Deputados usam CPI para investigar delator que acusa Eduardo Cunha

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O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Foto de Pedro Ladeira/Folhapress

A cúpula da CPI da Petrobras, formada em sua maioria por aliados do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), solicitou à empresa de espionagem Kroll que dê prioridade às investigações sobre o lobista Júlio Camargo, que acusa o peemedebista de ter pedido propina de US$ 5 milhões no esquema de corrupção da estatal.

Os aliados de Cunha querem receber as informações sobre Camargo até o fim de agosto. A intenção, segundo integrantes da CPI, é apontar contradições na delação premiada e desqualificar o depoimento do lobista mostrando evidências de que ele não contou toda a verdade e, portanto, descumpriu o acordo firmado com as autoridades.

A investigação paralela da CPI procura eventuais contas, movimentações financeiras e ativos patrimoniais no exterior que não foram mencionadas por Camargo na deleção. Com isso, os aliados de Cunha esperam derrubar as acusações de Camargo contra o presidente da Câmara.

O primeiro contrato firmado com a Kroll, no valor de R$ 1,18 milhão, já pago, estabelece que a empresa investigue 15 pessoas. Uma fonte ligada à investigação disse que o presidente da CPI, Hugo Motta (PMDB-PB), e um dos sub-relatores da comissão, André Moura (PSC-SE), escolheram 12 pessoas do hall de personagens que figuram na Operação Lava Jato para serem investigadas. Segundo versão oficial divulgada pela CPI, a Kroll já havia encontrado indícios da existência de ativos no exterior vinculados a essas pessoas.

Na lista, há ex-diretores da Petrobras, executivos e operadores do esquema de corrupção. Políticos ficaram de fora. As três vagas restantes foram preservadas para novas “prioridades”. Há cerca de um mês, os deputados pediram prioridade na investigação de cinco pessoas. Duas semanas depois, restringiram a lista a quatro. Júlio Camargo é um desses nomes que são mantidos em sigilo. Cunha diz não fazer comentários sobre a CPI.

O peemedebista nega a acusação feita pelo lobista e responsabiliza o governo e a Procuradoria-Geral da República pelas acusações. Segundo ele, Camargo foi pressionado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Os advogados de Eduardo Cunha pediram ao Supremo Tribunal Federal a suspensão da ação penal em que Camargo cita o presidente da Câmara dos Deputados.

A defesa diz que houve uma “anomalia jurídica”, já que o depoimento do lobista no qual Cunha foi citado foi prestado no Paraná, descumprindo a exigência de que os atos relativos a um parlamentar sejam feitos perante o Supremo Tribunal Federal, devido à prerrogativa de foro privilegiado.

Investigados

O acesso à lista de investigados da Kroll é, em tese, restrito a Eduardo Cunha, Hugo Motta e André Moura. O presidente da Câmara determinou sigilo dos documentos até 2020. Em três meses de atuação, a Kroll investigou 59 contas bancárias fora do país. A Câmara negocia com a empresa uma nova fase das investigações. A segunda etapa, que deve durar nove semanas, culminará com a apresentação do relatório final.

O Legislativo tenta reduzir o novo valor cobrado pela empresa de espionagem, que deve superar R$ 1 milhão. A empresa foi contratada com dispensa de licitação, o que gerou questionamentos. O mistério acerca do trabalho feito pela Kroll é alvo de crítica de parlamentares da CPI.

O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) acusa Motta de esconder as investigações. Valente chegou a cobrar que os nomes a serem investigados pela empresa fossem submetidos à aprovação da comissão. “Quando o contrato estiver fechado, será divulgado o número de investigados e o valor a ser pago”, afirmou Hugo Motta. Questionado sobre o fato de o lobista Júlio Camargo ser um dos alvos, o presidente da CPI da Petrobras afirmou que não faz comentários sobre os investigados.

UOL. “O Estado de S. Paulo”

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Espíritos

Onze de julho de 2015, primeira sessão de sábado da volta de “A Casa dos Budas Ditosos” ao Rio de Janeiro. Ataco o trecho final da confissão da baiana 358 dias depois da morte de João Ubaldo Ribeiro e 12 anos contados desde a noite de estreia.

Ousei cumprir minha vocação libertina, eu dizia, quando fui interrompida por um estrondo na coxia direita. Parecia uma porta batendo, ou algo tombando no chão com violência. Virei-me para trás e perguntei, mantendo o sotaque, se tinha alguém ali. Não obtive resposta.

O público emudeceu surpreso. Ninguém percebeu o barulho. Desconcertada, retomei o raciocínio, mas perdi o ritmo da estocada final.

Na saída, em reunião com a produtora Carmen Mello e o diretor de cena, confirmei a suspeita de que a plateia não ouvira nada estranho. Curiosos, vasculhamos o palco.

A porta que dava acesso à ribalta continuava fechada por dentro e nenhum objeto saíra do lugar. Mistérios do teatro. Fui dormir sem pensar no assunto.

No dia seguinte, Carmen, que crê no além, me telefonou para dizer que dera falta da cadeira durante a busca. “Que cadeira?”, perguntei. A cadeira, disse ela; e contou que, certa vez, jurara a Ubaldo que eu faria o espetáculo até completar os 68 anos da personagem. “Pois deixe meu lugar reservado”, respondeu o autor, “faço questão de estar presente”, e Carmen garantiu que haveria sempre um lugar para ele.

Agora, na primeira temporada sem a presença do imortal no planeta, ela, em segredo, cumprira o prometido, deixando uma cadeira vazia com vista para o palco na coxia direita. “Um contrarregra desavisado retirou a dita, mas já mandei devolver”, assegurou a produtora, “não haverá mais sobressaltos ruidosos”.

Eu tenho uma visão pragmática da morte, mas naquele domingo, concentrada para o terceiro sinal, pressenti a figura do Ubaldo a me fitar na escuridão. Autossugestão, sem dúvida, mas a partir daquela noite, ele nunca mais deixou de estar sentado ali, na famigerada cadeira.

O mesmo acontecera com meu pai, logo após sua morte. Sozinha, pouco antes de entrar em cena, senti, ou projetei, que ele zelava pela filha na penumbra da terceira tapadeira. Era um lugar natural dele estar, onde sempre esteve, desde que me entendo por gente.

Iluminada pelo refletor, caminhei em direção à mesa, acompanhada do Ubaldo e do Fernando imaginários, quando um terceiro vulto veio se juntar à dupla: Antônio Abujamra.

Em “D’A Gaivota” –versão da peça de Tchekhov que fiz com ele, Matheus Nachtergaele, minha mãe, Nelson Dantas e Celso Frateschi–, Abujamra costumava se sentar escondido na lateral da ribalta, para observar as cenas entre Nina e Treplev. Eu tinha a mania de me virar de costas para o público, covardias de atriz, e o bruxo, com ares de reprovação, apontava para a plateia com o indicador, exigindo que eu a encarasse de frente.

Prestes a dar início ao solilóquio da devassa, deixei que Abujamra acompanhasse os dois, mas foi com Ubaldo que fiz o espetáculo. Impossível descrever a sensação quase palpável de tê-lo ao meu lado. Difícil explicar os gatilhos que essa ilusão detona no ator, a maneira como muda o significado das palavras e enche de sentido a representação.

Embalada pelo trio, eu pensava nos futuros espectros que ainda me rondariam em cena e ponderava se, algum dia, eu teria a grandeza de me transformar numa aparição semelhante para um ator, ou atriz que, por ventura, eu viesse a amar, ou influenciar.

Os 12 anos passados foram como um longo ensaio para chegar até esta curta temporada no Rio. A morte do Ubaldo, a voz dele gravada a ecoar pelo palco sem o corpo presente, a consciência do tempo e das memórias acumuladas, os meus fantasmas de Hamlet. Nada disso existia antes.

O teatro é uma experiência física, mas sobretudo mental, que depende da capacidade do ator de projetar seu delírio para o público presente. É um ofício que se aprende na prática, na hora, com o espírito e na presença de espíritos.

Estou chegando aos 50. Encaro o envelhecimento do corpo, a traição dos hormônios e descubro que a alma também amadurece, cresce, se expande, guiando o ator na intangível tarefa de se ver livre de si mesmo.

Fernanda-capaFernanda Torres|Folha de S.Paulo

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O EX-TADO DO PARANÁ 2

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25 de junho de 2009

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O Analista de Bagé, Luis Fernando Verissimo. L&PM Editores, 1981. O Analista: Fraga; o analisado: Juska. Foto de Roberto Silva. Capa de Jorge Polydoro. 26ª edição

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O EX-TADO DO PARANÁ 2

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13 de julho de 2010

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Década de 80

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De olho

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Mural da História

O EX-TADO DO PARANÁ 2

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3 de agosto, 2008

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Meu louro

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Foto de Roberto José da Silva

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Folha de São Paulo

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De J.Figueiredo@com para Dilma@gov

Prezada presidente,

Já lhe escrevi várias vezes, sem qualquer resultado. Pedi-lhe que parasse de distribuir mau humor porque sei que riem de nós. Quando as coisas iam mal, eu me deixava fotografar montando um dos meus cavalos, a senhora monta sua bicicleta. Presidentes fazendo coisas desse tipo rendem imagens, mas sabemos que isso é apenas teatro. Quem lhe disser que a senhora se parece comigo está frito. Lastimo dizer-lhe: somos parecidos. Eu não tinha como mudar. A senhora tem. Como? Não sei, nem poderia lhe dizer.

Eu governei o Brasil de 1979 a 1985. Depois veio o Sarney (a quem não passei a faixa). Juntos, levamos o país para o que hoje se chama de “Década Perdida”. Ela teria acabado em 1993, quando aquele caipira do Itamar Franco botou o Fernando Henrique Cardoso no ministério da Fazenda. O SNI achava que ele era comunista. Hoje me dou bem com o Itamar e gosto de conversar com o Tancredo Neves. Ele promete me reaproximar do general Ernesto Geisel, mas não está fácil. Se a tal “Década Perdida” tivesse acabado em 1994, teria começado em 1984. Não creio. Ela começou antes, no meu governo.

A ruína de nosso país começou em 1982, quando fomos colocados diante de uma situação econômica adversa e resolvemos pedalar. Eu fazia uma coisa, desfazia, tentava outra, sempre anunciando que a crise era transitória e sairíamos das dificuldades. Vieram o Sarney e o Itamar e tocaram o mesmo realejo.

Escrevo-lhe para pedir-lhe que pense na coisa mais elementar: o buraco está muito mais embaixo. A crise econômica do país é mais grave do que a senhora diz, mas está no início. Talvez esse moço que a senhora pôs na Fazenda tenha acreditado que resolveria com saltos triplos. Aprendeu que não dá e o pior que pode acontecer à senhora é ter um ministro vendendo otimismo e produzindo descrédito. Para desgraça geral, eu, o Sarney e o Itamar jogamos esse jogo.

Toda vez que eu fazia uma besteira a senhora ficava feliz. Hoje, daqui, não me alegro com suas bobagens. Essa história de crise transitória levando ao crescimento depois da próxima esquina é ridícula. Aliás, essa imagem veio do presidente americano Herbert Hoover em 1930, um sujeito pernóstico que conversa muito com o Roberto Campos. O Franklin Roosevelt, que governou depois dele, não o cumprimenta.

Crise é crise e a senhora está no meio de uma. Reconheça-a. Assuma-a. Se o PT fizer cara feia, encare-o. O que arruinou a nossa economia foi a minha incapacidade, a do Sarney e a do Itamar até 1993 de reconhecer o tamanho do buraco e de enfrentar questões difíceis que pareciam insuperáveis. Sarney e o Itamar foram mais hábeis que eu, costurando uma base política. A minha, contudo, costurei-a abrindo espaço para Tancredo, livrando o país de um governo presidido por Paulo Maluf.

Outro dia a senhora disse que a Lava Jato influenciou na redução da atividade econômica em 1%. Eu sei quanto nos custam observações coloquiais. Tem gente que acredita que eu preferia o cheiro de cavalo ao do povo. Nossas derrapadas saem da alma, mas a senhora sabe que a Lava Jato não influenciou a atividade econômica. Foram as roubalheiras que provocaram a Lava Jato. Na dúvida, fique calada. Eu não conseguia. Despeço-me porque os meu cavalos estão pedindo comida.

figueiredo

Atenciosamente, João Baptista Figueiredo

Elio Gaspari – Folha de S.Paulo

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