tallulah-willis-101916Tallulah Willis. © TaxiDriver

Publicado em TaxiDriver | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

A mariposa e o código

Caro leitor, conceda-me a generosidade da atenção. Trata-se de uma situação do cotidiano, fato corriqueiro que no geral passa despercebido, mas a alguns deixa indignados.

Você está num grupo, em conversa com determinada pessoa, a quem dá atenção no modo educado, de olhar nos olhos e concordar ou pontuar com observações ou gestos de assentimento. A certa altura, quando toca a você dizer alguma coisa, o interlocutor foca seu olhar à volta, olhos a revirar e ouvidos atentos a outras pessoas e suas conversas.

Nesse momento fica visível que o outro “faz presença”, que você é mero figurante de um coletivo em que, para seu interlocutor, o único que importa é ele mesmo e sua parolice; e que, assim como lhe dispensou momentos de conversa, com a mesma rapidez pula para outro dos presentes, mariposa à procura do poste de luz. Como se chama isso?

Se tolerante e civil, você não percebe, ou, percebendo, não dá maior importância, parabéns, amigo, você é um homem do mundo. Pois para a minoria daqueles que, como este que o apoquenta com estas palavras, trata-se da mais elementar falta de educação, um crime contra o código da conversação civilizada.

*****

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Mural da História

Autores Domingos Pellegrini e Toninho Vaz são execrados pela família de Paulo Leminski. Família contesta questiona a fidelidade dele “à memória daquele que considerava amigo”.

Utilizando-se às vezes de artifícios da obra mais experimental do poeta Paulo Leminski, Catatau (1975), e estabelecendo um paralelo entre a própria história de vida e a de Leminski (além de recorrer a uma espécie de recurso “mediúnico”), o escritor Domingos Pellegrini gestou um livro que, embora não deixe de ser uma biografia, vai além do gênero. É como se fosse uma transbiografia.

Minhas Lembranças de Leminski chega às livrarias 25 anos após a morte de Leminski, num momento em que a obra do artista atinge impressionante celebridade – 200 mil visitantes viram a mostra Múltiplo Leminski, em Curitiba; a exposição Ocupações Paulo Leminski do Itaú Cultural (2009), com curadoria de Ademir Assunção, foi um dos destaques culturais daquele ano; e o volume Toda Poesia (Companhia das Letras) chegou a bater best-sellers importados, como 50 Tons de Cinza.

Nos anos 1980, havia um grafite famoso no muro da Universidade Federal do Paraná: “Pau no Leminski!”. A inscrição é bastante atual hoje: o livro de Pellegrini chega num cenário em que um cruel paradoxo se desenha: apesar de toda a badalação, para se escrever sobre Leminski, um libertário, os autores encontram um paredão de censura prévia, exercida pela família.

Pellegrini (de Londrina, cidade cujos cidadãos natos costumavam ser chamados de Pés Vermelhos) desfrutou da amizade de Leminski (de Curitiba, de origem polonesa, ou polaco), a partir do início dos anos 1970. Morou com ele em São Paulo, durante investida de Leminski para conquistar o mundo pop, tempo em que tomavam quatro garrafas de vodca dupla e depois o poeta mascava bala de hortelã, “por via das dúvidas”.

Além do senso de humor, a iconoclastia militante, a profunda erudição sem vaidade e as aparentes contradições bem resolvidas, o próprio processo de produção poético de Leminski é analisado pelo amigo, que confessa não partilhar de certos gostos do autor – como, por exemplo, a admiração pelo concretismo.

Pellegrini divide Leminski em dois: um pop, com uma estratégia de divulgação pessoal calcada na poesia acessível e numa mitologia pessoal, e o intelectual, contido especialmente em sua obra em prosa, como os Ensaios Crípticos e o Catatau.

A saga alcoólica de Leminski, o Polaco, aparece com grande impacto no livro de Pellegrini, o Pé Vermelho. “E, finalmente, o último golpe líquido que me liquidou foi a hemorragia esofágica. É tanto sangue que sai da boca em jorro. (…) Vi, sim, o jorro vermelho ir bater lá na parede, tanto sangue que deixava claro não ter importância saber se era venal ou arterial, claro era tanto que tanto que faria falta fatal.”

O autor tentou submeter seu trabalho à família de Leminski, mas houve objeções para que tivesse o trabalho publicado. Ele não aceitou e publicou assim mesmo – inicialmente, dispôs o livro na internet. Pellegrini diz que não teme submeter o caso à Justiça, pois crê que “todo juiz verá que é um livro fraterno, digno e criativamente coerente com Leminski”.

Pellegrini vai ao confronto aberto: publica no final do livro a correspondência trocada com a poeta Alice Ruiz, viúva de Leminski. Ela questiona a fidelidade dele à memória daquele que considerava amigo.

“A ênfase no álcool, sua leitura de uma ‘precariedade’ de bens em nossa casa (você nunca ouviu falar em contracultura?), as observações exageradas sobre ‘falta de banho’, que corresponde a um período dos maiores excessos, mas que foi superada, enfim, tudo isso serve para criar uma imagem bem negativa do Paulo em contraponto à sua, que aparece como o interlocutor por excelência e cheio das qualidades que supostamente ‘faltavam’ a ele”, escreve Alice.

Pellegrini responde que não se submeteria a fazer uma biografia “chapa-branca” (um conceito jornalístico aplicado a narrativas que bajulam o seu objeto de análise) do autor.

A saga de Pellegrini repete a do escritor Toninho Vaz, que publicou O Bandido Que Sabia Latim (Editora Record, 2001), que estava indo para a 4.ª edição quando foi interditado judicialmente pela família. “O livro está parado, aguardando a votação no Congresso para liberar-se da censura familiar. Continuo censurado, aguardando”, afirmou ontem Toninho Vaz, que entrou com uma ação questionando os motivos da família. A primeira audiência está marcada para este mês, no Fórum do Rio.

O problema foi que Toninho Vaz atualizou a sua biografia de Leminski. Ele incluiu o seguinte trecho, que foi considerado “sórdido” pela família e descrevia uma cena do cotidiano de Pedro Leminski, irmão do poeta. “(Carlos Augusto Oliveira, o Caco, era vizinho de quarto e um dos últimos amigos de Pedro. Ele afirma ter visto Pedro, dias antes, bastante descontrolado, consumindo uma mistura de álcool, água e limão; cigarro de todos os tipos e drogas injetáveis. Pedro frequentava as madrugadas da pracinha ao lado do cemitério municipal, onde agora existia uma pista adaptada para skatistas. É de Caco também a informação de que Pedro, nesses últimos dias, estava lendo o livro Elogio à Loucura, de Erasmo de Roterdã, numa tradução de Stephan Zweig).”

Minhas Lembranças de Leminski
Autor: Domingos Pellegrini

Editora: Geração Editorial (200 págs., R$ 34,90)

Maio, 2014 – O Estado de São Paulo

Publicado em O Bandido Que Sabia Latim | Com a tag , , , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Mural da História – 2010

Publicado em mural da história | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

A lógica do cinema

Como Diadorim consegue se passar por homem junto aos jagunços se nunca é vista fazendo xixi em pé?

“Afinal, o que você veio fazer em Casablanca?”, pergunta o chefe de polícia Claude Rains a Humphrey Bogart em “Casablanca” (1942). “Vim por causa das águas”, ele responde. “Que águas? Estamos no meio do deserto!”, espanta-se Rains. E Bogart, com cara de pôquer: “Fui mal-informado.” É um dos grandes diálogos do filme e faz sentido.

Mas fará sentido a sequência final, no aeroporto, em que Bogart fuzila o vilão nazista Conrad Veidt e, ao som de “As Time Goes By”, embarca sua amada Ingrid Bergman no avião com o marido dela em meio a um tremendo fog? Existe fog no deserto? E como explicar os ventiladores de teto que rodam devagarinho durante todo o filme? Eles produzem vento àquela velocidade?

Claro que faz sentido. O cinema não é a vida real. A sequência final sem fog não teria o mesmo romantismo. Quanto aos ventiladores, tente filmar um rodando à velocidade normal —as pás desapareceriam ao girar. E a sequência em que o herói antifascista Paul Henreid rege os clientes do bar de Bogart, que cantam a “Marselhesa”? De quantos músicos se compõe a banda? De não mais que uns seis ou sete. Mas, à medida que o bar inteiro começa a cantar, o som em off na trilha sonora se torna o da baita orquestra da Warner, com 60 ou 70 figuras. E está certo. Só com essa massa sonora se tem ideia da grandeza daquele momento.

Na primeira e melhor versão de “King Kong” (1933), a mão do macaco que faz virar um trem do metrô elevado de Nova York e lhe permite escalar o Empire State é a mesma que encolhe e entra pela janela para capturar a pobre Fay Wray e despi-la véu por véu. E por que não? A lógica de “King Kong” é a de um pesadelo, e pesadelo não tem lógica.

Falando em lógica, como a valente Diadorim, nos vários filmes que se fizeram de “Grande Sertão: Veredas”, consegue se passar por homem junto aos jagunços se, durante anos, nunca é vista fazendo xixi em pé?

Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em ostras parábolas | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Propaganda Eleitoral Gratuita

Ninguém pode salvar este país!

Publicado em Sem categoria | Com a tag , | 1 comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

© Jan Saudek

Publicado em Geral | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Flagrantes da vida real

Da esquerda para a direita, todo mundo. Inclusive Maringas Maciel.

Publicado em Flagrantes na vida real | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Desgraça pouca

Duas mulheres, pobres e avós, uma preta, outra parda, serão julgadas como agitadoras-golpistas do 8 de janeiro. Pobres, pretas e velhas conspirando em favor de Bolsonaro? Deixaram o céu por ser escuro e foram ao inferno à procura de luz. Desgraça pouca, etc, portanto, merecem cadeia. Lula tem seus defeitos, mas entre ele e Bolsonaro vai a distância do pecado venial ao pecado mortal, do tapa ao tiro. Falando claro: Lula nunca agiu para deixar brasileiros morrerem por falta de vacina. O outro cruzou os braços e até fez piada.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

O medo da falta de segurança

O presidente Lula cobrou diretamente dos ministros Flávio Dino (Justiça) e Rui Costa (Casa Civil) ações de impacto na Segurança Pública, que deixem evidente à população que o governo federal está preocupado com o assunto.

Ele também falou ao telefone com o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues. O estado tem seis das dez cidades mais violentas do país e é governado por petistas há quase 20 anos. O presidente quis saber como poderia ajudar. E enviou Dino e a Força Nacional.

O grande temor de Lula é que haja a instrumentalização da violência e do medo pela extrema-direita: não apenas para defender projetos que desrespeitem os direitos humanos, como para eleger prefeitos no ano que vem e representantes em 2026.

Durante a semana, o ministro da Justiça e seu secretário-executivo, Ricardo Cappelli, deram muitas entrevistas a canais de notícias e aos veículos locais, numa tentativa de tranquilizar preventivamente a população de eventual uso político dos recentes casos de violência.

Publicado em O Bastidor | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Benett

Chargista da Folha de S.Paulo e editor do Plural.

Publicado em Geral | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

A neo-monarquia

Perguntaram a Fernando Henrique Cardoso o que ele mais estranhou quando voltou a ser um político comum após dois mandatos na Presidência. Ele respondeu: “Tocar em maçanetas. Durante os oito anos em que fui presidente, não toquei em nenhuma, sempre que eu me dirigia a uma porta alguém corria e abria para mim.”  O Brasil despiu o manto da monarquia e envergou o terno da República, mas a “liturgia do cargo” permaneceu exatamente a mesma, para citar a expressão criada por José Sarney, que entende como ninguém de salamaleques e rapapés. O Rei se estilhaçou em milhares de reizinhos federais, estaduais e municipais. Reis executivos, legislativos e judiciários, cada um com privilégios, venetas, com seu cardápio predileto de bajulações à la carte, de pompa e circunstância. Quando um ego humano atinge certos escalões, vira um tigre criado desde o berço com filé mignon: fica exigente que fica danado.

Paes de Andrade era presidente da Câmara dos Deputados no governo Sarney. Numa viagem oficial do mandatário, a Constituição o fez assumir por alguns dias a presidência. O que fez ele? Encheu um avião de correligionários e partiu para Mombaça (CE), sua terra natal, “para que a História registre”, disse, “que Mombaça já foi visitada por um presidente aqui nascido”. É um episódio digno das “Veias Abertas da América latina” de Galeano, e é a nossa versão institucional dos 15 minutos de fama que Andy Warhol prometeu a cada um no mundo futuro. E não é só no Brasil, embora a gente goste deescavacar essa ferida.

Todo mundo gosta, não é mesmo? É tapete vermelho, é cerimonial e fanfarra, é o exército de xeleléus se desdobrando para ver quem beija primeiro a mão estendida.  Excelência pra aqui, Excelência pra acolá, e ouso dizer que nossos políticos só deixaram de adotar a liteira porque uma limusine é mais confortável. Senão, Brasília pareceria um Festival Debret. Temos o cacoete da realeza, do sangue azul – de tudo quanto pareça nos afastar da plebe que nos ovaciona.

São só os políticos? Que nada. Artista também é chegado. Quando o Fleetwood Mac vendia dezenas de milhões de discos, exigia quatro limusines para trazer do hotel os quatro integrantes da banda. Têm a desculpa de que não é com dinheiro público, mas não é de orçamento que falo, e sim dessa necessidade de ser chamado King Disso, King Daquilo. São os presidentes, os papas, os magnatas, os CEOs, os integrantes de qualquer Hall of Fame. Se não fossem os humoristas que ficam pegando no seu pé, comeriam purpurina para deixar a privada coruscante de cores, e andariam pela rua vestidos de Clóvis Bornay desfilando com sua fantasia de “Apoteose de Roma Imperial”.

Publicado em Braulio Tavares | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

A outra santa…

Publicado em Geral | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter