Amanhecia. Ou, anoitecia. Tanto faz. Importante, ou não, é que naquela cidadezinha de Hogarty todos se chamavam Hogarty. O açougueiro era o Sr. Hogarty, a professora do primeiro grau se chamava D. Hogarty, o delegado de polícia era o Sr. Hogarty, a mulher do pedreiro Sr. Hogarty era D. Hogarty. E assim por diante. Não preciso nem dizer que até o filho recém-nascido do vendedor de vassouras, Sr. Hogarty, e da costureira Sra. Hogarty, era o bebê Hogarty. Foto Dozotros
Mas, agora, amanhecia. Ou, anoitecia. Tanto faz. Na cidadezinha de Hogarty ninguém se preocupava com isso. Dias, horas, minutos, meses e anos eram todos Hogarty. Até os dois séculos que se completavam no calendário tinham o nome de Hogarty. E, antes desses dois séculos, tivemos os séculos a. H. – antes de Hogarty – assim nomeados pelos historiadores.
Você pode estar se perguntando se nessa cidadezinha chamada Hogarty, com todas as pessoas se chamando Hogarty, não reinaria certo tédio – na verdade, um profundo e avassalador tédio. Ainda mais que eles nem se importavam com a passagem do tempo, lembrando que podia anoitecer ou amanhecer sem causar transtornos ou arrepios. Chover ou fazer sol não fazia diferença, também. Mas, surpreendentemente, não era isso que acontecia. Quer dizer, não havia tédio – profundo e avassalador – em nenhum recanto da cidadezinha. Todos viviam alegres, satisfeitos e de bem com a vida. Como os habitantes conseguiram isso é motivo de estudos em algumas universidades famosas do mundo. Recolhidos em gabinetes obscuros, quase cochilando sobre empoeirados livros, entediados sociólogos tentam desvendar o segredo da cidadezinha de Hogarty. Por exemplo: um entediado, porém brilhante, estudioso de Oxford se debruça sobre os empoeirados livros, mas sua mente sai voando pela janela atrás de — bolas de futebol correndo pelos campos, riffs de guitarra em show de rock num amplo espaço aberto, escadas-rolantes num iluminado shopping center, automóveis reluzentes acelerando na estrada rumo às praias, etc., etc.
Oras! Desse jeito nunca irá — esse brilhante estudioso — descobrir o segredo da cidadezinha de Hogarty. Não quero dizer, com isso, que tenho a chave para abrir essa pesada — e ambicionada — porta. Só acho que se deveria procurar em outro lugar — num… Ah, deixa pra lá. Você não vai procurar mesmo, ó, meu dessemelhante, entediado irmão!
Rui Werneck de Capistrano é autor de Nem bobo nem nada, romancélere de 150 capítulos, 2009, Curitiba – Paraná.
Diretora veterana exibe o making of de seu próximo filme e movimenta um debate sobre cinema e memória no Teatro da Caixa. Foto Divulgação
Em seu segundo encontro, o projeto Juliette Convida traz a Curitiba a diretora carioca Lúcia Murat, cineasta conhecida principalmente por realizar filmes de fundo político, com base em suas histórias pessoais de militante em conflito com o regime militar brasileiro. Antes de realizar um debate com o público presente sobre o tema proposto “Cinema e Memória”, Murat exibirá o making of de “A Memória Que Me Contam”, seu novo longa-metragem, que chega aos cinemas em junho. O evento será realizado em 08 de maio (quarta-feira) às 20 horas no Teatro da Caixa Cultural, em Curitiba. A entrada é franca e os ingressos poderão ser adquiridos na bilheteria do teatro uma hora antes.
Idealizado por Josiane Orvatich e Murilo Wesolowicz, o projeto Juliette Convida tem como objetivo promover neste ano cinco encontros com importantes cineastas brasileiros. Em cada ocasião será exibido um trabalho audiovisual de curta duração escolhido pelo convidado, seguido de um debate com o público presente sobre um tema proposto pelos realizadores do evento. A primeira edição, em 13 de março, lotou o Teatro da Caixa ao trazer o diretor gaúcho Jorge Furtado (de “Meu Tio Matou Um Cara” e “Ilha das Flores”, entre outros títulos de destaque) que proporcionou um debate enriquecedor sobre “Cinema e Invenção de Linguagem”, com mediação de Josiane Orvatich.
O cinema observador e denunciativo de Lúcia Murat
Nascida no Rio de Janeiro, Lúcia Murat atua no cinema nacional desde a década de 1980, não somente como diretora, mas também como roteirista e produtora. Na adolescência se envolveu com movimento estudantil e fez parte da organização MR8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro) após a decretação do AI-5, durante o regime militar brasileiro. Foi presa por três anos e meio e torturada. Seu primeiro longa-metragem, “Que Bom Te Ver Viva” (1989) reflete as experiências vividas por ela e outras mulheres durante este período da história do país. Sua mistura de depoimentos documentais com cenas ficcionais vividas pela atriz Irene Ravache lhe renderam os três principais prêmios no Festival de Brasília, naquele mesmo ano (melhor filme do júri oficial, do júri popular e da crítica).
O tom crítico e denunciativo quanto ao panorama social e político do Brasil marcou obras posteriores, geralmente com base em sua vivência. “Doces Poderes”, de 1997, retrata uma jornalista de política que recebe pressões em seu trabalho durante um ano de eleições. “Brava Gente Brasileira”, de 2000, retrata a relação conflituosa entre portugueses e índios durante o período de colonização brasileira. “Quase Dois Irmãos”, de 2004, mostra o encontro de amigos de infância em uma penitenciária, sendo um deles preso político e o outro um poderoso traficante. No documentário “Olhar Estrangeiro”, de 2006, analisou a forma distorcida sobre o Brasil visto pelo cinema internacional. “Maré, Nossa História de Amor”, de 2007, adaptou Romeu e Julieta para a favela carioca. Seu último filme exibido nos cinemas foi “Uma longa viagem”, um de seus trabalhos mais pessoais, que em 2011 foi o vencedor do Festival de Gramado, recebendo os prêmios de melhor longa-metragem brasileiro e de melhor ator para Caio Blat – cujo personagem tem história inspirada no irmão da diretora.
Atualmente, a realizadora concentra suas atenções na estreia do longa “A Memória Que Me Contam”, estrelado por Simone Spoladore, cuja personagem é livremente inspirada na guerrilheira Vera Silvia Magalhães.
O Juliette Convida é realizado bimestralmente, na segunda quarta-feira de cada mês. Após esta edição, com Lúcia Murat, em 08/05, serão realizados outros encontros nos dias 10/07, 11/09 e 13/11, sempre às 20h, no Teatro da Caixa Cultural. O evento tem realização da Juliette Editora e patrocínio da Caixa Cultural.
Serviço: Juliette Convida Lúcia Murat.Data: 08 de maio (quarta-feira). Horário: 20h. Local: Teatro da Caixa Cultural (R. Cons. Laurindo, 280, Centro), Curitiba (PR). Entrada franca (os ingressos serão distribuídos na bilheteria a partir das 19h). Telefone para informações: (41) 2118-5111.
A decima segunda edição do projeto Radar “A nova música brasileira no Teatro Paiol” traz para Curitiba pela primeira vez, a banda Vespas Mandarinas, para o lançamento no seu novo álbum ‘Animal Nacional’
Vespa Mandarina, inseto nativo da Ásia, igualmente conhecida como Zangão Japonês ou Vespa Assassina, figura no topo da lista dos insetos mais perigosos do Planeta. Essa classe de artrópode possui uma neurotoxina cujo veneno mata, todos os anos, cerca de 40 pessoas ao redor do mundo, além de dizimar outros insetos, como abelhas e louva-a-deuses. Vespas Mandarinas, no plural, também é o nome da banda paulistana – formada por Chuck Hipolitho (guitarra e voz), Thadeu Meneghini (guitarra e voz), André Dea (bateria) e Flavio Guarnieri (baixo) – que lança “Animal Nacional”, seu álbum de estreia pela gravadora Deck. Tanto Vespas Mandarinas quanto “Animal Nacional” são nomes que, nesse primeiro disco, se ajustam como uma carapuça e guardam, ao longo de seus 41 minutos, inoculantes venenos poético-sonoros.
As Vespas Mandarinas tiveram na populosa e sempre caótica cidade de São Paulo o cenário e a maior fonte de inspiração na qual sorveram seu combustível. No álbum, a urbanidade de megalópole revela-se direta, indireta, sonora e metaforicamente. O conjunto de influências musicais da banda, que inscreve no rock de ascendência brasileira seu traço genético, é amplo: vai da “era de ouro” do rock verde-amarelo, os anos 80, através de bandas que chegaram ao mainstream – Titãs, Ira!, Paralamas do Sucesso e Engenheiros do Hawaii – e outras mais subterrâneas, mas não menos importantes – como, por exemplo, Gueto, Smack, Picassos Falsos e Violeta de Outono.
Ninguém o chamava de Marco Antônio Ferreira. Ele era conhecido apenas como Black. Simplesmente Black. Ele foi uma das grandes figuras do underground curitibano dos anos 80. Apaixonado por música, ele circulava em todos os shows que aportavam em Curitiba. Frequente frequentador do Lino´s Bar quando era ainda na esquina da Cabral com a Augusto Stepheld. Lá entortamos muitas loiras geladas. Dançamos o pogo.
Ele também foi culpado por um grande susto entre meus amigos. Uma bela noite de frio ele foi esfaqueado em pleno Volts Bar, uma garagem que se transformou em point dos entendidos em música, ao lado da Reitoria.
Black rodou o mundo como iluminador. Passou pelo Era Só O Que Faltava. Trabalhei uma única vez com ele, em 2008 em uma série de 12 memoráveis shows no TUC. Ele se apagou na noite de quarta-feira, por volta das 22h. Mas a luz dele continuará brilhando nos palcos da cidade.
Marco Antonio, o Black, faleceu anteontem a noite e o velório foi na capela do Jardim da Saudade, Pinhais. Será cremado hoje, às 9h. Foto de Newton Maringas Maciel
Retta Rettamozo, Para Refletir. 48 páginas, década de 80. Edições CWBrasil. Longe do espelho os ognis devem ser apenas olhados com atenção. Se você tentar ler ognis longe do espelho pode entender tudo ao contrário e se desentender e perder toda a poesia. Neste caso siga as instruções. Quem procurar, acha.
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