Solda (aliás Geneviève), foi condenada à fogueira, ao lado da abadia de Cerisy-La-Forêt, consumindo, além de um vestido novo que custara vinte francos, uma vida toda dedicada a minar a resistência dos exércitos invasores.
Depois de ser índio sioux e vampiro na Transilvânia, volto a encontrá-lo, já no século XIX, como aventureiro no Mississipi. Lembro-me ainda hoje da maneira como seu corpo foi atirado no rio e engolido pelas rodas do vapor, ao roubar descaradamente no pôquer.
Novo desaparecimento e eis que, em 1936, Solda marcha ao meu lado na campanha da Abissínia. Era um italiano da Sardenha, chamado Bertollucio, cuja maledicência não poupava nem o próprio Mussolini. Morreu no campo de batalha, praguejando, com uma flecha espetada no sub-solo.
Reencontro-o, muito tempo depois, com uma certa surpresa, na Sala de Imprensa da Prefeitura. Finjo que não o conheco (ele me deve uma ficha de pôquer há mais de cem anos). E ele, aliviado, retribui com igual e fingida indiferença.
Para quem não acredita em reencarnação, informo o seguinte: este último Solda nasceu em Itararé, São Paulo, em 1952 e igual aos seus avatares anteriores, é um sujeito que muito promete. Isto se não encontrar uma fogueira, o General Custer, uma estaca de madeira, um parceiro de pôquer violento ou uma flecha etíope pela frente.
O que eu, particularmente, acho pouco provável.
Jamil Snege escreveu este texto em 1973. Há 50 anos, portanto.
Ia dizer “surgiu assim do nada”, no velho sentido da coisa casual. E foi isso mesmo, mas o nada aconteceu de ser este blogue. Dias atrás comentei sobre o marido da Sandy, que atribuiu sua decisão de se separar a Ivan Ilich, o romance de Tolstói. Não tenho preconceito – será que não tenho mesmo? – contra músicos, cantores e atores que enveredam ou mostram intimidade com a literatura; há tantos assim, como Chico e as Fernandas Montenegro para ficar nos mais visíveis. Mas esse marido rabequista da Sandy, faça-me o favor. Quer usar Tolstói no divórcio, apele para Guerra e Paz, ou mesmo para Ana Karenina.
Também do nada, agora o nada coletivo da internet, o moço tornou-se influencer, aumentou as vendas do romance, que deviam estar encalhadas, e atiçou a gula das livrarias. Hoje acordo com a Amazon a me oferecer o livro, baratinho, entrega rápida. Como se nesta altura da vida, com tempo escasso nas leituras para a autodefesa no Juízo Final, eu pudesse voltar ao Tolstói da juventude para hipostasiar, dando consistência ao casalinho da música. Mas o que incomoda e deixa-me indefeso é a privacidade. Com sua artilharia de algoritmos a Amazon, outro supermercado espião, colheu a referência a livro para me assediar com oferta comercial.
Maurício Távora (1937-1986) – Nascido em Florianópolis, ator, dramaturgo, diretor teatral e redator publicitário. Escreveu dezenas de comédias para o Teatro de Bolso, nos anos 60 – quando também atuou em televisão. Foi diretor-superintendente do Teatro Guaíra. Dirigiu o espetáculo de inauguração do Grande Auditório, Terra de Todas as Gentes. Seu livro de poemas Voavida, foi editado postumamente pela Secretaria de Cultura.
Dezenas de autores, todos já falecidos, não demonstraram interesse em participar da Academia Paranaense de Letras,por diversos motivos: porque achavam que a entidade não os representava (por motivos estéticos, ideológicos ou por diferenças pessoais com acadêmicos), por proibição estatutária (caso da presença feminina), por viver longe do Paraná, por timidez do escritor ou por desinteresse da própria Academia em estimular possíveis candidaturas. Sem esquecer que o limite de 40 membros sempre se mostrou um permanente limitador. Entre esses, selecionamos dezenas de nomes que fizeram parte da vida científica e cultural do Paraná, sem passar pela nossa instituição. Exceto Júlia Wanderley, autora de artigos e textos diversos, mas sem obra em volume, os demais tiveram livros publicados. Outros nomes podem ser sugeridos.
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