Sossélla

sossélladoisSérgio Rubens Sossélla – 1942|2003 – autor de muitos títulos, publicados desde 1962 e que incluem crítica, poesia, prosa de ficção e jurisprudência, sempre lançados por pequenas editoras do Paraná ou mesmo em edições do autor. Como todos os meninos da sua geração, ia muito ao cinema, para ver os filmes e para trocar gibi na porta. Dessa época lhe vem a certeza de que muitas vezes “os grandes momentos concentram-se num apagado coadjuvante encarna a coragem dos covardes, a força dos fracos, a revolta dos oprimidos, a consciência dos injustiçados”.

Juiz de Direito, após a aposentadoria, dedicou-se a organismos culturais. Faleceu em Assis Chateaubriand, onde viveu durante muitos anos. Setor de Editoração da Fundação Cultural de Curitiba, 1981. Capa e ilustração de Guinski. Quem procurar, acha. Para ele, fiz o poema abaixo.

sine die

tudo o que
minha poesia disser
poderá ser usado
contra mim
preces
invenções
cantilenas
tudo que eu comece
epístolas
teoremas
o que a palavra quer
é ficar gastando
o latim

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Campeão Mundial de Pessoas que Entram em Coisas que não dão Dinheiro

Já tenho pelo menos um título pra ir pro Guiness Book. É o de Campeão Mundial de Pessoas que Entram em Coisas que não dão Dinheiro. Canso de ler biografias de gente que tem poder de atrair dinheiro em tudo o que faz. Canso! Jogam um ovo pra cima, cai no chão é ouro. Nem ponho no meio a moralidade do ato de ganhar dinheiro dessas pessoas. Nem sei se é honesto ou não. Falo da facilidade com que o dinheiro vai pro bolso delas e dali pra bancos suíços ou iates de cento e vinte pés. No meu caso, é fatal. Se me convidam prum evento, exposição, negócio, revista, jornal, livro… é certo que não tem dinheiro na jogada. Pelo menos pra mim. As pessoas que me convidam acreditam que o dom (ou sei lá o quê!) que tenho de escrever já compensa tudo.

Ou pensam que ganho fortunas com outro negócio e que escrever é apenas um passatempo. Se alguém chega pra mim e diz que meu texto é imprescindível na revista que está lançando, já sei que quer de graça. Quer dizer, minha suposta fama vai trazer mais leitores pra revista e… mais dinheiro pro dono. Sei que tem pessoas que não se importam em dar textos de graça. Elas acreditam que aparecendo numa revista qualquer — tem centenas nas bancas — o nome delas vai ser conhecido e reconhecido na sociedade. Será? Já me pediram conselhos sobre produtos, restaurantes, lançamentos quaisquer. Já me pediram textos pra aniversariantes, bodas de ouro, sites, campanhas publicitárias. Já me pediram colaboração pra revistas, jornais. Parece que a facilidade de fazer um texto atesta que ele não deve custar nada. Nem deve ser remunerado. Também tem aquelas famosas coletâneas que exigem pagamento de cada autor.

E depois mandam uns exemplares gratuitos. Publicar livro próprio, então, só pagando! As editoras sempre alegam que estão com calendário tomado — por estrangeiros — até 2016. Recebo vários e-mails de editoras do tipo faça já! Depois de publicar, às próprias custas, as pessoas querem o livro de graça. Assim vai. Ai de mim se tento me defender e pedir pagamento de qualquer texto. Viram a cara, me esquecem. Acham que estou sabotando o negócio deles. Num tempo em que tudo — nem só o tempo — é dinheiro, fico a ver cofrinhos de poupança com asas no ar. Não sei mais quantos escritores passam por isso. Sei que canso de ver folhetos, catálogos e outras peças publicitárias cheias de aberrações em matéria de texto. Se tento uma aproximação pra oferecer correção, querem de graça! O nome de famosas empresas vai pro ralo porque pagam pouco pra agências de propaganda ruins.

É difícil fazer as pessoas entenderem que escrever é um ofício. Deve ser um ganha-pão! Hoje, pra mim, pelo menos, é um ganha-migalhas-de-pão-dormido! Amém!

*É autor de Nem bobo Nem nada.

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Fraga

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Leiautes

MULHERESEu estava no bico do urubu, até ser retirado do ostracismo por Robert Amorim, Gilson Camargo e Alê, em algum lugar do passado.

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Mural da História – 2013

Novembro|Parnaíba

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Flagrantes da vida real

de-volta-para-o-futuro-maringasDe volta para o futuro. © Maringas Maciel

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Horoscópula – Prof. Thimpor

Áries (21 março/20 abril) – Nesta fase, o homem deve descer atrás da mulher, deixando o cavalo por último. Ao subir, ele vai na frente ou ao lado da mulher, divagando sobre os egípcios e sua vida nômade, anterior à sua instalação no Vale do Nilo. A Tábua Lunar indica perigo se a mulher usar jóias (pedras preciosas) pela manhã, principalmente se forem falsas.

Os brócolis devem ser cozidos em fogo brando e levados imediatamente à mesa, numa travessa enfeitada com salsinha e souvenirs, em horário de pouco tráfego, evitando a hora do rush.

Este é o signo das preocupações. Os nativos de Áries têm problemas com a raiz quadrada de 4, o que os torna budistas e, frequentemente, os deixa com a perna esquerda meio amortecida, devido à inobservância das marés.

Assim como o esperanto, os arianos foram criados sem os verbos irregulares, proporcionando facilidade na conjugação, desde que o sujeito, o pronome e o predicado concordem.

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Por que me ufano de meu país

Kevin McCarthy, presidente da câmara dos deputados nos EUA, foi destituído ontem por voto de desconfiança dos parlamentares, em moção de autoria de deputado de seu partido, endossada por colegas. McCarthy, que já vinha desgastado, acumulou o problema com o acordo que abriu créditos para o governo democrata, que, à falta de orçamento (travado na câmara), poderia ter comprometida sua continuidade. Essas coisas jamais acontecerão no Brasil, porque para os políticos brasileiros o dinheiro público não tem cor, nem cheiro e muito menos dono. Muitas vezes o dinheiro público tem cheiro; é quando os políticos o escondem nas suas cuecas e meias.

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Elas

Hanna Schygulla, Munique, 1980. © Helmut Newton

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Juíza vê erros em série em licença e suspende obra da Ponte de Guaratuba

Ratinho Jr. fala que autores da ação seriam “traidores do Paraná”. Licenciamento terá de ser refeito

A decisão da Justiça Federal de suspender a licença ambiental para construção da Ponte de Guaratuba levou o governador Ratinho Jr. (PSD) a ter um arroubo retórico, dizendo que os procuradores responsáveis pela ação seriam “traidores do Paraná”. Disse ainda que seu governo vai vencer os tais traidores para construir a ponte.

A declaração, forte na oratória, não responde a nenhum dos questionamentos e críticas feitos pelo Ministério Público – os procuradores apontaram uma série de irregularidades no processo de licenciamento ambiental feito pelo governo de Ratinho.

O Instituto Água e Terra, dizem os procuradores, nem teria a competência legal para a expedição de termo de referência. O procedimento teria ignorado a existência de algumas comunidades quilombolas e tradicionais, que não foram identificadas nem chamadas para participar das discussões. A Funai e a Fundação Palmares não foram procuradas. Isso só para começo de conversa.

O Ministério Público diz também que indicou 93 falhas no Termo de Referência definitivo, mas o governo não fez as correções necessárias. Os órgãos de administração das unidades de conservação do entorno não autorizaram nada. Não há previsão de compensações às áreas de conservação afetadas.

A lista é grande: há danos à fauna e à flora que também não teriam sido mensurados; estudos irregularmente adiados; efeitos não estudados sobre a linha de transmissão existente; e vários outros problemas.

A juíza Silvia Regina Salau Brollo, da 11.ª Vara Federal considerou tudo isso mais do que suficiente para sustar a obra. E não parece ter visto nenhum indício de traição ao Paraná na ação dos procuradores.

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Weave_100.  © Ishotmyself

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Tratado geral dos chatos nas redes sociais


Uma tentativa de atualizar as teorias sobre a chatice e seus representantes na internet.

Um chato é um chato é um chato. Mas o chato das redes sociais é bem pior. Parece que a tecnologia turbinou a amolação exponencialmente. Sim, por que sempre existiram maçadores no mundo, só que não como em nossos tristes dias.  A quantidade é imensa, as especificidades infinitas. Por isso, este modesto artigo é apenas o primeiro de uma longa série que pretendemos postar aqui em breve.

COMPLEMENTADOR: Sempre comparecem a seu post para complementá-lo. Mesmo que a complementação não contribua para melhorar, esclarecer ou corrigir nada. Se alguém posta, por exemplo, que o Brasil foi eliminado da Copa da Rússia,o chato Complementador vem e escreve abaixo: “não, o Brasil foi eliminado da Copa da Rússia pela Bélgica”. Ou ainda: “não foi eliminado, o eliminaram”.

BEATISTA: Tudo para eles é Deus. Deus resolve tudo, menos as suas observações, sem claquete e parciais, nos posts dos semelhantes. Iniciam ou finalizam todos os seus textos santos com Deus é pai, Deus está no comando, Deus é grande ou o indefectível Fica com Deus. Há uma versão mais visual deles, os que mandam pelo Messenger vídeos com conteúdo religioso. Se o vídeo tiver flores, pássaros ou anjos e, sobre eles, uma passagem do Novo Testamento, é material beatista. Nem Deus aguenta mais esses chatos.

ME TOO: São aqueles que literalmente fazem o que você diz que fez em seu post. Se alguém posta que foi para Reykjavík, eles também foram. E não faz muito tempo. E viram as mesmas coisas que o postador viu por lá. Quanta coincidência. Se outro diz que perdeu um parente próximo, o Me Too afirma estar tristíssimo porque perdeu a mãe. Há até os que acabam se matando porque o dono do perfil se suicidou.

VENDEDOR: Entram despudoradamente nos comentários de posts polêmicos e aproveitam a audiência para vender objetos pessoais usados. Enquanto as pessoas se digladiam opinando sobre racismo, questões políticas ou de gênero, eles anunciam casas, automóveis, câmeras fotográficas e até roupas.

GIFETEIRO: Aqueles que possuem o dom de estragar posts sérios com gif’s estúpidos. Determinado perfil posta um textão sobre o futuro da economia mundial e eles postam nos comentários um porco gargalhando. Um outro menciona a fome na Namíbia e eles postam um meme do Chaves fazendo careta. É a imagem a serviço da falta de noção.

PORNÓGRAFO: Comenta com palavrões. Até para dar bom dia usa, no mínimo, um “porra”. Quando irritado pode tornar-se um Olavo de Carvalho virtual e distribuir impropérios até para os que não são seus seguidores.

POROUTROLADISTA: Chato que sempre vê as coisas por outro lado. Se alguém está dizendo num determinado perfil que o câncer é destrutivo, o Poroutroladista comenta que tudo tem um lado bom e um ruim. O câncer pode ser positivo para repensar-se a vida, reconstruir-se pontos de vista. Se um outro alguém afirma que ganhou na loteria, ele(a) complementa: “parabéns pela bolada, mas, por outro lado, não esqueça de valorizar sua alma

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As nevadas tibetanas

As nevadas foram mansas durante aqueles meses na província de Wu Wei. Quando o dia clareava, o Budista Tibetano saía de sua confortável casa de madeira, cumpria às pressas as tarefas necessárias para que o mundo não se acabasse, e voltava correndo para dentro, onde sua assistente (ou concubina, segundo outras traduções) já lhe preparara um narguilê. Todo dia passavam por ali jornaleiros de bicicleta, distribuindo folhetos com a tinta ainda úmida. O Budista Tibetano lia e balançava a cabeça, desconsolado.

“Saques e depredações na capital,” queixou-se ele. O Pavilhão do Chá, a Ópera de Arame, o Museu do Olho, tudo estava conflagrado por quebra-quebras e por confrontos entre os soldados do Império e os estudantes da Universidade das Filosofias. “Eles acusam os militares de golpistas, mas são mais golpistas que qualquer um, só querem o poder agora se for agora. São capazes de dar a vida pela Revolução, mas não admitem esperar dez anos por ela.”  Tomou um gole de chá e tentou ser filosófico. “A tragédia do revolucionário jovem é querer que tudo aconteça no seu tempo de vida, e de preferência no auge de sua energia e disposição. Vai precisar delas, porque vai ter que bater a cabeça numa parede por trinta anos.”  A companheira pegou na bandeja um biscoitinho da sorte e o entregou. Ele quebrou o biscoito, desenrolou o papel, leu: “E você, o que sugere?”

“Bem observado,” disse ele, jogando o papelucho pela janela. “Vem cá.” Ela veio, bem obediente, os dois se encostaram no peitoril, e ele apontou: “Estás vendo toda esta encosta, com suas casas? Neve e fogo. Nevascas e fogueiras. Isso é a política. A neve é a natureza. São as coisas que acontecem acima da nossa vontade ou da nossa conveniência. A seta do tempo. É o corpo do universo começando a esfriar. Já o fogo é cultura, é revolta, é vida proibida, é a vingança do homem contra a natureza, por lhe roubar o sol no inverno.”

Ela assentiu, e disse: “Lindo, mas e os estudantes, que podem perder a qualquer momento os dentes ou o nariz? Enquanto isso, ficas aqui bebendo e fumando. Neve e fogo! Ora muito bem! O que tem isto a ver com os estudantes de filosofia e os guardas do palácio?” O Budista Tibetano espantou-se: “Mas em que é que a política ou o mundo podem te interessar?” E ela: “Não me diga que só porque você é homem, é filósofo, tem trinta papiros publicados, tem direitos que eu não tenho!” O Budista Tibetano se maravilhou, porque sabia que acabava de testemunhar a primeira frase feminista dita no Himalaia nos últimos mil anos. Fechou a janela e levou-a para dentro, pensando: “Administrar um Império deve ser mais fácil, mas administrar uma mulher é mais divertido.”

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