Portfólio

Umuarama Publicidade, década de 1990. Dupla de dois: Solda, redator e Luiz Rettamozo, diretor de arte. Foto de Márcio Santos.

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Os cartunistas estão morrendo

Há uma semana foi Ykenga, um dos poucos cartunistas negros ativistas do Brasil. Sábado foi o Ziraldo, o maior da nossa espécie. Mas o que é um cartunista? Na definição de Charles Monroe Schulz, o criador do Charlie Brown – que Ziraldo batizou no Brasil de Minduim- “cartunista é alguém que não pinta tão bem para ser um pintor, nem escreve tão bem para ser um escritor”. E qual a importância deles? Millôr Fernandes disse que “humorista (honestamente, ele estava falando sobre cartunistas) no Brasil é alguém que tem toda a importância do mundo para ser preso e nenhuma para ser solto”. Hoje em dia não tem lá muita importância nem para ser preso. Mas não estou reclamando disso.

Depois da peste negra da Covid perdemos alguns membros ilustres da sociedade secreta dos desenhistas de calungas: Ota, ex-editor da revista Mad, Nani, ex-roteirista de humor da Globo e Paulo Caruso, caricaturista do programa Roda Viva. Cartunistas são como cobradores de ônibus (exceto pelo fato de que cartunistas nunca viram dinheiro): estão condenados a ver sua profissão desaparecer.

Se em um voo onde alguém sofre um ataque do coração e a aeromoça grita “temos algum cartunista entre os passageiros?” a chance de alguém erguer o braço é ínfima. Mesmo porque ela nunca gritaria isso, primeiro por não fazer sentido e, segundo, o que um cartunista poderia fazer numa situação extrema dessas além desenhar um desfibrilador com um balão dizendo “não posso fazer nada, estou em estado de choque”? Mas se ela perguntar por um médico, ao menos um braço vai esticar para o alto e salvar uma vida. Eis uma pessoa útil para a sociedade.

Cartunistas são úteis para a sociedade? Cartunistas ajudam a tornar a realidade mais leve. Se você ler um livro inteiro de cartuns de Saul Steinberg ou do Quino é bem capaz de você sair flutuando por aí como um balão de gás hélio. E Ziraldo era um dos grandes, como Steinberg e Quino. Como Millôr, Ronald Searle, Sempé, Johnny Hart, Charles Addams, James Thurber, Siné. Todos mortos, por sinal.

Num dia que parece um sonho de tão estranho, se não me engano isso foi em 2017, eu estava em São Paulo para uma palestra e uma exposição sobre cartuns. Enquanto esperávamos fomos para um bar, e lá estavam o Ziraldo e o Paulo Caruso. Sentei-me ao lado do Ziraldo e de frente para o Paulo, que fez uma caricatura minha. Ziraldo bebeu uísque e Paulo Caruso vinho branco. Não lembro sobre o que conversamos mas me senti numa edição empoeirada da revista Careta, editada pelo Tarso de Castro.

Não falo isso como deboche, mas foi em uma edição especial de cartuns da Careta, comprada em um sebo perdido numa rua esquecida de Ponta Grossa, que conheci o trabalho do irmão gêmeo do Chico Caruso. Ele publicava uma história chamada Avenida Brasil, com caricaturas de políticos e generais militares. Havia alguns cartuns do Ziraldo também, além de Glauco, Angeli, Laerte e o eterno Jaguar.

Jaguar é o último dos moicanos. O mais divertido dos cartunistas da geração do Pasquim, hoje com 92 anos. Conviveu com Sérgio Porto, publicou os primeiros desenhos do Henfil no hebdomadário carioca, bebeu com o Millôr, foi preso com o Ziraldo. Foi preso com o Ziraldo por causa de cartuns. Isso não parece um fato, parece um cartum do próprio Jaguar – como aquele em que o artista fica preso à própria instalação. Foi um período repugnante da história que durou 21 anos, e que os autodeclarados patriotas desejam bestialmente que volte.

Talvez volte. Quando isso acontecer, talvez existam cartunistas ainda arrastando os pés pelas calçadas -como o Corongo, da controversa história do Carl Barks, cartunista da Disney. Segurando um bloco de notas, desenhando um desfibrilador, gritando S.O.S.

Benett|Plural

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Dignidade negra

Iya Gunan – Mãe Dalzira.  © Lina Faria

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Porco chovinista

Esposa é aquela pessoa amiga e companheira, que está sempre ali, a seu lado, para ajudá-lo a resolver os grandes problemas que você não teria se fosse solteiro.

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Bravata lularacha

Lula, o homem da ejaculação verbal precoce, não podia deixar de dar o pitaco sobre Elon Musk. Bravata cucaracha isso de brigar com gente de estatura menor que a do chefe de Estado, Lula critica a postura do X no imbróglio com Alexandre de Moraes: “Musk ganha milhões produzindo carros e nunca plantou uma árvore no Brasil” – ou “um pé de capim” no erudito discurso do sapo barbudo. Uma coisa nada tem a ver com a outra, no axioma pós aristotélico do petista José Genoíno.

Musk produz carros para o mundo, não para o Brasil. Lula devia preservar as árvores, coisa que não faz nem pensa mandar fazer, sequer reclama quando um Leonardo Di Caprio se ocupa do ambiente brasileiro. Lula só não é mais ridículo porque os brasileiros acostumaram com as tolices intempestivas e suas metáforas indigentes. O brasileiro não se envergonha de Lula porque Bolsonaro era mais vergonhoso. Mas não devemos esquecer que Bolsonaro só foi eleito e ainda tem força porque cresceu na indignação brasileira com a roubalheira dos governos petistas. No entanto, Lula e seus malandrinhos de estimação fazem de tudo para trazer de volta o Mito, ou,  na falta deste um de seus micos amestrados.

Publicado em O Insulto Diário - Rogério Distéfano | Deixar um comentário
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Playboy – Anos 1980

1980|Victoria Cooke. PLayboy Centerfold

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Padrelladas

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Sem Ziraldo, ficamos menos flicts 

Naquela manhã chuvosa de janeiro de 2001, eu estava em minha mesa na agência de publicidade Ogilvy Brasil. Tocou o telefone.

– Alô, aqui é o Ziraldo, pode vir conversar comigo agora? Estou no bairro do Ipiranga.

Claro que fui. Nessa época, era cronista da Caros Amigos e do Jornal da Tarde. Lançara ainda o livro O caseiro do presidente. Supus que o pai do Menino Maluquinho queria falar comigo sobre colaborações no jornal Pasquim 21, que sairia em fevereiro de 2002.

Foi em parte. Isso porque, ao entrar no prédio no Ipiranga e abrir a porta de uma das salas, fui recebido por Luís Inácio Lula da Silva. Que, me vendo, disse:

– Vamos entrar, companheiro. Ziraldo e os outros jornalistas já chegaram. Tem água e café naquela mesa, só pegar.

Fiquei atônito. O que o candidato Lula fazia ali? Súbito, Ziraldo explicou:

– Participa primeiro da entrevista com o presidente, vai sair no primeiro número do Pasquim 21. Acabando, a gente conversa.

Sem pauta preparada com antecedência, fiquei ali, mais perdido do que eremita na avenida Paulista. Encaixei uma ou duas perguntas, foi o máximo de contribuição naquela data.

Terminada a reunião, Ziraldo me deu uma sugestão:

– Você assina as crônicas como Carlos Castelo Branco. Só que antes teve o Castelinho, teu homônimo. Que tal a gente usar Carlos Castelo Branco II, ou Carlos Castelo Branco, the second?

No Pasquim 21, meus textos saíram todos como Carlos Castelo Branco, the second. Esse toque do cartunista me fez passar a adotar depois, e em definitivo, o nom de plume Carlos Castelo. Assim, afinal, diminuía a confusão entre a minha pessoa e a do parente imortal da Academia Brasileira de Letras.

Mais uma boa sacada do mineirinho. Na hora, confesso, achei que ele iria propor Castelo de Bundas. Ainda bem que veio o “the second”.  Seria cômico, se não fosse trágico.

(Estadão)

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Foi por pouco

Deputado segue preso por obstrução de justiça

Foi por pouco que a Câmara manteve a prisão do deputado Chiquinho Brazão (União Brasil-RJ), acusado de ser mandante do assassinato de Marielle Franco e do motorista, Anderson Gomes. Votaram a favor da detenção 277 deputados. Houve 20 abstenções e 129 parlamentares foram contra.

O resultado só aconteceu porque a votação era aberta e nominal, ou seja, os deputados tinham de se identificar. O medo do desgaste de liberar um colega acusado de participar de um crime hediondo, num ano de eleição municipal, prevaleceu.

Mais cedo, na Comissão de Constituição e Justiça, o placar também foi apertado. O colegiado manteve a prisão por 39 votos a favor e 25. O resultado reflete a força do corporativismo dos deputados em conflito com o Supremo Tribunal Federal.

Houve pressão de parlamentares bolsonaristas e do Centrão pela liberdade do deputado, que foi detido após decisão do Supremo Tribunal Federal. O argumento era o de que a prisão preventiva não atendia às exigências legais em caso de detenção de parlamentar: ser em flagrante, crime inafiançável e feito durante o mandato de deputado.

De acordo com o STF, a detenção se deu por atos de obstrução à justiça, os quais, segundo o a Corte, “continuavam a ser praticados ao longo do tempo”.

“Não estamos tratando de um crime de homicídio, mas sim de uma prisão ilegal de um parlamentar”, disse o deputado Roberto Duarte (Republicanos-AC) ao classificar a detenção como “arbitrária”.

O deputado, em uma tentativa de justificar o seu voto, disse que era favorável à cassação de Brazão na Comissão de Ética, mas não da prisão antes disso.

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Mural da História – 2011

Rafaela Santin (waurá) e Benett (caingangue de cartunistas) © Vera Solda (txucarramãe)

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Sage Hailong. © Zishy

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Flagrantes da vida real

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Sorria! Você está sendo cremado

Charcon era chefe de um setorzinho em que só trabalhavam mulheres neurastênicas e sensíveis. Umas amores, coitadas. Parecia cada uma delas precisar urgente de um tipo específico de especialista. De manicura a um bom lacaniano. Mas eram tão cheias de crenças nos valores da Empresa. Fariam o que fosse preciso.

Tudo e qualquer coisa. Por uma revolução humanitária plena. Charcon gostava de tê-las ao par dos olhos. Investigava com um mórbido prazer lá no fundo delas de onde vinha aquela crença toda. De onde a cegueira ingênua em não perceber que não faziam a mínima diferença. O exercício de injúria praticado ali contra elas e à permissão de todos servia como sofisticação da performance pública que as criaturas iriam desenvolver fora daqueles portões.

E a cada mês, bimestre, ano, a equipe formada pelas moças de Charcon rasgava a carne do corpo para alimentar a fome das bestas que elas sonhavam civilizar. Esgotadas e destituídas de qualquer lirismo, as moças eram uma a uma substituídas por outras que perpetuavam o discurso de crença na Estrutura.

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Elon Musk, o bilionário retrógrado

O modelo do doutor está no século 19

Elon Musk é um visionário bem-sucedido. Do nada, virou um dos homens mais ricos do mundo, acreditando no carro elétrico e em variantes da revolução tecnológica. Não inovou, como Thomas Edison, Henry Ford ou Steve Jobs. Prosperou com invenções alheias, como Cornelius Vanderbilt e Bill Gates, o que não é pouca coisa. À diferença de outros magnatas americanos, decidiu pôr um pé na História com a arrogância chinfrim do filibusteiro William Walker, que invadiu a Nicarágua com uma tropa de mercenários e acabou fuzilado em 1860.

Musk decidiu desafiar o Supremo Tribunal Federal, descumprindo na sua plataforma X as decisões da Justiça brasileira. O ministro Alexandre de Moraes revidou incluindo-o no inquérito que investiga as milícias digitais.

Há alguma fanfarronice nas bandeiras políticas hasteadas por Musk. É um homem de direita e flertou com Jair Bolsonaro. Durante a pandemia, namorou a cloroquina. Tropeçou com falas antissemitas, mas Henry Ford também caiu nessa. Musk é uma versão tardia do filibusteiro Walker porque em julho de 2020 reconheceu publicamente que apoiou o golpe contra o presidente boliviano Evo Morales:

“Nós vamos dar golpe em quem quisermos. Lidem com isso.”

Num caso raro de sinceridade, Musk admitiu que ajudou o golpe porque tinha interesse em explorar o lítio boliviano, matéria-prima para as baterias de seus automóveis. Faz tempo que empresários americanos apoiavam golpes para proteger seus bananais; Musk quer golpes para garantir o fornecimento de lítio.

Musk não defende a liberdade de expressão. Se essa bandeira fosse do seu agrado, ele teria desafiado a China de Xi Jinping. Ele gosta de holofotes e, por algum motivo, resolveu encrencar com a Justiça brasileira. Deu um mau passo, pois associou a defesa das plataformas de redes sociais ao golpismo explícito: “Lidem com isso.”

Lidando com isso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, pediu ao seu colega Arthur Lira que saia de cima do projeto que regula as plataformas digitais. Votado no Senado, ele dorme há três anos na Câmara.

As big techs lutam contra essa regulamentação associando leviandade à arrogância. Musk pode ter ajudado a destravar o debate. Junto com ele virão inevitavelmente propostas disfarçadas de censura. Uma agência do governo já se ofereceu para o papel de fiscal das redes. É meio caminho para a censura, mas deve-se reconhecer que em janeiro de 2023, as redes sociais eram usadas para convocar golpistas para a “Festa da Selma”, explicitamente para incentivar a invasão do Palácio do Planalto. Centenas de pessoas foram presas, mas nenhum diretor de big tech viu-se responsabilizado.

Se a “Festa da Selma” tivesse prevalecido, Elon Musk poderia ter dito: “Nós vamos dar golpe em quem quisermos.”

O doutor levou água para o monjolo de quem quer regulamentar as redes no interesse do governo. Pena, porque no limite, entre um fanfarrão como Musk e um comissário de olho nas limitações da liberdade de expressão, fortaleceu-se o comissário.

Nem todo defensor da liberdade das redes é um golpista como Elon Musk, e nem todo golpista está de olho apenas nos próprios negócios. O doutor, como os americanos que azucrinaram a vida dos latino-americanos no fim do século 19 e início do 20, é um golpista tardio, exibicionista primitivo.

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1935. Those golden days of childhood

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