Abortemos o projeto de Cunha

Não é exagero dizer que a vida das mulheres é ameaçada (por exemplo) pelo projeto de lei 5069/13, do deputado Eduardo Cunha, que dificulta o aborto legal. Hoje, em apoio ao movimento #AgoraÉQueSãoElas, cedo o espaço à psicanalista Maria Rita Kehl.

“Meus argumentos em defesa, não do aborto, mas de sua descriminalização, são públicos há mais de cinco anos. Eu os defendi em uma das crônicas que escrevi, em 2010, no jornal ‘O Estado de S. Paulo’. Suspeito que o artigo tenha contribuído para o cancelamento daquela coluna.

Devo dizer que hoje não penso muito diferente do que pensava em 2010.

Para começar, aborto não é política de controle de natalidade. É um recurso extremo e doloroso utilizado por mulheres sem condições materiais ou psicológicas de ter um (ou mais um) filho. A pauta dos direitos da mulher não começa pela defesa do aborto. Este só se justifica em último caso. Antes disso, é necessário promover e/ou ampliar informação e acesso generalizado a métodos contraceptivos –políticas preventivas modestas, baratas, discretas. Não renderiam grande coisa ao deputado que lutasse por elas.

Vale lembrar que mulheres não engravidam sozinhas. Mas o ônus do aborto, assim como o de criar um filho não planejado, costuma cair sobre elas. A vergonha é delas (nossa), o crime é delas (nosso), o risco de morte por abortos clandestinos feitos em condições precárias é delas. É nosso. A acusação moral também recai sobre elas. Sobre nós. Mas o aborto não é um problema das mulheres. Esta é uma hipocrisia compartilhada por muitos homens (não todos!), que fingem não ser tão responsáveis quanto as moças pelos casos de gravidez indesejada.

A expressão ‘gravidez indesejada’ é cruel: o que falta a grande parte das mulheres, sobretudo adolescentes, para manter a gravidez não é desejo. São condições: materiais, emocionais, familiares. E sobram condições de abandono: quantos homens, ou garotos, continuam ao lado das mulheres e meninas que engravidaram ‘sem querer’, como se o problema não fosse com eles? Só algumas, com muita sorte, conseguem dividir a responsabilidade pela decisão com o parceiro. São casos em que muitas decidem não abortar.

Na situação de casa-grande-e-senzala que ainda caracteriza muitas famílias brasileiras, não causa escândalo que o filho da casa faça sua iniciação sexual com uma das empregadas. Se a moça engravidar, será demitida sem assistência. Por justa causa. E o que dirão as famílias se ela recorrer a um aborto clandestino? E se ela, como quer o novo projeto de lei, for à polícia dar queixa do estupro: quem lhe dará ouvidos? Todas nós sabemos o que estamos sujeitas a ouvir nas delegacias, ao denunciar assédio, estupro ou outras violências praticadas por parceiros: ‘Foi você quem provocou’. Nas delegacias de periferia a falta de respeito é ainda pior.

Até o uso da pílula do dia seguinte, que provoca a expulsão do óvulo recém fecundado, será proibida se os deputados decidirem. Já é uma vida humana, dizem os membros da bancada da repulsa ao sexo. Sim, é uma vida. Mas se fosse humana, a sociedade teria criado ritos para incluí-la na cultura –batizar e sepultar os óvulos fecundados, por exemplo, quando expulsos por abortos espontâneos. Parece um absurdo, não é? Parece uma ideia bizarra. Assim é: porque de fato não os consideramos ainda como seres humanos. Nomeação e sepultamento são práticas culturais que nos definem como humanos. Nenhuma delas se aplica a essa forma incipiente de vida.

Vamos falar sério: o que subjaz a esta pauta retrógrada é a repulsa inconsciente à sexualidade feminina. A liberdade recém-conquistada do desejo feminino assusta os homens. Seis meses a dois anos de prisão para aquelas que abortarem os fetos que eles fizeram ‘sem querer’. Eis a versão masculina da repulsa ao sexo.

Mas não são todos os homens que pensam assim. Só os inseguros. Os machistas de carteirinha. Os violentos, que batem e justificam: ‘Você provocou’. Os brucutus, que estupram e justificam: ‘Você provocou’. Os indiferentes, que engravidam a namorada e acusam: ‘Você provocou’. Os que se ressentem (ainda!) que as moças se considerem donas de seus desejo e destino.

E os oportunistas, claro. Os que percebem, na revolta passiva dos ressentidos, a chance para suas ambições medíocres. Escrevo na esperança de que alguns deputados, mesmo afinados com a pauta conservadora que ameaça as conquistas de direitos civis em nosso país, não se alinhem automaticamente ao projeto pessoal de poder do presidente da Câmara.

E agradeço ao Contardo por me ceder hoje o espaço da sua coluna.”

contardo calligaris

Contardo Calligaris – Folha de São  Paulo

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A Origem do Mundo

A Origem do Mundo, de Gustave Courbet, que esteve preso durante seis meses, em 1871, pelo seu envolvimento na Comuna de Paris, e viveu no exílio, na Suíça, a partir de 1873 até sua morte.

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Vagina

Sob pressão, artista altera obra que retrata vagina em parede da rodoviária de Curitiba. Vereadora Julieta Reis alegou que o espaço era “inadequado” e pediu para Tom 14 “arrumar” a obra – alternativa era ter a intervenção, que faz parte da Bienal de Curitiba, apagada. Foto do autor. Gazeta do Povo

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Cheguemu!

Foto de Roberto José da Silva

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Outras contas

Audácia e astúcia –eis Eduardo Cunha. É ele mesmo, em pessoa, a explicação para a tão difundida curiosidade sobre o desfecho do seu caso no Conselho de Ética. Ou, mais ainda, sobre o desempenho do próprio naqueles circunstâncias.

Eduardo Cunha já disse que provará não haver mentido à CPI da Petrobras, como alegado por proponentes da cassação do seu mandato, com base nas contas suíças do deputado. O mais provável argumento mágico que usará é o de que afirmou à CPI não ter contas do exterior. E as contas mandadas pelos suíços têm nomes de fantasia, ou “empresariais”, não o seu. Ainda que não se desconecte das contas, cujos registros têm sua assinatura, pode contestar o motivo da acusação.

Mas, entre a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, é indiferente o que se passe no Conselho de Ética. O interesse está, acima das delações verbais, em um levantamento contábil do “recebido e a receber” que Fernando Soares, o Baiano, diz ter recebido de Eduardo Cunha como cópia, em e-mail, da contabilidade das transações de ambos com terceiros. Esta é tida como uma das mais importantes delações e a mais forte referente a Eduardo Cunha.

PROVOCAÇÃO

O plano da facção de caminhoneiros que quer “paralisar o abastecimento das cidades”, como exposto na internet, é de irresponsabilidade só menor que a dos movimentos pró-impeachment que o incentivam. A combinação e o propósito retiram o caráter reivindicatório da greve de parte dos estradeiros, marcada para segunda-feira (9). A ação pretendida daria características físicas ao confronto até aqui próprio de forças apenas políticas.

Não é o tom que se eleva, quando entrara em declínio. É o salto para uma zona sombria em que não há possibilidade alguma de resultado positivo, por menor que seja, para qualquer das partes.

Quase tudo parece recomeçar, por desconhecimento ou má-fé, o já vivido a caminho dos tantos precipícios em que o Brasil caiu, ou foi até à iminência de despencar.

VOCAÇÃO

Nem toda a importância que as contas ilegais no exterior adquiriram, para a opinião pública e a política, foi capaz de fazer a oposição na Câmara tratá-las pela ótica do conveniente ao país. O projeto de lei para atrair de volta esse dinheirão, desde que não proveniente de ilicitudes, sofreu duplo boicote de deputados, por integrar as medidas propostas pelo governo.

A tentativa de acordo para a pronta votação do projeto, feita por vários ministros e deputados governistas, encontrou a oposição com a ideia de protelar a votação e, portanto, a lei e o retorno do dinheiro. A alternativa ficou clara: a disputa a todo risco.

O relator do projeto, Manoel Júnior, paraibano do PMDB, incluiu variadas formas de proteção a criminosos financeiros. Até a importação sem pagamento dos impostos devidos, que em português razoável é o velho contrabando, entrou no projeto. Aliás, como contrabando de Manoel Júnior.

Janio de Freitas – Folha de São Paulo

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Mun Mot Mun|Boca a Boca. A adolescente Vera deixou sua família depois de um incidente em casa, e agora está vivendo com um viciado em drogas de meia-idade, Morgan, que está usando-a como uma prostituta para conseguir dinheiro para drogas e dívidas. Enquanto isso, o resto de sua família está desmoronando, e seu pai, Mats, está tentando descobrir como recuperá-la antes que seja tarde demais. Direção de Björn Runge.

Suécia, 2005, 94m. Nordic Council’s Film Prize: Björn Runge (director, writer), Clas Gunnarsson (producer)

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Post maniqueísta

Qual das duas figuras acima é Madre Teresa de Calcutá? 

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Ele

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Bico-de-pena

Desenho de Orlando Pedroso, el Flintstone

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Mural da História

17 de julho de 2010

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Mural da História

25 de dezembro de 2008

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Mural da História

13 de maio de 2009

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Faça propaganda e não reclame!

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Felipe Nunes lança Dodô, sua nova hq, em São Paulo

Blog do Orlando

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Flagrantes da vida real

Samuel Lago em sua mesa de trabalho. Foto de Maringas Maciel

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