Hoje, quarta, 11 de outubro. Que também é meio que sexta, 11 de outubro. Por coincidência, faltam -11 dias para o vestibular da UFPR. Amanhã faz 100 anos do nascimento de Fernando Sabino.
Entre as 50
As mulheres do Plural estão com tudo. A repórter Aline Reis acaba de ganhar mais um prêmio incrível: dessa vez, foi selecionada para uma lista dos mais admirados jornalistas negros e negras do país. Foram só 50 nomes do país todo, e ela é a única do Paraná.
Neste ano, Aline já tinha levado um Prêmio da Fiep. Agora, se consolida como nome importante do jornalismo nacional numa lista que conta com gente como Maju Coutinho, Tiago Rogero e Zileide Silva.
Pra quem não conhece, um resuminho básico. Aline é formada em jornalismo pela Universidade Positivo e antes de vir para o Plural trabalhava em Umuarama. Está aqui há quase dois anos e trabalha como repórter de cidades e política.
Vida de mulheres na Faixa de Gaza é recheada de violências
Uma camionete desfila nas ruas de Gaza, acompanhada por uma multidão de homens. Na caçamba, terroristas armados e o corpo de uma mulher seminua, vilipendiada, levada feito um animal, como um troféu. Shani Louk é germano-israelense e estava no festival de música invadido pelo Hamas. Mesmo local em que Noa Argamani foi sequestrada por motoqueiros. São imagens que jamais sairão da memória.
A violência contra as mulheres é usada como arma de guerra desde sempre. A historiadora italiana Lucetta Scaraffia explica que os exércitos vencedores exercem um direito de posse sobre o corpo das mulheres dos vencidos, tanto para dar vazão ao instinto sexual dos soldados, quanto para aterrorizar e humilhar as populações derrotadas. “Violar a mulher do inimigo é feri-lo naquilo que se considera que ele tem de mais íntimo e de mais precioso.”
No caso do Hamas, há outro ingrediente nefasto nessa motivação: mesmo mulheres de sua origem são consideradas propriedade, cidadãs de segunda categoria. Desde que assumiram a Faixa de Gaza, os direitos civis femininos entraram em declínio e a vida é recheada de violências física, sexual, psicológica, econômica. Há restrições para trabalhar, estudar, de liberdade de expressão e de circulação. São proibidas de andar de moto, fumar em público. Desencorajadas a qualquer atividade de lazer ou mesmo a denunciar incesto. São mortas, acusadas de crimes contra honra. É um dos lugares no Oriente Médio que mais se destaca pelo número de casamentos infantis. O testemunho de uma mulher vale menos do que de um homem. Desigualdade de gênero é a norma.
Não surpreende que o Hamas sequestre, vilipendie, estupre, mate e desfile em praça pública mulheres de origem israelense. O que assombra é ver quem se diz feminista relevar as ações de uma organização misógina em nome de uma ditadura teocrática miliciana. Não é sobre o direito das mulheres, é só política.
A violência contra as mulheres é usada como arma de guerra desde sempre. A historiadora italiana Lucetta Scaraffia explica que os exércitos vencedores exercem um direito de posse sobre o corpo das mulheres dos vencidos, tanto para dar vazão ao instinto sexual dos soldados, quanto para aterrorizar e humilhar as populações derrotadas. “Violar a mulher do inimigo é feri-lo naquilo que se considera que ele tem de mais íntimo e de mais precioso.”
No caso do Hamas, há outro ingrediente nefasto nessa motivação: mesmo mulheres de sua origem são consideradas propriedade, cidadãs de segunda categoria. Desde que assumiram a Faixa de Gaza, os direitos civis femininos entraram em declínio e a vida é recheada de violências física, sexual, psicológica, econômica. Há restrições para trabalhar, estudar, de liberdade de expressão e de circulação. São proibidas de andar de moto, fumar em público. Desencorajadas a qualquer atividade de lazer ou mesmo a denunciar incesto. São mortas, acusadas de crimes contra honra. É um dos lugares no Oriente Médio que mais se destaca pelo número de casamentos infantis. O testemunho de uma mulher vale menos do que de um homem. Desigualdade de gênero é a norma.
Não surpreende que o Hamas sequestre, vilipendie, estupre, mate e desfile em praça pública mulheres de origem israelense. O que assombra é ver quem se diz feminista relevar as ações de uma organização misógina em nome de uma ditadura teocrática miliciana. Não é sobre o direito das mulheres, é só política.
A namorada de Ranani Nidejelski Glazer, 24, brasileiro morto na guerra entre Israel e Hamas, fez uma homenagem a ele nas redes sociais.
Rafaela Treistman escreveu que ele salvou a vida dela e agradeceu pelo cuidado e pelos momentos compartilhados. “Eu devo a você a minha vida, você salvou a minha. Se tem um herói nessa história toda, esse herói é você meu amor”. Ranani Glazer foi primeiro brasileiro a ter a morte confirmada na guerra entre Hamas e Israel.
A namorada publicou nas redes sociais um texto e uma montagem com várias fotos do casal. Ela estava com Ranani no festival que foi atacado pelo grupo terrorista Hamas e conseguiu escapar. Ao menos 260 pessoas foram encontradas mortas na região da festa.
Rafaela descreveu que a relação com o gaúcho “foi uma história de cinema”. “Não sei como começar a escrever esse texto, até porque nunca imaginei que eu não estaria agora com você. Nunca pensei que existiria um após você. Nosso amor foi uma história de cinema, você sempre me dizia que sentia que vivia em um filme realmente e pensando bem, esse seu sentimento até que faz sentido”, disse.
Ranani era um “ser cheio de luz” e que “nunca falhou”, lembra a namorada.
Ela também ressaltou os sonhos que o brasileiro tinha, como o de se tornar um DJ famoso. O casal, inclusive, chegou a compor uma música junto. “Sei que você ainda tinha muitos sonhos que queria realizar, e eu te juro que estaria com você em cada um deles. Você queria ser um DJ famoso no Brasil, queria que suas músicas fossem conhecidas, até escrevemos uma música nós dois”.
“Eu sinto que eu te conheço de outras vidas, não sei. Nossa conexão foi absurda desde o início e eu sou muito grata por ti meu amor. Meu anjo, eu te agradeço tanto pelo carinho, por me fazer sentir feliz, por cuidar de mim, por me proteger, até quando estávamos prestes a morrer você não falhou em me acolher, em me acalmar. Eu devo a você a minha vida, você salvou a minha. Se tem um herói nessa história toda, esse herói é você meu amor. Eu te amo amor, mais que tudo. Descansa em paz lindo”, disse ainda.
Ranani Glazer, 24, era de Porto Alegre e morava em Israel. Ele prestou serviço militar nas Forças de Defesa Israelenses, mas já deixou a corporação e trabalhava como entregador em Tel Aviv.
Ele conseguiu ir para um bunker e chegou a gravar um vídeo narrando que presenciou uma “cena de guerra”, mas desapareceu após o abrigo ser invadido.
A morte foi confirmada pelo Itamaraty na manhã desta terça-feira (10). Ainda não há detalhes sobre o sepultamento do brasileiro.
As pessoas sem imaginação estão sempre querendo que a arte sirva para alguma coisa. Servir. Prestar. O serviço militar. Dar lucro. Não enxergam que a arte (a poesia é arte) é a única chance que o homem tem de vivenciar a experiência de um mundo da liberdade, além da necessidade. As utopias, afinal de contas, são, sobretudo, obras de arte. E obras de arte são rebeldias.
A rebeldia é um bem absoluto. Sua manifestação na linguagem chamamos poesia, inestimável inutensílio. As várias prosas do cotidiano e do(s) sistema(s) tentam domar a megera. Mas ela sempre volta a incomodar.
Com o radical incômodo de urna coisa in-útil num mundo onde tudo tem que dar um lucro e ter um por quê. Pra que por quê?
A arte e outros inutensílios, Folha de S. Paulo, Ilustrada, 1986.
O chato de galochas pode ter nascido do proverbial humor do carioca, que inventa tantas expressões. O escritor Artur da Távola assegura que a metáfora nasceu de que a galocha possibilitava ao chato chegar de mansinho, sem fazer barulho, impedindo a dispersão daqueles que obviamente queriam evitá-lo.
O médico cardiologista Rostand Paraíso, da Academia Pernambucana de Letras, tratando do tema, no Jornal do Commercio (julho de 2002, dia 4), deu pistas do primeiro chato de galochas do Brasil. Diz ele: ”a expressão máxima dos chatos em Pernambuco parece ter sido o Bodião-de-Escama, tipo popular que vivia em torno das mesas do Café Lafayette, procurando fazer jus a alguma bicada, enchendo a todos com suas extravagâncias e inconveniências. Seu nome ultrapassou as fronteiras do Estado e, ainda hoje, figura no Aurélio como um tipo popularíssimo das ruas do Recife da 2ª metade do século 19”.
Mas quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha? O chato ou a galocha?
A propósito da questão emblemática, ”galinha” e ”ovo” estão presentes em minuciosa legislação baixada pelo rei português Dom Afonso III, em 1269: ”e toda regateira que houver cousa de seu, venda em sua casa manteiga, azeite, mel, vinagre, açafrão, ovos..”. Vejam só: regatear, como sinônimo de pechinchar, remonta ao século 13, vindo do latim vulgar recaptare, funcionando o prefixo ”re” como repetição de ”captare”, pegar, isto é, pegar de novo alguma coisa, comprá-la, vendê-la.
A galocha, porém, precedeu o chato em alguns séculos. Como é freqüente no português, veio das lides náuticas, ainda no século 13, designando prego, mas antes estivera no pomar, pois o galho nascido de enxerto era igualmente denominado galocha. Galo como sinônimo de protuberância ou inchaço na testa ou na cabeça, causados por pancada, é vizinho etimológico. A referência é o galo, a ave propriamente dita, símbolo tão caro aos habitantes da Gália antiga, depois conhecidos como franceses.
Antes de chegar ao português, galocha esteve no provençal antigo. Inicialmente calçado rudimentar, de sola grossa, de madeira ou de couro, depois passou a designar o revestimento de borracha que servia de proteção aos sapatos em dias de chuva. Entrou em desuso há algumas décadas.
Chato veio do latim plattus, do grego plátys, largo, plano, e por metáfora veio a designar a pessoa inconveniente porque chato é o nome popular do piolho-ladro e este torna-se muito inconveniente e inoportuno pelas coceiras que provoca. É inseto que mais parece um piolho. Seu nome em latim é Phthirius púbis. Vive na região pubiana e eventualmente nas sobrancelhas, axilas e outras partes do corpo. Mede pouco mais de um milímetro e costuma pôr ovos, em forma de lêndeas, na base dos pêlos pubianos. Sua expectativa de vida é de apenas três semanas, mas incuba os ovos durante sete dias. Aos 15 dias de idade, as fêmeas estão aptas à reprodução. A camisa-de-vênus, já popularizada como camisinha, não serve de defesa.
Como se vê, o piolho ”chato” e o homem ”chato” tornaram-se inconvenientes por motivos bem diversos, mas não ocorreu ao inseto a astúcia da pessoa, consistindo em chegar de galocha para sua aproximação não ser percebida. No caso, a maior astúcia foi a do carioca, ao produzir a expressão.
‘Um Pai’ é memoir dos sintomas da filha de um dos maiores especialistas em sintomas dos filhos dos outros
Judith Miller, a filha da qual Jacques Lacan falava com ternura e afinidade –além de exibir, enfeitiçado, um porta-retrato com sua foto no consultório–, não levava seu sobrenome. Este livro é escrito por Sibylle Lacan, uma das filhas renegadas do primeiro casamento. “Nós sabíamos que tínhamos um pai, mas, aparentemente, os pais não eram presentes. A minha mãe era tudo para nós: o amor, a segurança, a autoridade.”
O título “Um pai” carrega todo o esplendor acusativo e irônico que um pronome indefinido pode ter. Já de saída a autora avisa que o livro não é um romance (“nele não se encontrará nenhum detalhe inventado com o objetivo de embelezar a narrativa ou ampliar o texto”), e o subtítulo, “Puzzle”, revela que suas anotações não seguem um fluxo linear e intrincado; são soltas, desordenadas.
Talvez a criança, com ciúme da atenção que recebiam as pacientes do pai, tenha conseguido em vida adulta, por meio da escrita, da palavra, que sua torrente de pensamentos ganhasse algum reconhecimento e contorno: “Formentera é o nome da ilha que escolhi […] como local de férias: FORTE-ME-ENTERRA”.
A sós com Lacan, nas raras vezes em que saíam para jantar (ela o descreve como “um pai intermitente, a conta-gotas”), Sibylle suspendia o que chamava de “estado de solidão afetiva” –a mãe tampouco a havia desejado e estava “no fundo do seu próprio poço” quando a filha nasceu– e podia experimentar pratos luxuosos, segurar na mão do pai e se sentir “radiante, alegre” e, finalmente, “uma pessoa por inteiro”.
Logo após vê-lo dançando com Judith, a filha preferida (“ela era toda amável e perfeita e eu toda estabanada e torta”), “como dois namorados”, Sibylle cai doente, “um esgotamento geral, zero desejo, zero prazer, uma perturbação medonha”. Na esperança de que o genial psicanalista pudesse curá-la, a filha o aguarda para uma consulta. Da janela, vê o pai, atrasado, saindo de um prostíbulo chique.
Outras obras, com mais complexidade e pretensões literárias, talvez possam explorar melhor o caráter prodigioso, ególatra, insubmisso e dinheirista de Lacan. Mas este é o breve relato de uma filha abandonada (“Quando nasci, meu pai já não estava mais lá”), uma organização corajosa e salutar de uma mente lutando contra uma iminente psicose. São textos sobre a inscrição e a imposição da voz, da história e do nome da autora. Este é o memoir dos sintomas da filha de um dos maiores especialistas em sintomas dos filhos dos outros. Talvez seja também um livro-cura.
Se antes Lacan relegou a filha a um posto de mera conhecida, aqui Sibylle o situa, isolado de tudo aquilo que o honrou como profissional de influência e renome mundial, como o pai que não quis ser para ela.
Alexandra Marzo está no noticiário acusando de sociopata sua mãe, a atriz Betty Faria. Sua descrição da mãe não cabe no molde do sociopata; caberia no de narcisista, o transtorno de personalidade que não raro conflui com o de sociopata. Portanto, resguarde-se a distância e a torcida, inevitável na internet, campo de batalha da irracionalidade. Mas que existem pais e mães sociopatas, isso existem, alguns adiantados no trânsito do narcisismo. O problema é que os filhos fazem o diagnóstico dos pais quando é tarde demais, o estrago pronto e acabado em suas vidas.
(O título aqui vem do livro de 1978 de Christine Crawford sobre sua vida com a mãe adotiva, a atriz Joan Crawford, relato de abuso e mágoas de pessoa educada por mãe narcisista. A narrativa teve tamanho impacto que dela surgiu filme em 1981.)
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